KOURIN escrita por P Capuleto


Capítulo 2
Eu, minha irmã e... Ela?


Notas iniciais do capítulo

Hoee, minaa! Como vão?Obrigada por continuarem acompanhando!Kourin chega em casa e tem uma "surpresinha". A noite ela opta pela escola na qual quer passar seus últimos anos.Boa leitura e... Enjoy!



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– Ei, garota... Acorde.

– Hm? - Tirei os fones do ouvido e encarei a senhora que estava ao meu lado no trem.

– Já chegamos ao destino final. Fiquei preocupada pois você dormiu durante todo o percurso.

Olhei ao redor. Todos estavam saindo do vagão carregando suas bagagens e falando ao celular.

– E eu... Preciso que tire suas coisas para que eu possa passar. - ela completou sem graça.

– Ah! Desculpe! - levantei imediatamente já agarrando minhas malas.

X

Ao sair para a estação, senti-me mais leve. Ainda estava chateada com meus pais e com tudo o que aconteceu no dia anterior, mas de alguma forma, estar a quilômetros de distância de todos aqueles problemas me fazia acreditar que talvez eles estivessem certos: Essa mudança seria melhor para mim.

– Kourin! - Olhei para os lados. Não consegui identificar de onde vinha a voz que chamava por mim. – Kourin-chan!

Então eu a vi.

A esquerda da ala de desembarque, uma garota que mais parecia uma versão minha de 21 anos, acenava animadamente.

Eu sorri ao vê-la e acelerei o passo em sua direção.

– Nanami! - cumprimentei minha irmã, quem eu não via desde o ano passado, com um abraço de urso.

– O quê você aprontou, hein? - perguntou carinhosamente enquanto afagava meu cabelo.

– Não vou falar sobre isso. - cortei - Apenas quero ir para casa.

O sorriso dela falhou por um momento e eu sabia muito bem que esse era seu indicador de "estou escondendo algo".

– Nanami? O que aconteceu?

Ela pegou uma das malas que eu carregava com dificuldade e começou a andar para a saída.

– Ora... Nada. Vamos para, eh... Casa.

Estalei a língua.

– Só me faltava essa mesmo... - lamentei.

– O quê?! - perguntou nervosa parando bruscamente seu percurso.

– Aposto que sua casa foi perdida num incêndio e agora vamos morar num abrigo. Ou quem sabe, com a sorte que eu tenho tido, vamos para um apartamento no bairro mais perigoso da cidade onde teremos de vender drogas para manter o aluguel.

Ela me encarava com uma expressão indecifrável.

– Se é este tipo de coisa que está esperando, talvez a notícia não te abale tanto quanto pensei que iria... - declarou então. Não respondi e a fitei por mais alguns segundos.

– Vai me dizer logo o que aconteceu ou vou ter que descobrir quando chegar, Nanami!?

– Apenas venha comigo, Kourin. - pediu virando-se novamente para seguir até a saída - Você não tem escolha mesmo...

Tenho a impressão de que sua última frase foi mais para ela mesma do que para mim e por isso não respondi. Nem quando chegamos ao ponto de taxi e o motorista nos ajudou a pôr a bagagem no porta-malas minha irmã disse alguma coisa.

Eu também não puxei assunto pois estava cansada da viagem - apesar de ter dormido, como a senhora disse - e preocupada com o que iria encontrar quando chegasse lá.

Talvez minha irmã estivesse farta da vida de solteira e decidido comprar sete gatos. Ou quem sabe havia se casado em segredo com um homem divorciado e agora cuidava de seus dois filhos! Oh, Deus! Eu não quero ser babá de criancinhas!

Gemi sentindo a dor de cabeça voltando. Nanami olhou para mim, sentada ao meu lado no carro.

– Está se sentindo bem?

– O que eu vou encontrar, mana? - perguntei quase num suspiro.

– Acalme-se. Não é tão ruim...

E eu acreditei que o pior que poderia me acontecer seria ter que morar num abrigo...

X

– Wow! - gritei ao sair do taxi - Quando conseguiu dinheiro para esse casarão? E ainda tem dois andares!

A casa não era nem de longe tão grande quanto a de Yuka, tão pouco se parecia com a de nossos pais, mas para uma universitária aquilo era com certeza espaço demais.

– Eu não comprei sozinha... - disse recebendo o troco do motorista e fazendo sinal para que ele partisse - E ainda estamos pagando.

Desviei o olhar do pequeno murinho que separava a entrada da calçada.

Estamos?

Nanami ficou vermelha e se apressou em trazer as malas que estavam na rua para perto do portão de entrada.

– Na-na-mi... - cantarolei enquanto punha as mãos no rosto, parecendo inocente - Conte-me mais sobre isso de nós...

– Vamos, Kourin! Não seja criança! - ela estava zangada, mas eu sabia que era por conta da vergonha e do nervosismo.

– Não seja criança você! Não acredito que fez tanto show por causa disso... - ri apanhando algumas malas e passando pelo portão sem cerimônias. - Quer dizer, eu já vi você fazendo coisa pior do que morar com o namorado, se é que você me entende...

– Espere, Kourin! - ela correu para me ultrapassar pouco antes de eu girar a maçaneta da porta - Eu preciso que você tenha mente aberta e que não faça nenhum tipo de escândalo. Temos vizinhos muito severos. - ela me agarrava pelos ombros. Os olhos fixados aos meus.

– Por que eu faria isso?

– Bom... Porque... - mas ela não pôde terminar a frase.

A porta se abriu de repente e, por detrás dela, surgiu uma figura alta de cabelos negros, na altura dos ombros, presos num coque improvisado e olhos igualmente escuros. Vestia um casacão azul marinho apesar do clima bem agradável que fazia e shorts de ginástica.

– Pude ouví-las da cozinha... Como vocês são barulhentas! - ela saiu da casa e, sem exitar, levou as mãos até o rosto de minha irmã e puxou-o para que pudesse tocar seus lábios num beijo rápido.

Então recostou no portal e cruzou os braços olhando para mim com um sorriso sincero, mas um olhar brincalhão.

Olhei para Nanami que ainda estava paralisada desde que a porta se abrira.

Voltei a olhar para a figura estranha. Ela sorriu ainda mais e soltou os cabelos antes de dizer:

– Seja bem vinda, Kourin-chan. Espero que possamos nos dar bem. - disse ao me cumprimentar com um aperto de mãos - Meu nome é Haruka, sou a namorada da Nanami.

X

Eu ainda estava em estado de choque e permaneci sentada no sofá desde que entrara na casa.

Olhei para minhas malas que haviam sido deixadas ao pé da escada de madeira por Haruka.

Haruka... Uma mulher.

Ouvi suas vozes vindas do cômodo vizinho, talvez da cozinha. Nanami falava rápido e parecia nervosa. Eu não conseguia entender sobre o que era o assunto, mas algo me dizia que era sobre a recepção única que tive ao chegar no meu novo lar.

Namorada? O que ela queria dizer com isso? Minha irmã era uma mulher também...

Quer dizer, eu sabia algo sobre Nanami que ninguém mais sabia e essa história envolvia outra garota e beijos, mas nunca pensei que ela fosse realmente...

– Kourin... - a voz dela surgiu de repente e me fez pular - Lembra-se do que eu disse quando chegamos? Sobre ter a mente aberta e tudo o mais?

– Hu-hum - murmurei.

– E lembra-se de quatro anos atrás, quando você me viu, eh... Você sabe.

– Beijando uma garota nos fundos lá de casa? - perguntei sem gaguejar - Claro que lembro. Como poderia esquecer de algo assim?

– Bom, aquela garota era a Haruka. E, do mesmo modo como te pedi que guardasse segredo sobre aquele dia, vou pedir para que não conte aos nossos pais sobre... Isso - ela abriu os braços como se indicasse a casa inteira - Você já tem 15 anos, já tem consciência de tudo e sabe o que poderia acontecer se mamãe descobrisse que eu sou... Ahn... - corou.

– Lésbica, gay, homossexual ou o pior: sapatão. - a voz veio muito subitamente por trás de nós e as duas gritamos de susto.

– Haruka! Não precisa falar tão alto! - Nanami a repreendeu pondo a mão no coração que, como o meu, devia estar acelerado.

– Fala sério! - ela jogou a cabeça para trás - Você é sempre cheia de frescuras... Não me admira que ela também seja assim. - riu apontando para mim.

– Por favor, não torne a situação mais desconfortável do que já está... - pediu minha irmã. A voz beirando a súplica.

A mulher mudou a expressão facial.

– Nanami, se você continuar a agir desta maneira terei que te punir.

– Haruka! - ela gritou ficando extremamente vermelha.

Então ela foi rapidamente até minha irmã e agarrou sua cintura, puxando-a para si.

– É que você fica me provocando com esse jeito puritano. - Minha irmã corou mais ainda e pôs as mãos cobrindo o rosto. - Você não era assim quando te conheci.

Eu, que até agora estava como espectadora na conversa delas, não pude segurar o desespero.

– Por favor, eu não preciso ouvir mais disso! Me digam onde é o meu quarto!

– Subindo as escadas é a porta depois do banheiro. - respondeu a atacante sem tirar os olhos dos lábios da Nanami.

– Obrigada! - corri o mais rápido que pude escada acima deixando toda a bagagem para trás.

– Kourin! - gritou minha irmã, mas logo depois ouvi o som de algo caindo no chão e os risinhos que vieram em seguida eram avisos mais do que suficientes para eu que não olhasse para trás.

Cheguei ao topo em alta velocidade e, ao ver o lavabo, fiz a curva e entrei no quarto fechando a porta com mais força que o necessário, como se estivesse sendo perseguida por algo.

Sentei-me ali mesmo, no assoalho, com as costas apoiadas a parede. Minha respiração estava irregular. Esperei que voltasse ao normal antes de me levantar.

O quarto estava um breu total pois as janelas estavam fechadas, então busquei o interruptor e as luzes iluminaram o cômodo.

Tive de me conter para não gritar com a primeira coisa que vi: em cima da cama, que era de casal, havia um vibrador.

Sim, um vibrador. Cor de rosa e gigantesco.

Nunca tinha visto um ao vivo, mas sabia muito bem para que serviam e aquele estava praticamente dando "oi" para mim.

Esfreguei as têmporas por alguns segundos. Por que comigo..?

Não demorei para entender que aquele não se tratava do meu quarto. Não sei se por cansaço da viagem ou se estes poucos minutos que passei na casa levaram embora minha sanidade mental, mas antes de me retirar, olhei de cima a baixo para o vibrador:

– Boa tarde. - murmurei.

E então desliguei as luzes e fechei a porta com cuidado.

X

A primeira coisa que fiz ao chegar no quarto foi verificar se estava tudo nos conformes, para só então sentar no chão de madeira e relaxar.

Francamente, Haruka! "O quarto ao lado do banheiro."

– Diga pelo menos o lado! - gritei não muito alto.

Senti o bolso de minha calça vibrar. Peguei o celular e no visor lia-se "Uma nova mensagem".

"Kou-chan, o quê aconteceu? Fui a sua casa hoje na hora do almoço mas ninguém atendeu. É verdade que você vai se mudar? Disseram na escola que alguém te viu na estação de trem cheia de malas esta manhã. -Yuka"

Suspirei.

Do mesmo modo que tinha ido a sua festa sem antes me arrumar, havia saído da cidade sem nem mesmo telefonar avisando. Que tipo de amiga eu sou?

"Desculpe, Yu-chan É verdade que eu vou passar a morar com Nanami. Parece que fui expulsa da escola e de casa... Mas não se preocupe, sei que vamos nos dar bem. Você é bem bonita e vai arranjar amigos facilmente :D -Kourin" escrevi.

A resposta veio menos de trinta segundos depois.

"Kou-chaaan!! Como vou ficar sem você? (/T^T)/ Mas pelo menos ninguém na cidade nova sabe da sua fama, né? -Yuka"

Aquela mensagem me animou porque era verdade. Ninguém poderia me julgar pelo crime que não cometi aqui nesta cidade. Não haviam Barbies pegando no meu pé nem pessoas dispostas a pôr o que fosse no meu armário e sapatos. Eu poderia ser quem eu quisesse e fazer dos meus últimos anos de escola os melhores da minha vida.

O pensamento otimista me deu forças para sair do quarto e tentar a sorte ao descer as escadas. Depois do dia que tive, acho que não poderia me surpreender com mais nada, mas mesmo assim pisei em cada degrau com muito cuidado e cheguei até as malas.

Procurei nelas meu notebook que era velhinho, mas que vinha a calhar enquanto o computador não vinha no caminhão, peguei seus cabos e fechei a mala novamente antes de subir para meu quarto com um pouco mais de pressa do que descera.

Não havia sinal de minha irmã ou de Haruka, mas preferi não pensar muito no assunto. O foco agora era procurar por uma escola da região que eu mesma elegesse como boa e não meus pais.

Depois de tomar a decisão, informaria a Nanami. Ela só precisaria me ajudar com a matrícula e depois disso era por minha conta.

Pus o note na tomada e aguardei enquanto ele fazia sua lenta inicialização. Entrei no site de busca de costume e procurei por escolas secundárias públicas da cidade. Apareceu uma lista com mais de 10 nomes, o que é muito.

Resolvi eliminar alguns deles pelo critério de "beleza do prédio".

Com isso sobraram 6, pois os outros eram, em maioria, cinzentos e com aspecto pobre.

Cliquei em um link que me levava ao site oficial de um dos colégios.

A foto de saudação era a da entrada da escola com um jardim bem bonito (ganhou pontos por isso) e, ao lado do portão um garoto usando um uniforme todo branco com gravata vermelha.

Eca! Só o garoto já era horroroso, coitado. O uniforme então... Não poderia passar os próximos três anos vestida como uma enfermeira! Eliminada.

Fui para outro site. O uniforme era de marinheiro. Eliminada em dobro pois nem morta eu usaria queles lencinhos.

Cliquei em outro link que levava a uma academia militar. Eliminada sem chances de repescagem!

Com isso sobraram 3 colégios:

Um deles era um internato feminino e eu pensei seriamente em elegê-lo, uma vez que poderia ficar longe de Nanami e sua namorada. Mas logo depois me dei conta de que era um internato cheio de garotas. E isso poderia significar mais casais desse mesmo estilo. Tremi com o pensamento e fechei a aba.

Os dois últimos da lista eram igualmente agradáveis.

Ambos tinham jardins e entradas bem cuidadas, os uniformes eram parecidos: saias xadrez, sendo uma avermelhada e outra azulada, casacos negros elegantes e coletes de cor neutra.

Não sabia como desempatar, então resolvi fazer o certo e ler sobre os méritos da instituição.

A de uniforme avermelhado havia ganho muitos troféus de atletismo e outros concursos do gênero. Eu não era particularmente ligada a esportes, mas não desgostava deles.

A azulada não possuía méritos esportivos, mas tinha conquistas em concursos de Cálculo, Literatura e Artes.

Bocejei. Já estava no meu limite aquele dia.

– Tudo bem, eu gosto de ler e não sou tão ruim em pintura... Escolho a segunda: Academia Y. Yatobi.

Quando fechei o navegador e anotei no celular o nome da escola, senti como se finalmente o estresse desses dois dias estivesse indo embora, dando lugar ao sono e ao cansaço.

Não estava a fim de jantar ou de esperar o caminhão com meus móveis, então deitei no chão mesmo - que por acaso estava quentinho e agradável - e não demorou muito para que eu caísse no sono.

Lembro-me se sonhar com uma bela sala de aula, onde vários adolescentes atraentes e sorridentes me davam bom dia enquanto pintavam suas telas ou liam seus livros. A professora chegou e pediu gentilmente para que todos pegassem seu livros de Matemática. Quando pus a mão no espaço reservado ao material debaixo das carteiras, agarrei alguma coisa estranha que não pude identificar. Puxei para ver do que se tratava e adivinhe? Era um vibrador cor de rosa.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?Até que tudo terminou pacificamente para Kourin.Será que seu azar se foi?Acalme-se... Esse foi só o primeiro dia...



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