"A verdade te libertará. Mas primeiro ela vai te enfurecer"

–Gloria Steinem

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Depois que Rachel recitou a profecia, ela foi descansar. Aquilo deveria ser bastante cansativo.

–Estranho – uma garota do chalé de Apolo falou – "Três heróis e o que ainda a chance não teve / Partirão em busca do que se matou". Quatro campistas vão atrás de Luke?

Sabia que seria perigoso. Quatro anos atrás, antes de me tornar caçadora, fui numa missão com cinco pessoas. Somente três voltaram vivas.

–Se a profecia diz... – Quíron deixou a frase no ar. Talvez ele estivesse pensando no mesmo que eu.

–"Perderão um na terra mágica / Onde nenhum vivo jamais pisou" – Annabeth completou – um dos quatro vai... Se perder?

–"E a sorte estará sempre ao seu lado, presente a todo momento" – Percy recitou o último verso, com os braços cruzados – Tique é deusa da sorte, não é? Bom, não tem filhos de Tique por aqui... Tem algum abençoado da deusa no Acampamento?

Jack, timidamente, levantou o braço, atraindo vários olhares para ele.

–Lembram da última visita ao Olimpo? – ele disse, fazendo vários concordarem – Tique me abençoou quando a ajudei a limpar seu templo. Sinceramente, ela distribui bênçãos bem fácil. – ele deu de ombros.

–Você já saiu em missão, Jack? – perguntei, e ele negou com a cabeça.

–Então é você. – Annabeth concluiu – Agora só precisamos de mais dois campistas que já saíram em missão.

–Eu vou – Percy se levantou – Já estive lá uma vez. E, além do mais, também quero salvar Luke.

Murmúrios percorreram todo o anfiteatro, e um garoto de Hermes gritou:

–Mas ele não tentou te matar? Tipo, muitas vezes?

–É, mas... Ele não me matou. Ele se matou para não destruír o mundo, e isso, pra mim, já é um ato de heroísmo. Não devemos deixar heróis morrerem, não é, Quíron?

O centauro estava olhando para o fogo, que estava amarelo, em silêncio.

–Sim, Percy. Heróis não devem morrer. – ele declarou, após alguns segundos, desviando seu olhar das chamas da fogueira – Precisamos de mais um herói para ir com Thalia. Alguém?

Os campistas ficaram em silêncio por uns segundos, até Annabeth se levantar e dizer:

–Eu vou com Thalia, Percy e Jack. Luke sempre foi um irmão para mim, e irmãos não abandonam uns aos outros.

Todos bateram palmas, como se uma peça de teatro estivesse acabando naquele momento.

–Então está resolvido. – Quíron disse, olhando para nós – Thalia Grace, Jack Templesmith, Percy Jackson e Annabeth Chase partirão pela manhã. Agora, todos para seus chalés. Teremos um dia cheio amanhã.

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Acordei com o barulho de um trovão dentro do chalé. Tinha sonhado de novo com Luke desacordado, mas dessa vez via o castelo de Hécate. Era uma grande construção com paredes de pedra rústica, com a coloração roxa-escura. Havia um rio passando a noroeste e terra preta por todo lado. Fantasmas guarneciam os grandes portões de madeira do castelo, o deixando ainda mais sombrio.

Deveria ser de madrugada, pois o sol ainda não havia nascido. Me levantei de meu saco de dormir e fui até a mesinha de cabeceira. Peguei o relógio de pulso de Jack e vi que estava certa: 4:39 da manhã.

Coloquei o relógio de volta e verifiquei se minha mochila estava com tudo o que eu precisava: adaga reserva, lanterna, baterias extras, dracmas, dinheiro mortal, uma muda de roupas limpas, néctar e ambrosia. Estava esquecendo alguma coisa?

Minha lança estava encolhida, no bolso lateral da mochila. Colocaria-a no bolso de minha calça quando saíssemos. Meu escudo estava no meu braço, em forma de bracelete. Estava tudo OK.

Deitei-me novamente e fechei os olhos.

"Maldito Hipnos. Por que não consigo dormir? Droga!" pensei, me sentando. Muitos pensamentos fluíam em minha mente, e isso estava atrapalhando meu sono. Decidi dar uma volta no Acampamento, para relaxar um pouco. Peguei minha lança, ainda encolhida, e coloquei-a no bolso de minha jaqueta, caso precisasse matar algumas harpias. É proibido andar pelo Acampamento à noite, mas quem liga?

Abri a porta e senti o vento gelado da noite. Cruzei os braços ao redor de meu corpo e comecei a andar.

O lugar era bem sombrio à noite. A Casa Grande parecia uma daquelas casas assombradas dos filmes de terror, em que as pessoas morrem por ataques de lobisomens ou vampiros. O bosque lembrava uma daquelas florestas mal-assombradas que rodeavam as casas assombradas, lotada de monstros e... Espera. Ela é lotada de monstros.

Sentei-me à margem do lago, na areia. Abracei meus joelhos, na esperança de não sentir tanto frio.

Mil coosas passavam pela minha mente naquele momento. Luke, o castelo de Hécate, a missão, Jack...

–Pensando? – ouvi uma voz à minha esquerda, mas quando virei meu rosto, não havia ninguém lá.

–Quem... – murmurei, aproximando minha mão do bolso do casaco, no intuito de pegar minha lança.

–Ah, desculpe. Esqueci de tirar o boné – a voz disse, e logo vi uma forma sólida à minha esquerda. Annabeth estava ali, sentada ao meu lado.

–Você quase me matou de susto, Annabeth! – coloquei minha mão no coração e suspirei, me recuperando.

Ela riu e disse:

–Desculpe, Lia. O que está fazendo aqui?

–Pensando – respondi, abraçando os joelhos novamente – E você?

–Passeando, observando a lua, pensando... Nada de mais.

–Hum... – queria muito perguntar o que ela sentia realmente por Luke, mas não sabia como perguntar aquilo sem soar ciumenta – Annabeth... Você era... É apaixonada pelo...

–Luke? Não. – ela hesitou – Houve um tempo em que tive uma quedinha por ele, mas eu o considero como um irmão. Sabe, vocês dois são minha família. Vocês cuidaram de mim quando eu mais precisei, e isso não é coisa que você esquece da noite para o dia.

Fiquei um tempo pensando no que ela disse. Tinha me surpreendido: eu tinha mesmo marcado a vida de uma pessoa, e essa pessoa é minha melhor amiga. Ela é minha irmã.