A casa estava vazia, o que quase nunca acontecia na residência de uma família daquele tamanho. Vitor estava jogando vôlei, Giovana ensaiava com sua banda, Pedro estava perdido em alguma biblioteca, Vera e Ronaldo haviam saído juntos, Anita estava com os amigos e Ben...

–Como você está? - Ali estava Ben. De tantos lugares no casarão, ele tinha que escolher a cozinha?

–Agora você se importa? - Sofia respondeu ríspida. Por que ele tinha que aparecer?

–Eu sempre me importei, Sofia. - Ben se aproximou da "irmã", contornando a mesa e se apoiando contra o balcão da pia.

–Não foi o que pareceu nos últimos dias. - Sofia tentou ignorar as lembranças que voltavam à sua cabeça.

–Eu queria poder acreditar em você, mas depois do que eu soube...

–Eu sei, eu sei, eu errei! Pessoas erram, ok? Mas eu já tinha voltado atrás e- - A loira percebeu a expressão de Ben, julgando-a outra vez. - Esquece, você não vai acreditar de novo. Por que você não volta pra sua princesa plebeia? Ela sim é perfeita, correta... Eu já estou pagando pelo que fiz, então me deixa.

Ben se aproximou de Sofia e olhou por cima de seu ombro, rindo da maneira como a patricinha tentava preparar a massa de pão sem estragar as unhas. Após descobrir o que sua filha aprontou no casamento, Vera a castigou. Não severamente, mas para Sofia era quase isso: teria que ajudar na confecção dos bolos e pães da mãe, que estava expandindo seu negócio. Coincidência ou não, o número de pedidos triplicou justamente quando a garota foi castigada.

–Está feliz? Isso é culpa sua!

–Eu sei, mas quem sabotou o casamento não fui eu e você precisava de uma lição.

–Eu já entendi, ok? Me deixa em paz! - Sofia implorou, sendo interrompida pela proximidade do corpo de Ben, que quase a abraçava por trás, envolvendo seu corpo de modo que seus braços contornassem os de Sofia até que sua mão cobrisse a da loira. - B-Ben, o que você está fazendo?

–Te ensinando a botar a mão na massa. - Ele riu, e Sofia tentou esconder o riso. Por sorte, a casa estava vazia.

Ben conduzia os dedos e as mãos da "irmã" com firmeza, mas de certo modo gentil, como se acariciasse as mãos macias da patricinha. Sofia se sentia relaxada e completamente envolvida pelo ritmo das mãos de Benjamin, que estava cada vez mais próximo, sua respiração agora no pescoço da loira.

–Ben...

O garoto a silenciou sussurrando em seu ouvido.

–Se você perder o foco, vai fazer errado. - Sorriu ironicamente.

O movimento quase hipnotizante de suas mãos praticamente entrelaçadas a acalmou, por mais que a devesse preocupar. Finalmente, deixou-se envolver. Sentiu os lábios de Ben beijando seu pescoço. Como esperara por aquilo... Devia estar sonhando. Os beijos do garoto subiram seu rosto e chegaram a sua boca. Os lábios de Ben nos seus a fizeram esquecer qualquer preocupação e mesmo o que estava fazendo. Voltou-se para o garoto e envolveu os braços em seu pescoço, segurando seus fios negros com força. Ele a abraçou novamente, dessa vez com mais força, sem parar de beijá-la, e a levantou até que seus pés não tocassem mais o chão, sentando-a no balcão da pia, onde a beijou vorazmente. Sofia contornou a cintura de Ben com as pernas, trazendo-o para mais perto de si, seus corpos colados um ao outro. O beijo era passional e urgente, como da primeira vez. Julgamentos eram deixados de lado, a razão inexistia. Estavam onde realmente queriam, ainda que tantas vezes tentassem lutar contra aquele sentimento. Estavam em um mundo só deles, onde podiam se entregar um ao outro sem conflitos internos ou medo de magoar outras pessoas. Sem pensar, Sofia tirou a camisa de Ben. Ele voltou a beijá-la com urgência, como se um segundo sem ela fossem minutos sem respirar.