Antes De Morrer escrita por Alan


Capítulo 45
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, chorem negada. Quero agradecer a todos vocês que leram e comentaram, também quero agradecer a "Just For Love" por ter recomendado minha fic, não sou muito bom nas palavras mas ok.



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– Oi - diz Blaine. - Você acordou.
Ele se curva e umedece minha boca com uma esponja. Seca meus lábios com um pano e passa um protetor labial neles.
– Está com as mãos frias. Vou segurar um pouco para elas esquentarem, que tal?
Estou fedendo. Ouço o feio tique-taque do meu corpo se consumindo. Estou afundando, afundando na cama.
Quinze, levantar da cama e descer e é tudo uma brincadeira.
Duzentos e nove, casar com Blaine.
Trinta, ir à reunião de pais do nosso filho e descobrir que ele é um gênio. Na verdade nossos três filhos são gênios: Chester, Merlin e Daisy.
Cinqüenta e um, dois, três. Abrir os olhos. Abrir os olhos, porcaria.

Não consigo. Estou caindo.

Quarenta e quatro, não estar caindo. Não quero cair. Estou com medo.
Quarenta e cinco, não estar caindo.
Pensar em alguma coisa. Não vou morrer se pensar no hálito quente de Blaine entre as minhas pernas.

Mas não consigo me segurar em nada.

Como uma árvore que perde as folhas.
Esqueço-me até do que estava pensando.

– Por que ele está fazendo esse barulho?
– É o pulmão dele. O fluido não consegue escoar porque ela não está se mexendo.
– Que barulho horrível.
– O barulho é pior do que a coisa em si.
Será Sam? Ouço um anel sendo puxado, o chiado de uma lata de Coca.
– O que o seu pai está fazendo? - pergunta Blaine.
– Falando no telefone. Está dizendo pra mamãe vir pra cá.
– Ótimo.

O que acontece com corpos mortos, Sam?

Pó, luz cintilante, chuva.

– Você acha que ele consegue ouvir a gente?
– Com certeza.
– Porque eu vinha dizendo coisas pra ele.
– Que tipo de coisas?
– Não vou te falar!

o big bang foi a origem do sistema solar e somente então a Terra se formou e somente então a vida pôde surgir e depois de passados toda a chuva e todo o fogo vieram peixes depois insetos anfíbios dinossauros mamíferos pássaros primatas hominídeos e finalmente seres humanos

– Tem certeza de que ele deveria estar fazendo esse barulho?
– Acho que está tudo bem.
– Está diferente de agora há pouco.
– Shh, não estou conseguindo escutar.
– Está pior. Parece que ele nem consegue respirar.
– Merda!
– Ele está morrendo?
– Vai chamar o seu pai, Sam. Corre!

um passarinho move uma montanha de areia um grãozinho de cada vez pega um grãozinho a cada milhão de anos e depois de movida a montanha o passarinho leva tudo de volta e é essa a duração da eternidade e é um tempo muito longo para se estar morto

Talvez eu volte como outra pessoa.
Serei o menino de cabelos despenteados que Blaine conhece em sua primeira semana na universidade. Oi, você também está no curso de horticultura?

– Eu estou aqui, Kurt. Estou bem aqui do seu lado, segurando a sua mão. O Blaine também está aqui, sentado ali do outro lado da cama. E o Sam. A mamãe está vindo, vai demorar um minutinho só. Nós todos amamos você, Kurt. Estamos bem aqui do seu lado.

– Detesto esse barulho. Parece que está machucando ele.
– Não, Sam. Ele está inconsciente. Não sente dor.
– O Blaine disse que ele conseguia escutar a gente. Como é que ele consegue escutar a gente se está inconsciente?
– É como estar dormindo, só que ele sabe que a gente está aqui. Vem sentar aqui comigo, Sam, está tudo bem. Vem sentar no meu colo. Ele está em paz, não se preocupa.
– Pelo barulho, ele não parece em paz. Parece um boiler com defeito.

Volto-me para dentro, e suas vozes parecem um barulho de água murmurante.

Instantes se sucedem.

Aviões se chocam contra edifícios. Corpos voam pelo ar. Trens de metrô e ônibus explodem. Radiação vaza das calçadas. O sol se transforma em um minúsculo pontinho preto. A raça humana morre, e as baratas dominam a Terra.

Qualquer coisa poderia acontecer agora.

Musse em pó na praia.
Um garfo batendo em uma tigela.
Gaivotas. Ondas.

– Está tudo bem, Kurt, pode ir. A gente te ama. Pode ir agora.
– Por que você está dizendo isso?
– Ele talvez precise de permissão pra morrer, Sam.
– Eu não quero que ele morra. Não vou dar minha permissão.

Vamos dizer sim, então.
Sim para tudo só por mais um dia.

– Talvez seja bom você se despedir, Sam.
– Não.
– Pode ser importante.
– Pode fazer ele morrer.
– Nada que você disser pode fazer ele morrer. Ele quer saber que tem o seu amor.

Outro instante. Mais um. Eu consigo mais um.
Um papel de bala vai subindo o caminho do jardim soprado pelo vento.

– Vai lá, Sam.
– Estou me sentindo um idiota.
– Ninguém está escutando. Chega perto e sussurra.

Meu nome em volta de uma rotatória.
Areia da praia coalhada de moluscos.
Um pássaro morto no gramado.
Milhões de vermes ofuscados pela luz do sol.

– Tchau, Kurt. Pode me assombrar se quiser. Eu não ligo.

Um cabide entra em uma loja para comprar um chapéu.
Um camundongo mergulhado dentro d'água e imobilizado com uma colher.
Três pequenas bolhas de ar subindo à superfície, uma após a outra.

Seis bonecos de neve feitos de algodão.
Seis guardanapos dobrados como lírios de origami.
Sete pedrinhas, todas de cores diferentes, presas por uma corrente de prata.

O sol bate na minha xícara de chá.
Quinn olha pela janela e eu guio o carro para fora da cidade. O céu vai ficando cada vez mais escuro.

Deixá-los ir.

Blaine sopra fumaça na direção da cidade lá embaixo. Ele diz: Qualquer coisa poderia estar acontecendo lá embaixo, mas aqui em cima a gente não iria nem saber.

Blaine acaricia minha cabeça, meu rosto, beija minhas lágrimas.
Somos abençoados.

Deixá-los todos ir.

O barulho de um pássaro voando pelo jardim. Depois nada. Nada. Uma nuvem passa. Novamente nada. A luz entra pela janela, cai em cima de mim, entra em mim.

Instantes.

Todos convergindo em direção a este.

FIM


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Notas finais do capítulo

me matem e adeus.



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