A Mãe Perfeita escrita por Williane Silva


Capítulo 7
ENTREVISTANDO AS BABÁS




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Pv Edward

- Foi muito engraçado.- comentou Ben, gargalhando, enquanto eu o colocava na cama.- Você levantou como um foguete!

- Que bom que você achou engraçado.

Eu estava exausto e só o que desejo é ir para cama. A casa já esta trancada e Mike e Erik já estavam acomodados para dormir. O único obstáculo entre eu e a cama era Ben, que ainda estava desperto e disposto a conversar.

- Sabe no que eu estava pensando, papai?

- Não. No quê?

- Estava pensando... você acha que gatos têm umbigo?

Eu me aprumei e o olhei emudecido.

- E então? Têm ou não têm?

Eu revi mentalmente o pequeno “zoológico” dos meus filhos. O que começou com dois ratinhos brancos, um hamster, um periquito e quatro peixinhos dourados agora inclui Brutus, o furão, um largato, uma cobra d’ água, um morcego ferido, que os garotos diziam estar tratando e, eu lembrei estremecendo, as terríveis Ike e Spike que eram, nada mais, nada menos, do que um casal de tarântulas, o que explicava o colapso nervoso da Sra. Allison. Mas não consegui me lembrar de um único gato.

- Por que quer saber?- eu perguntei cautelosamente.- Nós não temos um, temos?

Ben sorriu e balançou a cabeça.

- Negativo. Eu só queria saber.

Aliviado, eu me pus a recolher as roupas sujas jogadas pelo chão.

- Papai?

- Sim?

- Você amava a mamãe?

A mudança repentina de assunto me pegou desprevenido.

- Como?

- você amava a mamãe?

- Sim, muito.- eu disse em tom baixo.

- você achava ela bonita?

- Ela era maravilhosa.- eu respondi, recordando.

Conheci Tânia na universidade. Loira, olhos azuis, com voz suave e um coração de ouro, era delicada como uma fada. Apaixonei-me assim que a vi.

- Você gostava de ser casado?

- Sim.

- Então quer dizer que gostaria de se casar novamente?

- Talvez.

Pouco provável, eu admiti. Eu jamais poderei esquecer de como me senti após a morte de Tânia, como se o meu coração me tivesse sido arrancado pela garganta. Tampouco consegui esquecer da expressão confusa nos rostinhos de meus filhos.

- Isso não é assim tão fácil, Benjamin.- eu desconversei.- Eu teria que encontrar a mulher certa, e ela teria que ser muito especial.

O garoto ficou alguns instantes ruminando a ideia.

- Bella é especial.- ele disse, por fim.- E é bonita, também; você não acha?

A mudança de assunto foi quase tão desconcertante quanto o anterior e me fez recordar do momento, no final do jantar, em que tive a mão dela sob a minha. Lembrei de como ela umedeceu os lábios, de como corara visivelmente. E a lembrança incitou novamente aquela sensação latejante.

- E então?- Ben persistiu- Ela não é bonita?

- Claro.- eu disse a contragosto.- Ben, já é mais do que hora de você dormir.

- Mas não estou casando.

- Acontece que eu estou.

- Ok, mas... responda só mais uma coisa. Você não vai nos deixar novamente, vai?

Eu suspirei.

- Receio que sim Ben.

O garoto sentou-se rápido como um raio.

- Mas você não pode! Isso é... quem vai tomar conta de nós?

- A Srta. Enne vai mandar algumas candidatas para uma entrevista, amanhã.

- Mas nós não queremos nenhuma babá idiota! Elas são chatas ! o que precisamos é de uma mã...

- Ouça.- eu o interrompi com a paciência por um fio.- Não se preocupe, está bem? Conversaremos pela manhã.

Ele voltou a se deitar.

- Promete?

- Prometo.

- Então está bem.- ele olhou fixamente apara mim.- Papai?

- Sim?

- Não se preocupe por não saber a respeito de gatos. Vou perguntar a Bella. Ela deve saber. Afinal, ela sabe tudo.

- Certo.

- Papai?

- O que foi agora?

- É bom você estar em casa. Estava com muita saudade.

Ben me lançou um sorriso encantador, enfiou-se debaixo das cobertas e fechou os olhos. Eu senti o meu coração apertado, mas ainda consegui responder:

- Também tive saudade, filho. Boa noite.

PV Benjamin.

Eu aguardei até os passos do papai sumirem no corredor. Então me levantei da cama, andei na ponta dos pés e fechei a porta. Caminhei com segurança pelo quarto iluminado apenas pelo luar, fui até a escrivaninha e acendi o abajur. Peguei o pequeno gravador e o liguei.

- Testando... testando...- eu sussurrei.- Este é o minicassete número dois.

Limpei a garganta, pensei por alguns segundos e comecei.

Ei, tio Emmett, sou eu novamente, Ben. Só quero dizer que papai finalmente voltou para casa e conheceu Bella. Está tudo bem, embora as coisas não estejam correndo exatamente como planejei.

É porque papai não telefonou como previsto, ela caiu dentro do duto da lavanderia, os bombeiros vieram e papai ficou irritado. Mas depois que eu disse como Bella é legal, ele ficou tão satisfeito que deu a ela quinhentos dólares por ter tomado conta de nós! Além disso, nós todos fizemos o primeiro programa hoje à noite. Papai e Bella ficaram sentados sozinhos, e ele disse que achou Bella muito bonita. O único problema é que ele vai ter que fazer outra droga de viagem de negócios e por isso quer contratar outra babá idiota.

Mas já pensei nisso e tenho um plano. Tudo o que preciso é cuidar para ninguém queira o emprego. Assim, papai pedirá a Bella que tome conta de nós, e vai perceber como ela é perfeita. Simples, não é?

Este é Benjamin Cullen, seu sobrinho favorito, de Port Sandy.

P.S.: Estou enviando a você nove dólares e quarenta e dois centavos. Dava para você comprar um anel de diamante bem grande? E mandar assim que for possível? Obrigado.

- Eu ainda não entendo por que precisamos ter uma babá idiota!- teimou Ben pela vigésima vez. Estava sentado no sofá junto aos irmãos.

- Porque é preciso que alguém tome conta de vocês.

Eu consultei novamente meu relógio de pulso e franzi o cenho. Já eram dez e meia, o que significava que a primeira candidata estava quinze minutos atrasada.

O dia já começou errado no momento em que despertei. Depois de uma noite perturbada por sonhos em que tentei conhecer, no sentido bíblico, uma certa jornalista colega de meu irmão, cai num sono pesado somente ao nascer do sol. Quando olhei outra vez para o relógio já passava das nove. Desnecessário dizer que perdi a hora.

Corri escada abaixo e descobri que meus filhos já estavam de pé, quase destruindo a cozinha. Mike convidou Brutus para o café da manhã e tudo indicava que o bichinho escapou. No decorrer da busca malsucedida, os garotos conseguiram derrubar um pacote de farinha no chão, além das latinhas de tempero e de um vasilhame de suco de maçã.

Eu mal comecei a limpar quando a Sra. Kent, a empregada temporária, entrou na cozinha. Ela olhou a bagunça e disse que estava com dor de cabeça e que precisava voltar para casa.

A única coisa boa que aconteceu foi a tia Enne ter conseguido quatro candidatas para eu as entrevistasse. Mas eu não estava muito otimista.

- Por que Bella não pode tomar conta de nós?- Insistiu Ben.

- Porque ela não está aqui para isso.

- Mas ela gosta de nós!

- Tenho certeza de que sim, mas só está aqui de passagem.

- Queremos que ela fique mais tempo.- teimou Ben.

- E não queremos nenhuma babá idiota.- emendou Erik.

- Sinto muito, mas vocês precisam de uma.- Eu senti uma pontada de culpa ao perceber a infelicidade na voz dos garotos.- Ouçam, nós vamos encontra a pessoa perfeita para vocês, eu prometo.

Me dirigi até a janela ao ouvir um carro estacionado.

- Ok meninos, lá vamos nós.- como Ben olhou pra mim com um olhar petulante, eu acrescentei.- Acredite. Tudo vai dar certo.

Pv Benjamin.

Troquei um olhar significativo com meus irmãos. Então me recostei no sofá e cruzei os braços.

- É assim?- eu murmurei.- Pois então, veremos!

A primeira candidata foi a Srta. Michael. Mal saída da adolescência, com cabelos castanhos encaracolados e enormes olhos azuis, parecia um lápis, de tão alta e magra. Para completar, seu temperamento tímido deixava muito a desejar.

Antes que a entrevista chegasse ao ponto das perguntas e respostas, eu já tinha decidido que tinha pouca experiência para lidar com os garotos. E, no instante seguinte, Mike puxava minha manga.

- Papai?

- Sim, Mike?

O garoto meneou o indicador, para que eu me aproximasse.

- Preciso ir lá.

Eu me empertiguei.

- Agora?

O menino confirmou, acenando com a cabeça.

- Precisa de ajuda?

Ele balançou a cabeça com veemência.

- Então está bem.- eu aquiesce.- Pode ir.

Mike saiu correndo, e eu voltei à entrevista. passados alguns instantes, Ben interveio:

- Sabe? Meu irmão é pequeno e às vezes faz coisas que não deve. Como sou mais velho, tenho que ficar de olho. Acho melhor ver se está tudo bem.

Determinado a minar qualquer tentativa de sabotagem de meu filho eu me adiantei.

- Você fica aqui e eu vou olhar seu irmão.

Ben fez menção de protestar.

- Mas, papai...

- Já disse que eu vou até lá.- olhei significativamente para ele.- Seja gentil. Voltarei logo.

- Está bem papai.

Eu encontrei Mike parado diante do espelho de um dos banheiros do térreo, olhando para a própria imagem.

- Mike? O que está fazendo?

O garoto corou.

- Nada!- ele apresou-se em responder.

Eu analisei a imagem refletida e gentilmente peguei o rosto do meu filho entre as mãos para então vira-lo para minha direção. Um lado dos cabelos do caçula estava emplastado com uma camada mais que generosa de gel.

- Que penteado interessante.- eu comentei, com neutralidade. - Eu só queria fazer uma experiência.- Mike explicou, timidamente.- Mas o pente grudou nos meus cabelos.

De fato, eu percebi que havia um pente grudado no meio de uma placa de gel, atrás da orelha do garoto. Suspirei.

- Tudo bem.- eu tirei uma toalha do suporte e coloquei Mike sobre o balcão.- Com um pouco de água você vai ficar novinho em folha.

Em pouco tempo, eu deixei Mike com uma aparência decente, e não demorou muito para que nós dois nos juntassi-mos aos demais.

A Srta. Michael voltou-se nervosa na nossa direção.

- Tudo...tudo bem?

Eu fiquei surpreso com a mostra de preocupação.

- Claro. Tivemos um probleminha, mas jogamos um pouco de água e ficou tudo bem, não foi, Mike?

- Foi.- ele concordou.

Ao que a Srta. Michael perguntou trêmula:

- O senhor... o senhor teve que jogar água?

- Não foi nada. O Mike aqui estava fazendo uma pequena experiência com os cabelos e...

- Ah, meu Deus! Os cabelos!

Ela ergueu-se num salto e caminhou até a porta.

- Sinto muitíssimo, Sr. Cullen, mas eu... tenho certeza de que não sou a pessoa certa. Estou há somente dois meses no curso para babás. Simplesmente não tenho experiência para lidar com crianças... especiais. Quero dizer...- ela olhou significativamente para Mike.- Os garotos me falaram a respeito do problema de Mike. Sobre os bombeiros que precisaram vir ontem, e sobre como a cozinha se incendiou mais tarde.

- Eles contaram?

Eu fulminei com o olhar os dois mais velhos que nem ousavam erguer os olhos.

- Sim! Sinto muito, mas o senhor vai ter que arrumar outra pessoa para ficar com eles.

Com isso, ela me deu as costas e saiu, fechando a porta atrás de si.

Eu respirei fundo e contei até dez. oito vezes. Enfim, voltei, para os meus filhos velhos, com a voz perigosamente calma.

- Muito bem. Quem de vocês vai contar o que disseram para a moça pensar que Mike é um piromaníaco.

Ben saltou e ficou de pé.

- Ih, papai.- cuidando para não se aproximar muito de mim foi até a porta, com Erik em seus calcanhares.- Deve ser nossa próxima candidata.

A Sra. Cay era uma mulher na faixa dos cinquenta anos, falante e determinada, com óculos e cabelos presos em um coque. Como tivesse uma certa experiência, antes de chegar ao final da entrevista, eu já tinha decidido que a Sra. Cay era o que eu estva procurando. Sentindo-me confiante, me voltei para os meninos:

- Vocês querem fazer alguma pergunta?

Depois de um momento de silencio, Ben manifestou-se:

- A senhora gosta de bichinhos de estimação, Sra. Cay?

Eu cheguei até a ficar orgulhoso, pois esta era uma pergunta que eu mesmo deveria ter feito:

- Ah, sim.- alegrou-se a Sra. Cay.- Eu até tenho um canário encantador. Seu nome é Bybu.

Os garotos trocaram um olhar expressivo, ao que eu apressei em explicar.

- Veja bem, alguns dos bichinhos de meus filhos são um tanto exóticos.

A Sra. Cay sorriu encantada.

- Que coisa maravilhosa! A minha filha lisa já teve um gato angorá. E o meu bybu canta excepcionalmente. Imagine que na ultima semana ele...

Ao ouvir o telefone tocar, eu me ergui.

- Com licença.- pedi, interrompendo-a, lançando então um olhar grave na direção dos meus filhos.- Nada de ficar contando histórias, ok?

- Sim, papai.- os garotos responderam em coro enquanto eu saía da sala:

Ao chegar ao escritório, eu peguei o fone.

- Alô?

- Sr. Cullen? Aqui é o Bento, da Bento serviços automotivos. Estou retornado sua ligação a respeito do seu carro.

Um grito arrepiante cortou o ar.

- Bento? Você pode ligar mais Tarde?- eu bati o telefone e corri para a sala, a tempo de ver a Sra. Cay se batendo toda, como se estivesse sendo atacada por inimigos invisíveis. Os garotos estavam bem atrás dela.

- O que diabos está acontecendo?- eu vociferei.

A Sra. Cay alcançou a porta com os óculos desalinhados e o coque completamente desfeito. Tremendo violentamente, me fulminou com um olhar assustador.

- Não! Não posso ficar aqui! Sinto muito!

Ela abriu a porta e saiu como um raio.

Mal acreditando na cena que se desenrolou na minha frente, eu ainda fui até a porta a tempo de vê-la partir como se a casa fosse assombrada. Depois, voltei pra os meus filhos que haviam me seguido.

- Muito bem. O que aconteceu?

Ben deu de ombros.

- E eu sei? Estávamos falando sobre bichinhos. Ela nos contou a respeito de Bybu, que, por sinal, é um nome muito idiota.

- Benjamin...- eu o adverti.

O garoto suspirou.

- Ok, ok. Bem ela então perguntou se eu tinha algum bichinho de estimação, e eu lembrei que Belly estava dormindo em meu bolso. Então eu o tirei para mostra-lo e ela ficou... sei lá...- ele balançou a cabeça.- Pobre Belly. Não foi culpa dele. Ele tentou escapar e parece que ficou embaraçado nos cabelos dela.

- Belly? Quem é esse?

- Ué, você não sabe? Belly lagusa. Eu não contei que Bella o encontrou e deu a ele esse nome por causa daquele ator antigo? Aquele que dizia assim.- o garoto mostrou os incisivos e falou imitando o sotaque da Transilvânia.- Eu beberr toda sua sangue...

Eu mal pude crer. Lá estava Bella novamente, desequilibrando minha vida. Eu já devia ter adivinhado.

- Espere um minuto. Você está falando de Bela Lugosi?

- Lógico. O que foi que eu disse?

- Quer dizer que Belly é o morcego?

- Com certeza não é um canário idiota.

Eu retesei o maxilar e comecei a contar até mil. Interpretando mal o meu silêncio, Erik se aproximou e deu um tapinha consolador em minhas costas.

- Tudo bem, papai. Belly não se machucou.

A Srta. Ganter tinha vasta cabeleira vermelha e aparelhos nas duas arcadas. Fora isso, o conjunto de fuseau e camiseta verde-limão e as botas até os joelhos, ela até era razoável. Mas, ao perceber a tatuagem de cobra ao redor de seu pulso, eu imaginei que modelo ela seria para meus filhos.

Erik percebeu o detalhe imediatamente e ficou fascinado, a ponto de se aproximar para ter melhor visão. Ela percebeu e estendeu o braço.

- Quem fez a tatuagem foi meu velho. Nós vamos ficar juntos novamente.- ela explicou, franzindo a sobrancelha.- Assim que ela sair da prisão.

Ben arregalou os olhos.

- Puxa! Não brinca!

A Srta. Ganter estourou uma bola de chiclete, sem preocupar-se com o aparelho.

- Foi. Ela já cumpriu dois de cinco anos, mas acho que vai sair em setembro por bom comportamento.

- Ele matou alguém?- Erik estava hipnotizado.

Ela gargalhou.

- Está brincando? Meu velho é safo. O que ele fez foi tentar entrar no sistema de entregas em domicílio, no computador, para pedir coisas sem pagar.- levou a xícara de café até a boca e suspirou.- Meu velho não é um marginal qualquer. Ele é um artista da computação.

Os olhos de Ben se iluminaram.

- Uau! Será que um dia você vai me mostrar...

Eu me ergui abruptamente e tirei a xícara de café da mão tatuada.

- Obrigada, Srta. Ganter.

Eu a peguei pelo cotovelo e a levei até o vestíbulo.

- Sua entrevista foi muito... educativa. Diga à Sra. Enne que manterei contato.

- Já entendi, Sr. Cullen. Para falar a verdade, nem gostaria de trabalhar aqui. O senhor tem ratos pela casa.

Eu olhai para onde ela estava apontando e vi o hamster andando pela escada. Jamais pensei que iria me sentir tão grato a um roedor.

Eu suspirei aliviado ao ver uma senhora de cabelos brancos curtos e postura digna sair de um sedã azul. De acordo com tia Enne, os antecedentes de Srta. Brunet ravel ainda não haviam chegado, mas suas notas no curso de babá eram as melhores possível.

Eu fiquei surpreso ao perceber que, apesar dos gestos bruscos, ela era uma mulher gentil, ainda que tivesse um hábito estranho de enfatizar certas palavras na frase como se tivesse letras maiúsculas.

- A senhora gosta de animais de estimação?- eu perguntei depois de ter concluído a rotina mais formal.

- Certamente. Os animais são nossos amigos.

- Não estou me referindo exatamente a cachorros e gatos.- eu esclareci.- Os garotos têm um morcego, um largato, algumas tarântulas e vários roedores.

A Srta. Ravel sorriu, com aprovação.

- Ótimo. Quando criança, eu mesma tive uma jiboia. Cuidar de animais dá noções de responsabilidade.- ela sorriu brandamente para meus filhos.- Garotos precisam ter muita responsabilidade.

- Concordo.- eu tamborilei os dedos.- Como a senhora se sente a respeito de imaginação criativa? Histórias fantasiosas?

- Não se preocupe. Consigo perceber assim.- ela estalou os dedos no ar.- Quando não estou ouvindo a verdade. Comigo, seus filhos aprenderão que honestidade é a melhor política.

Os garotos olharam desanimadamente para a candidata, e eu, que estava me sentindo bastante entusiasmado, senti pena deles.

- Por que não sobem para vestir um calção de banho enquanto acerto alguns detalhes com a Srta. Ravel?

- Ok.- eles disseram, tristemente.

Eu observei-os sair e então me voltei para a Srta. Ravel.

- Se está interessada, o emprego é seu. Creio que a Srta. Neymam já lhe contou que exijo um período de experiência de duas semanas, mas...

O telefone tocou novamente. Eu suspirei.

- Com licença. Preciso atender...

A Srta. Ravel inclinou a cabeça.

- Por favor. Fique a vontade.

- Então, está interessada?

Ela olhou ao redor da sala finamente decorada.

- Oh, Sim!

Tendo ouvido a afirmação, eu fui para o escritório era Bento novamente. Dessa vez, eu pude falar sem interrupções. Eu expliquei o problema e consegui que viessem olhar o carro.

No momento em que desliguei o aparelho, sentia-me um homem novo. Tudo parecia estar se encaixado novamente.

No entanto, fiquei surpreso ao encontrar a Srta. Ravel esperando por mim no corredor.

- Quando quer que eu comece?- ela perguntou bruscamente, fingindo procurar algo na bolsa grande.

- Amanhã é muito cedo?

- Não, não, seria ótimo...

- Ei, Srta. Ravel!- Erik chamou. Eu ergui os olhos e vi os garotos correndo ao longo da balaustrada no andar de cima.- Quer var minha criação de formigas?- acompanhado dos dois irmãos, o menino começou a descer as escadas, carregando um grande recipiente de acrílico.

Eu automaticamente estendi um braço para proteger a nova babá ao perceber que a tampa havia sido removida.

Infelizmente, a Srta. Ravel mudou de posição e a minha mão se chocou contra o antebraço dela, desequilibrando-a e projetando-a para frente. Ao mesmo tempo Ben deu um empurrão entusiástico no irmão.

- É, mostre para ela, Erik!

Como câmera lenta, Erik abriu os braços, atirando formigas e terra como se fossem confetes na direção dela, que, com um grito apavorado, deixou a bolsa cair ao chão, esparramando os itens interessantes que estavam em seu interior: uma velha caixinha de rapé de prata, um pratinho de cristal e um gracioso cisne de jade.

Eu olhei para os objetos, que, por sinal, pertenciam todos, à sua sala, encarou a Srta. Ravel e praguejei.

- Ih!- se apavorou Mike.- O papai disse uma palavra muito, muito, muito feia.


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