Paralelo T. escrita por Tom


Capítulo 4
Capítulo 4 - Decisões


Notas iniciais do capítulo

Nem sempre o que é melhor para você é o certo.



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A página do jogo de Torie estava aberta. Seus dedos batiam repetidamente no botão esquerdo do mouse, uma forma de quase reunir forças para clicar no botão login ou não. Se ela clicasse, uma nova aba iria se abrir. Um espaço em que todos poderiam falar com todos que estivessem online no momento. Mas esse nem era o problema.

Ele estava online.

Depois de um bom tempo em que já se conheciam, a garota descobriu os seus sentimentos por aquele menino que... Já tinha namorada. Ela deu um longo suspiro e clicou logo naquilo. Ela não era o tipo de menina que fugia das coisas. Não mesmo. Assim que o seu nome fake apareceu no designer negro, ela percebeu que já fazia muito tempo em que não entrava ali.

Torie se recostou na cadeira, cumprimentando aqueles que a cumprimentavam. Todos pareceram fazer aquilo, menos ele.

– O que é que está acontecendo com você? – Sussurrou enquanto digitava um código para ser enviado. Esse código significava a indiferença que ela provavelmente estaria sentindo, mas era mentira. Ela não estava indiferente. Torie queria saber por que aquele imbecil a estava tratando daquela forma.

A loira não gostava de ser fraca, mas ele a estava fazendo se sentir assim. Depois de tudo que ela tinha tido, sim, ela tinha dito que gostava dele, ele ficava dessa forma? Ignorando-a? Ela ficava com raiva disso. E quanto mais ficava com raiva, mais ela se afastaria dele. Pelo menos era isso que ele queria, não é? E naquele mesmo momento, a namorada do garoto se conectava.

“Ótimo! Maravilhoso!” Pensou Torie com ironia. Aquilo faria com que ela não se demorasse mais ali. Sairia para... Sei lá. Ter um momento de criatividade e inspiração. Bem provável. Já estava escrevendo sua mensagem de despedida quando uma nova pessoa, se é que se podia falar assim, conectou. A garota sorriu quando viu quem era.

Ilee – esse era o seu nome real, não a da fake que aparecia ali – havia entrado com uma espécie de missão de salvação. Ela sabia que Torie não suportava aqueles dois ali... Juntos. A loira sorriu, imaginando às vezes que ela tinha dado várias indiretas para cima deles. Engraçado.

Mas Torie já estava se cansando de lá. Não tinha a mesma emoção que tinha antes. Ela e Ilee sabiam disso e já haviam conversado várias vezes de parar de jogar, só que quase nunca faziam isso. Torie por conta do garoto e Ilee por conta dela. Era um circulo.

“Vou sair aqui.” Disse a menina simplesmente. Já estava na hora de ela voltar para sua história. Voltar para Amerie. Não se preocupou muito por sua amiga ter acabado de entrar, já que elas sempre ficavam trocando mensagens quando não estavam pela internet. Só que agora Torie não pretendia conversar com ninguém. Afinal, era hora de entrar em sua própria história.

A janela do programa de textos foi aberta e sem demorar muito, começou a escrever da onde havia parado.

“Amerie segurava aquele porta-retratos com firmeza em suas mãos. E mesmo já tendo se passado pelo menos trinta minutos desde que havia matado o guarda – ação que não era necessária – e reparado o escritório, a foto. As informações daquele objeto não pareciam fazer sentido na mente da mulher. Como ele ainda guardava uma recordação dela? Depois de tudo o que fez?

Ela queria ficar feliz com aquilo, mas só aumentou ainda mais a sua raiva.

Ele era exatamente a pessoa de antes. Não conseguia perceber quando magoava as pessoas mais próximas e quando fazia as coisas erradas mas parecia pensar que tudo ficaria normal depois disso. Ele era um cínico. Um cínico que achava que o mundo girava em torno dele. Isso era demais para a cabeça de Amerie.

A mulher, agora um pouco desequilibrada, apertava o porta-retratos com tanta força que o vidro que protegia a foto de partiu em várias partes. Simbologicamente ou não, aquilo parecia o coração de Ame. Ela já estava preparada para lançar o objeto do outro lado do cômodo, para liberar a sua fúria, mas ouviu conversas e passos de duas ou mais pessoas nessa direção. Vasculhou um bom lugar para o esconderijo, uma porta que levava para outro lugar, mas se lembrou do corpo morto do guarda.

– Droga! – Murmurou enquanto ela andava até ele e enganchava suas mãos em ambas as pernas do homem, puxando-o com certa dificuldade para debaixo da mesa do prefeito. Graças a Deus ela era bem tampada na frente e, pelo mínimo de senso e bebedeira do representante da cidade, ele não se sentaria ali. Por hora.

A assassina se viu em uma encruzilhada. Praticamente não havia lugares para se esconder e ela já conseguia ouvir a voz grave e rouca do homem, seguida da de duas mulheres. Franziu as sobrancelhas por um momento, imaginando se Agnes era uma delas... Isso estava se tornando estranho.

O tempo estava se esgotando. A única alternativa era se espremer atrás de uma prateleira com arquivos. Ela ficava contra a parede e havia um vão invisível que, querendo ou não, tinha que ser o espaço perfeito para que Amerie coubesse. E coube.

– Por aqui, ladies. – Falou o prefeito. Depois de ter visto-o só por fotos nos jornais, ele estava melhor do que a mulher pensava. Alto, forte, bonito... Ele estava totalmente o contrário do que era antes. Parecia ter ganhado uma confiança que lhe faltava quando adolescente. Isso despertou a curiosidade de Ame, o que quase a fez esquecer-se do seu propósito ali.

As duas outras mulheres deram risadinhas enquanto entravam no escritório. Ninguém parecia perceber o cadáver no guarda, mas ainda estava recente demais para que começasse a produzir os seus odores de um homem morto.

– Eu costumo não deixar ninguém entrar aqui, nem mesmo a minha mulher, mas vocês duas são totalmente diferentes. – Ele continuou a falar com a voz embriagada. As outras mulheres confirmaram e deram novas risadinhas. Não pareciam ter mais de trinta anos. Ainda espremida, Amerie não conseguia acreditar naquilo que estava prestes a presenciar.

Ele traia Agnes. Ele a estava traindo duas vezes ao mesmo tempo. Ele realmente tinha mudado. Ele tinha dado uma nova ideia de vingança para a sua antiga amiga.

Agora a loira, enojada, só precisava arranjar uma forma de sair dali sem ser vista.

Quando esticou um pouco o pescoço para enxergar melhor, viu que os três estavam totalmente grudados um no outro em cima do sofá. Parecia não haver corpos o suficiente para que eles pegassem ou coisa do tipo... Era ridículo. Mas, pelo menos, estavam concentrados demais para perceberem que Amerie passava normalmente ao lado deles, indo em direção a porta.Abriu-a sem nenhum barulho e logo se viu livre dos dois, sozinha no posto onde ficava o guarda.

– Idiota. Nem percebeu que o guarda não estava aqui mais. – Murmurou consigo mesma enquanto desamassava a roupa. Verificou se a adaga estava firme em sua bota e recomeçou a andar. Agora a mente dela estava trabalhando a uma velocidade incrível.

Vê-lo daquele jeito, traindo Agnes, a fez esquecer que naquele escritório ela tinha lhe beijado e ele a tinha empurrado para trás, assustado com a atitude. Vê-lo traindo Agnes a fez se esquecer da foto dos dois juntos, quando adolescentes, e o que isso implicava na vida do homem. Vê-lo traindo Agnes a fez lembrar de que havia sido mandada ali para matar a criança e era isso que ela estava indo fazer.

[...]

Os corredores da mansão pareciam que nunca mais iriam acabar. Já havia se encontrado com todo tipo de pessoa bêbada por eles mas nenhuma delas pareciam dar importância para mulher vestida com um casaco negro, uma calça justa negra e uma bota de salto de couro negra.Peças que entravam em contraste com sua pele branca e seus cabelos louros. Mas afinal, era para isso que serviam as festas do prefeito. Andar livremente sem ser pega.

E demorou bastante até que enfim chegasse ao quarto da criança. A porta era azul e em sua região central estava o nome do menino. Rodolf Ganyrier III. Assim que viu aquilo, ficou com raiva. Era esse o nome do pai e do avô de Agnes. Como Antti pode deixar que ela colocasse esse nome no filho? O que ele mais queria, pelo menos na época em que se conheceram, era que seu menino se chamasse Aaron.

A raiva de Ame parecia ter voltado, só que dessa vez totalmente direcionada a Agnes. A mulher virou para os lados, procurando alguém que a tivesse visto entrar, mas o corredor estava deserto no momento. Abriu com o mínimo possível de barulho a porta, e assim ela correspondeu. O quarto azul estava impregnado com desenhos que Amerie não conseguia descrever ou sequer prestar atenção.

A criança era exatamente igual a foto que ela tinha visto de Antti quando ele tinha apenas os seus cinco anos. Os mesmos olhos verdes e os cabelos castanhos. As bochechas arredondadas e o corpo pequeno e magro. Os olhos de Ame pareciam ter se enchido de grãos de areia, porque ambos estavam marejados com lágrimas. A mulher suspirou profundamente, se abaixando para alcançar a sua adaga e tirá-la de lá. A criança olhava-a com um misto de medo e curiosidade, mas não se atreveu a usar as poucas palavras que já havia aprendido.

A assassina se aproximou com a adaga em punho. Rodolf se segurava, em pé, na quina do berço. Ela se perguntou por que ele, já tendo cinco anos, ainda dormia em berço e por que estava acordado a essa hora da madrugada. Lembrou-se então que o pai desnaturado estava dando uma festa.

– Sinto muito, criança... – Amerie sussurrou enquanto colocava a adaga em baixo do pescoço da criança. Ela não se mexeu, não chorou. Apenas manteve fixo os seus olhos verdes e grandes no rosto de Ame. A mão dela tremia quando a lâmina da arma se se encostou à pele desnuda do garoto. “Vamos lá, Ame. Você é uma assassina. Não deve se importar com isso. Não deve se importar por ele ser uma criança de cinco anos que se parece bastante com o pai quando este era bem mais jovem”. Ela pensou consigo mesma, não se ajudando em nada. Respirando rápida e superficialmente, a mulher estava se preparando para cometer a sua pior morte.

Só que ela ainda era fraca demais.

Deixou a mão cair ao lado do corpo do menino, ainda vivo, enquanto o olhava. Essa seria a sua primeira missão falha.

– Merda! Merda! Merda! – Começou a falar alto, saindo de perto do menino e guardando a adaga novamente entre o pé e o couro da bota. Ela desviou o olhar para a criança, um misto de raiva e preocupação, e depois olhou para porta. A missão falharia se ela deixasse a criança ali, viva. Seus chefes logo descobririam, porque tinham espiões em todos os lugares. O único jeito era...

– Você vem comigo. – A mulher ordenou simplesmente para a criança. Ainda sem se mover dali e emitir qualquer ruído, Rodolf apenas concordou com um aceno de cabeça. Ame, com pressa e nervosa pegou-o no colo. – Eu só posso estar enlouquecendo.”

Torie esfregou os olhos assim que terminou aquela última frase. Tinha sido a primeira vez que escrevia por tanto tempo a história de Amerie. Tinha perdido até a noção do tempo quando percebeu que o dia já estava virando noite. Não havia percebido, também, que ela tinha quatro novas mensagens. Deveria ser todas de Ilee, então ela foi logo verificar.

“Fiquei conectada mais tempo.”

Ele estava querendo falar com você”. Idiota. Pensou Torie.

“Dei umas indiretas fodas. Haha”. – Típico de Ilee.

“Ok. Vou deixar você terminar sua história”. – Terminar não. Apenas escrever até que a garota se canse.

Torie respondeu cada uma daquelas mensagens, desculpando-se primeiro por estar tão focada em Amerie para não ter visto aquilo. Olhou para tela do computador, onde via os recém-escritos parágrafos. Foi aí que ela tomou sua decisão.

Já estava na hora de jogar algumas verdades na cara daquele garoto. Estava na hora, também, de ela se livrar dos sentimentos que nutria por ele.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o maior capítulo. Uau. Espero que não tenham ficado com preguiça de ler ele. kk Enfim, espero que tenham gostado da leitura. :3


P.S.: O nome "Ilee" se pronuncia Ailee -q