A História da Grand Chase escrita por Thugles


Capítulo 18
Magia


Notas iniciais do capítulo

Eu infelizmente tenho aquela doença onde não consigo me livrar da sensação de que as coisas que eu escrevo estão confusas, e que a única pessoa que entende o que eu escrevo sou eu mesmo. Dizer isso me deixa mais confortável, embora eu realmente tenha medo de acontecer isso mesmo. Se alguma parte estiver difícil de entender, provavelmente foi erro meu, peço que façam a gentileza de me avisar nesse caso! Se ninguém avisa, então penso que está tudo certo e que estou indo bem. Espero mesmo que seja esse o caso...



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O barulho de moer e triturar ficava mais alto à medida que a arqueira se aproximava dos monstros. O cheiro de poeira de terra também ficava mais evidente, e em pouco tempo ela poderia ver a nuvem formada pelas criaturas ao cavarem a terra.



Lire caminhava sozinha, no escuro e movendo-se silenciosamente pelas pedras irregulares. Atrás dela, um imenso paredão de pedra se erguia; em algum lugar lá em cima, Elesis, Arme e Ryan estavam descansando, certamente vendo os monstros. Lá de cima, a visão era formidável, mas no chão era fácil se perder.



Quando Ryan avisara que vira monstros à distância, eles pareciam estar perto, mas a distância lá de cima era enganosa. A arqueira caminhava havia mais de duas horas e só agora conseguia escutar os ruídos que as criaturas faziam. Depois de mais uma hora, perdeu o paredão de vista. Tudo o que havia ao redor eram pedras e mais pedras, mas ela se orientava pelas estrelas e sabia exatamente para onde estava indo. Agora tinha o ruído das pedras para seguir.



Estava levando o arco e a aljava com flechas atrás das costas. Deixara a capa com os outros; o velho tecido grosseiro fora feito para camuflá-la em florestas, mas ali só a faria parecer um borrão verde onde tudo o mais era marrom. Vinha vestida em suas roupas comuns, feitas de folhas entrelaçadas da maneira que somente os elfos sabiam fazer, que as deixavam parecidas com tecidos de verdade, e tinha algumas frutinhas secas para o caso de precisar ficar mais tempo.



Quando Ryan as chamara para mostrar o que tinha visto, Elesis foi logo formentando um plano.



—Só pode ser Cazeaje. Aquilo são monstros dela, em formação e prontos para atacar quando estivermos despreparados.



—Podemos pegá-los de surpresa — Arme tinha sugerido, ao que a espadachim lhe lançara um olhar de fúria.



—Ficou louca, garota? Somos quatro, e não quinhentos. Você quer chegar até eles com esse seu pote na cabeça e esperar matá-los assim?



—Ah, desculpa, eu não sabia que você era a estrategista. Conta seu plano, então!



Ela estava furiosa demais para pensar em algo, então Lire se adiantou.



—A Elesis tem razão, eles são muitos e não teremos chance numa luta. Daqui de cima não vamos poder fazer muita coisa. Mas talvez possamos pegá-los de surpresa, como a Arme disse, só que não precisamos atacar. Chegamos até eles sem sermos vistos, e então decidimos alguma coisa.



—Sim — Elesis via a sensatez no plano — Eles podem ter um líder, como o Lorde Oak e o Gorgos. Cazeaje parece gostar de colocar chefões para liderar seus monstros. Derrotando ele, os outros vão ficar sem comando e vão desertar.



No fim decidiram não ir os quatro, pois poderiam atrair atenção demais e quatro pessoas só atrasariam. Então precisavam de alguém para ir espionar. Arme logo tirou o corpo fora, alegando não ser boa nisso(Elesis zombara dela, dizendo que correria dez passos e então voltaria ofegante e cansada). A espadachim tinha excelente preparo físico, mas a missão exigia certa sutileza e, bom, uma cabeça fria e modos mais suaves. Sendo assim a arqueira terminou indo ela mesma.



—Eu poderia ir — Ryan tinha dito — Mas desde que eu tomei banho no acampamento, sou um novo ser. Se eu tiver que correr sozinho atrás de furadeiras gigantes com braços e me encher de areia de novo, vou explodir. Quanto mais rápido você for, mais cedo saímos deste lugar horroroso.



Ela não podia discordar dele. O Vale do Juramento, segundo se supunha, era uma ampla cordilheira de montanhas em forma de círculo, tão grande que, quando se olhava para ela, não se conseguia ver as curvas. Um profundo vale ficava lá dentro. As montanhas eram tão altas que bloqueavam o ar fértil, era o que as lendas diziam. Tudo ao sul do vale era uma vastidão de terra seca poeirenta, sem graça e marrom.



Lá de cima Lire pudera ver uma nuvem de poeira à distância, e dela às vezes apareciam criatures similares ao monstro morto que Arme chamara de drillmon. Pareciam muitos, mas não dava para ter certeza. Ela estava incubida de descobrir quando se aproximasse.



A arqueira os ouviu muito antes de vê-los. O ar seco foi tomado por um som tilintante e insistente, que ficou mais alto e mais alto, assimilando-se a alguma coisa dura perfurando a terra. Não era um som que agradava à menina. Quando era criança, o irmão de Lire a tinha levado para uma vila de mineiros, e ela ficara horrorizada com o trabalho deles. Eram homens de capacete vestido com peles empoeiradas, que passavam o dia todo em cavernas, batendo nas paredes com martelos que pareciam luas crescentes e coletando pedaços de pedra cheio de pontos brilhantes. Estão minerando esmeraldas, seu irmão dissera. Os mineiros passavam horas na escuridão dos túneis, respirando um ar cheio de poeira para reunir algumas poucas migalhas do metal esverdeado todos os dias. O barulho que ouvia agora era semelhante ao que os mineiros faziam naquela época.



Duas horas se passaram até ela chegar a um aglomerado de pedras próximo do barulho da atividade, onde ela poderia se esconder e observar. Uma nuvem de poeira escura subia de onde os drillmons - ela podia vê-los agora – trabalhavam. Lire aproximou-se sorrateiramente da rocha deformada e espiou.



De início ela não entendeu bem o que via. Havia drillmons; grandes criaturas pálidas com braços duros e uma broca cônica no lugar das pernas, mas também havia drillmons que só tinham o tronco. Uns eram apenas cabeças, e Lire viu uma testa brotando do chão. Quando seus olhos se acostumaram foi que ela notou que estava olhando para um buraco. Drillmons estavam ao redor dele, afundando mais as bordas e escavando. Carrinhos de mão cheios de pedras esperavam na beirada. Quando eram cheios, um par carregava-os para fora. Os carregadores eram humanos, porém. A poeira que levantavam subia até a altura de um arranha-céu, tão alta que poderia mesmo ser vista de longe.



A arqueira não perdeu tempo. Pegou um pedado de papel no vestido e um lápis, alisou-o na pedra e começou a escrever. Tinha escrito duas linhas quando se lembrou que os outros não sabiam ler élfico e rabiscou tudo, virando a folha do outro lado para recomeçar, escrevendo na língua comum de Vermecia.



Quando terminou, ela assinou a folha, enrolou e a amarrou numa das flechas, usando o cordão que prendia a ponta à haste. Os elfos de Eryuell, altamente ligados à natureza, podiam usar o ar para guiar uma flecha para onde quisessem, embora o processo fosse complicado. Ela seria capaz de fazer aquela flecha voar até onde estavam Elesis, Ronan e Arme. Pegou o arco, encaixou a flecha e teve uma súbita visão da seta voando, cruzando o deserto e atingindo o pescoço de Arme, no que ela caía do penhasco. A visão a fez sentir-se enjoada. Raspou a ponta da flecha no chão várias vezes até que ficasse rombuda e sem fio, voltou a erguer, mirou e fechou os olhos.



Levou um longo minuto de concentração, oração e espera, até se sentir pronta para soltar a flecha. Quando seus dedos liberaram a corda, a flecha voou como o vento na direção que ela tinha vindo, mais alto e mais rápido do que qualquer tiro comum. A flecha deveria parar perto do acampamento, ela pensou.



Ao se curvar para colocar o arco nas costas, sentiu algo cutucar-lhe logo acima do tornozelo. Virou-se, sobressaltada, e uma peça roxa e brilhante caiu no chão. Era o cetro de Arme. O que isso está fazendo aqui? Eu vim carregando esse cetro o tempo todo? A varinha era modestamente esculpida, com uma pedra roxa na ponta e fitas brancas por ela. Pegou-o com cuidado, temendo conjurar alguma magia sem querer. Assim que sua mão tocou o cabo, o cetro pulou.



Lire deu um salto para trás. A varinha flutuou e dançou como se estivesse viva. Brilhava como um farol. Um disparo saiu dela, um facho de luz que caiu bem nos drillmons. Alguém gemeu. E no segundo seguinte havia pessoas apontando, gritando e saindo da névoa de poeira.



—Ali, um intruso! Peguem-no! Não deixem escapar!



O cetro se apagou e ficou quieto.



Lire agarrou-o e correu. Atrás dela, os drillmons fizeram sons estranhos antes de saírem em perseguição, os piões girando rapidamente enquanto se moviam. Homens corriam atrás dela também, carregando espadas e machados. Algo enrolou-se em seu pé e ela caiu.



—Peguei! — ouviu uma voz dizer. Agarraram-na por um ombro. Ela se desvencilhou e chutou o braço estendido. Engatinhou, de costas, o pé meio enrolado numa pequena rede de fios. Pegou a faca e se livrou da peça, mas um drillmon estava em cima dela.



A criatura baixou os braços para esmagá-la. Lire rolou para o lado e ergueu-se de um salto, voltando a correr, espalhando flechas por toda parte de sua aljava. Ela pegou o arco e virou-se apenas o tempo suficiente para atirar, sem nunca parar de correr, retardando os homens que eram atingidos. Ela só pôde disparar seis vezes. Em Eryuell havia um grupo de arqueiros que conseguia criar flechas de energia e não precisavam de aljavas, mas Lire ainda não era um desses. Tinha saído da floresta antes que tivesse tempo para aprender a usar aquilo. Mesmo assim, sabia correr, e pôs ambas as pernas para funcionar enquanto fugia.



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A noite era um manto negro salpicado de estrelas. Pelo menos isso o deserto tinha de beleza. Quando o sol saía, a lua aparecia, branca e iluminada, embora estivesse na fase minguante. As estrelas tomavam conta, tantas que era impossível contar, mas uma pessoa dificilmente se cansaria olhando aquele céu. Até o calor abrandava um pouco. A terra ficava escura com a falta de luz, tirando a cor marrom da terra de vista. À noite, tudo ficava mais bonito.



Elesis, Arme e Ryan não tinham percebido, porque caminhavam á noite e olhavam para o chão em busca de buracos e perigos. Agora que estavam parados, podiam admirar a beleza. Ainda estava quente, mas nem de longe tão escaldante quanto era de dia. A barraca que Ronan lhes dera estava montada perto do penhasco, mas o grupo estava do lado de fora, observando as estrelas.



Lire estava em algum lugar muito lá embaixo, indo atrás dos drillmons. Os outros ficaram por ali, desfrutando de um merecido descanso. Não era confortável como no acampamento da Guarda Real, com Ronan e a tropa, mas era tranquilo e restaurador. Era tão quieto, tão pacífico que Elesis se perguntou se não havia algo errado, sorrindo. Então Ryan sentou-se.



—Está quieto demais — ele notou — Pra que lado ficava a nuvem?



Elesis levantou-se, espreguiçando, para mostrar a ele. Mas hesitou. De lá de cima tinham visto uma enorme nuvem de poeira e a silhueta de algumas das criaturas com pernas de furadeira, mas estava longe demais para que pudessem ter certeza. Lire fora investigar, então. Mas agora...



—Sumiu — Elesis franziu a testa com descrença — Mas como assim? Estava naquela direção, eu lembro!



—Talvez os drillmons tenham ido comer — Arme sugeriu alegremente, tateando o chão.



—Pode ser que tenham percebido a Lire — Elesis comentou com preocupação.



—Ela vai ficar bem — Ryan sorriu — É esperta, e não se pega um elfo assim. Precisamos ser otimistas. E se os drillmons sumiram porque ela acabou com todos eles?



—Eu não estou brincando, Ryan. Precisamos ver se ela está bem.



—Seja racional — Ryan retrucou — Se alguma coisa pegou a Lire, ir lá só vai nos fazer ser pegos também. Além disso, pra onde você quer ir? Não dá mais pra ver onde as criaturas estavam. Como vamos saber pra que lado ela foi?



—Eu posso iluminar o caminho — Arme estava de pé — Um minutinho... — ela entrou na barraca. Quando saiu, estava furiosa — Elesis! Você pegou o meu cetro?



—Não — a espadachim retrucou com uma careta.



—Ah, não? Então foi um monstro que veio aqui e roubou ele de mim, não é? Eu sei que foi você! Quem mais poderia ter sido? Me devolve!



—Não seja criança — Elesis devolveu — O que eu ia fazer com aquela sua... coisa? Só se fosse pra enfiar nessa sua goela mentirosa, garota.



—A Elesis estava do meu lado o tempo todo, Arme. Eu vi. Não pode ter sido ela — Ryan falou.



A maga saiu pisando duro, de punho e de cara fechada. Procurou por toda parte, mas não conseguiu achar o equipamento. Achou o pote de alquimia, mas o cetro não estava em lugar nenhum.



Alguma coisa lampejou perto deles e se arrastou no chão com um barulho fraco. Elesis levantou-se de espada na mão. Ryan se ergueu, curioso, olhando ao redor. Arme nem notara o barulho.



—Aqui — Ryan estendeu a mão para um pedaço de papel — É uma flecha da Lire — desenrolou o papel e virou-o várias vezes, lendo e fazendo uma careta — Diz "Encontrei algumas criaturas, muitas delas, cavando um enorme buraco. Estão pedras". Mas é só isso, está toda rabiscada. O outro lado tem mais, mas são só símbolos sem sentido.



—Deixa eu ver — Elesis tomou o papel da mão dele e leu o outro lado — Diz "Encontrei-os, são muitos, estão cavando um enorme buraco. As pedras são levadas em carrinhos, como mineiros fazem. Acho que estão procurando alguma coisa. Talvez tirando metais preciosos para vender, ou talvez algum tesouro que possa estar escondido. Vou dar mais uma olhada e voltar ao nascer do sol. Lire." — franziu a testa — Pelo menos ela está bem.



—Será que é por isso que não conseguimos mais vê-los? — Arme se aproximou — Devem ter cavado um buraco e entrado nele. Por isso não vemos mais a névoa.



—Pode ser — Elesis assentiu, distraída.



—Bem, já sabemos o que aconteceu com as criaturas e com a Lire. Mas o meu cetro, nada.



—Será que você não comeu ele por engano? — Elesis provocou.



—Ah, sua... Será que você não... não... — ela não conseguiu arranjar uma resposta à altura — Estúpida! — gritou, por fim. Elesis deu risada.



O tempo se arrastava. Arme finalmente desistiu de procurar o cetro e entrou na barraca. Tentou não chorar, mas não conseguiu. O cetro tinha sido um presente de seu avô, quando ela ainda era uma novata na academia onde Serre era diretor. Como poderia tê-lo perdido? Ela se lembrava de tê-lo trazido até ali, de estar com ele antes de Lire partir, então só tinha que estar ali em algum lugar. E se tivesse caído do penhasco? Ela tinha medo de se aproximar demais da beirada, então não podia tê-lo derrubado lá. Mas então o que tinha acontecido?



Se seu cetro estava perdido para sempre naquele deserto... Era uma dor difícil de suportar. As lágrimas a aliviaram, porém, e ela começou a pensar com mais clareza. Não podia ter sido Elesis. A garota não era cruel para fazer isso; Arme só a tinha acusado na hora da raiva, quando precisava de alguém para culpar, mas agora parecia óbvio que não era culpa da espadachim. O cetro dela tinha salvado o grupo várias vezes. Por que Elesis iria simplesmente tomá-lo dela escondido? Não tinha sido ela. Estava escuro, elas não se arriscaram a acender tochas, pois poderiam revelar onde estavam. Quando amanhecesse, o cetro violeta seria visto facilmente à distância, e ela o encontraria. Certamente estava ali perto em algum lugar.



Arme saiu relutante da barraca, para onde Elesis e Ryan conversaram baixinho. Os dois a olharam quando ela chegou perto. A maga arrastou os pés, sem jeito.



—Desculpa — ela pediu — Eu sei que não foi você que pegou.



—Ah... tudo bem — Elesis a encarou por um momento. Então deu de ombros — Esqueça isso.



—Aquele cetro foi um presente do meu avô. Eu não consigo acreditar que deixei cair — Arme se sentou, e então Elesis viu que ela tinha chorado. Estava prestes a lhe dar uma bronca, mas... imaginou o que sentiria se tivesse perdido a espada que Arthur fizera para ela. Teria sido uma grande frustração. Não teria chorado, mas ela era uma guerreira e estava acostumada a isso, e Arme não. Em vez disso, falou:



—A gente vai encontrar ele. A Lire tem uma visão ótima, ela vai saber o que fazer quando chegar. Você trouxe o cetro até esse lugar?



—Sim! Eu estava com ele quando começamos a montar a barraca!



—Então ele não pode ter ido muito longe. É um cetro — Ryan deu uma risadinha — Para onde ele iria? Não sei pra quando ele se foi, mas eu sei quando ele vai voltar. De manhã, quando o sol vier e aquele calor dos demônios nos der luz. E, bom... os olhos da Lire também. A gente não vai embora sem seu cetro.



Ele soava tão otimista que Arme acreditou nele, e sorriu de volta. Ainda sentia um aperto no coração, mas ficou sentada com eles, admirando o esplendor das estrelas. Em Serdin, as torres altas do palácio e as muralhas bloqueavam boa parte da visão do céu. Ali, no deserto, podiam ver como ele era grande.



—Olha lá — Ryan apontou, e logo depois as duas meninas viram o que ele viu antes. A nuvem de terra levantada pelos drillmons voltara.



Só que muito mais perto.



—A Lire — Ryan ficou de pé de repente — Lire! — gritou, o mais alto que pôde — Lire!



Não houve resposta – Elesis e Arme chegaram mais perto e olharam para baixo. Viram drillmons muito abaixo deles, mas nenhum sinal da arqueira. Ryan, contudo, via.



—Ela está ali. Os drillmons está atrás dela. Quando ela chegar na parede, estará encurralada.



—Precisamos ajudar — Elesis disse — Arme, você pode me baixar até lá?



—Eu poderia, mas estou sem meu cetro!



Elesis pôs as mãos na cabeça.



Nunca desceriam até lá embaixo a tempo. Os drillmons logo estariam ali no penhasco. Estavam a salvo ali em cima, mas Lire, lá embaixo, ficaria presa entre a parede e os inimigos. Parecia que só restava torcer para que a arqueira conseguisse escapar.



—A Lire podia disparar flechas lá embaixo — Ryan falou — Mas é justo ela quem está lá! A Arme talvez pudesse jogar umas pedras, mas está sem o cetro. Já eu e a Elesis... é, nós estamos aqui com todos os nossos equipamentos, mas somos inúteis.



—A Arme poderia mesmo jogar umas pedras — a espadachim refletiu, e então teve uma idéia — Arme. Será que você não consegue fazer a parede ruir em cima deles?



Arme arregalou os olhos.



—Elesis, não, eu estou sem meu cetro, então não tem como eu...



—Sem minha espada, eu ainda seria capaz de lhe dar uma surra só com as mãos. Então vocês, magos de Serdin, só são fortes se tiverem seus bastõezinhos pra balançar? E quanto a toda aquela história de a magia nascer com a pessoa e vir do coração?



—isso é verdade, mas usamos o cetro pra canalziar a magia pra fora — Arme respondeu.



O comentário tinha ido direto no orgulho dela, no entanto. Elesis percebeu isso, com satisfação. A maga teria que tentar, percebeu. Arme tinha a testa franzida, como se ponderasse.



—Tire a barraca — ela falou para Elesis.



Ela e Ryan desmontaram a barraca e foram para trás. Arme permaneceu parada, de costas para elas, e deu alguns passos para trás. Abriu as mãos bem alto e fez uma oração aos espíritos da terra. Ela se curvou e tocou a palma das mãos no chão. Elesis e Ryan observaram.



Houve um leve tremor, depois o som de um trovão distante, e depois a terra se sacudiu com tanta violência que os dois foram jogados no chão. Arme permaneceu firme, sem hesitar um pouquinho sequer. Ela tocava o chão, os olhos fechados, o suor brotando na testa. Podia sentir todo o peso da massa de terra abaixo dela. Rezava aos espíritos, pedia que a ajudassem e que ela pudesse livrar o mundo daqueles drillmons horríveis.



Por favor, só desta vez. Eu prometo nunca mais perder meu cetro.



A terra tremia, mas resistia. Parecia prestes a entrar em colapso. Então, num sobressalto, a face do penhasco rachou e desceu sobre os monstros lá embaixo. Pedaços inteiros da pedra se soltaram da parede rochosa e deslizavam, como numa avalanche de pedras marrons. Elesis e Ryan estavam novamente de pé, lá atrás, longe do alcance do poder.



O elfo agarrou os ombros da outra.



—A Lire! Se a Arme derrubar tudo lá embaixo, vai esmagar ela também.



Toneladas de pedra já tinham caído lá embaixo. Com horror, Elesis quase desmaiou quando soube dessa falha no plano...



Já estava sendo feito, contudo, e não parecia haver jeito de parar a maga. A pedra se soltava do penhasco e rolava com um som capaz de acordar os mortos. A borda recuava cada vez mais à medida que mais dele era destruído. A beirada foi chegando a vinte metros, quinze metros, oito metros, dois metros de onde Arme estava. E então a terra sob seus pés se soltou, ela gritou e afundou, desaparecendo de vista num instante junto com as pedras que faziam seu caminho pela descida.


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