Nico Di Angelo tinha dez anos e estava brincando com sua irmã Bianca.

Eles estavam há algumas semanas no Hotel e Cassino Lótus, e não havia como não ficar entediado ali. A cada hora, parecia surgir um jogo novo para suprir as necessidades dos irmãos Di Angelo. Nico não estava reclamando. Era bom ficar ali com Bianca, embora ele não soubesse por que estava ali e onde estivera antes.

Nico não se lembrava de mãe ou pai algum. Só tinha Bianca, e ela parecia envelhecer mais e mais a cada dia que passava. Ela era o mais próximo que Nico tinha de uma mãe, mas sentia que sua irmã estava começando a ficar cansada de cuidar dele. Às vezes, ela ficava com raiva dele por aparentemente motivo algum ou o mandava fazer alguma coisa sem ela. Nico tentava se convencer de que ela ainda amava estar com ele tanto quanto ele amava estar com ela, mas no fundo sabia que não era verdade.

Naquele momento, porém, não importava. Bianca não estava chateada com Nico e eles estavam jogando alegremente o jogo de cartas preferido de Nico, Mitomagia.

Bianca não era boa naquele jogo.

- Hum, ciclope contra o seu leão de Nemeia – disse ela, enquanto colocava uma carta e uma estatueta de um humanoide com um só olho na mesa.

- Bianca! – repreendeu Nico – O poder de força do ciclope não é tão grande quanto o do leão! Isso é pedir pra perder!

- Bom, mas os dois não são indestrutíveis? – perguntou Bianca, parecendo confusa.

Nico ia protestar quando uma sombra os cobriu. Os irmãos olharam para cima e deram de cara com um homem grande e robusto vestindo um terno cinza e sapatos que brilhavam ainda mais que o chão impecável do Cassino Lótus. Ele sorria para eles, embora o sorriso fosse frio e sem emoção.

- Bom dia, crianças! Ou será noite? – o homem olhou para as paredes sem janelas do cassino – De qualquer maneiro, estou aqui para buscar vocês.

Nico olhou para trás, achando que o homem falava com alguma outra pessoa. Mas os olhos dele estavam cravados nos irmãos Di Angelo.

- Quem é você? – perguntou Bianca rispidamente – Não vamos a lugar nenhum com um estranho.

O homem riu, como se a desconfiança de Bianca o divertisse.

- Ah, mas eu não sou um estranho! – exclamou ele. Então seu rosto se tornou grave – Sou um advogado. Seu pai me mandou aqui. Vocês são Bianca e Nico Di Angelo, certo?

Nico olhou para Bianca. Para ele, ela tinha (ou deveria ter) todas as respostas para todas as perguntas. Mas a garota parecia tão desarmada quanto ele. Embora ainda encarasse o tal advogado com os olhos cerrados, Nico percebeu pequenas reações que ninguém mais veria: o modo como ela pôs o cabelo atrás da orelha e apertou levemente os lábios. Ela estava ansiosa. Talvez até nervosa.

- Nosso pai? – perguntou Bianca – Eu não me lembro de pai algum.

- Ah, claro que não – respondeu o advogado – Vocês foram... – ele parou, como se alguém o tivesse cutucado para calar a boca. O homem pigarreou e continuou: - Bom, o caso é que estou aqui para tirar vocês daqui e leva-los até... Onde seu pai queria que eu os levasse.

- Uau – disse Nico, sem pensar – Você poderia ser um pouco mais específico?

O homem fuzilou Nico com os olhos frios. Então se voltou para Bianca e deu aquele sorriso falso novamente.

- Vamos, então, certo? – ele agarrou os pulsos dos irmãos Di Angelo e os arrastou pelo Cassino.

- Bianca? – chamou Nico, num sussurro. A irmã o encarou – Quem é esse cara?

- Eu não sei Nico! – sussurrou ela de volta. Parecia irritada com ele. De novo – Mas vou confiar nele. Por mais estranho que ele pareça, ele me é familiar – ela franziu a testa – Como se eu já tivesse visto ele em algum outro lugar. Um déja vu.

Nico fitou Bianca. Não estava convencido. Aquele cara era estranho, e ponto final. Nico estava com medo e não queria confiar no tal advogado.

- Além do mais – continuou Bianca – se ele é quem diz que é, talvez ele conheça nossos pais. Não vou perder essa chance.

A saída do Hotel e Cassino Lótus estava perto. Nico explorara aquele lugar por semanas e nunca a havia achado. E aquele homem estranho, que dizia conhecer o pai dele, o estava levando direto para lá.

- E se ele não for quem diz que é? – perguntou Nico.

Bianca encarou o chão, pensativa. Então olhou para Nico e deu um sorriso fraco, quase imperceptível. Mas que Nico viu. Ele sempre via.

- Então estaremos com problemas – ela respondeu. As portas se abriram e os irmãos Di Angelo saíram para a brilhante Las Vegas.