Ponto De Ônibus escrita por Bruno Vieira Sato


Capítulo 1
One-Shot




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E mais uma vez me encontro sentado, com o computador ligado e nada. Nada vem a minha mente a não ser a imagem da página em branco esperando para ser preenchida com qualquer ideia sem sentido que possa sair da minha cabeça e correr para meus dedos.

Passei metade do meu dia aqui, sentado, esperando. Fiz alguns intervalos. Bebi uma boa dose de Jack Daniels com Coca-Cola, rolei de um lado para o outro na cama, andei em círculos por aquele pequeno quarto, e nada. Bloqueio criativo que deixou essa tarde igual aquele seu tio que faz sempre a mesma piada do pavê ou “pa cume”.

Mais uma volta pelo quarto, dessas que você fica rodando em círculos, olhando para os lados e tropeça milhares de vezes, que olhei pela janela o ponto de ônibus do outro lado da rua. Apoiei-me e do quarto andar, fiquei observando o ponto.

Um garoto com o cabelo desgrenhado, preso ao mundo de seu celular. Uma idosa que chamou minha atenção pelas tatuagens em seu corpo. Mais umas três ou quatro pessoas preocupadas demais com os ônibus que demoraram alguns minutos para aparecer compunham a cena.

Em um domingo, cinco horas da tarde, e o povo querendo ônibus a todo instante.

Incrível quantas pessoas passam por um ponto de ônibus, não? Na próxima meia hora, quando passaram três ônibus seguidos, andou um carteiro que parecia só ter pele e osso, uma mulher que deve ter causado torcicolo em três meninos que andavam por ali, uma menina que tentou chamar a atenção dos três meninos e um idoso japonês com uma mochila gigante nas costas.

Enfim o ponto ficou vazio após os três ônibus passarem, exceto por aquele menino, de cabelo desgrenhado, nem aí para o mundo a sua volta, mais interessado no celular do que na mulher que atraiu a atenção de todos, inclusive a minha.

Mas não se passaram dois minutos e uma menina, com os cabelos cor de cobre, sai do prédio ao lado do ponto e se sentou, na outra extremidade. Os dois se entre olharam e logo em seguida o garoto guardou o celular. E para minha surpresa um sorriso tímido surgiu naquele rosto todo concentrado e focado no bendito celular.

Outra troca de olhares e… SIM! Agora um sorriso de verdade! Um sorriso de quem… Epa, pera lá! Nesse ponto só passam três ônibus. E ele não pegou nenhum deles. Será que? Não, não pode ser. Será? Ele estava ai a todo esse tempo só para vê-la? Não pegou os ônibus, guardou o celular assim que a viu, esse sorriso de quem está apaixonado…

Mas e ela? Será que ela esperava vê-lo? Colocou o cabelo atrás da orelha, disfarçou umas três vezes para olhar para ele. Acho que ali tem um sorrisinho tímido também ein!? AH! Não acredito! E não é que tem mesmo um sorrisinho ali?

Vamos lá garoto, vá falar com ela. Ela já deve ter percebido o que você quer. Isso se vocês já não se conhecem e eu estou aqui imaginando coisas. Qual é!? Para de arrastar a bunda no banco e vai logo sentar do lado dela garoto! Bom, agora que já está do lado dela é só começar a conversar, vamos lá!

Então, no melhor momento, quando aquele menino todo desleixado começa a conversar com a estilosa, a campainha toca. Saí correndo para atender a porta, era o porteiro. Mas que raios de porteiro quer entregar correspondência em uma tarde de domingo? Enfim, assinei o que precisava, agradeci e voltei correndo para a janela.

Olho para o ponto e… Nada. Vazio. Assim como a tela do meu computador que continuava ligada todo esse tempo.

E agora, sem mais delongas, com a pequena história de amor que veio a cabeça, começo a digitar.


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