A semana demorou a passar. Aline não apareceu na escola até quinta. 
Não tinha conversado com ela desde o que aconteceu na colina. Quando voltei do cemitério, me tranquei no quarto e liguei o som na maior altura. Só queria esquecer o que tinha acontecido mais cedo. Minha mãe tentou conversar comigo, mas não destranquei o quarto, o mesmo aconteceu quando Guilherme e Maíra foram lá. Não queria que eles vissem o estado em que eu estava. Tinha chorado pelo que Aline me disse, e também pelo o que disse, eu sabia que agi de modo errado. Eu devia estar a apoiando, não enchendo o saco dela com baboseiras de viagem.
Sai do quarto só no dia seguinte e inventei que na noite passada estava passando mal e de TPM. Acho que eles não acreditaram muito, mas também não pediram outra explicação. Agi normalmente o resto da semana, segui minha rotina, mas sempre matutava o que aconteceria quando visse Aline de novo.
Não acreditei quando a vi saindo do carro na quinta de manhã. Ela estava bem melhor do que da última vez que a tinha visto. Seu cabelo estava preso em um coque e vi que rosto tinha um pouco mais de cor. Parece que ela percebeu que eu estava a olhando e virou o rosto na minha direção. Meu corpo estava reagindo à presença dela enquanto a olhava nos olhos, isso me assustava muito, essas sensações que ela traz a tona em mim, me deixam sem saber como agir.
Ela começa a andar até onde eu estava sentada, mas é impedida por suas amigas que a abraçam e querem saber como ela está. Elas a arrastam até o portão principal, que estava perto de onde estava. Ela passou por mim e gesticulou um "Precisamos Conversar" mudo com a boca.
Será que ela me perdoou? Ou será que ainda esta brava? Seu rosto estava inexpressivo quando ela passou aqui por perto então não sei como prever o que vai acontecer.
Maíra e Guilherme estão se pegando ao meu lado, então não perceberam minha reação. Esses dois não conseguem se desgrudar mais, tiro minha atenção deles e olho para frente, vejo Giovanni. Ele esta rodeado de meninas que provavelmente estão dizendo o quão forte ele esta, como lutou bem na outra noite, ele parece gostar dessa atenção. Ele tentou conversar comigo depois que brigamos me ligou algumas vezes, pediu para poder o acompanhar na luta, mas depois de alguns dias desistiu.  Fico tentando saber onde esta aquele amor todo que ele sentia por mim.
_ Vamos casal. - entro no meio dos dois enquanto se beijavam e enganchei meus braços nos deles. - O sinal já vai bater.
Nos entramos e cada um vai para sua sala, mas antes, é claro teve mais uma demonstração de afeto em publico dos meus digníssimos amigos.
_ Nunca pensei.que fosse.dizer.isso, mas me arrependo de um dia.ter.apoiado voces a ficarem juntos. 
_ Por que? - diz Maíra com um sorriso inocente.
_ Quer mesmo que eu diga?
_ An Nanda, deixa a gente ser feliz, ok?!
_ Mas minha linda, eu não ligo que vocês sejam felizes, só não quero ficar servindo de vela. Quer dizer, estou mais para tocha olímpica né.
Ela ri e logo a professora entra na sala. Olho para onde Aline costuma se sentar e vejo que ela não está na sala acho estranho mas não comento nada.
A aula estava um saco como sempre e estava quase dormindo no ombro da Maíra,quando sinto um cutucão. Olho para cima  e vejo que ela esta apontando para frente. Olho para lá e vejo uma menina vindo à minha direção e me entregando um bilhete.
_ Chamada na direção? - digo sem entender. - Por quê? O que eu fiz?
_ Não sei. Só me mandou te chamar.
Me levanto e vou para fora, sigo a menina ate um corredor que seguia um caminho contrário ao da diretoria.
_ Hey, para onde estamos indo? A direção e para o outro lado.
_ Eu sei. - a menina diz e continua andando. Ela abre uma porta que dá para uma escada, e encosta na porta olhando para mim.
_ O quê? E para eu subir ai? - pergunto surpresa. - Tá bom. Mas pelo menos posso saber o que ou quem me espera lá?
Ela apenas continua olhando para mim. Dou um longo suspiro e começo a subir. Está meio escuro e acabo tropeçando em um dos degraus. Xinguei até a alma de quem esta armando tudo isso. Olho para frente de novo e vejo uma porta, abro e dou em um terraço todo aberto. Não sabia dessa parte da escola, olho para os lados e vejo alguém sentada em cima de um basculante, vou ate lá.
_ Você demorou. Pensei que ia ter que descer e te buscar no colo. - diz Aline.
_ Sabe, se soubesse que esse lugar existia, não mataria mais aula no pátio. Aqui é lindo.
_ E uma das belezas ocultas da escola. Encontrei esse lugar em uma das escapadas que dei da diretora. - ela disse se virando pra mim. - Oi
_ Oi, - digo com um sorriso fraco. - Olha, sobre o que aconteceu na terça, eu queria te pedir desculpas. Eu sabia o quanto estava sendo difícil para você e mesmo assim te pressionei, não deveria ter feito isso.
Ela olhou bem para mim e desceu do basculante.
_ Sabe, meu pai sempre me dizia que é quando a gente esta com raiva ou chateado, é quando falamos as maiores verdade sobre o que achamos. Sei que você não fez por mal, eu também estava com a cabeça cheia. Minha mãe, meu irmão... Tudo estava em cima de mim e não conseguia nem pensar direito, acabei descontando tudo em você, quando tudo o que queria era me ajudar.
_ O pequena, eu te entendo. Vem aqui vem. - a abraço.
_ Se estiver tudo bem eu aceito ir viajar com vocês. Também acho que isso pode ser tudo o que eu quero agora. Dar um tempo nisso tudo.
_E claro. A gente sai hoje as 20:30. Vamos todos na van dos primos do Guilherme, então da para ir de boa. Eu gosto muito dessa ideia, de todos em Cabo Frio, naquela areia e com aquela vista.
_ É, as meninas toparam bem essa ideia? - ela se afasta para me olhar.
_ Bom, mais ou menos. Mas e porque elas não te conhecem direito. A gente dá um jeito
_ E, eu espero que sim. 
_ Ei, agora que a gente já se resolveu... Será que eu podia... Er, você sabe né... - digo sem jeito. Ela olha para mim sem entender nada.
_ Ah, quer saber... Fodas. - pego sua mão, a puxo para mim e a beijo. Como estava com saudades de tudo nela. Seu toque, seu cheiro, seu gosto. Só agora percebi o quão doida fiquei no tempo em que estivemos separadas. Ela também parecia que estava com saudades. Enlaçou suas mãos atrás de meu pescoço e conseguiu com que ficássemos mais juntas do que nunca. Nos separamos quando falta o ar e ficamos olhando uma para a outra. Fico me perguntando quando é que isso aconteceu. Quando é que ela virou alguém tão importante para mim. Sou tirada dos meus pensamentos quando a menina que foi me buscar na sala, veio até a gente.
_ Ei garotas, ta na hora de descer, o sinal bate daqui a pouco.
_ Ta ok, obrigada Júlia, por tudo. - diz Aline. A menina acena e sai dali. - E ai, vamos descer?
_ Vamos, mas antes, ela sabe sobre... Sobre a gente?
_ Bom, digamos que ela desconfie. Ela foi à primeira garota com quem fiquei.
_ Aah.
_ Qual é, sem ciúmes, por favor, você leva credito porque nunca tinha trago ela aqui, quer dizer nunca tinha trago ninguém aqui. Só pedi ela pra te chamar para que não precisasse explicar muito sobre o faríamos sozinhas no telhado.
Ela sorri e me da um selinho.
_ Já disse que desse jeito é impossível não creditar em você. - digo e ela se aproxima rindo.
_ Ainda bem. - ela finge que vai me beijar e passa por baixo dos meu braços. - Agora vai embora, depois eu desço para que não cheguemos juntos. Vai ser meio estranho se acontecer.
Aceno e vou descendo. Chego à sala e sento, o sinal bate e depois de uns 10 minutos Aline chegou.

Sorri atoa o resto do dia, tudo se resolvendo: Aline e eu se resolvendo, meus amigos se entendo, a gente saindo para um final de semana de curtição. Todos felizes.

Só me pergunto até quando...