Nathaniel não recebeu propriamente bem a notícia de que China iria dormir em minha casa, provavelmente não lhe agradou a ideia de dormir novamente no sofá. Mas acalmou-se quando lhe disse que se quisesse poderia convidar Lysandre e os dois poderiam “acampar” numa outra divisão da casa sem ser o meu quarto, ou seja, poderiam escolher entre a sala e o quarto de arrumações. O rapaz ligou logo ao platinado para combinar tudo enquanto eu distraia-me com o pequeno-almoço, desde da última vez que a minha casa poderia ter sido incendiada nunca mais permiti que Nathaniel se aproximasse do meu fogão.

O resto da manhã foi pacífica, sem grandes acontecimentos a referir. No fim das aulas lá fomos nós os quatro em direção à minha casa, mas antes passámos pelo supermercado para comprar mais mantimentos, já que hoje teria de alimentar mais duas pessoas e a comida que ainda havia em casa já era pouca. Ao que parece Lysandre tinha concordado com a proposta de Nathaniel e até tinha trazido um saco-cama, só não percebo onde é que ele o tinha guardado este tempo todo, no cacifo ou na sala dos representantes, talvez?!

Quando chegámos os rapazes informaram-me que tinham escolhido o quarto de arrumações para dormitar e pediram autorização para subiram e arrumarem um pouco aquele espaço. Concordei, no entanto antes de subiram os rapazes também ajudaram-me a arrumar os alimentos e só depois é que foram às suas vidas, cá em baixo ficámos eu e China a preparar o almoço. Decidimos cozinhar frango à brás, a mesma coisa que bacalhau à brás, mas em vez de bacalhau desfiado utilizávamos frango desfiado em pedaços mais ou menos grandes para o gosto não se perder. Para acompanhar, nada melhor do que uma salada bem fresca.

Depois de tudo pronto e da mesa quase posta, China foi chamar os rapazes e eu fiquei a terminar de compor a mesa, faltava apenas servir o prato principal, que acabei por colocar numa travessa de vidro e depois na mesa. A seguir dediquei-me à sobremesa, uma coisa muito simples: gelado de chocolate. Tinha acabado se servir a minha dose e a de China quando os rapazes, com esta última atrás, entraram, perguntei-lhes a quantidade que queriam e depois de cada um dizer a sua e de eu servir as doses, guardei a caixa com o que restava no congelador e as mini-tigelas com os gelados na parte de baixo, seguidamente sentei-me na mesa onde todos os outros já me esperavam.

Começamos a servir-nos e a comer alegremente, conversando sobre coisas aleatórias, sem grande importância. Isto fez-me lembrar o primeiro almoço que tive com aquelas mesmas pessoas, era tudo tão diferente naquela altura…

POV Nathaniel ON

Assim que terminámos de comer insisti que as raparigas subissem para o quarto, enquanto que eu e Lysandre ficávamos cá em baixo a lavar a loiça. A verdade é que eu queria assentar os pormenores sobre o nosso plano de assustar as raparigas logo à noite. A ideia tinha surgido por acaso quando nós estávamos a arrumar o quarto onde dormiríamos, encontrámos acidentalmente umas máscaras de Halloween e, superada a questão inicial do porquê de existir tal coisa naquele lugar, decidimos utilizá-las para pregar um pequeno susto.

Já estava a terminar de secar o último prato quando oiço um barulho parecido com o de uma mota a passar, mas que não chegou a passar, antes pelo contrário, parou mesmo à porta. Uns segundos depois ouvimos a campainha tocar, pousei o prato já seco na mesa e encaminhei-me para a porta com Lysandre atrás. Estaria Ayki à espera de mais visitas? Se sim, quem seriam? Certamente a campainha tinha chamado à atenção das raparigas, pois já se ouvia alguma agitação lá em cima. Sem esperar mais, abri a porta e deparei-me com um rapaz um pouco excêntrico de cabelos azuis e olhos rosa-choque (provavelmente lentes). Sem saber quem ele era perguntei:

–Hum… Olá! Procuras alguém?

–Sim, a Ay está?

Ay? Ele está a referir-se à Ayki, perdão, Aya? Pensei.

–Qual é o assunto?

–Podes dizer-lhe que o noivo dela está aqui à espera?!

Noivo? Mas que merda é está? A Ayki não me falou de nenhum noivo! Lysandre pareceu ter uma reação parecida com a minha, já que notei que ele se endireitou, como se não tivesse ouvido bem.

Antes que pudesse responder fosse o que fosse ao rapaz oiço a voz de Ayki dizer:

–Alexy? O que estás aqui a fazer?

POV Nathaniel OFF

China e eu estávamos no quarto, por insistência de Nathaniel, a conversar. De repente ouvimos o som de algo parecido com uma mota a passar, só que este som não chegou a esvanecer-se, aliás permaneceu bem perto, como se estivesse mesmo à porta. China tinha-se aproximado da janela e estava prestes a chamar-me quando ouvimos a campainha tocar.

–Quem é? – Perguntei.

–Não sei, não conheço. Só consigo ver uma cabeleira azul e uma vespa também azul estacionada.

Levantei-me e aos tropeções aproximei-me da rapariga, não podia ser ou será que podia? Espreitei pela janela e obtive a confirmação, sim, era ele. Fiquei uns minutos estática até ouvir China a dizer:

–Conheces Aya?

–S-Sim… – Murmurei. -Anda daí! – Disse mais alto fazendo menção de ir lá abaixo. Desci normalmente as escadas, não fosse eu cair, com China atrás. Quando cheguei lá em baixo obtive a minha dupla confirmação de que era ele e a única coisa que consegui dizer foi:

–Alexy? O que estás aqui a fazer?

–Ayyy – Disse correndo na minha direção, passando por Nathaniel e Lysandre que estavam sem reação. -Que saudades! – Exclamou prestes a abraçar-me, mas eu consegui desviar-me a tempo. Oiço um suspiro de alívio algures, ignoro e encaro o rapaz recém-chegado, ele parecia um pouco zangado por eu ter evitado o abraço.

–Eu disse. O que está aqui a fazer? – Repeti.

–Vim fazer-te uma visita, oras! – Reclamou. -E agora já posso receber o meu abraço?

–Não!

Oiço alguém a pigarrear e percebo que tanto eu como o rapaz estávamos a ser encarados por três pares de olhos confusos e à espera de respostas. Coro envergonhada e digo por fim:

–Desculpem… Este é o Alexy, um amigo.

–Amigo? Ele disse que era o teu noivo! – Exclamou Nathaniel e Lysandre acenou discretamente em concordância.

–Tu o quê? – Quase gritei virando-me novamente para Alexy.

–Era para causar um maior impacto, eu não estava à espera que fosse um rapaz a abrir a porta, a propósito, quem são eles mesmo? – Perguntou curioso.

–Bem, esta é a China, uma amiga muito próxima, … – Involuntariamente comecei a corar enquanto fazia as apresentações. -Lysandre, namorado de China e, por fim, Nathaniel… – Hesitei, como é que eu deveria apresentá-lo? Namorado? Falso namorado? Amigo?

(In)felizmente não foi preciso dizer nada, pois o parvo do Nathaniel decidiu fazê-lo por mim:

–Eu sou o Nathaniel, namorado da Aya. – Auto-apresentou-se com um sorriso torto enquanto se aproximava de mim e encostava uma mão no meu ombro.

Como é que ele tinha sido capaz? Apresentar-me como sua namorada, assim, sem mais nem menos! Mas ele pensa que eu sou o quê? Para contrariar a minha indignação, Alexy parecia surpreendido e até um pouco alegre… Oh não… Não tive tempo de reagir, o rapaz já me tinha puxado pelo pulso e agora apertava-me contra o seu corpo num abraço muito apertado, quase sufocante.

Esbracejei (o melhor que consegui) de modo a que Alexy percebesse que eu precisava de ar para viver. Este, já satisfeito com o abraço, afastou-se ligeiramente e mantendo-me ainda por perto disse:

–Ay que bom! Finalmente arranjaste um namorado, estava a ver que ias ficar solteira até à velhice, seria uma tristeza e um desperdício.

Olhei para ele com uma sobrancelha erguida, será que ele nunca iria mudar? Em resposta o rapaz apenas sorriu e, como se tivesse acabado de ter a melhor ideia de sempre, exclamou:

–Já sei, hoje vamos ter festa! Esperem só um pouco que eu já volto! – E com isto saiu porta fora, montou na sua vespa e arrancou deixando para trás quatro pessoas perplexas a olhar para a porta, ainda aberta, como se tivesse entrado um maluco pela casa dentro, a tivesse virado do avesso e no fim saído sem deixar rasto. Bem, não é que isso não tenha realmente acontecido, mas vamos dizer que foi meio diferente só para não ofender ninguém, okay?