- Você era estranha na época do fundamental, parecia um franguinho de padaria... Bem magrinha - riu-se Edgar, os dois sentados no banco em frente ao cinema, cada um com um sorvete nas mãos - Eu gostava de você porque era inteligente.

Laura enrubesceu, seus dedos trêmulos quase derrubaram o sorvete, mas ela sorriu.

- Verdade, todo mundo achava isso... Acho que a academia me fez um bem, né?

Ele fez que sim, gargalhando.

- Você está... Como eu diria, sem ser grosseiro? Gostosa?

Laura gargalhou, o corpo automaticamente dobrando para a frente, achando graça da bobeira do garoto.

- É acho que gostosa também soaria grosseiro, se não viesse de alguém tão... Como eu diria sem ser grossa? Bobo?

Ele parou de rir, olhou para ela com olhar indagante, sem entender a expressão.

- Garotos crescem e continuam bobos, acho isso tão... engraçadinho. Meninas tem sempre a mania idiota de crescer e se tornar chatas e sem graça. Amizades com meninos dão mais certo por isso, eles não tem medo de ser bobos de vez em quando.

Ele riu, agora fracamente, mas entendendo o que ela quis dizer.

- Até concordo. - ele indiscretamente lambia o sorvete que caía da casquinha - Mas acho que nem todas as meninas ficam sem graça quando crescem. Há as exceções.

Ele disse isso olhando para ela de um jeito profundo, como quem fala dela. Ela sentiu o rosto avermelhar-se novamente, mas riu.

- Ah, claro que não, eu me tornei chata e sem graça como toda menina madura - Laura fez pose de mulher respeitada, endireitando as costas e erguendo a cabeça, depois riu - A diferença é que eu sei ser divertida quando tem um menino bobo na minha frente - e piscou.

Edgar riu, e o celular tocou dentro do bolso. Ele olhou o visor, e discretamente rejeitou a ligação, tentando ser educado e sorriu para ela.

- Não misturo trabalho com diversão - ele sorriu - Por falar em trabalho, o que é que pretende fazer, agora que se formou professora?

Ela mordeu o lábio. Sabia que isso era algo que todos achavam extremamente confuso. Ela amava lecionar, mas bem, por que precisava ser só isso?

- Quero trabalhar e fazer minha faculdade de jornalismo à noite - ela explicou - Eu amo escrever e meu sonho ainda é ser colunista, ou escritora, por que não?

Os olhos de Edgar brilharam no instante que ela disse a palavra "jornalismo", como se ela tivesse dito uma palavra mágica.

- Jura? - ele parecia empolgado, suas mãos movendo-se muito, e seu corpo gesticulando junto com ele - Eu quero começar jornalismo no próximo semestre, é meu sonho. Acho que temos uma coisa em comum, afinal.

- Pensei que fosse formado em Direito - Laura enrugou a testa, a expressão séria.

- Sim sim - ele falava meio rápido demais, os pelos dos braços arrepiados, estava falando de algo que o interessava - Fiz por obrigação, era o sonho do meu pai - ele revirou os olhos - Meu sonho de verdade é escrever, escrever muito!

Laura sorriu, o mais puro sorriso que dera até então.

- Ah, isso pede troca então - ela riu - Te entrego meus textos se você me entregar os seus!

- Combinado! - Edgar estendeu a mão, que foi aceita de imediato e os dois sorriram como crianças.

Olharam ambos para a frente, percebendo que chegara o horário do filme escolhido por Laura. Levantaram-se e entraram comentando seus projetos de livros e colunas, como crianças falando de seus brinquedos novos.

Uma amizade profunda estava apenas começando.