Ben não era de invadir privacidade, quer dizer, teve aquele beijo em Sofia... E aquele outro... Enfim, normalmente Benjamin se considerava um exemplo de pessoa respeitosa, mas não resistiu. Sabia que Sofia estava no quarto, tinha escutado o som da porta batendo da escada. Pensava estar finalmente esquecendo Sofia, ainda não tinha entendido sua fraqueza. Foi só vê-la indefesa daquele jeito, com os cabelos presos, exibindo a pele que Benjamin tanto desejava... Não pôde se conter. A proximidade, quando tentou ajudá-la... Vê-la quase humilde, depois de tanto tempo, aceitando (ou quase) sua ajuda... Era a situação com a qual tanto tinha sonhado: Sofia despreparada, linda, só dele. Ela o levava à loucura. Ben não sabia se acreditava na loira, se ela realmente sentia algo por ele, ou se era apenas armação. E, só para constar, a melhor armação que ele poderia imaginar. Flagrava-se gostando da ideia de ser usado por Sofia. Se não amasse tanto sua família, já teria se entregado aos apelos da patricinha há mais tempo. No entanto, Sofia tinha um álibi realmente confuso: pedira a Giovana que não contasse nada sobre o que viu e não era a primeira vez que a garota implorava por esconder o que se passava entre eles. Era contraditório.

Enquanto ainda estava sentado na escada, se lamentando, viu Flaviana entrar correndo pela casa e subir até o segundo andar. Curioso para saber se era mais um plano de Sofia, Benjamin a seguiu até o quarto, onde sentou contra a porta assim que fechada, levando, para isso, o tempo necessário para não ser visto pela amiga de Sofia. Ouvia as duas discutirem.

-Eu não tô entendendo mais nada! Não era isso que você queria? Que o Ben gostasse de você? Se joga, amiga!

-Eu não posso, Flaviana, eu já falei! - Sofia respondeu angustiada.

-Qual é o problema? Sofia, você não vai casar com o Ben, só vai dar uns pegas, namorar, no máximo. Não é como se ele fosse o grande amor da sua vida!

Silêncio. Um silêncio que angustiava Benjamin. Por que ela não estava negando? Por que não gargalhou do comentário da amiga? Ok, talvez ele estivesse, de fato, apaixonado até demais por Sofia, mas ela? Era Sofia! 

-O QUE? Sofia, você enlouqueceu? - Exclamou Flaviana. - É o Ben! Ele não tem nada a ver com você, você não pode estar falando sério!

-Eu sei, eu sei... Nem eu entendo, mas, quando ele tava no hospital, doeu mais do que devia. Eu não queria, ele é o último cara de quem eu queria gostar, mas aconteceu!

Ben não podia acreditar no que escutava. Então ela realmente estava apaixonada por ele? Não podia ser verdade, deviam estar fingindo... Talvez Flaviana o tivesse visto a seguindo! Provavelmente.

-Então calma, respira. Por que você não fica com ele logo, mata a vontade e se vê livre de uma vez? É fogo de palha, amiga, confia em mim.

-E se não funcionar?

-Quanto mais você ficar na vontade, pior vai ser. Quando pega, desapega. Vai por mim! Foi assim com o Martin. Repete comigo: pegar é desapegar.

-Pegar é desapegar... 

Sofia não soava tão convencida, para o alívio de Ben, que já não sabia se desejava que Flaviana estivesse certa, e que ele também esquecesse o que sentia depois de passar mais tempo com Sofia, ou se queria provar que a garota estava errada, e que Sofia não o esqueceria tão rápido. De qualquer jeito, sabia que queria estar com a loira, por qualquer um dos dois motivos. Desejava-a como nunca, após beijá-la novamente.

-Se fosse tão fácil... Ele gosta da Anita agora, vive correndo atrás dela...

-Se eu realmente gostasse da Anita, já estaria com ela. - Ben respondeu, entrando no quarto.

-Ben?! - Sofia exclamou surpresa.

O garoto se aproximou, ignorando os pulinhos de alegria de Flaviana.

-Ela tem razão, Sofia. Por algum motivo você não queria gostar de mim, assim como eu preferiria gostar da sua irmã, mas a gente não controla o que sente. Talvez, se a gente tentar... Talvez a gente veja que não dá certo e parta pra outra. Eu sou pobre, você é esnobe. Nós não temos como combinar! Vai dar certo. Tem que dar.

-Então você diz que...

-Que a gente tem que viver isso. - Ben a puxou para si. - Que a gente precisa estar junto até que isso passe, até que nós possamos conviver normalmente sem que eu queira te agarrar no meio da sala e te pedir em casamento.

-Aaai, que fofo! Ele quer casar! - Flaviana gritava como uma fangirl admirando o casal.

Ben riu.

-Eu não ia aceitar, não precisa se preocupar. - Sofia desdenhou.

-Será? - Ben aproximou a loira de si ainda mais, enlaçando seu corpo com força. Sem ter para onde fugir, Sofia e ele se encararam, seus olhos refletindo o desejo que sentiam. - Vai me dizer que você não está com a mesma vontade de me beijar que eu estou de te agarrar aqui mesmo? Até semana passada, você estava praticamente se rastejando por mim, ou pensa que eu não lembro?

-Eu pensei que você não tivesse acreditado. - Sofia conseguiu se livrar dos braços de Ben e se afastar. - Aliás, você praticamente me humilhou!

-E como você esperava que eu acreditasse, Sofia? - Ben respondeu com raiva. 

-Gente, não precisa brigar! Vocês estavam tão bonitinhos agora há pouco... - Flaviana interviu. 

-Eu já tinha desmarcado com o meu pai!

Flaviana suspirou, balançando a cabeça. Desistia de entendê-los.

-E a Bernadete?

-Eu não sei por que ela apareceu, mas eu não queria! Eu estava, sim, tentando armar pra separar os nossos pais e querendo te usar pra isso, mas eu tinha desistido!

-Se você gostasse de mim, não tentaria nos separar daquele jeito! 

-Você não entende mesmo, hein, garoto? Eu queria nos separar porque eu gostava, aliás, gosto de você! - Sofia exclamou. Ben entendia cada vez menos. -Você não percebe? Eu queria lutar contra o que eu sinto! Se eu me visse livre de você, se nós nunca mais nos víssemos, tudo ia acabar! Mas daí eu...

-Você o que, Sofia? - Ben perguntou impaciente.

-Eu perdi a coragem. Você mexe mais comigo do que eu gostaria, Ben, até mesmo pra tentar me afastar de você. Acho que a Flaviana tem razão, só dá pra lutar enfrentando. O único jeito de te esquecer é viver o que eu sinto de uma vez, até desgastar.

-Como eu posso saber se você não está mentindo outra vez?

-Olha nos meus olhos. - Sofia pediu calmamente, reaproximando-se de Ben.

-Os seus olhos mentem sempre. - Ben argumentou.

-O meu coração, não. - Sofia levou a mão de Ben até o lado esquerdo de seu peito.

O batimento cardíaco da loira seguia o mesmo compasso que o de seu "irmão". Seus rostos estavam a poucos centímetros de distância, suas bocas perigosamente próximas. Apenas o ritmo constante do coração de Sofia os embalando, em um momento em que só existiam os dois e nada mais.