No fundo eu não passo de uma pecadora, uma raposa sem escrúpulos presa no corpo de um humano, que com o passar do tempo perdeu a piedade e a compaixão, mas mesmo com todos os meus defeitos, todos os meus pecados e todos os meus problemas, entre todos as outras, você me escolheu.

Há um passado distante, tão distante que já parei de contar os anos que se passaram desde aquela data, eu me transformei, antes disso, não passava de uma raposa normal que vagava pelos bosques de Ionia e ficava amedrontada com todas as guerras que presenciava. Era como se o próprio mal estive mostrando sua face diante dos meus olhos, de uma hora para a outra eu via os bosques floridos e encantados tão sagrados para o nosso povo se transformarem em um campo de batalha sem fim, era a visão do inferno.

Porém, ao mesmo tempo que a fúria dentro de mim ia crescendo, a minha compaixão a acompanhava, andava tão atordoada que, vez ou outra me encontrava longe de meu bando, muito próxima da paisagem das guerras me perguntando como poderia salvar as inúmeras vidas inocentes perdidas naquela tragédia. Eu, então, me tornei uma raposa solitária, que se preocupava mais com os humanos que ali residiam do que com minha família. Era um caminho sem volta, ou melhor, eu achava que era.

Em um dia como os outros, enquanto observava uma guerra de meu povo contra os noxianos, assisti um homem sendo morto sem a menor piedade, ficara paralisada, o choque havia tomado conta de meu corpo, o mundo estava girando, era como se a qualquer momento fosse perder a consciência, e então eu vi: O corpo do pobre rapaz estava brilhando, sua essência de vida estava se esvaindo lentamente. Sem pensar duas vezes, tomei coragem e me aproximei do estranho, senti uma forte ligação entre nós, e antes que pudesse perceber vi sua energia vital mudar de rumo, ela estava seguindo em direção a mim.

Aconteceu: Havia me tornado humana, mais precisamente uma raposa de nove caudas, no ínicio era como se minha vida tivesse encontrado um novo sentido, agradeci aos céus e me juntei a guerra, sentindo uma estranha segurança e uma forte energia mágica transbordando de meu corpo. A guerra, então acabara, saímos vitoriosos, nunca havia me sentido tão viva e revigorada em toda a minha vida. Meu lugar, a partir daquele momento, era com os humanos que tanto admirei. Meu sonho finalmente se realizara.

Infelizmente tudo na vida tem um preço, e no meu caso não foi diferente. Depois de nossa vitória resolvi me mudar para a capital, onde poderia ajudar mais ainda minha nova família, felizmente achei várias pessoas gentis no caminho, e como era uma maga, conseguia trabalhos muito facilmente, cumprindo-os com perfeição. O estranho é que quanto mais usava meus poderes mais me sentia cansada, sem vida e triste, era como se ele roubasse algo de mim, e então eu me toquei de quão grave era minha situação: Meu poder era baseado em furto de essência, ou seja eu precisava sacrificar meu povo para continuar a viver.

No inicio, pensei em desistir de minha vida, mas aos poucos fui percebendo o quanto gostava dela, e mudei de rumo, a raposa, que antes ajudava a humanidade, sentia compaixão, e era adorada por sua família havia virado uma assassina que seduzia suas vítimas para roubar suas vidas em nome de seus próprios interesses. Era um pesadelo, e pior, com o tempo percebi que havia perdido tudo: minha compaixão, minha família, minha fé e piedade; Estava perdida no mundo, sem saber o que fazer, vagava pelas cidades, sem rumo e sem ideais, furtava a essência de minhas vítimas e antes de perceber já estava chorando em prantos. Estava a ponto de me odiar. E então você apareceu…

Ainda me lembro muito bem, estava sentada em um banco, desolada e definhando no meio da capital, minhas esperanças já não me sustentavam, iria desistir de tudo mas aí eu lhe vi, ou melhor, você havia me visto, seu olhar preocupado era tão bonito, você era forte, bondoso e estranhamente confiante… Você me socorrera.

Acordei atordoada, sem saber aonde estava e bem preocupada. Porém, você foi tão gentil, que me senti acolhida com suas primeiras palavras dirigidas a mim:

– Moça, a senhorita está bem? Sei que foi ousadia minha te levar para a minha casa, mas não consegui ficar vendo uma mulher tão bonita quanto você definhando no meio da cidade sem fazer nada. - Ele me entendia, e seu rosto ganhava vida ao sorrir.

– Me desculpe pelo transtorno que causei a você, mas devo admitir que não me sentia acolhida assim há muito tempo. - Respondi ainda com a voz fraca; Admito que no momento em que disse essas palavras pensei em fazer meu típico papel de pobre garota coitadinha e o seduzir até a morte, mas algo me impedia. Seriam meus sentimentos? No final acabei desistindo de meus planos e resolvi conta-lo minha história.

Era estranho, pois nunca havia falado de meu passado para ninguém, mesmo que, vamos admitir, uma raposa que tem uma magia que pode dar imortalidade ao portador tenha bastante coisa pra contar; Á medida que fui adentrando no assunto e contando minhas dificuldades, até meus momentos de vilã, o medo dentro de mim ia crescendo, afinal fazer o que estava fazendo era quase como abrir mão de minha (talvez única) salvação sem mais nem menos.

Ao final da história estava estremecendo e suando frio, no momento passava em minha cabeça vê-lo se virando contra mim e me matando em seguida, afinal que pessoa gostaria de ter uma assassina em sua casa? Porém ele não fez nada; Apenas deu um sorriso triste e suspirou, eu é claro estava em estado de alerta, mesmo com pouca magia podia fugir ou até roubar sua vida, então por que estava exitando? Será isso o que chamam de o poder do amor? Mas antes de refletir mais fui tirada de meus devaneios pela doce voz de meu novo amigo.

– Olha, meu nome é Wukong. Eu meio que não entendi muito bem o que você disse mas acho que você passou por muitos problemas e estou disposto à te levar junto comigo ao meu destino. - Wukong é? Que nome bonito, eu pensei…

– E qual seria esse destino? - Eu perguntei sem pensar duas vezes.

– Olha Ahri, é assim que você se chama não é mesmo? Eu acabei de voltar de uma jornada e quando te encontrei estava a caminho de League of Legends. - Ele falou.

– League of Legends? - Eu indaguei sem ter a menor ideia do que ele estava falando.

– Sim, a liga dos campeões, pelo que eu ouvi é um lugar onde ocorre diversas batalhas, e todos nós temos o objetivo da vitória, formamos times e lutamos lado a lado com nosso irmãos, procurando prestígio e sabedoria. E uma pessoa me contou que quem entra nos campos da justiça se torna imortal, e mesmo com sua vida furtada pode ressuscitar. E então? Está interessada? - Ele me respondeu, parecendo bem mais animado do que o normal. E eu sem mais delongas respondi:

– Mais é claro! Porém eu tenho uma condição.

– E qual é, senhorita raposa? - Ele perguntou parecendo confuso mas ao mesmo tempo alegre.

– Prometa que sempre vai lutar ao meu lado, ok? - Quando terminei essa frase eu estava praticamente queimando. Meu coração estava acelerado até demais, na hora eu fiquei surpresa já que nunca havia experimentado essa sensação.

Ele pareceu corar de leve antes de responder mas deu um sorriso e completou:

– Mas é claro que sim poxa! Por que você acha que eu te convidei? Vamos então, Ahri?

A felicidade tomou conta de mim, o amor revigorou meu corpo. Minha vida ganhou um novo sentido novamente.

No fundo eu não passo de uma pecadora, uma raposa sem escrúpulos presa no corpo de um humano, que com o passar do tempo perdeu a piedade e a compaixão, mas mesmo com todos os meus defeitos, todos os meus pecados e todos os meus problemas, entre todos as outras, você me escolheu.

– Vamos Wukong! - Eu abri o maior sorriso de minha vida e o segui em busca de meu destino.

E assim um novo amor um tanto incomum havia nascido em League of Legends.

Fim.