– Logo depois da guerra, eu fiquei meio perdida, não sabia direito o que fazer. O meu pai tinha morrido, Hogwarts tinha sido praticamente destruída, minha casa tinha sido destruída... Eu ainda tinha algum dinheiro, não era muito, mas eu consegui alugar um quartinho pra mim e fui procurar um emprego. O único que consegui foi numa loja trouxa de brinquedos, não era grande coisa, mas, pelo menos eu conseguia me manter.
– Por que não me procurou? Eu teria te ajudado.
– Eu estava muito abalada com tudo o que tinha acontecido, e ainda não tinha te perdoado!
– E o que aconteceu depois?
– Bom, já tinha algumas semanas que eu estava trabalhando e, um dia, durante o meu horário de almoço, eu saí pra caminhar um pouco...

*** *** ***

Luna andava calmamente pelas ruas de Londres admirando as vitrines das lojas. Parou em frente à uma vitrine de roupas e ficou observando os vestidos nos manequins, até que viu o reflexo de uma mulher ruiva passando do outro lado da rua. Virou-se rapidamente, ainda em tempo de vê-la virando a esquina. Correu para alcançá-la e a chamou.
– Gina!
A mulher parou e virou-se na mesma hora.
– Luna?!

*** *** ***

– Ela estava meio abatida, afinal, quase toda a família dela havia sido morta e o único que estava vivo, tinha enlouquecido e estava internado no St. Mungus. Nós conversamos um pouco e eu dei o meu endereço pra ela, caso ela precisasse de alguma coisa... ou de uma amiga. Duas semanas depois ela me procurou, parecia um pouco doente e também estava um pouquinho desesperada.

*** *** ***

Era muito cedo, Luna foi acordada por batidas insistentes na porta.
– Já vou! Já to indo! Gina...?! Aconteceu alguma coisa?
– Posso entrar?
– Claro, entra.
Luna indicou uma poltrona para Gina e sentou-se na cama. Observou a ruiva por um momento, ela estava muito abatida, parecia doente.
– Você está bem, Gina?
– Eu... eu não sei o que fazer. - ela tinha um certo desespero na voz Não sei se vou conseguir fazer isso sozinha.
– Fazer o quê, Gina? O que está acontecendo? - perguntou preocupada.
– Eu... eu estou grávida.
– GRÁVIDA?! Mas como...? Quando...? - respirou um pouco, tentando digerir a informação - É do Draco, não é? - a ruiva confirmou com a cabeça - Você tem que falar com ele.
– Não! Eu ainda não estou preparada para falar com ele.
– Mas ele é o pai! Ele tem que saber!
– Eu sei, mas... por enquanto não. Mas eu também não queria passar por isso sozinha...
– Se quiser, posso ficar com você até a criança nascer.
– Faria mesmo isso por mim?
Aos olhos da loira, a ruiva parecia tão frágil... foi impossível dizer não.
– Claro.

*** *** ***

– Então... a Gina é a mãe da Sissa. - Draco concluiu pausadamente.
– É sim... Bom, depois eu me mudei para A Toca, para fazer companhia pra ela. A gravidez dela foi muito difícil, ela ainda não tinha superado tudo o que aconteceu durante a guerra, estava sempre cansada, abatida e às vezes tinha umas crises nervosas. E foi durante uma delas que ela acabou entrando em trabalho de parto, o que não foi muito bom, por que ela estava ainda com sete meses.
O parto foi complicado, mas tudo acabou bem. A Gina teve alta dois dias depois e a Sissa teve que ficar um pouco mais por ter nascido antes da hora. Alguns dias depois, a Gina começou a ficar muito abatida, não comia direito... os trouxas chamam isso de depressão pós-parto. Eu visitava a Sissa no hospital quase todos os dias, já que a Gina não estava em condições, e depois de uma dessas visitas, assim que saí do hospital, acabei esbarrando na Hermione.
Nós conversamos e eu contei pra ela sobre a Gina e tudo o que havia acontecido. Ela disse que iria me ajudar e acabou indo morar nA toca também. Mas as coisas não melhoraram... a Gina foi ficando cada vez mais doente e Sissa teve alta. Foi muito complicado cuidar das duas e depois de um tempo, eu e a Hermione conseguimos convencê-la de que você poderia ajudar com a Sissa. Ela concordou, mas, ainda não queria ver você, então a Hermione teve a idéia da carta. A Gina ia ditando e a Hermione escrevendo. Ela estava muito fraca, por isso foi a Mione quem escreveu.
– Isso explica muita coisa... E o que aconteceu depois disso?
– Não sei se você sabe, mas, naquela época, ainda haviam muitos partidários de Voldemort que estavam soltos e queriam vingança contra aqueles que ajudaram a derrotar o lord.
– Eu ouvi alguma coisa á respeito... Acho que alguns dias depois de a Sissa aparecer em frente aos portões da mansão, um grupo de uns seis ou sete comensais, foi preso, acusados de torturar três mulheres em um pequeno vilarejo.
– Eu, Gina e Hermione éramos essas três mulheres.

*** *** ***

Luna descia as escadas com Sissa, que dormia em uma espécie de acolchoada própria para bebês.
– Já pegou tudo? - perguntou Hermione.
– Acho que sim. - respondeu Luna.
– Então vamos. - disse a morena ajudando Gina a se levantar e fazendo-a se apoiar em seu braço.
Já estavam do lado de fora da casa quando Luna se lembrou de algo.
– Esqueci a chupeta da Sissa. - disse a loira Vou lá dentro buscar. - Podem ir na frente, eu alcanço vocês!
– Tudo bem, mas não demora! - disse Hermione.
Luna voltou apressadamente para dentro da casa, pegou a chupeta de Sissa, e quando voltou ao quintal, se deparou com uma cena terrível: um grupo de homens encapuzados, à vários metros de distância do portão, lançavam inúmeros feitiços na direção de Gina e Hermione, que faziam o possível para se defenderem.
A loira não pensou duas vezes e aparatou, precisava proteger Sissa, e o primeiro lugar que pensou, foi na casa de Draco. Pôs a cesta com o bebê, ainda adormecido, bem em frente aos portões da mansão, notou que havia alguém olhando pela janela, não dava pra saber quem era, mas com certeza a pessoa a tinha visto. Se afastou alguns metros e pôde ver quando um elfo doméstico abriu os portões e pegou a cesta. Luna desaparatou.
Assim que voltou, Luna viu que dois comensais estavam inconscientes e um outro tentava se levantar, ainda um pouco tonto, mas outro quatro ainda estavam em plena forma e continuavam atacando. Hermione tentava se defender, mas estava fraca e muito machucada, Gina estava caída a uns dois metros de distância da morena. Luna estuporou um dos comensais e desarmou um outro, com essa distração, Hermione conseguiu acertar um feitiço em um terceiro. Luna duelou com o comensal restante e conseguiu desarmá-lo, correu para onde estava Gina, para ver se ela estava bem, começou a sacudi-la, mas a ruiva não reagia, tentou sentir a pulsação dela, não havia nada. Começou a se desesperar, murmurou alguns feitiços para reanimá-la, mas nenhum deu certo. Gina estava morta. Olhou em volta à procura de Hermione e a viu ser atingida no peito por uma rajada de luz azul. A força do feitiço a fez chocar-se contra uma árvore e em seguida cair sobre algumas pedras, batendo a cabeça com muita força.
Agora todos os sete comensais estavam de pé com suas varinhas em punho, com certeza foram reanimados com um feitiço. Luna tentou se defender, mas não era páreo para sete comensais ao mesmo tempo. A última coisa que viu antes de cair inconsciente, foram sete jatos de luz vermelha vindo em sua direção.

*** *** ***

Draco ficou abalado com tudo o que ouviu, foram longos minutos de silêncio até o loiro se pronunciar.
– Foi tudo culpa minha!
– Não fala isso, Draco, você não tem culpa de nada!
– Tenho sim! Se eu não tivesse namorado com vocês três ao mesmo tempo, vocês não teriam me odiado tanto e as coisas poderiam ter sido diferentes... a Gina poderia estar viva, você não teria ficado em coma por tantos anos e a Hermione não teria perdido a memória.
– A Mione perdeu a memória?
– Perdeu sim. Como você mesma disse, ela bateu a cabeça com muita força.
– Mas, não tem nenhum jeito de ela se recuperar?
– Não. Os danos são irreversíveis, ela não se lembra de absolutamente nada que tenha acontecido antes de ela acordar no hospital.
– Eu sinto muito por ela.
– Não precisa ficar preocupada, ela está bem. Se chama Anne Walters agora, trabalha numa livraria trouxa e está noiva.
– Que bom. - sorriu - Espero que ela seja feliz!
– Eu também.
– Sinto muito, Sr. Malfoy, mas o horário de visitas já acabou! - disse a medi-bruxa, que acabara de entrar na enfermaria. - A paciente precisa descansar!
– Mas eu não estou cansada! - protestou Luna.
– Mas precisa se recuperar! Você ficou muito tempo em coma.
– Exatamente! Eu já dormi tempo demais, não preciso descansar!
– Precisa sim! - falou o loiro.
– Mas... - ela ia protestar.
– Por mim! - ele pediu, segurando o rosto dela de forma carinhosa.
– Tudo bem! - concordou contrariada.
– Não se preocupe, daqui à dois dias você terá alta e poderá ir para casa, não é ótimo?! - disse a medi-bruxa.
– Seria... se eu tivesse uma casa. - ela se lembrou do pai e ficou um pouco triste - Não tenho para onde ir.
– É claro que você tem! - falou o loiro - Você vai ficar na minha casa!
– Sua casa?
– É. Não chega a ser uma mansão, mas dá para o gasto. Infelizmente eu não sou mais o Draco-rico-lindo-e-gostoso-Malfoy!
– Ah, não é ?! - ela perguntou divertida, devido ao tom dramático que ele usou.
– Não... agora eu sou apenas Draco-lindo-e-gostoso-Malfoy!
– Você é muito convencido, sabia? - ela disse rindo.
– Não tenho culpa de ter nascido perfeito! - deu um meio sorriso.
– Draco...?
– Sim?
– Como acha que a Sissa vai reagir? Ela nem me conhece e de repente eu já estou morando na casa de vocês... Acha que ela vai gostar de mim?
– Eu não acho, eu tenho certeza! Ela vai adorar você!

**********************Dois

dias depois***************************************

– Acha mesmo que ela vai gostar de mim? - Luna perguntou assim que aparatou com Draco em frente à casa dele.
– É claro que vai, Luna! - abriu o pequeno portão e deu passagem à loira - Não precisa ficar nervosa!
– Eu não estou nervosa, só um pouco insegura.
– Pois não fique!
Sissa brincava no quintal junto com a madrinha Pansy e assim que viu o pai, correu na direção dele e se jogou em seu colo.
– Papai!
– Oi, princesa! Essa aqui é a Luna. - indicou a loira ao seu lado.
– É a moça que vai morar com a gente?
– É sim. - pôs a filha no chão.
– Você conheceu a minha mamãe?
– Conheci. - Luna sorriu para a menina - Ela era uma grande amiga!
– Hm...! - retribuiu o sorriso - Quer brincar de boneca?
– Claro!
Sissa levou Luna pela mão até o local onde estava brincando com Pansy.
– Oi, Luna! - a morena cumprimentou.
– Olá, Pansy!
Os quatro sentaram-se no chão, perto de uma pequena pilha de brinquedos.
– Você fica com essa. Sissa entregou uma boneca de cabelos castanhos para a loira Madrinha, você fica com essa aqui... - entregou uma boneca loira - Eu fico com essa. - separou uma boneca ruiva para si - E o papai, vai ser esse aqui! - entregou um boneco loiro para Draco - Hoje eles vão sair pra namorar!
– E qual delas é a namorada dele?
– As três!
– Ele namora as três ao mesmo tempo? - Luna perguntou, estreitando os olhos ao olhar para Draco.
– Não olha pra mim! Eu não tenho nada a ver com isso! - defendeu-se o loiro.
– Ele só deveria namorar com quem ele gosta! - opinou Pansy.
– Mas ele gosta das três...! Bom, pelo menos acha que gosta! Ele precisa perder as três primeiro, para saber de qual delas ele gosta de verdade!
– De onde você tirou essa idéia? - perguntou Draco.
– Acho que li em algum livro. - deu de ombros - Não sei por que estão me olhando com essas caras, é só uma história! Isso nunca ia acontecer de verdade! - voltou a concentrar a atenção nas bonecas.
Os três adultos se entreolharam por um momento, mas não disseram nada, optando por voltarem a atenção novamente para a brincadeira.