A História da Grand Chase escrita por Thugles


Capítulo 6
Uma breve visita ao mundo dos demônios


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena pausa na história de Elesis, Lire e Arme para uma ligeira introdução a uma de minhas personagens favoritas. Espero que gostem!



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Embora existam estudiosos e pesquisadores em Vermecia, poucos são os que de fato conhecem as terras além de seu continente, mais ainda, as dimensões paralelas à que vivem. E uma delas é o mundo de Elyos, onde vivem os seres que os humanos conhecem como demônios.

Muito tempo antes da criação de Vermecia, já existia este muito isolado de Ernas - como é chamado o mundo onde vivem os humanos. E, assim como por vezes acontecia em Ernas, em Elyos havia uma divisão entre seus habitantes: os Asmodianos, que eram os seres mais poderosos e constituíam sua própria civilização à parte, separados do resto das tribos demoníacas, consideradas inferiores.

Enquanto Ernas prosperava guiada pelas três deusas, em Elyos se desenrolava uma longa guerra, pois as demais tribos consideravam-se oprimidas pelos Asmodianos. Estes, embora mais poderosos, sofriam diante do esmagador número de membros das demais tribos demoníacas que, unidas, constituíam um exército impressionante. A batalha costumava pender de um lado a outro, por vezes para os Asmodianos, por vezes para as demais tribos.

Dentre os comandantes Asmodianos estava um poderoso demônio chamado Duel Pon Zeck, altamente temido pelo seu poder e permanência em combate. Conquistava a tudo e vencia todas as batalhas que enfrentava com sua espada Eclipse, considerada a arma mais poderosa do mundo. Isso atraiu a ira do grão-mago Oz von Max Reinhard, importante membro das forças Asmodianas. Embora estivessem do mesmo lado, sua inveja foi tamanha que ele não suportava ver Duel tão em destaque. Além disso, temia que seu comandante um dia pudesse voltar-se contra seus próprios soldados, se estivesse atrás de mais poder.

E realmente, isso aconteceu: No ápice da guerra, por motivos desconhecidos, Duel enfureceu-se a ponto de destruir, sozinho, tanto amigos quanto inimigos, revelando um lado de seu poder jamais visto antigamente. Por fim a guerra terminou com vitória clara dos Asmodianos, e a paz, de certa forma, voltaria a permanecer em Elyos - embora por um período breve: pois estavam em vésperas de iniciar o que mais tarde seria conhecida como a Grande Guerra Mágica, entre os demônios de Elyos e os humanos de Ernas.

Embora a maioria das tribos demoníacas tenham perdido, importantes Asmodianos também foram pegos na fúria de Duel, dentre eles o próprio Oz- mas não antes que este tivesse conseguido criar sua arma secreta contra Duel...

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Tempos antes da ira destruidora de Duel, uma risada ecoava por todos os cantos de um enorme laboratório - escuro, cheio de máquinas e dispositivos mágicos. Um homem de pele roxa, curvado pela idade, movia-se como um jovem ao mexer botões e manusear pedras de magia, enquanto gargalhava de animação.

–Hahahahaha! Finalmente! Minha criação estará completa!

–Talvez depois disso você possa tomar um banho - disse uma voz lenta e sonora - Não tenho nariz, mas estou quase conseguindo ver o seu cheiro.

–Cale-se, Grandark! - reclamou o velho - Não atrapalhe minha concentração!

–E quem você acha que é para me dar ordens, o meu criador? - riu Grandark com ironia - pois o que acabara de dizer era verdade.

Oz, o mago que parecia não caber em si de agitação, estava mexendo em alguns aparatos de sua criação, de costas para uma mesa de madeira onde estava apoiado o artefato mágico mais impressionante daquele lugar. Era uma espada longa e larga, os dois gumes formados por grandes dentes triangulares e pontudos. O cabo esverdeado tinha a forma de vinhas trançadas, e emanava uma energia tão perigosa quanto a do velho criador. No centro da espada, onde normalmente ficaria a cruzeta, havia um disco que assemelhava-se a um olho aberto e esverdeado. Não tinha boca, mas tinha sido ela quem falara.

–Estou começando a achar que vou é apodrecer aqui - Grandark disse com tédio. O velho mago voltou-se para ele, exibindo seu rosto roxo enrugado e os olhos vermelhos.

–Eu criei você, Grandark, e você será empunhada para destruir a Eclipse. Mas se me deixasse usá-lo...

–Ah, não nesta vida - riu a espada - Já disse, você é fraco demais. Surpreende-me que consiga carregar esse cajado! Pensando bem, não sei por que tenho esperanças. Você pode mesmo criar alguém forte o bastante para usar-me em combate, Reinhard?

Oz fechou a cara e rosnou de fúria, seu cajado com globo verde-claro e asas de morcego faiscando. Mas acabou virando-se para seu trabalho, disposto numa mesa inclinada quarenta e cinco graus em relação ao chão.

O formato lembrava o de um humano ainda em construção, mas já com cabeça, tronco e membros discerníveis. Os braços já estavam finalizados e tinham um tom de pele caucasiana. O peito aberto tinha algo dentro dele que pulsava como um coração humano, e os olhos emitiam um brilho fraquejante. Mas ainda havia muito a ser feito.

–Hum... Que cor colocar para a armadura? Queria um preto, mas todo mundo adora preto. É uma cor muito cara na loja de tinturas... Que tal um rosa?

–Não vou ser usado por nenhum espadachim vestido de rosa! - berrou Grandark em fúria. E, num tom mais tranquilo, sugeriu: - Que tal um laranja escuro...?

Os olhos do mago se inflamaram e ele fechou os punhos com força.

–O que foi? - riu Grandark - Aquele protótipo laranja deu bem certo. Ficou forte, não digno de minha empunhadura, claro, mas se lembrarmos que ele conseguiu fugir dessa sua espelunca... Onde acha que ele deve estar agora?

–Provavelmente está morto - disse Oz - Ele não permaneceu aqui a tempo para que eu o ensinasse as necessidades básicas para sua sobrevivência. Mas eu o fiz com mais pressa do que este novo, agora, esse nosso aqui... Hm... Que cor usar nele? Branco? Não não, sujaria fácil. Vermelho? Ah... Já sei! Vamos decidir o nome primeiro! O que você acha, Grandark?

–Não sou bom em sugerir nomes - disse Grandark entediado. Oz pôs a mão no queixo.

–Isso está ficando muito bom - tagarelava - Terá uma força incrível, será minha maior criação...

–Ei!

–...e como tal, precisa de um nome digno. Que tal Howard? Não... Crintor? Já sei! - berrou, como alguém quando faz uma grande descoberta - Ele vai se chamar Duel! Duel pon Zeck! Hahahahahaha! Esse nome soa muito bem, você não acha? Que nome brilhante!

–Mas Duel pon Zeck é o nome de quem ele vai perseguir! - Grandark esperou que a risada do mago silenciasse e replicou, com calma - Não pode se chamar Duel!

–Hmmmm, é verdade. Mas então não sei...

Ele começou a andar por seu laboratório, olhando a todo canto desesperado. Olhava os diversos instrumentos de magia contidos ali, mesas cheias de papéis, armas, anotações, como se algo pudesse lhe dar uma faísca de inspiração. Então...

–EU JÁ SEI!

Seus olhos pousaram num pôster que tinha na parede: retratava o desenho de um vigarista trapaceiro, que usava de todos os artifícios para chegar em primeiro lugar numa maluca corrida junto com seu cachorro verde, mas sempre chegava em último. O carro tinha a forma de um foguete deitado, com uma ponta negra e turbinas atrás, e num dos lados estava o número do corredor: "00".

–Zero Zero - Oz observou lentamente - Está aí o nome dele! E a cor... - olhou para o cachorro - Verde! Consegui! Vai ser verde e se chamar Zero Zero!

–Mas já tem um Zero! - protestou Grandark - Não acha que devia ter um sobrenome diferente do primeiro nome?

–Tem razão - Oz admitiu, movendo o cajado para atrair um monte de peças e latas esverdeadas - Então... Zero Zerado! Hahahaha! Que tal?

–Pelo menos coloque algo meio em latim, pra ficar bacana...

–Boa idéia - assentiu - Zero... Zephyrum, então - os olhos do velho brilharam - É perfeito! Minha maior criação, Zero Zephyrum, que por fim irá destruir a Eclipse...

–Caham - fez Grandark, mas seu criador já não mais o escutava. O olho da espada revirou-se. Se ele tivesse uma cabeça para sacudir, certamente o teria feito. Por horas, o velho trabalhou em sua criação, muito raramente saindo da frente do que estava trabalhando. Finalmente, quando o olho de Grandark já estava fechado, pulou para trás.

–Está aí! - gritou, louco de alegria - Levante-se, Zero! Levante-se, e empunhe sua espada Grandark!

Oz virou Grandark para que ficasse apoiada na mesa, de frente para o terceiro ser que agora se encontrava naquele laboratório, e Grandark o analisou com cuidado. Tinha pele branca, orelhas com uma ligeira pontinha, e era careca. Os olhos brilhavam amarelados. Oz não o fizera musculoso, mas tinha um formato que pareceria bonito aos olhos humanos. A boca séria estava fechada e ele estava deitado na mesa inclinada. Não respondeu.

–Levante-se, Zero! - Oz repetiu - Levante-se! Droga - resmungou - Será que esqueci de ligar o transmissor de fala ou...

–Agora não - a voz que saiu do homem silenciou o mago - Não estou a fim. Quero ver o eclipse.

–A Eclipse, idiota, a espada, e você quer destruí-la! - Oz gritou agitando os braços enquanto Grandark ria como jamais havia rido em toda a sua breve existência.

–Não, quero ver o eclipse - insistiu Zero - Talvez com um bolinho de... De... Não sei... De que são feitos os bolinhos?

Então a luz se apagou e Zero desligou, deixando o ambiente em silêncio exceto pelos resmungos de Oz e pelo riso incontrolável de Grandark.

–Você vai ver - Oz disse baixinho - Estou muito perto. Não se preocupe, meu amigo - disse em voz baixa para o ser apagado à sua frente - Eu já sei onde eu errei. Só mais alguns ajustes, e você irá calar esse riso da Grandark - olhou de esguelha para a espada risonha atrás dele - E mais importante... Calar a Eclipse para sempre.

Mas isso ainda levaria mais um tempo, pois Oz derramara sem querer uma lata de tinta na cabeça do ser que criava.


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