Além Da Escuridão escrita por HawthorneMark


Capítulo 10
Capítulo 10 - Fuck the games!


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem o capítulo, espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/412319/chapter/10

As portas do elevador se abriram por completo. Um silvo veio do corredor e uma flecha voou em direção a cabeça do capitão, mas não o acertou. A flecha infincou no espelho atrás de Gale, fazendo com que rachasse ao redor da haste, que quase entrou por inteira na parede do elevador. Alicia apontou para a frente e então Gale reparou que duas pessoas corriam do fim do corredor em direção deles. Alicia segurou a faca e então uma flecha voou em direção a ela. Alicia desviou e a flecha acertou novamente o espelho do elevador. Sem pensar, Gale saiu do elevador e correu em direção aos dois estranhos. A pessoa que estava atirando as flechas segurava uma besta apontada para ele e vestia uma capa com um capuz que lhe tampava o rosto. Outra flecha silvou e o capitão inclinou o corpo para o lado esquerdo, fazendo a flecha passar raspando em seu braço direito. Ele sentiu uma pontada de dor, mas não parou de correr. Quando começou a se aproximar dos dois estranhos, Gale segurou a lâmina da sua faca e a lançou no ar com toda a força. A lâmina rodopiou e encontrou o seu destino bem no meio da testa do atirador de flechas, perfurando o crânio e matando-o instantaneamente. A outra pessoa que acompanhava o atirador de flechas parou de correr no mesmo instante em que viu o companheiro cair morto no chão. Gale parou e pela primeira vez prestou atenção na figura da menina que olhava com os olhos arregalados o morto no chão. Ela tinha os longos cabelos negros que caíam-lhe na cintura.
— Você. - Ela disse, se virando para encarar o capitão. Sua voz estava em um tom extremamente frio. - Vai pagar pelo que fez!
A garota tirou da cintura uma pistola e apontou para Gale.
— Abaixa-se, Gale. - A voz da Alicia ecoou pelo corredor e então foi o que ele fez.
Tudo aconteceu muito rápido. Antes que a garota dos longos cabelos negros conseguisse apertar o gatilho da arma, uma faca passou voando por cima de Gale e a atingiu bem no peito. A garota arregalou os olhos e a arma escapou dos seus dedos e caiu com um baque surdo no chão. Ela tateou o peito e achou o cabo da faca, mas não conseguiu puxa-la. Em menos de dez segundos ela caiu sem vida no chão.
— Você está bem? - Alicia perguntou em voz baixa.
Gale arfava, estava difícil de encontrar o ar, mas não por causa da corrida pelo corredor. Ele se levantou e foi em direção a figura morta que estava encapuzada e lhe tirou o capuz. Era apenas um garoto, talvez da mesma idade da menina que o acompanhava, entre doze ou treze anos. Por um momento o corpo todo do capitão estremeceu. São apenas crianças, pensou consigo mesmo.
— Capitão, você está bem? - Agora foi a voz de Dimas que soou.
— São apenas crianças. - Gale disse, a voz tremendo. - São apenas crianças assustadas e nós as matamos!
Ele agora conseguia compreender o que Katniss sentiu quando participou dos jogos. Agora ele sabia por que os Jogos a destruíram. Como poderia matar crianças inocentes e viver com isso pelo resto da vida? Como poderia olhar para os filhos um dia e não lembrar de ter tirado a infância dessas crianças?
— Calma Gale, não podemos fazer nada, estamos apenas tentando sobreviver, da mesma forma que eles estavam. - Alicia disse, aproximando dele e acariciando seus ombros.
Uma única lágrima escorreu do seu olho direito e então Gale se recompôs. Um fogo intenso ardia dentro do corpo todo dele, uma vontade de justiça parecia exalar por cada poro da sua pele.
— Eles vão pagar. - Sussurrou. - Já vencemos antes e vamos vencer de novo. - O capitão segurou o cabo da faca que estava enterrada no crânio do garoto e a puxou. Em seguida guardou a faca e pegou a besta e a aljava de flechas que estava presa nas costas do garoto morto. Gale pendurou a aljava nas costas e engatilhou uma flecha na besta. - VOCÊS ESTÃO ME OUVINDO? - ele gritou de repente, com a voz forte de um líder, olhando para todos os cantos, como se conseguisse ver as câmeras que os filmavam. - JÁ VENCEMOS ISSO UMA VEZ E JURO POR DEUS, VOCÊS VÃO PAGAR PELO QUE ESTÃO FAZENDO. - Gale apontou o dedo do meio para todas as direções, esperando que aquilo ficasse bem claro. - FODAM-SE OS JOGOS. - Terminou gritando.
Ele andou em direção ao elevador, recolheu as flechas que estavam cravadas no espelho e as guardou. Logo em seguida se reuniu novamente com Alicia e Dimas. Alicia estava com a faca novamente guardada na bainha, vestindo a capa preta do menino morto e com a arma que pertencia a garota, na mão.
— Belas palavras, Capitão. - Alicia sussurrou, abrindo um sorrisinho torto pra ele.
— Vamos procurar algo por aqui e depois vasculhar outros andares. - Gale limitou-se a dizer.

* * *

Vasculharam todas as salas no quinto andar e acharam um taser de choque. O professor Dimas ficou com ele. O capitão fez um curativo improvisado aonde a flecha tinha pego de raspão no seu braço. Depois de terminarem de olhar cada canto do andar, acabaram se sentando no chão para descansar. Gale ainda estava quieto, não queria lembrar do que tinham acabado de fazer. Alicia se aproximou dele, encostando o ombro dela no do dele.
— Eu sei que isso ainda o perturba, eu digo, sobre as crianças. - Ela disse, tentando achar uma maneira simples de falar com ele sobre o assunto. - Você lutou em uma guerra, Gale. Milhares de pessoas morreram para que pudêssemos ser livres!
— Eu sei, mas é diferente!
— Eu sei que é diferente quando jogamos, eu sei que é diferente quando temos que matar uns aos outros só para a diversão de quem está nos assistindo, mas tenta fazer um esforço, tenta não deixar se abalar por conta disso. - Ela parou, respirou e continuou dizendo. - Precisamos mais do que nunca de você, as coisas estão ficando difíceis e você precisa se manter focado no objetivo.
Gale a encarou por um momento. Ficou olhando para os belos olhos verde água de Alicia e não conseguiu evitar um sorriso tímido no canto dos lábios. Ele se inclinou o rosto até o dela e lhe deu um beijo na bochecha lisa e rosada de Alicia.
— Obrigado por me dar essa força! - Ele sussurrou.
— Que isso, você não precisa me agradecer. . - Ela disse, passando os braços ao redor do pescoço dele, abraçando-o rapidamente e logo se afastando.
Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até que a voz do professor soou do corredor. Ele parecia estar aterrorizado
— Pessoal, acho que temos que sair daqui depressa!
Alicia se levantou de um salto e Gale fez o mesmo. Eles se digiriram até o corredor e então se depararam com mortos vivos enchendo o lugar. Tinham no mínimo seis impedindo que eles alcançassem o elevador.
— Eles vieram pelas escadas? - Alicia questionou para ninguém em particular.
— Acho que sim. - Respondeu o Capitão.
Gale mirou sua besta e saiu atirando, acertou três na cabeça. Alicia derrubou os outros três com o sua arma. Todos correram em direção ao elevador enquanto mais mortos vivos apareciam. O barulho da arma de Alicia parecia ter alertado-os.
— Droga, aperta algum andar ai rápido! - Disse o Professor Dimas, olhando para as criaturas que corriam em direção a eles que já estavam dentro do elevador.
Gale apertou o botão para o terraço. Quando faltam apenas alguns centímetros para as portas se fecharam, um zumbi colocou a cabeça para dentro, tentando abocanhar o Capitão. A porta não parou e acabou cortando a cabeça da criatura que caiu no chão com um baque. O cheiro fez o estômago de Gale embrulhar.
— AI ME DEUS! - Gritou Alicia, olhando para a cabeça do morto enquanto o elevador subia lentamente. - Esse cheiro vai me matar, socorro!


O pouco tempo que o elevador demorou para chegar no terraço foi o suficiente para que eles se preparassem para quando as portas abrissem. O elevador parou enfim e a porta abriu, revelando um terraço comum como em qualquer prédio. Estava tudo vazio e ventava forte. Saíram os três juntos, com as armas em punho prontos para se defenderem.
— Parece que agora o nosso inimigo pode ser a tempestade. - Disse o professor Dimas olhando para cima.
O céu estava completamente negro. Grandes nuvens carregadas pairavam sobre eles e vez ou outra um relâmpago cortava entre as nuvens, fazendo tudo se iluminar. O vento que soprava fazia com que os cabelos de Alicia esvoaçassem com violência. Gale andou lentamente até a borda do prédio e esticou a cabeça para frente, afim de ver lá embaixo.Olhar para baixo lhe casou vertigem.O prédio estava completamente cercado por mortos-vivos, milhares e milhares por fora entravam desesperadamente, como se soubessem que haveria comida ali dentro.
— Pessoal, acho que estamos encurralados e em breve esses zumbis vão nos achar e não teremos para onde correr. - Disse Gale.
Alicia e o professor se aproximaram da borda e também olharam pra baixo. Dimas soltou um grunhido de preocupação e Alicia apenas permaneceu em silêncio.
— Temos que dar um jeito de sair daqui e é pra já! - Afirmou Dimas, saindo rapidamente de perto da borda, com medo de que algo o sugasse para baixo.
A altura do prédio era enorme. Da onde eles estavam, Gale conseguia avistar o que sobrou da floresta. Estava tudo preto, queimado e torrado. Fumaça ainda levantava de vários pequenos picos de fogo que ainda consumiam alguma coisa que não tinha sido tragada por completo no incêndio. Gale então virou-se e começou a correr para a borda oposta a da que ele estava. Alicia foi atrás dele e assim que alcançaram a outra extremidade do prédio, eles contemplaram a visão. A cidade era completamente tomada por arranha-céus de todas as formas.
— Pena que não da para avistar o labirinto daqui. - Disse Alicia.
— Daqui não, mas se conseguirmos subir em um prédio suficientemente maior do que os outros, talvez possamos ter uma vista ampla da cidade e o que tem além dela e ...

As portas do elevador abriram por completo. Um silvo veio do corredor, e uma flecha voou em direção à cabeça do capitão, mas não o acertou. A flecha cravou-se no espelho atrás de Gale, causando rachaduras ao redor da haste, que quase penetrou completamente na parede do elevador. Alicia apontou para frente, e Gale percebeu que duas pessoas corriam do fim do corredor em sua direção. Alicia segurou a faca, e então uma flecha voou em sua direção. Alicia desviou, e a flecha acertou novamente o espelho do elevador. Sem pensar, Gale saiu do elevador e correu em direção aos dois estranhos. A pessoa que estava atirando as flechas segurava uma besta apontada para ele e vestia uma capa com um capuz que lhe encobria o rosto. Outra flecha silvou, e o capitão inclinou o corpo para o lado esquerdo, fazendo a flecha passar raspando em seu braço direito. Ele sentiu uma pontada de dor, mas não parou de correr. Ao se aproximar dos dois estranhos, Gale segurou a lâmina de sua faca e a lançou no ar com toda a força. A lâmina rodopiou e encontrou seu destino bem no meio da testa do atirador de flechas, perfurando o crânio e matando-o instantaneamente. A outra pessoa que acompanhava o atirador de flechas parou de correr no mesmo instante em que viu o companheiro cair morto no chão. Gale parou e, pela primeira vez, prestou atenção na figura da menina que olhava com os olhos arregalados o morto no chão. Ela tinha longos cabelos negros que caíam até a cintura.

— Você. - Ela disse, virando-se para encarar o capitão. Sua voz estava em um tom extremamente frio. - Vai pagar pelo que fez!

A garota tirou da cintura uma pistola e apontou para Gale.

— Abaixe-se, Gale. - A voz de Alicia ecoou pelo corredor, e foi o que ele fez.

Tudo aconteceu muito rápido. Antes que a garota dos longos cabelos negros conseguisse apertar o gatilho da arma, uma faca passou voando por cima de Gale e a atingiu bem no peito. A garota arregalou os olhos, a arma escapou de suas mãos e caiu com um baque surdo no chão. Ela tateou o peito e encontrou o cabo da faca, mas não conseguiu puxá-la. Em menos de dez segundos, ela caiu sem vida no chão.

— Você está bem? - Alicia perguntou em voz baixa.

Gale arfava, estava difícil encontrar o ar, mas não por causa da corrida pelo corredor. Ele se levantou e foi em direção à figura morta que estava encapuzada e lhe tirou o capuz. Era apenas um garoto, talvez da mesma idade da menina que o acompanhava, entre doze ou treze anos. Por um momento, o corpo todo do capitão estremeceu. São apenas crianças, pensou consigo mesmo.

— Capitão, você está bem? - Agora foi a voz de Dimas que soou.

— São apenas crianças. - Gale disse, a voz tremendo. - São apenas crianças assustadas e nós as matamos!

Ele agora conseguia compreender o que Katniss sentiu quando participou dos jogos. Agora ele sabia por que os Jogos a destruíram. Como poderia matar crianças inocentes e viver com isso pelo resto da vida? Como poderia olhar para os filhos um dia e não lembrar de ter tirado a infância dessas crianças?

— Calma, Gale, não podemos fazer nada, estamos apenas tentando sobreviver, da mesma forma que eles estavam. - Alicia disse, aproximando-se dele e acariciando seus ombros.

Uma única lágrima escorreu do seu olho direito, e então Gale se recompôs. Um fogo intenso ardia dentro do corpo dele, uma vontade de justiça parecia exalar por cada poro da sua pele.

— Eles vão pagar. - Sussurrou. - Já vencemos antes e vamos vencer de novo. - O capitão segurou o cabo da faca que estava enterrada no crânio do garoto e a puxou. Em seguida, guardou a faca e pegou a besta e a aljava de flechas que estavam presas nas costas do garoto morto. Gale pendurou a aljava nas costas e engatilhou uma flecha na besta. - VOCÊS ESTÃO ME OUVINDO? - ele gritou de repente, com a voz forte de um líder, olhando para todos os cantos, como se conseguisse ver as câmeras que os filmavam. - JÁ VENCEMOS ISSO UMA VEZ E JURO POR DEUS, VOCÊS VÃO PAGAR PELO QUE ESTÃO FAZENDO. - Gale apontou o dedo do meio para todas as direções, esperando que aquilo ficasse bem claro. - FODAM-SE OS JOGOS. - Terminou gritando.

Ele andou em direção ao elevador, recolheu as flechas que estavam cravadas no espelho e as guardou. Logo em seguida, reuniu-se novamente com Alicia e Dimas. Alicia estava com a faca novamente guardada na bainha, vestindo a capa preta do menino morto e com a arma que pertencia à garota na mão.

— Belas palavras, Capitão. - Alicia sussurrou, abrindo um sorrisinho torto para ele.

— Vamos procurar algo por aqui e depois vasculhar outros andares. - Gale limitou-se a dizer.

                                                       *                *              *

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vasculharam todas as salas no quinto andar e encontraram um taser de choque. O professor Dimas ficou com ele. O capitão fez um curativo improvisado onde a flecha tinha pego de raspão em seu braço. Depois de terminarem de olhar cada canto do andar, acabaram se sentando no chão para descansar. Gale ainda estava quieto, não queria lembrar do que tinham acabado de fazer. Alicia se aproximou dele, encostando o ombro dela no dele.

— Eu sei que isso ainda o perturba, eu digo, sobre as crianças. - Ela disse, tentando achar uma maneira simples de falar com ele sobre o assunto. - Você lutou em uma guerra, Gale. Milhares de pessoas morreram para que pudéssemos ser livres!

— Eu sei, mas é diferente!

— Eu sei que é diferente quando jogamos, eu sei que é diferente quando temos que matar uns aos outros só para a diversão de quem está nos assistindo, mas tenta fazer um esforço, tenta não deixar se abalar por conta disso. - Ela parou, respirou e continuou dizendo. - Precisamos mais do que nunca de você, as coisas estão ficando difíceis e você precisa se manter focado no objetivo.

Gale a encarou por um momento. Ficou olhando para os belos olhos verde água de Alicia e não conseguiu evitar um sorriso tímido no canto dos lábios. Ele se inclinou o rosto até o dela e lhe deu um beijo na bochecha lisa e rosada de Alicia.

— Obrigado por me dar essa força! - Ele sussurrou.

— Que isso, você não precisa me agradecer. . - Ela disse, passando os braços ao redor do pescoço dele, abraçando-o rapidamente e logo se afastando.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos, até que a voz do professor soou do corredor. Ele parecia estar aterrorizado.

— Pessoal, acho que temos que sair daqui depressa!

Alicia se levantou de um salto e Gale fez o mesmo. Eles se dirigiram até o corredor e se depararam com mortos vivos enchendo o lugar. Tinham no mínimo seis impedindo que eles alcançassem o elevador.

— Eles vieram pelas escadas? - Alicia questionou para ninguém em particular.

— Acho que sim. - Respondeu o Capitão.

Gale mirou sua besta e saiu atirando, acertou três na cabeça. Alicia derrubou os outros três com a sua arma. Todos correram em direção ao elevador enquanto mais mortos vivos apareciam. O barulho da arma de Alicia pareceu tê-los alertado.

— Droga, aperta algum andar aí rápido! - Disse o Professor Dimas, olhando para as criaturas que corriam em direção a eles que já estavam dentro do elevador.

Gale apertou o botão para o terraço. Quando faltavam apenas alguns centímetros para as portas se fecharem, um zumbi colocou a cabeça para dentro, tentando abocanhar o Capitão. A porta não parou e acabou cortando a cabeça da criatura, que caiu no chão com um baque. O cheiro fez o estômago de Gale embrulhar.

— AI MEU DEUS! - Gritou Alicia, olhando para a cabeça do morto enquanto o elevador subia lentamente. - Esse cheiro vai me matar, socorro!

O pouco tempo que o elevador demorou para chegar ao terraço foi o suficiente para que eles se preparassem para quando as portas se abrissem. O elevador parou finalmente, e a porta abriu, revelando um terraço comum como em qualquer prédio. Estava tudo vazio e ventava forte. Eles saíram juntos, com as armas em punho, prontos para se defenderem.

— Parece que agora o nosso inimigo pode ser a tempestade. - Disse o professor Dimas, olhando para cima.

O céu estava completamente negro. Grandes nuvens carregadas pairavam sobre eles, e vez ou outra um relâmpago cortava entre as nuvens, iluminando tudo. O vento que soprava fazia com que os cabelos de Alicia esvoaçassem com violência. Gale andou lentamente até a borda do prédio e esticou a cabeça para frente, a fim de ver lá embaixo. Olhar para baixo causou-lhe vertigem. O prédio estava completamente cercado por mortos-vivos, milhares e milhares por fora entravam desesperadamente, como se soubessem que haveria comida ali dentro.

— Pessoal, acho que estamos encurralados e em breve esses zumbis vão nos achar, e não teremos para onde correr. - Disse Gale.

Alicia e o professor se aproximaram da borda e também olharam para baixo. Dimas soltou um grunhido de preocupação, e Alicia apenas permaneceu em silêncio.

— Temos que dar um jeito de sair daqui, e é pra já! - Afirmou Dimas, saindo rapidamente de perto da borda, com medo de que algo o sugasse para baixo.

A altura do prédio era enorme. Da onde eles estavam, Gale conseguia avistar o que sobrou da floresta. Estava tudo preto, queimado e torrado. Fumaça ainda levantava de vários pequenos picos de fogo que ainda consumiam alguma coisa que não tinha sido tragada por completo no incêndio. Gale então virou-se e começou a correr para a borda oposta à que ele estava. Alicia foi atrás dele, e assim que alcançaram a outra extremidade do prédio, eles contemplaram a visão. A cidade era completamente tomada por arranha-céus de todas as formas.

— Pena que não dá para avistar o labirinto daqui. - Disse Alicia.

— Daqui não, mas se conseguirmos subir em um prédio suficientemente maior do que os outros, talvez possamos ter uma vista ampla da cidade e do que tem além dela e...


Antes que Gale conseguisse terminar a frase, ele foi interrompido pelo barulho ensurdecedor de um trovão. O vento começou a aumentar gradativamente, dificultando a visão, pois voava poeira de todos os lados. Alicia e o Capitão se afastaram da beirada e foram se reunir com o professor Dimas, que estava na borda lateral esquerda do prédio.

— Ali! - Ele gritou por cima do forte vento. - Se conseguirmos chegar naquele outro prédio, podemos escapar dos mortos-vivos.

— Como vamos conseguir pular até aquele outro prédio? - Alicia perguntou. Sua voz era abafada pelo som da capa preta que ela vestia e esvoaçava conforme o vento soprava com toda a força.

Gale olhou ao redor, e não havia nada longo o suficiente ali que poderia servir de ponte. Levou o olhar até a base da enorme torre transmissora do prédio e tentou procurar por algum ferro solto, mas nada. Não havia nada ali que pudessem usar como ponte até o outro prédio. Um frio tomou conta do interior dele. Pela primeira vez, sentiu como se não houvesse mais esperanças e que em breve seriam comidos vivos por aquelas criaturas podres.

— Ah, eu não acredito! - Alicia exclamou por cima do barulho da sua capa preta, que ricocheteava com o vento forte.

— O que foi? - Gale perguntou ao se virar e encarar para onde Alicia apontava.

Haviam três pessoas paradas no parapeito do prédio vizinho. O Capitão não conseguiu evitar um sorriso quando percebeu quem eram as pessoas que estavam paradas ali e acenando para eles.

— SE AFASTEM DA TORRE DE TRANSMISSÃO! Gritou Bjorn com toda potência em sua voz.

Gale viu quando seu soltado colocou sobre o ombro um lança-míssil e apontou na direção da base da torre de transmissão. O capitão imediatamente agarrou a mão de Alicia e a puxou.

— Temos que sair daqui agora! Ele disse, começando a correr e tomar distância da torre.

Então tudo pareceu acontecer de uma vez. Bjorn apertou o gatilho, e o míssil voou com um silvo alto e com um baque e uma explosão enorme atingiu a base da torre. Ela começou a se mover, e o barulho de ferro se retorcendo começou a aumentar até que finalmente a torre de transmissão se desprendeu da base e desabou contra o chão, estremecendo tudo e abrindo rachaduras no chão de concreto. A torre formou a ponte que eles precisavam para ir de um prédio para o outro.

— Temos que ir depressa! - Alicia gritou.

O tempo agora estava pior. O céu estava completamente tomado por nuvens negras. Grandes e grossas gotas d'água começaram a despencar do céu, e o vento fazia com que elas ricocheteassem no rosto de Gale. Alicia começou a desprender a capa que ela usava, pois o vento a puxava com força e fazia com que ela perdesse o equilíbrio constantemente. O professor Dimas se juntou a eles, e todos correram em direção à ponte feita com os ferros retorcidos da torre de transmissão do prédio.

— Alicia primeiro! Indicou Gale. - Você acha que consegue?

Ela apenas balançou a cabeça de forma positiva e começou a subir pelos ferros, posicionando-se para começar a travessia.

— Tudo bem então, vamos um de cada vez para não correr algum risco do nosso peso fazer com que a torre ceda ou algo do tipo. - Gale continuou a dizer.

Dimas concordou com um aceno rápido da cabeça, e então Alicia começou a fazer a travessia. Gale conseguia ver o nervosismo dela. Os movimentos eram extremamente calculados, e as pernas e os braços dela estavam rijos. O vento também não ajudava em nada, fazia com que as vigas de ferro rangissem e fazia com que ela perdesse o equilíbrio às vezes. Na outra ponta da torre, Gale avistou Luke Firman, irmão de Alicia. Ele estava estendendo a mão e gritando palavras de apoio para ela. Logo ao lado dele, Justin e Bjorn seguravam a cintura de Luke para dar firmeza a ele, para que pudesse agarrar Alicia e não correr o risco de cair.

— Professor, você é o próximo. - Gale disse, colocando a besta presa às costas e ajudando o professor a se posicionar no meio dos ferros retorcidos.

Alicia alcançou a mão do irmão, que a agarrou e a puxou para junto do corpo dele. Os dois ficaram abraçados por um longo momento. Quando o professor Dimas começou a sua travessia, um estrondo enorme soou da porta que tinha ao lado do elevador. Era a porta que levava às escadas. Os mortos estavam ali, não havia mais tempo.

— Vai professor, não olhe para baixo e nem para trás. - Disse Gale para o professor, que havia parado e se virado para trás para ver o que era aquele estrondo.

O professor parecia estar tremendo quando voltou em si e começou a se movimentar novamente em direção ao outro lado. Gale olhou para trás, e a porta parecia se retorcer com violência e estava prestes a estourar. Alicia do outro lado do prédio pareceu entrar a par da situação e se inclinou no parapeito do prédio e gritou para o Capitão o mais alto possível.

— Dane-se, Gale, sobre logo na porra da torre de transmissão, ela vai aguentar você e o professor!

O som dos mortos batendo contra a porta começou a ficar mais forte. Era questão de segundos até que eles a estourassem e tomassem conta do terraço. Repentinamente, o vento começou a ficar mais forte, e junto com a chuva dificultou até mesmo a visão.

— Droga, só essa que faltava. - Gale sussurrou para si mesmo.

Um pequeno ciclone começou a ganhar vida ao mesmo tempo que o som da porta estourando e desabando no chão ecoou. Gale olhou para a ponte de ferro e viu que o professor tinha acabado de agarrar a mão de Bjorn. O capitão então correu até a torre de transmissão tombada e começou a atravessá-la. O vento agora era terrivelmente forte; a cada passo que dava, Gale tinha que se manter firme para não ser arrastado e deslizar para a morte.

— Droga, Capitão! - Bjorn gritou e apontou para o prédio que agora estava atrás de Gale.

O pequeno ciclone agora se tornara gigante, e não era apenas um, havia pelo menos mais três. Gale sentiu um gelo tomar conta do seu estômago, e por um momento suas pernas fraquejaram quando os ciclones começaram a avançar e fazer com que as barras de ferro começassem a se mexer sob as mãos e pés do capitão.

A maldita torre vai virar! Gale pensou. Ele olhou para o prédio onde toda sua equipe estava. Todos gritavam por ele, incentivando-o a continuar. O capitão então engoliu o medo e começou a andar mais depressa, sem se preocupar onde colocava os pés. A mão de Alicia estava estendida para ele; mais alguns passos e estaria lá. De repente, a torre estremeceu e soltou um rangido forte, e então começou a se dobrar para baixo. Gale olhou para trás, e os mortos estavam todos se jogando contra os ferros e tentando atravessar. A torre de transmissão não parava de ranger e de entortar para baixo. As barras de ferro estavam cedendo ao peso, e a força do vento estava ajudando ela a se desmontar. Gale viu a mão de Alicia estendida há alguns passos de distância, e então não pensou duas vezes e correu. A torre soltou seu último rangido, e então se dobrou toda para baixo e despencou. No timing perfeito antes que a torre caísse, o capitão saltou para frente com toda sua força e agarrou a mão de Alicia. No exato momento em que sentiu a mão dela fechando sobre a sua, mais mãos surgiram puxando-o pela camiseta e pelo braço também. Bjorn, Luke, Justin e Alicia puxaram Gale para cima, e ele caiu arfando no chão de concreto que estava coberto de poeira. Alicia correu e se abaixou ao lado dele, pegou sua mão e o encarou. A preocupação estava estampada na sua feição. Ela arfava também.

— Você está bem? - Ela perguntou, o peitoral subindo e descendo em um ritmo frenético e o cabelo molhado grudado contra o rosto.

— Sim... eu... estou bem. - Gale conseguiu dizer, esboçando um sorriso.

Ele estava com o coração prestes a sair pela boca. O peito parecia que ia explodir, mas quando Alicia tocou sua mão e o olhou com aquela cara de preocupação, pareceu que todas essas sensações de dor passaram num piscar de olhos. Gale então a puxou para mais perto e deu um beijo quente e lento em Alicia, que não protestou e se entregou aos braços dele. O gosto dos lábios dela era doce e lembrava chiclete de tutti-frutti misturado com a água da chuva.

— Bom ver você também, Capitão, ah, e não foi nada salvar você! - Bjorn disse, cruzando os braços e observando os dois se beijarem.

Alicia soltou uma risada entre os lábios de Gale e então parou o beijo repentinamente e se afastou dele. O Capitão enfim olhou ao redor e se levantou do chão. Toda sua equipe estava ali, reunida. Luke olhava para ele com a sobrancelha arqueada e alternava o olhar entre o capitão e a irmã.

— Perdi alguma coisa? - Ele perguntou diretamente para Gale enquanto cruzava os braços.

— Teremos tempo para explicações mais tarde, agora vamos entrar e nos abrigar contra a tempestade.

Todos que estavam ali concordaram com um aceno positivo da cabeça e começaram a correr para dentro do prédio. Gale foi o último a entrar, fechando a porta atrás de si. Os ciclones tinham alcançado o terraço do prédio, e tudo dentro dele estremecia.

— Será que tem força o suficiente para derrubar o prédio? - Perguntou Justin conforme corriam em sincronia perfeita pelas escadas.

— Não sei, mas eu não quero ficar aqui para descobrir. - Disse Bjorn, que estava na frente, guiando todo mundo.

O barulho do vento que entrava pelas pequenas fissuras no prédio fazia um som assustador. Parecia que o mundo estava acabando para eles. Gale ainda sentia o perigo com bastante intensidade. Ele correu os degraus em sintonia com os outros, e a todo momento a única coisa que se passava pela cabeça era como eles iriam sair dos Jogos da Morte.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Por favor comentem então. Aceito sugestões, elogios e criticas (sempre construtivas, por gentileza).