Além Da Escuridão escrita por HawthorneMark


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um chamado do desconhecido




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Gale corria desesperadamente pelas ruas estreitas do Distrito 5. A arma em punho estava preparada para atingir qualquer inimigo que se aproximasse dele. Fumaças negras eram lançadas para o céu, pois estava acontecendo um incêndio a poucas quadras dali. O cheiro era terrível e fazia com que a respiração de Gale ardesse. Por fim, sem conseguir respirar direito, Gale parou em um beco deserto e tentou controlar sua respiração para não inalar muito do ar tóxico que pairava por ali. Um ataque havia acontecido contra as patrulhas da nova capital. Esse grupo rebelde, que deu início ao ataque, se autodenomina "Agentes Snow". A função desse grupo é tentar causar o máximo de estrago contra o novo governo e tentar implantar um golpe contra a nova democracia de Panem. Snow havia sido detido, os Jogos suspensos e muita coisa havia sido mudada na constituição de Panem, porém ainda existia um séquito do antigo presidente que desejava destruir a nova constituição e trazer de volta os Jogos Vorazes. Alguns momentos antes de acontecer o incêndio, Gale estava na capital cuidando de assuntos referentes à segurança em alguns distritos, quando um chamado em seu comunipulso o levou até um aerodeslizador que o transportou imediatamente para o Distrito 5 junto com a sua equipe. O aerodeslizador pousou em frente a um grande armazém da cor vermelha, e Gale desceu na frente, ordenando e guiando sua equipe para que verificassem o armazém enquanto ele olhava o perímetro por fora, para ver se havia algo de errado. Seus soldados adentraram o local enquanto Gale seguiu sozinho pelo lado de fora. Algo chamou a atenção de Gale no final da rua. Com arma em punho, ele levantou o braço com seu comunipulso até próximo dos lábios e enviou uma mensagem para sua equipe.

— Equipe, avistei algo suspeito no final da rua do armazém, requisito mais dois soldados para que possamos verificar...”.

Tarde demais. O pedido foi interrompido quando uma enorme e forte explosão veio do armazém. Gale, que estava a uns bons metros do local, foi lançado longe e caiu no chão com força. Seus ouvidos zuniam. Quando ele se levantou e olhou para o armazém, nada mais havia restado. Gale checou pelo seu comunipulso se alguém o respondia, mas não chegou nenhuma resposta. Sua equipe de soldados havia sido exterminada em segundos, e ele não pôde fazer nada. Gale reprimiu as lágrimas de ódio e pesar pelos companheiros e acionou uma equipe de resgate para que cuidassem do estrago que os Agentes Snow haviam causado.

— Por favor… - Sua voz falou por alguns segundos – Necessito de reforços e uma equipe de resgate, estou enviando as coordenadas exatas.

Assim que terminou de enviar o pedido de ajuda, Gale avistou algo monstruoso andando por entre as chamas do armazém. As chamas do incêndio pareciam percorrer pelo corpo do gigante lagarto bastante sem machucá-lo. O animal era enorme, medindo aproximadamente 4 metros de comprimento. Suas escamas eram vermelho escarlate e da cabeça, percorrendo sua coluna até a ponta do rabo, as escamas douradas formavam um caminho brilhante pelo corpo do bestante. Gale estava com sua arma em punho, porém temia que não fosse suficiente para acabar com aquele monstro. Com sua respiração ofegante e todos os seus sentidos abalados, Gale começou a atirar em direção ao lagarto. As balas ricochetearam com facilidade pela escama espessa e grossa do bestante. A criatura sibilou e soltou um guincho ensurdecedor de ódio e encarou Gale com aqueles olhos reptilianos. O bestante então desatou a correr em direção dele. Gale, sem pensar muito, começou a correr desesperadamente pelas ruas sinuosas do Distrito 5 enquanto era perseguido. O barulho do enorme monstro correndo e destruindo tudo que via pelo caminho encheu os ouvidos do capitão. Ele continuou correndo, agora por estreitas vielas. Depois de correr por alguns minutos de forma desenfreada, Gale notou que não ouvia mais os passos e os guinchos de ódio do animal e então parou de correr abruptamente. Seus pulmões queimavam de dor, parte por ter corrido muito e parte por ter inalado gás tóxico dos incêndios.

Foi o tempo suficiente de Gale respirar fundo quando uma bola de fogo surgiu na sua direção. Ele pulou para o lado evasivamente e a bola atingiu a parede de tijolos mais próxima dele, deixando tudo esturricado. O capitão assumiu sua postura de defesa novamente e então avistou o lagarto vindo à sua direção pela viela sinuosa. Ao dar uma varredura rápida com o olhar ao redor do beco, ele avistou uma porta de madeira e rapidamente correu até ela, arrombando-a e entrando no local.

A porta levou Gale para dentro de uma loja que estava fechada, o que foi um alívio, já que não teria o risco de ninguém morrer além dele. Assim que entrou, ele logo procurou um lugar onde pudesse se esconder e mandar um alerta de nível vermelho para que mais reforços fossem mandados. Agachado embaixo do balcão, Gale estendeu seu braço com o comunipulso.

— Aqui é o capitão Hawthorne, por favor, mandem urgentemente uma equipe ao meu encontro. - Sussurrou Gale, quase sem conseguir respirar. - Há um bestante lagarto ao meu encalço, e minha arma não é capaz de abater a criatura.

Houve um barulho de chiado no seu comunipulso e então a resposta veio logo em seguida.

— Entendido capitão Hawthorne, a ajuda está a caminho.

Por um breve momento um alívio percorreu o corpo de Gale, mas esse alívio foi tomado por pânico quando ele escutou os passos arrastados do lagarto adentrando a loja. Ele segurou a respiração por um momento, mas não adiantou, algo bateu em cima da bancada e a despedaçou. Gale se jogou para o lado a tempo de ver o rabo da criatura que havia despedaçado a bancada se erguer novamente para um ataque. O rabo do bestante tinha um ferrão farpado e gotas de veneno pingavam no chão fazendo um chiado enquanto o veneno corroía o carpete. A criatura lançou a cauda contra Gale, que girou para o lado novamente a tempo de se livrar do ataque. Levantando-se com muita velocidade, Gale pulou para trás de um sofá a tempo de não ser atingido por outra bola de fogo. Sem mais ideias do que fazer, Gale lembrou que carregava uma mochila nas costas e a abriu. Lá de dentro tirou sua aljava de flechas que sempre levava consigo nas missões e o seu arco que estava dobrado. Gale segurou o arco e o agitou fazendo com que ele abrisse e tomasse suas proporções reais e logo pegou uma flecha com a ponta verde, o que significava que era composta por ácido. Ele ajeitou a flecha e puxou a corda do arco com força. Quando ele se levantou e mirou para o ataque, ele deu de cara com o lagarto com a boca aberta pronto para jogar outra bola de fogo. Gale soltou a flecha e então ela explodiu dentro do bestante. A criatura guinchou e começou a se retorcer, sua pele de aço agora derretia como manteiga no fogo. Não demorou para que a criatura caísse no chão e então, subitamente, chamas começaram a lamber o chão como se ele estivesse repleto de querosene. Gale correu para frente da loja enquanto as chamas consumiam tudo com uma velocidade surpreendente. Sem nenhuma cerimônia, Gale lançou uma cadeira contra a vitrine da frente e quebrou o vidro, lançando-se para fora do lugar.

Quando Gale se sentou na sala de comando do aerodeslizador, Plutarch Heavensbee estava a sua espera, sentado na cadeira de reuniões. Desde que o governo de Snow caiu, Plutarch exerce a função de comandar a segurança dos distritos, então ele tinha acesso a tudo que se dizia respeito à segurança. Ele encarou Gale por um momento e abriu um sorriso.

— Estou feliz por você ter saído dessa com vida, você lutou bravamente contra aquele bestante, capitão Hawthorne.

— Não tão bem como eu gostaria. Eu tinha homens lá comigo e todos eles morreram, Plutarch. Eu queria ter percebido que havia algo de errado assim que pousamos.

— Não se torture, Gale. Você não pode mudar o que aconteceu.

Houve silêncio por um longo tempo e então Plutarch finalmente o quebrou.

— Bem, tenho assuntos importantes a tratar com você. Hoje mais cedo recebemos uma transmissão pirata com um pedido de socorro. Nossos satélites indicaram que essa transmissão veio do desconhecido...

— Desconhecido? – Perguntou Gale interrompendo Plutarch. – Você quer dizer que um chamado veio de outro continente?

Plutarch parecia mais surpreso do que Gale. Para eles era praticamente impossível que isso acontecesse. A capital sempre disseminou que nada havia restado em nenhuma parte do planeta além da Panem. Que Panem era o único país sobrevivente. Que Panem havia se reerguido das cinzas.

Se Panem renasceu das cinzas de uma grande guerra, porque outros continentes não poderiam ter feito o mesmo? Pensou Gale.

— Não temos certeza se é um sinal verdadeiro, achamos que os agentes Snow estão tramando alguma coisa contra nós. Beetee diz que o sinal vem de fora de Panem e que seria impossível que alguém conseguisse enganar os nossos sistemas de segurança forjando isso.

— O que iremos fazer? Perguntou Gale, se inclinando para frente e olhando diretamente nos olhos de Plutarch.

— Nada, por enquanto. Vamos analisar mais essa mensagem e depois tomaremos uma decisão. Por enquanto, capitão, você está dispensado.

Saindo da sala de reuniões, Gale seguiu direto para a enfermaria. Os médicos começaram sua bateria de exames para ver se algo o tivesse afetado, mas depois de longos exames, o capitão foi liberado sem nada grave. Alguns momentos depois de ser liberado da área hospitalar, o aerodeslizador estava iniciando pouso. Eles já haviam chegado à capital. Assim que conseguiu se ver livre de todas as perguntas e relatórios que Gale tinha que fazer e responder, ele foi o mais rápido que pôde para o seu apartamento e lá se jogou no sofá e ficou deitado por um longo momento. Um sentimento forte de tristeza o abateu por um período. Gale olhou para o telefone que estava largado na mesinha de vidro no centro da sala e ficou pensando se ligava ou não para Katniss Everdeen. Quase perder a vida hoje fez com que ele pensasse nela e como as coisas haviam terminado. Logo após a guerra contra Snow, Gale havia partido para trabalhar no Distrito 2 e não havia se despedido de Katniss. Na época ele não queria, Gale estava se sentindo mal por ela ter enfim escolhido Peeta como o homem dela. Além de tudo isso, Gale se culpava todo santo dia pela morte que havia causado a pequena Prim Rose Everdeen. Em sua mente, Katniss o odiava e nunca o perdoaria. Será que ela ainda sentia algum sentimento de ódio por ele? Ele queria apenas sumir e tentar esquecer o que sentiu um dia por ela. Às vezes, quando se sentia só, Gale pensava nela e pensava na época que ambos caçavam na floresta além da cerca elétrica do Distrito 12. Os problemas mentais de Katniss eram notícias constantes assim que tudo se normalizou, e mesmo nessa época, Gale se segurou o máximo que pôde para não pegar um aerodeslizador ele mesmo e ir até o Distrito 12. Recuando a mão, que estava quase tocando o telefone, Gale levantou-se e seguiu em direção ao banheiro, onde despiu suas roupas, ligou o chuveiro e entrou debaixo água quente, deixando-a escorrer por todo o seu corpo. Assim como a água que descia pelo ralo, Gale desprendeu seus sentimentos e deixou com que a água levasse-os para baixo.


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