Narrado por Mosca

E a observei sair pela porta, completamente enfurecida. Fiquei ali encarando o ar sem entender nada do que havia acontecido... Por que Clarissa havia ficado tão brava? Achei estranho, mas por experiência própria, decidi deixá-la sozinha. Fui até a cozinha e encontrei Rafa e Binho devorando mais um dos doces de Chico.

– Vocês dois estão comendo de novo? - perguntei rindo.

– Meu isso aqui está muito bom. - disse Rafa com a sua boca completamente cheia.

– Verdade, experimenta. - disse Binho com a boca igualmente lotada.

Peguei um pouco e provei: Meu, isso está maravilhoso.

– Não falei? - disse Rafa.

– Mas vocês não acham que deveriam deixar um pouco para as meninas? - disse pegando mais um pouco.

– Ué, não são elas que não comem doce com medo de engordar? - disse Binho dando de ombros - Então... Elas nem vão sentir falta.

– Se você diz... Agora se elas ficarem bravas, não quero nem ver. - disse com um meio riso.

– Mas e você? Não deveria estar com a Clarissa? - perguntou Rafa para mim. O encarei confuso e perguntei:

– Como assim?

– Oras, vocês vivem juntos ultimamente... - disse Binho dando um apoio moral para Rafa.

– A gente se conhece faz 2 dias... - o corrigi.

– Que seja, pensei que você estivesse a fim da Mili. - aquelas palavras de Rafa me deixaram confuso e me fizeram ficar pensativo por um tempo.

– Mosca! Então? - gritou Binho, me despertando dos meus pensamentos.

– Oi. Mas é claro que eu gosto da Mili - disse por fim.

– Sabe que não me soou muito convincente... - disse Rafa.

– Eu não preciso que você confie em mim, eu sei o que estou dizendo. - disse irritado com a situação.

– Tudo bem não precisa ficar nervoso... - disse Binho levantando as mãos para o alto em sinal de rendição.

– Ok, me desculpe... Mas voltando a sua pergunta, Clarissa ficou brava comigo e saiu andando para fora do orfanato.

– E o que você fez pra ela? - perguntou Rafa curioso.

– Eu que vou saber?

– E ela te deu alguma pista? - perguntou Binho também entretido na história.

– Perguntou se eu era burro, e só...

– Puxa, se eu entendo alguma coisa de mulher, você está ferrado. - disse Rafa fazendo cara de pena.

– E eu não sei? - disse como se fosse óbvio seu comentário.

– E o que vai fazer agora? - perguntou Binho.

– Acho que ir falar com ela.

– Então boa sorte amigo. - disseram os dois juntos.

– Gente eu só vou falar com ela, não ir pra uma guerra. - disse dando uma risada sem graça.

– Está dando quase na mesma. - disse Rafa me fazendo engolir em seco.

– Ok, vou indo... - disse e andei até chegar na sala. Me aproximei da porta e encostei na maçaneta. Respirei fundo, criando coragem, girei a maçaneta e abri a porta dando de cara com Clarissa.

– Que susto seu idiota! - ela disse colocando a mão no peito após um leve grito - Estava me perseguindo, é?

– Não. Estava indo falar com você... - disse ainda meio confuso com a confusão.

– Então está perdendo seu tempo... - ela disse me empurando e entrando na casa.

– Por que? - disse fechando a porta e me virando ao seu encontro.

– Porque eu não vou falar com você.

– Nós já estamos nos falando. - disse devagar com medo de sua possivel reação.

Ela parou, me analisou e me olhou pensativa: - Tá, você tem 3 minutos.

– Três minutos?

– Já passou 34 segundos. - ela disse séria.

– Eusóqueriasaberoqueeufizpravocêficartãobrava. - disse super rápido com medo de ela dizer que o meu tempo havia acabado.

– Pode falar normal. - ela disse com uma risada gostosa e contagiante.

– Eu só queria saber o que eu fiz pra você ficar tão brava.

– Você deixou a Mili na mão. - ela disse revirando os olhos.

– Só isso?

– Só isso?! Fala sério! Ela gosta de você, e você? - ela disse brava novamente.

– Eu o que? - perguntei confuso.

– Você gosta dela? - ela disse furiosa como se a minha pergunta fosse muito idiota.

– Si-sim. - gaguejei engolindo em seco.

– Então por que não aceitou sair com ela? E não me venha com a historinha do jantar. - ela disse encarando os meus olhos profundamente realmente querendo saber a resposta.

– Porque desde quando você apareceu aqui, eu já não sei mais se gosto da Mili ou se estou me apaixonando por você... Satisfeita? - mas isso apenas disse em minha mente. No fim acabei dizendo apenas: - Eu não sei...

– Então vai lá, e fala com ela. Ela ficou bem chateada...

– Ok, e agora a gente voltou a ser amigo?

– Acho que sim. - ela disse com um meio sorriso.

– Então vou lá falar com a Mili... - disse e comecei a subir as escadas.

– Mosca! - ela me chamou e eu me virei a encarando - A gente ainda vai na festa amanhã, né?

– Claro... - disse com um meio sorriso, e ela apenas sorriu. Continuei subindo as escadas e cheguei no quarto das meninas. Abri a porta e dei de cara com a Mili dormindo serenamente, achei melhor deixá-la ali e fui saindo do quarto. Quando já estava na porta ouvi uma voz levemente cansada.

– Mosca? - me virei e vi Mili levantando da cama e coçando os olhos.

– Desculpa se eu te acordei.

– Não, tudo bem... O que queria?

– Ainda quer ir tomar sorvete comigo?

– Sério? - ela perguntou surpresa.

– Claro, mas só se você quiser...

– Vamos sim. Só deixar eu arrumar o meu cabelo um pouco.

– Ok, estou te esperando lá embaixo.

– Ok. - ela disse e eu desci as escadas e a esperei no sofá. Passaram-se uns 30 minutos e nada da Mili descer. Até onde eu saiba não se demora tanto para pentear um cabelo, ou demora? Já estava desistindo de esperar quando a vi descendo lindamente pela escada. Usava uma blusa rosada com laços pretos, uma saia puxada para o azul-marinho e uma sapatilha preta (roupa). Não me pergunte como eu sabia o nome dessas cores, que nem eu sei como eu sabia.

– Pensei que só fosse pentear o cabelo.

– Por que está muito ruim? - ela disse insegura e deu uma leve girada, fazendo com que eu sentisse o cheiro de seu perfume levemente doce. Ok, narração muito gay, mas continuando...

– Não, claro que não. Você está linda... Vai chamar a atenção de todo mundo, enquanto eu uso esse uniforme. - disse com um sorriso bobo na cara.

– Nossa verdade, vou voltar e mudar de roupa. - ela disse indo subir as escadas.

– Claro que não. - disse puxando-a pelo braço, com o puxão acabamos ficando muito próximos. Nos encaramos, até que...

– Nossa Mili você está linda. - disse Rafa. Valeu por cortar o clima amigo.

– Rafa, você não percebeu que eles iam se beijar? - disse Clarissa.

– Nossa, desculpa. É que eu queria ver com meus próprios olhos que vocês iam mesmo sair. - ele disse sem graça.

– Tudo bem... - Mili disse ficando corada logo em seguida.

– Então bom passeio... Casal... - disse Clara com um leve sorriso nos lábios, deixando Mili roxa de tão envergonhada.

– Somos apenas amigos. - ela disse.

– Não por muito tempo. - disse Clarissa.

– Então tá, tchau. - e puxei Mili para o nosso passeio.

Fomos andando pela rua, rindo e conversando sobre muitas coisas... Muitos garotos que passavam pela rua ficavam encarando Mili, e aquilo já estavam me deixando nervoso, então apertava cada vez mais Mili em meus braços para que eles soubessem que ela estava MUITO bem acompanhada. Chegamos na sorveteria, pedimos sundaes de morango com chocolate, pegamos uma mesa e tomamos nosso sorvete, entre risos.

– Nossa aqui está bem legal. - ela disse.

– Também acho.

– Espero não estar me sujando muito com o sorvete.

– Só está sujo aqui. - disse indicando no meu rosto.

– Aqui? - ela disse apontando para o próprio rosto.

– Aqui. - disse sujando seu nariz com sorvete.

– Não acredito que você fez isso. - ela disse rindo.

– Foi sem querer...

– Aé? - e ela sujou toda minha bochecha com sorvete. - Ops... Foi sem querer - ela disse irônica.

– Aé? - e começamos uma verdadeira guerra de sorvete. Nossos rostos ficaram totalmente cobertos de sorvete, e começamos a rir feito loucos. Depois uns minutos, nos limpamos e fomos embora.

– Já quer ir para o orfanato? - perguntei.

– Ah, vamos dar uma volta... - ela disse e fomos caminhar em um parque próximo. Sentamos em um banco e ficamos observando o pôr-do-sol.

– Clarissa adoraria vir aqui... - disse sem perceber a mancada.

– Sério?

– O que?

– A gente sai, e você continua falando da Clarissa? - ela disse brava? Nunca vi a Mili brava, então não tenho muita certeza.

– Me desculpe, mas eu e ela somos apenas amigos...

– Às vezes nem parece... - ela disse e virou o rosto.

– Me desculpa Mili, sério, eu não fiz por querer... Foi ato involuntário sabe? - e fui dar um beijo no seu rosto, para ver se ela voltava a falar comigo. Sempre fazia isso com Pata e sempre funcionava. Só que nessa mesma hora, Mili virou o rosto disposta a falar comigo novamente, e nossos lábios se encostaram. Engatamos em uma beijo calmo, leve e doce. O nosso primeiro beijo, tanto como casal, se é que somos um, quanto da vida, pelo menos pra mim. Ficamos naquele beijo por alguns minutos, até nos separarmos em busca de ar.

– O que foi isso? - Mili perguntou.

– Um beijo?

– Sim, eu sei... - e ficamos ali pensativos.

Narrador por Clarissa

Já estava anoitecendo e nada do casal maravilha voltar para o orfanato, que maravilha! As meninas, já haviam parado de fofocar e foram até a sala, onde eu, Rafa e Binho, estávamos sentados olhando para o relógio, esperando aqueles dois voltarem.

– Ué... Ta faltando gente aí... - disse Pata.

– A Mili e o Mosca... Cadê? - perguntou Vivi.

– Foram na sorveteria, em um em encontro. - disse sorridente.

– Jura? Que romântico. - disse Ana.

– E quando foi isso? - perguntou Bia.

– Umas 16:00... - disse Rafa.

– Mas já são 18:30 - disse Cris.

– Pois é... Por isso estamos esperando eles... - disse Binho.

Nesse momento, eis que surge Carol e todos a encaramos assustados.

– O que estão aprontando? - nos olhou desconfiada.

– Nada! - disse Tati rápido demais.

– Aham... Bom, só vim avisar que o jantar está pronto. - ela disse e saiu da sala.

– Foi por pouco Tati. - disse Vivi.

– Me desculpem - ela disse chateada.

– Tudo bem, agora temos que enrolar a Carol, até eles voltarem... - disse

– Não podemos ir jantar? - perguntou Rafa.

– Daí ela vai perceber que eles não estão aqui, né? - disse Bia.

– Faz assim, Rafa, Vivi, Tati, Ana e Binho vão jantar e nós ficamos aqui pra distrair a Carol. - disse Pata.

– Ok. - todos dissemos. E lá foram eles jantar. Passados alguns minutos, Carol aparece novamente.

– Por que ainda não foram jantar? - perguntou nos encarando.

– Sabe o que é? Nós estamos esperando a Mili descer... - disse Cris e nós só concordamos.

– E por que ela ainda não desceu?

– Porque ela estava dormindo. - disse tentando parecer o mais convincente possivel.

– Então eu vou lá chamar ela. - ela disse dirigindo-se para a escada.

– Nãoooooooo! - gritaram Pata e Bia entrando na frente dela e formando uma barreira na escada.

– Quer dizer, não precisa. - disse Pata.

– A gente já chamou ela, logo logo ela desce. - disse Bia.

– Por que será que eu acho que vocês estão escondendo algo?

– Ora Carol, nós não fizemos nada... - disse Cris sorrindo.

– Ok, mas se vocês não estiverem comendo em 5 minutos eu vou lá em cima chamar a Mili.

– Pode deixar Carol. - disse Bia. E ela foi embora de novo.

– Ufa. - dissemos juntas.

– E agora? - perguntou Pata. Nessa hora a porta se abriu e os dois chegaram finalmente.

– Mosca vai agora jantar e Mili se troca rápido. - disse.

– Por que? O que aconteceu? - perguntou Mili.

– Se troca mais e fala menos. - disse Bia.

Ela subiu e se trocou correndo e fomos todos jantar. Depois da janta, Chico apareceu dizendo que tinha feito uma sobremesa maravilhosa, mas Binho e Rafa disseram que haviam comido tudo, o que gerou uma longa discussão entre os meninos e as meninas.

Narrado pelo narrador

Depois de toda confusão resolvida, todos foram se preparar para dormir, nessa hora Mosca foi até o quarto das meninas falar com Mili, que por sinal estava sozinha ali.

– Mili? - ele a chamou.

– Mosca?

– Eu queria falar sobre o nosso beijo.

– Está tudo bem.

– Sério mesmo?

– Claro, por que está nervoso?

– Porque a gente se beijou e nem estamos namorando...

– Relaxa, acho melhor a gente se conhecer melhor, antes de partir para algo mais sério.

– Ok, valeu mesmo Mili... O dia hoje foi perfeito. - eles foram se aproximando... Outro beijo iria acontecer, mas:

– Mili me ajuda a pente... Me desculpa, vocês ia se beijar, né? - disse Ana entrando no quarto. Os dois se separaram rapidamente.

– Claro que não Ana - disse Mosca. - Ã... Boa noite. - e saiu do quarto das meninas.

– Me desculpa mesmo Mili. - disse a pequena.

– Tudo bem Ana, não ia acontecer nada. O que você queria mesmo?

– Me ajuda a pentear meu cabelo?

– Claro.

Depois desse momento quase romântico, as meninas continuaram fofocando no quarto e os meninos batiam um papo. Até que todos ouvem o grito de Ernestina:

– Todo mundo dormindo agora, que amanhã tem aula!! E hoje só não tiveram por que foi feriado!!

– Ta bom Erne. - gritaram todos de volta.

– É Ernestina! - ela disse brava.

– Tanto faz! - gritou Binho.

– O que?! - ela gritou furiosa.

– Nada Ernestina, já estamos dormindo! - gritou Mili.

– Acho bom mesmo!

E o silêncio reinou no Orfanato Raio de Luz...