Soro Da Verdade escrita por Ray chan


Capítulo 1
Soro da Verdade


Notas iniciais do capítulo

Uma coisa que eu queria avisar antes: nessa fic eu acrescentei uma pequena participação de Lya Deviron, que é uma personagem original que eu criei (que inclusive tem uma fic só dela entre as minhas histórias - A garota da profecia - pra quem se interessar e quiser saber mais sobre ela rsrs).
Ah, e eu também não coloquei lemon (pra tristeza de alguns xD). Se queriam, sinto muito, mas não tenho coragem de fazer kkkkk
Fora isso... Espero que gostem da fic ^3^
Boa leitura o/



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Soro da verdade

Em um dia normal da Grand Chase, tudo estava calmo. Calmo no sentido de não haver monstros, porque, mesmo pela manhã, a base já estava barulhenta e inquieta, principalmente na cozinha, cuja cozinheira Mary Jane estava de folga.

– Ryan! Mexe essa panela direito ai e para de colocar o dedo na cobertura do bolo! – Elesis ralhou enquanto mexia uma massa de panqueca na frigideira que chiava baixo.

– Nah... – Ryan resmungou, tirando o dedo sujo de chocolate de dentro da boca – Mandona...

– Elesis... – Lire murmurou ao lado dela com alguns pratos em mãos.

– Como é que é, garoto?! – a ruiva exclamou e levantou a espátula quente em ameaça, ignorando Lire.

– Elesis. – a elfa tentou novamente.

– Uah! Que medo! – Ryan recuou e então fugiu, deixando a panela sobre o fogo acesso.

– Ah! Volta aqui, seu elfo inútil! – ela sacudiu a espátula.

– Elesis! – Lire gritou.

– O que foi?! – a ruiva se virou enérgica para a loira.

– A panqueca... Está queimando.

– O que?! – a ruiva se virou para a frigideira que agora chiava alto e liberava uma fumaça com cheiro ruim vindo da massa preta e disforme que deveria ser uma panqueca – Ah! Que droga! Porque você não me avisou antes, Lire?! – desesperadamente ela tentava desligar o fogo e dissipar a fumaça.

Uma gota escorreu pela testa da loira.

–... Porque você não me escutou, né...

Enquanto Elesis abanava a comida queimada com um pano, Sieghart entrou na cozinha e Lya vinha logo ao lado, olhando feio, mas ao mesmo tempo levemente corada, para o braço folgado do imortal por sobre os seus ombros.

– Hey, o que você está queimando ai, ruivinha? – o moreno falou com um tom divertido.

– Faz o favor de tirar o braço daí...? – Lya pedia, mas Sieghart sequer parecia escutá-la.

– Não enche, Sieg! Alias, aproveita que você ta aqui e faz alguma coisa que presta, tipo mexer essa panela ai, no fogo. – ela apontou para a panela que Ryan havia abandonado ao fugir.

– Não, muito obrigado. – Sieghart recusou ironicamente, já se virando para dar meia volta – Quando acabar ai, vou estar esperando à mesa, beleza? Ah? Aiaiai...! C-ciganinha...?

Sorrindo docemente, ao ouvir o apelido idiota, Lya só fez torcer um pouco mais o braço do moreno – que ela havia tirado à força de cima dos ombros depois de desistir de fazer Sieghart escutá-la.

Com dificuldade, ele esboçou um meio sorriso.

– Acordou violenta hoje, c-ciganinha....

–...

Palavras erradas.

– Eu posso ajudá-la no lugar dele, Elesis. – propôs Lya inocentemente.

Num canto escuro, o corpo inerte do imortal estava jogado.

–... Tá... Valeu... – com essa Elesis até se acalmou, sentindo-se vingada.

Lire havia escapado da confusão e estava na sala de jantar, arrumando os pratos, copos e talheres, com a ajuda de Ryan que havia fugido e Mari.

Jin estava na cozinha ajudando Amy a cortar algumas frutas, praticamente sozinho, já que Amy era inútil na cozinha quando havia acabado de fazer as unhas.

Lupus e Lass estavam fora da casa, lutando do próprio jeito de “treinamento” deles – violento e quase até a morte. Rey e Lin estavam assistindo e apostando em quem venceria.

Ronan não estava no quarto.

Arme estava no quarto.

E o resto: Holy, Dio e Azin ainda estavam dormindo por terem voltado tarde das suas respectivas missões.

O único, acordado, longe de confusão era Zero. Sentado em um dos sofás da sala de estar, ele observava o grupo agitado que fazia o café da manhã e os outros com um ar indiferente, praticamente entediado. Sua única companhia era a fiel Grandark, apoiada sobre as pernas do andarilho enquanto ele olhava os seus companheiros da Grand Chase.

Era incrível, para o insociável Zero, como todos se davam tão bem. Rindo juntos, brigando, fazendo as pazes... Até a recém-chegada Lya já parecia bastante à vontade fazendo o café da manhã com todos. Zero, que já estava com o grupo há muito mais tempo, só agora começava a se enturmar, conversando vez ou outro, às vezes ajudando com coisas simples... Isso, para alguém como Zero, era um grande progresso.

“Hey, Zero. O que você está pensando com essa cara de nada ai?” – a voz familiar da espada que só Zero podia escutar soou em seus ouvidos.

Mas, como sempre, ele se sentia muito mais à vontade quando estava apenas com a Grandark.

– Nada importante... – Zero responde, tocando a espada casualmente.

“...” – Grandark se cala, apesar do autismo do garoto sempre irritá-lo, Grandark estava um pouco sonolento ainda.

De repente, o barulho de uma explosão ecoou forte por toda a base, arrancando alguns gritos pelo susto dos que estavam na sala e na cozinha, e interrompendo o treinamento dos meio irmãos, ao mesmo tempo que acordou todos os que ainda estavam dormindo, os quais logo desceram dos seus quartos para a sala de estar, perguntando o que estava acontecendo, mas todos os outros que se reuniram no cômodo também se perguntavam a mesma coisa.

O que estava acontecendo?

Nesse momento, duas vozes vêm descendo as escadas.

– Ah-ah... Você estragou todo o meu trabalho, Ronan... – dizia uma garota desapontada e com as pontas do cabelo roxo chamuscadas.

– Eu sinto muito, Arme... – o garoto dizia, não pela primeira vez, o rosto manchado pela fumaça da explosão.

– Arme? – Elesis falou em tom de dúvida ao ver a maga.

– Ronan? – Jin completou.

Os dois pararam na base da escada e tinham uma expressão culpada no rosto, como se tivesse sido pegos fazendo algo de errado.

– O que supostamente houve nesses últimos minutos? – perguntou Holy, passando a costa da mão sobre um dos olhos de forma sonolenta – Isso me acordou...

– A mim também. – Azin falou meio irritado por ter sido acordado.

– Espero que tenham um bom motivo para me acordarem desse jeito... – Dio, que havia voltado mais tarde que todos os outros da missão do dia anterior, era o mais irritado.

A maga riu meio sem graça ao ver todos reunidos ali e ela olhou automaticamente para o frasco pequeno e borbulhante que trazia em mãos, cujo líquido tinha uma estranha coloração esverdeada.

– Eu estava só terminando de preparar uma poção nova que inventei... Mas vou logo avisando que a culpa é toda do Ronan. – defendeu-se a pequena.

– O que...! – Ronan até contestaria aquela acusação, mas pensou bem e lembrou que ela não deixava de ter razão, então suspirou – Eu já disse que sinto muito...

– Isso não compensa todo o trabalho que eu tive varando a noite acordada. – ela mostrou a língua para o Erudon.

– Foco, Arme. – Lire chamou a atenção da amiga – O que foi que aconteceu, afinal?

– É que... Eu tava terminando o meu soro da verdade...

“Soro da verdade...?” – os heróis não sabiam o que pensar disso.

–... E o Ronan apareceu e... – por algum motivo Arme corou – Me d-distraiu... – ela tossiu para disfarçar e continuou –... E eu acabei colocando o ingrediente final em excesso, por isso a explosão.

– Aaah... – todos falaram juntos.

Ronan balançou a cabeça para os lados. Meio corado também.

– Mas o pior de tudo é que a minha poção já era... – Arme choramingou – E eu não faço a mínima ideia do que essa faz... – ela levantou o frasco, analisando o conteúdo verde suspeito.

– Não acho que esse seja o ponto principal, não... – Ryan murmurou com uma gota escorrendo pela testa.

“Que besteira...” – a voz soou apenas na cabeça de Zero.

– Sim... – Zero concordou com a Grandark e se virou para frente novamente, ignorando o resto da conversa dos seus companheiros.

Sem se importar com o que parecia ser Amy provocando Arme sobre algo como o que a maga estava fazendo com Ronan para estar tão distraída, Zero fitou a sua espada que estava quieta. Parecia até que estava dormindo ou tentando dormir, o que explicaria por que Grandark não estava interessada mesmo em algo como uma explosão, pois Zero sabia que a Grandark era do tipo que só se interessava por uma coisa de cada vez, no caso, dormir. Se é que espadas ficavam com sono.

Então tudo aconteceu muito rápido.

Zero não estava prestando atenção enquanto tocava Grandark quase como se acariciasse uma pessoa; atrás dele, Arme teve a brilhante ideia de testar a desconhecida poção em um dos seus companheiros, que negaram veementemente, sabendo da fama duvidosa dos experimentos da maga, então ela insinuou correr atrás deles e testar no primeiro que agarrasse, fazendo-os fugirem desesperadamente, mas no meio da confusão, Arme tropeçou no tapete, caindo por cima do sofá, exatamente onde Zero estava.

A poção se derramou e, antes que Zero pudesse reagir, outra explosão – desta vez de fumaça – envolveu o andarilho, e Arme recuou aos tropeços, sendo amparada por Ronan enquanto tossia pela fumaça. Ela então olhou o frasco em suas mãos.

– Ops. – estava vazio.

– O que você fez, Arme?! – Elesis gritou, preocupada com o andarilho ofuscado pela fumaça esverdeada persistente – Você está bem, Zero?!

De dentro da fumaça, pouco a pouco a silhueta do garoto voltava a ser visível para os heróis.

– Sim... – a voz de Zero soou em conjunto com um pequeno acesso de tosse – Acho que caiu apenas na minha calça... – informou, pois sentia algo relativamente quente sobre as suas pernas.

– Que irritante... Por que vocês não calam a boca...?

– Zero?!? – os heróis exclamaram surpresos. Perguntando-se se, talvez, a poção tivesse feito efeito e deturpado a personalidade de Zero. Surpresos o suficiente para não repararem que aquela voz não era de Zero.

– Não fui eu... – Zero murmurou em resposta –... Como conseguiram ouvir a voz dela...?

Então a fumaça se dissipou.

O queixo de todos ali caiu. Zero não entendeu, porque o seu visor havia embaçado com a fumaça.

Com a mão livre, ele limpou o visor e procurou saber o estrago em suas roupas, então Zero simplesmente parou. Paralisado. Sem reação.

Suas calças estavam em perfeitas condições, mas sobre elas é que estava o problema.

Um garoto.

Cabelos verdes espetados se espalhavam curtos nas pernas do andarilho onde ele estava com a cabeça apoiada, fios de franja caiam sobre a testa alva do desconhecido que lentamente abriu os olhos, demonstrando um tom de verde claro impressionante, como as folhas da primavera. Ele vestia uma roupa que trazia uma sensação de familiaridade a Zero e que deixava a mostra um corpo magro e delicadamente formado.

Mas o pior de tudo era a mão de Zero que, por algum motivo, tocava o rosto daquele garoto de pele suave, quase como se estivesse fazendo uma carícia digna de namorados.

Nessa hora, Sieghart, alheio a confusão, saiu da cozinha depois de se recuperar, alisando a parte de trás da cabeça dolorida, e entrou na sala de estar. Tudo o que ele viu foi um Zero sem reação e um garoto que não conhecia deitado no colo do andarilho.

E ele não mediu palavras.

– Opa. Então é desse tipo de “fruta” que o andarilho gosta, é? Bem que eu desconfiei... – riu o imortal.

Do outro lado, Dio soltou um riso de escárnio.

– Desconfiou porque? Experiência própria?

– Como é que é?! – Sieghart se virou indignado para o Asmodiano, mas depois de controlou, pensando melhor, e esticou um sorriso irônico – Bem que você queria, né, Diozinho?

– Repete se tiver coragem, cachorrinho dos deuses! – provocou, fazendo surgir a Deathstar.

– OP desgraçado!

E quando os dois estavam prontos para se matarem, Elesis se interpôs entre eles com toda a sua feminilidade e socou a cabeça deles com tanta força que quase os fez desmaiarem.

– Parem com isso, seus animais! – ralhou a ruiva, pisando sem dó nos dois – Não veem que o negócio é sério?! Aquele é...

– Grandark...? – a voz de Zero quase não saiu.

O garoto se sentou, piscando repetidas vezes, e olhou para as próprias mãos como se não acreditasse no que estava vendo. Virava as palmas e via as costas, tocava os dedos como se medisse os centímetros. Então os lábios se curvaram lentamente em um sorriso com ares de garoto travesso, rindo como se tivesse recebido o presente do papai noel.

– Não acredito... Hah, um corpo... Eu tenho um corpo...! – ele comemorou, analisando cada canto, apalpando, tocando... Completamente entusiasmado.

– E que corpo, em... – Amy deixou escapar.

– Amy! – Jin exclamou com lágrimas nos olhos – Puquê fais iso cumigu...?

Ignorando tudo ao seu redor, Zero concentrava-se apenas naquele garoto estranho, mas ao mesmo tempo tão familiar. Ele também não sabia explicar, mas sentia uma estranha atração pelo som daquele riso, daquela voz...

Os olhos verdes claros se viraram de repente para o catatônico Zero, que se sentiu, por algum motivo, corar imediatamente ao ter aqueles orbes sobre si.

E, como se tivesse percebido a reação do andarilho, o garoto arqueou uma sobrancelha, desconcertando Zero ainda mais.

– O que há, Zero? Não me reconhece? – a voz dele era suave, mas ao mesmo tempo levemente persuasiva, indicando uma personalidade controladora.

– N-Não é isso... – murmurou Zero, incerto, estranhando o próprio gaguejar – É só que... É você mesmo...?

O garoto sorriu outra vez com ares de divertimento.

– Acredite, eu sou o único e invencível Grandark.

– E modesto... – sussurrou Ryan para Jin, que riu baixinho.

Zero estava pasmo. Aquele garoto era a sua eterna companheira Grandark? A maneira superior de falar e o som daquela voz definitivamente eram de Grandark, mas o andarilho não estava se sentindo à vontade ao lado dele por algum motivo. Como costumava ser, pelo menos. Sentia-se inquieto só de ver aquele sorriso fácil do ex-espada e quando aqueles olhos claros o olhavam parecia que Grandark podia ver muito mais do que a aparência exterior do andarilho, o que o deixava completamente constrangido.

– Mas... Como...? – Zero indagou.

– Deveria perguntar para a sua amiguinha maga. – Grandark falou, apontando para Arme por sobre os ombros.

– Eh? – a menina recebeu um olhar questionador de Zero e parou para pensar um pouco, tentando achar um motivo – Talvez... Como eu estava tentando fazer um soro da verdade, o excesso do ingrediente final tenha criado uma poção forte o suficiente para revelar a aparência interior das pessoas... – Arme tamborilou um dedo nos lábios com uma expressão pensativa – No caso, essa seria a aparência interior humana da espada Grandark.

– Ele vai ficar assim para sempre? – Jin perguntou ciumento, vendo os olhos de Amy brilharem enquanto olhava o físico de Grandark.

– Não, não. Muito difícil. Esse tipo de poção minha dificilmente dura mais que uma semana. – Arme o tranquilizou.

– Uma semana... – Grandark murmurou para si e em seguida um sorriso malicioso surgiu em seus lábios – Tempo o suficiente para eu me divertir com essa forma... Certo? Zero.

O andarilho sentiu-se corar de novo, constrangido por aquele olhar esverdeado e persuasivo. Parecia hipnotizar Zero. Ele tentava lembrar a si mesmo que aquele era o Grandark de sempre, mas não conseguia evitar se sentir sem jeito e confuso. Aquilo era demais para o pobre Zero. Por isso ele se levantou de cabeça baixa, murmurou uma desculpa qualquer e fugiu como um cachorrinho assustado pela carrocinha, ignorando as chamadas daquele que costumava nunca contestar.

E assim se seguiu durante vários dias. Zero estava mais esquivo que Lass – um ninja! –, mas exclusivamente com Grandark que não estava gostando nada disso. O garoto de cabelos verdes estava instalado em um quarto de visitas provisório, dava-se bem com Sieghart, Dio e Lupus – quando estavam lutando. E havia se aproximado de Azin, com quem costumava conversar quando se esbarravam nos corredores e que era um pouco mais verdadeiro com o ex-espada, pois se pareciam um pouco.

Mas toda vez que Grandark se aproximava de Zero, este dava uma desculpa esfarrapada qualquer e rapidamente fugia pela tangente. E a cada dia que passava, a irritação dentro de Grandark crescia, até que, sete dias depois, o ex-espada, que definitivamente não era um exemplo de paciência, chegou ao seu limite.

*

Depois do jantar feito pelos próprios heróis – pois, Mary Jane só voltaria da folga na próxima semana – Zero foi o primeiro a se retirar, sem ter comido quase nada. Nos últimos dias, estava com uma falta de apetite terrível e passava a maior parte do tempo dormindo.

Estava assim desde que Grandark havia tomado forma humana. Ele sentia falta das conversas curtas, porém frequentes, da companhia... Sentia-se mais solitário do que o normal. Mas não podia fazer nada. Só de estar do lado daquela forma humana, Zero ficava sem jeito e nervoso, e o pior, não sabia explicar direito o porquê. Mas sabia de uma coisa: ficar longe daquele que sempre estivera por perto estava lhe fazendo mal.

– Ah... – Zero suspirou, cansado – Quero dormir...

O andarilho procurou subir as escadas para chegar ao seu quarto o quanto antes, mas alguém vinha descendo as escadas e os dois acabaram trombando no meio do caminho; Zero, que não estava se sentindo muito bem, desequilibrou-se e tropeçou para trás, ele quase caiu escada abaixo, mas aquele que havia esbarrado nele agiu rapidamente, segurando o pulso magro de Zero e puxando-o com um pouco mais de força do que pretendia. O andarilho caiu por cima do garoto, deixando escapar um gemido baixo com o choque, e logo sentiu um braço em suas costas, apoiando-o.

Zero demorou alguns segundos até se reaver do susto e da sensação de queda, aparentemente o garoto também, pois ele estava em silêncio e o andarilho sentia o coração dele acelerado contra a sua face. Assim como, pela primeira vez em alguns dias, Zero se sentiu confortável naquele abraço acidental.

O calor daquele abraço era como um calmante para Zero que vinha se sentindo cada vez mais inquieto nos últimos dias. Trazia um sentimento de conforto que deixava o andarilho à vontade como costumava se sentir quando estava sozinho com a espada Grandark. Apenas ele e aquela voz na sua cabeça.

Percebendo que já havia se demorado mais do que deveria naquela posição potencialmente constrangedora, Zero se separou do garoto depois de uma pequena hesitação e procurou agradecer àquele que o salvara de uma possível perna quebrada.

– Desculpe, eu estava distraído... Mas obrigado...

Zero ergueu o rosto para saber quem era e então perdeu a voz.

– Você costumava ser mais esperto, Zero. Desse jeito irá perder o direito de me empunhar. – falou o garoto, levemente sarcástico.

Sim, para a sorte de Zero, era Grandark.

Zero desceu um degrau automaticamente, quase caindo de novo. Acima de si, Grandark arqueou uma sobrancelha, mas ainda mantendo o sorriso no rosto.

O andarilho já sentia o rosto esquentar e corar só de ver aquela face sorridente de Grandark – apesar do sarcasmo.

– Desculpe... – Zero falou baixo, nervoso, desviando os olhos para o chão – Estava voltando para o meu quarto... Preciso fazer umas coisas... Então...

Com essa deixa, Zero fugiu escada acima antes que Grandark pudesse dizer qualquer coisa.

Essa foi a ultima gota para Grandark.

O sorriso sumiu da face do ex-espada e a irritação lhe subiu a cabeça. Essa atitude de Zero, toda hora o ignorando, fugindo, desviando o caminho... Grandark já estava de saco cheio com tudo isso.

– Você não vai fugir de novo, Zero. – murmurou ele para si mesmo – Volta aqui!

Grandark se virou e seguiu o andarilho rapidamente; sem ter tempo para reagir, Zero sente seu pulso ser tomado e as suas costas serem jogadas contra a parede do corredor escuro dos quartos. O andarilho tenta fugir, mas de repente ele se vê preso entre a parede e o corpo humano de Grandark.

Meio assustado e mais nervoso, Zero olha para o rosto de Grandark, próximo demais, o suficiente para a respiração cálida tocar o rosto do andarilho, e ele viu naqueles olhos claros um fundo de ameaça impaciente.

– O-o que você está fazendo, Grandark...? – Zero perguntou lentamente, forçando os pulsos a se soltarem, ao passo que Grandark apertava-os ainda mais contra a parede, impedindo-o de se soltar já que Zero estava fraco por causa da dieta ruim dos últimos dias.

A princípio, Grandark nada falou, apenas encaixou lentamente o rosto no vão entre o pescoço e o ombro direito de Zero, que estremeceu fracamente ao sentir a ponta do nariz do garoto roçar a pele sensível do seu pescoço. Então ele sussurrou à voz rouca e intimidadora:

– Não se atreva a fugir novamente de mim...

Zero sentiu-se corar novamente e o seu coração errou a batida.

– Eu não estava... Fugindo de... – o andarilho tentou se explicar, mas Grandark o interrompeu.

– Não minta para mim, Zero.

O andarilho ficou desconcertado, sem saber o que dizer. A proximidade dos corpos também não ajudava em nada, só deixava Zero ainda mais confuso.

Grandark virou o rosto de repente na direção do corredor; distraído, Zero não o porquê, mas Grandark percebeu vozes femininas vindo na direção deles, reconhecendo Amy e Arme – atrasadas para o jantar. Os passos apressados logo as trariam para onde Grandark e Zero estavam, mas Grandark não podia permitir, não quando finalmente havia conseguido encurralar Zero.

Ele olhou ao redor, procurando algo, e viu a placa com o nome de Zero na segunda porta a esquerda do corredor.

Rapidamente, Grandark puxou Zero pela mão, abriu a porta e empurrou o andarilho para dentro do quarto, entrando em seguida e fechando a porta, ficando a ouvir as vozes do outro lado.

– Fala sério, Arme. – era a voz daquele protótipo de diva, Amy, Grandark reconheceu – Vai mentir pra mim que você não tá pegando o Ronan?

A maga pareceu engasgar com a pergunta.

– Mas e você? – Arme tentou desconversar – Fica secando o Grandark, mas enrola o pobre do Jin.

Amy riu.

– O lance com o Grandark é só pra fazer ciúme pro Jin. Pra ver se ele toma alguma atitude. Mas ele é leeeeento...

– Isso é. – Arme concordou.

E as duas caíram na risada. Até Grandark riu discretamente.

O som das risadas das meninas tornou-se mais distante e Grandark ficou a escutar Amy dizendo alguma coisa para Arme sobre não fugir do ponto principal, até que o silêncio fosse tudo o que ele pudesse escutar.

Ao mesmo tempo, Zero conseguiu se recompor um pouco e resolveu finalmente falar.

– Grandark...

O ex-espada imediatamente se virou para o andarilho, fazendo-o se engasgar com as palavras. Talvez fosse melhor ter ficado calado.

Com o chamado daquele que o empunhava, Grandark, sem falar uma palavra, andou até Zero, fazendo-o recuar até esbarrar na cama, onde Grandark o empurrou, praticamente jogando-o sobre os lençóis, e, para a surpresa do andarilho, Grandark subiu na cama, sustentando o próprio corpo sobre um acuado Zero.

– Grandark... O que você...

– Zero. – o garoto o interrompeu. Os olhos claros e divertidos, repletos de malícia, fitaram o andarilho sob si com intensidade, vendo que, embora nervoso, Zero não resistia, como um bom menino. Do jeito que alguém como Grandark, manipulador por natureza, gostava.

Grandark se inclinou para baixo e, curiosamente, roçou novamente a ponta do nariz no pescoço alvo de Zero, desta vez de propósito, o que fez o andarilho estremecer com o toque suave e instintivamente forçar os seus pulsos contra as mãos de Grandark que os prendia ao lado do seu corpo.

Grandark sorriu levemente. Continuou o seu caminho pela mandíbula do andarilho, roçando os lábios até o lóbulo da orelha de Zero, onde desviou um pouco o caminho e mordeu a ponta da máscara que cobria os olhos de Zero, puxando-a com a boca e jogando-a para fora da cama e descobrindo o tom amarelado admirável dos olhos de Zero.

Mas com isso, o andarilho ficou ainda menos à vontade, sem a sua máscara protetora e, principalmente, com Grandark o olhando como se quisesse devorá-lo.

– Assim está bem melhor... – murmurou maliciosamente o de cabelos verdes.

– Grandark... – Zero estava visivelmente nervoso – Isso é errado... – ele murmurou, o que pareceu exigir um grande esforço.

– O que é errado, Zero? – Grandark indagou, inclinando-se novamente e mordendo a lateral da orelha do andarilho.

– Ah... – Zero retesou, o seu coração batendo como um louco – I-Isso... – os olhos se encontraram novamente e Zero tentou ser mais firme, sentindo-se cada vez mais desconfortável naquela situação – Não é certo. Você tem que parar com...

Antes que Zero pudesse terminar a sua frase, Grandark fez algo que o albino não esperava, algo que seria a última coisa que ele pensaria que Grandark faria: ele o abraçou.

E aquela sensação de conforto que Zero havia sentido na escada voltou. O bem estar nostálgico que o andarilho sentia quando fazia as duas missões sozinho, somente ele e Grandark às suas costas; a sensação passou pelo corpo de Zero através daqueles braços quentes de Grandark como se tivesse voltado a antiga rotina, e melhor.

Se antes Zero se sentia fraco por estar se alimentando mal e, por isso, na conseguia se soltar de Grandark, agora, o andarilho não tinha mais motivo. Grandark havia conseguido simplesmente eliminar toda e qualquer força de vontade de Zero, ele estava sob total controle do ex-espada.

– Vai negar isso a mim... Zero...? – Grandark sussurrou persuasivo ao ouvido do albino.

–... – ainda com certa hesitação, Zero fechou os olhos e então parou de lutar – Não... – não havia mais razões para isso; naqueles braços, Zero havia se lembrado de algo importante: todo o seu corpo e sua alma, tudo, pertencia à Grandark – Faça o que quiser... Grandark...

Fora do campo de visão do andarilho, um largo sorriso satisfeito tomou os lábios de Grandark. O plano havia dado certo. O garoto havia percebido que, pela primeira vez em das, o único momento que Zero não havia fugido dele fora quando estava em seus braços, quando havia o segurado para que não caísse da escada.

Naqueles braços, era quase como se Grandark tivesse voltado a ser apenas uma voz na cabeça de Zero.

Grandark voltou a roçar os seus lábios pela extensão do pescoço de Zero, provocando-o, enquanto Zero sentia-se arrepiar suavemente, acelerando a sua respiração.

– Não adianta fugir de mim, Zero... – Grandark falava com uma voz que parecia hipnotizar. Rouca, apelativa, lenta... Sem deixar de distribuir beijos pela pele exposta do andarilho, que parecia clamar pelos seus toques – Você é meu... Seu corpo... Sua voz...

– Ahn... – Zero gemeu baixo ao receber uma mordida em seus ombros.

– Absolutamente tudo... – Grandark afastou-se um pouco apenas para olhar nos olhos de Zero, tornando-se mais persuasivo e impossível de negar – Zero, você é minha propriedade.

O coração do andarilho bateu mais forte. Não havia mais como negar, o seu corpo clamava por Grandark.

– Sim... – Zero admitiu, não impedindo a mão de Grandark que se movera de forma a tocar gentilmente a sua face esquerda – Eu sou seu...

O sorriso travesso voltou aos lábios de Grandark, ele se inclinou e finalmente tomou os lábios de Zero para si. Em movimentos ora lentos ora necessitados impostos pelo garoto, algo do qual o andarilho não tinha do que reclamar. A sensação cálida que o ato lhe proporcionava fazia Zero gemer baixo vez ou outra; as mãos de Grandark passeavam por todo o corpo do albino, querendo descobri-lo enquanto apertava-o, arranhava-o, tocava-o... Fazendo-o completamente seu, cada mínima parte, até que Zero não pudesse mais fugir dele outra vez.

– Hng... Ah... Grandark... – Zero deixou o nome escapar, arfando um pouco após separarem-se do beijo longo.

Grandark mal conseguia disfarçar o sorriso malicioso que se formava no seu rosto ao contemplar a expressão que Zero fazia, a qual, na opinião do ex-espada, era deliciosa: a boca entreaberta do andarilho puxava o ar com certa dificuldade, a íris de belo tom amarelado banhada em luxúria, os fios de cabelo espalhados pela cama... Tudo nele parecia implorar para que Grandark continuasse com o que havia começado.

Como Grandark podia negar?

Ele inclinou-se mais uma vez e roubou um pequeno beijo de Zero, então, sob o olhar confuso do albino, Grandark se levantou da cama e rumou até a porta.

– Grandark? – Zero chamou, estranhando a falta do calor do outro.

– Calma... – Grandark sorriu travesso, adorando o fato de Zero estar sentindo a falta dele. O ex-espada lançou um olhar provocante para o outro, então girou a tranca da fechadura de modo que Zero visse propositalmente, o que fez o andarilho corar fracamente e engolir em seco – Nós não queremos nenhuma interrupção, não é?

Zero desviou o olhar, perguntando-se desde quando Grandark havia começado a ser tão provocante.

O garoto riu da timidez do andarilho. Definitivamente, ele não podia ter escolhido melhor aquele que o empunharia. Zero era muito mais divertido do que podia pensar.

– Quer que eu desligue as luzes, Zero? – Grandark perguntou com um tom divertido.

O andarilho agarrou as cobertas, sentindo as bochechas quentes, tinha a impressão que Grandark estava fazendo de propósito. Mesmo assim, Zero assentiu discretamente.

– Sim... – e corou.

Satisfeito, Grandark sorriu.

– Você é adorável, Zero.

–...! – Zero quase engasgou com essa.

Então as luzes se apagaram, escondendo o rubor da face do andarilho, embora por pouco tempo, pois logo Grandark se posicionou sobre Zero novamente, fitando-o de com um largo sorriso com um toque misterioso dado pela penumbra do quarto iluminado apenas pela pouca luz da lua que espiava aqueles dois por trás das cortinas.

A perda de parte da inibição por causa da escuridão fez Zero levantar um de seus braços e tocar o cabelo esverdeado de Grandark, que pareceu surpreso com o ato do albino. As mãos curiosas afastaram os poucos fios da franja que cobriam o verde único dos olhos de Grandark e o raro sorriso de Zero surgiu em seus lábios, pequeno e sutil, mas verdadeiro. Uma joia rara que talvez apenas Grandark tivesse tido o privilégio de ver.

O sorriso do ex-espada tornou-se amável e ele retribuiu a carícia tocando o rosto de Zero com delicadeza.

– Você realmente é adorável. – falou o garoto.

A mão de Zero voltou ao colchão, corando outra vez com as palavras de Grandark; ele tentou desviar o olhar, mas Grandark foi mais rápido e segurou o rosto do andarilho entre as mãos, obrigando-o a manter contato visual. Grandark havia acabado de descobrir que era muito divertido provocar Zero.

– Desista, Zero... – sussurrou, controlador, Grandark – É tarde demais para fugir.

Zero ainda tentou dizer algo, mas desistiu. Concluiu que era verdade. Era tarde demais. A necessidade havia tomado o corpo do andarilho, ele queria aquilo, a sua boca podia até tentar dizer que não, mas o seu corpo não conseguia, fugir daquilo seria mentir para si mesmo.

Os olhares voltaram a se encontrar, fazendo Grandark alargar o sorriso.

– Vejo que entendeu...

– Sim... Nós... Somos um.

Grandark aproximou os lábios, encostando-os suavemente.

– Não, Zero. Nós não somos um. – ele pressionou os lábios contra os do albino sob si, apreciando a textura surpreendentemente macia – Mas logo você será só meu. E em troca... Eu serei só seu.

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Na manhã do dia seguinte, as meninas da Grand Chase estavam passando nos quartos e acordando aqueles que haviam passado do horário. Era domingo, mas todos haviam combinado de sair para repor seus estoques pessoais de poções, alimento para pet, pedras de fortificação, entre outras coisas.

Elesis estava arrancando Sieghart da cama à base de tapa depois de Lya ter ido acordá-lo e acabado caindo no sono de novo com o moreno, e Lire estava há meia hora tentando acordar Ryan do seu sono pesado, em vão. Fora esses dois, os outros já haviam acordado, levantando com certa dificuldade, mas levantando.

Quem percebeu que faltava um garoto foi Holy, o que a paladina estranhou, pois ele tinha o costume de acordar cedo igual a ela. Então Holy resolveu ir ver o que havia acontecido com Zero.

Em frente a porta do andarilho, o silencio reinava.

– Zeroo? – Holy chamou, inclinando o ouvido na direção da porta e batendo de leve.

Dentro do quarto, Zero se remexeu sonolento sob os lençóis, tentando apoiar-se no encosto da cama, então as lembranças da noite anterior vieram a sua cabeça: os gemidos, os beijos, a dor e o prazer, e a voz de Holy soando do outro lado da porta.

– Zero? Com o intuito de certificar-me que você, meu companheiro como integrante de caçada, está em boas condições, eu estou entrando, tudo bem? – ela perguntou, mas já estava com a mão na maçaneta.

Zero sentiu-se corar, olhando rapidamente para o volume sob as cobertas ao seu lado que indicavam Grandark, e se desesperou só de pensar em ver aquela garota entrando ali e vendo aquela cena.

Mas de repente Zero se lembrou da imagem de Grandark trancando a porta ontem.

– É verdade... – ele suspirou aliviado – Está trancada...

Ao lado dele, um riso baixo e meio sonolento soou.

– Não é bem assim, Zero.

– O que? – o coração do andarilho errou o compasso.

– Depois da nossa noite juntos – a voz abafada pelos lençóis tornou-se maliciosa ao falar essa parte – Eu destranquei a porta. Você não viu porque estava exausto e dormiu logo, Zero. – Grandark explicou, dando ênfase na palavra “exausto”.

Zero arregalou os olhos, sequer conseguindo se sentir envergonhado pelas indiretas do garoto. Ele olhou para a porta e viu a fechadura rodar, destrancada. O desespero subiu gelado pela sua coluna.

– E-Espera...! – ele ainda tentou avisar, mas, na tentativa afoita de esconder Grandark, que ainda estava completamente coberto pelas cobertas, Zero conseguiu arrancar o lençol de cima do garoto e estragar tudo de vez.

– Kyaaaaa! – Holy gritou, ficando vermelha de vergonha. Ela cobriu os olhos e virou de costas completamente sem jeito.

Grandark riu contido.

– E-E-E-E-E-Eu l-lamento muitíssimo...!! N-N-Não s-sabia que v-você d-dormia d-d-despi-i-i-do...! Kya! – Holy gritou de novo e saiu do quarto mais rápido do que um foguete, desculpando-se por todo o corredor até que a voz dela sumisse escada abaixo.

“Essa garota é engraçada.” – Grandark comentou, rindo também da expressão de Zero que pairava entre desespero ainda não recuperado e confusão ao ver que a forma humana de Grandark agora não passava de uma lembrança – “Essa foi por pouco em, Zero? Hahahaha!”

Zero continuava olhando Grandark, que ria como se não se importasse que alguém os visse na mesma cama. Bom, agora, ele realmente não se importava, já que, como Arme dissera, as poções dela não duravam muito, neste caso, sete dias, e a força humana de Grandark havia em fim voltado à sua forma original, afiada e letal de espada.

“Que pena. O efeito é realmente rápido.” – a voz da espada havia voltado a soar apenas na cabeça de Zero, que depois de alguns minutos paralisado, absorvendo o susto, soltou um longo suspiro, tapando os olhos com uma das mãos. Sentia-se exausto de repente.

– Podia ter me avisado... – Zero murmurou com uma voz meio rouca por ter acabado de acordar.

“Assim não teria graça alguma.” – Grandark falou sem um mínimo de vergonha nacara e recomeçou a rir – “Hahah... Mas... Ao menos nós aproveitamos bastante, não é, Zero?” – a malícia transbordava daquela frase.

O rosto do andarilho esquentou e corou como um tomate, ele tirou a mão dos olhos rapidamente, encarando Grandark como se não acreditasse nas palavras que soavam na sua mente.

“O que?” – Grandark retrucou ainda soando com um tom divertido e travesso –“Não pode negar para mim, Zero. Eu ouvi muito bem seus gemidos pedindo por mais, ontem.”

–...! – a face de Zero queimou como carvão em brasa e as palavras se embaralharam na garganta – C-Como p-pode...! Dizer... Essas coisas...

“Não fui eu que disse, não, foi você, Zero. E vááárias vezes.” – Grandark zombou e caiu na gargalhada.

Nesse ponto, até as orelhas de Zero estavam coradas. Ele pulou da cama às pressas e agarrou a sua máscara que havia caído no chão em algum momento da noite anterior e colocou-a no rosto na tentativa de se sentir um mínimo menos desconsertado.

Depois o andarilho enrolou-se no lençol, lembrando-se que, graças à Grandark, estava completamente sem roupa – por isso os gritos de Holy – e fugiu para o banheiro. Claro, não sem antes ouvir mais provocações de Grandark.

Acordar desse jeito não fazia bem para a saúde de Zero.

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Uma hora depois, todos os heróis haviam se agrupado na sala de estar. Estavam formando os grupos de acordo com o que cada um iria comprar: Arme queria ingredientes para suas poções experimentais e Holy queria ingredientes para fazer poções normais de cura, por isso já estavam juntas; Sieghart, Ronan, Elesis e Lass queriam itens de fortificação para as suas lâminas, então formaram outro grupo; e assim os grupos foram se formando, enquanto outros preferiram ficar sozinhos. Entre eles, Zero.

Quem o visse sentado no sofá agora, inexpressivo como sempre, com a inconfundível espada Grandark sobre as suas pernas, jamais imaginaria o que ele havia provado na noite que se passara, o próprio Zero mal acreditava que ninguém tivesse escutado mesmo – não depois das tantas vezes que Grandark havia pedido para que o albino contivesse a sua voz.

Um pouco distante de Zero, Sieghart notou o garoto sozinho no sofá, vendo a espada outrora humana junto dele. E um sorrisinho de quem iria aprontar surgiu nos lábios do imortal.

– Hey... Parece que o “garoto de verdade” voltou a ser de madeira. – Sieghart falou, fazendo referência ao conto infantil de “Pinóquio”. Em seguida passando um de seus braços pelo pescoço de Zero como se fossem bons amigos.

– Sim... – Zero falou sem parecer se importar com a proximidade do moreno.

– Eu disse que o efeito era temporário. – Arme se intrometeu ao ouvir a conversa, aproximando-se pelo outro lado de Zero.

– Então, se divertiram bastante? – Sieghart perguntou maliciosamente ao pé do ouvido do albino.

“Você não faz nem ideia, imortal...” – a voz de Grandark respondeu, embora apenas Zero tivesse escutado.

Então Sieghart viu algo que nunca imaginara. Por conta do que Grandark falara, Zero não conseguira evitar um pequeno sorriso que fez o queixo de Sieghart cair. Ele se virou para Arme e viu o olhar arregalado da maga, com certeza ela também havia visto.

– E-Ei. Você viu o que eu vi? – Sieghart perguntou para ela ainda pasmo.

– V-Vi... – ela olhou incrédula para o imortal – Ele... Sorriu?

– Sorriu, não foi?

– N-Não sei. Achei que isso era lenda urbana.

Os dois se entreolharam, assentiram, e então se voltaram para Zero ao mesmo tempo.

– Cadê?! – indagaram juntos.

A expressão impassível do andarilho estava de volta e não havia um traço de que ali houvera um sorriso.

– Ei, vocês dois! – Elesis chamou a atenção de Sieghart e Arme – Vamos logo!

– Mas... – eles olharam para Zero, mas perceberam surpresos que ele não estava mais ali.

*

– Aconteceu alguma coisa, Arme? – Holy perguntou quando as duas já haviam saído para comprar os ingredientes – Você está com uma estranha aparência...

– Não foi nada... – Arme mentiu meio pensativa, ainda lembrando-se do sorriso que havia visto em Zero; já não tinha certeza do que achava que havia visto.

– Tem certeza? – Holy insistiu um pouco preocupada.

– Sim... Só estou pensando em acrescentar alguns ingredientes à minha lista.

“O soro da verdade”. Talvez a poção falha tivesse afetado Zero um pouco também, pensava Arme. Fazer a poção que humanizava Grandark poderia responder a essas suas dúvidas. “Acidentalmente” poderia derrubar no andarilho outra vez e, quem sabe, poderia tirar a limpo aquilo que havia visto ou pensava que havia.

Bom, não custava nada fazer a poção de novo, certo? E também, era bem capaz de Grandark acabar sendo atingido pela poção outra vez. Nesse caso, Arme com certeza veria um sorriso na face de Zero.



Fim


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Notas finais do capítulo

Então é isso! s2 Gostaram pessoal? *-* Eu espero muito que sim xD Principalmente porque essa é, oficialmente, a primeira fic yaoi que faço :x Então eu agradeceria muito e ficaria bastante feliz se vocês comentassem e dessem a sua opinião :)
Àqueles que lerem e me presentearem com um review, desde já, muito obrigada hehe ^-^
Bjs,
Ray chan.