Tamily mudara com o passar dos anos. A morte do seu amado tinha mexido com ela. Tornara-se uma assassina fria e cruel. Quanto mais matava, mais seus sentimentos se afundavam no abismo escuro que se tornara seu coração. Agora só tinha um sentimento enchendo-o por completo: vingança.

***

A vampira japonesa estava perdida em seus pensamentos, suas memórias nostálgicas do século XV, lhe traziam lembranças de tempos felizes há muito esquecidos, lembranças de seu amado Giovanni. Era como se uma estaca atravessasse seu coração, cada vez que se lembrava de sua morte. Sacudiu a cabeça na esperança de afastar esses pensamentos, então batidas a porta trouxeram-na de volta ao presente.

– O que foi agora Oliver? – seu olhar de tédio e impaciência deixava Oliver nervoso.

– Sinto muito atrapalhá-la. Mas Enzo chegou, e disse que tem informações importantes.

– Diga a ele para vir me ver à noite. Agora não estou disposta.

– Mas senhora, ele disse que é urgente...

– Então traga ele aqui! – disse ela mostrando as presas, irritada.

Após o incidente do traidor, Tamily demorou a reconquistar seu antigo cargo de confiança, mas logo pode formar um clã grande o suficiente para ser a líder de um estado inteiro. Muitos anos depois ela foi para São José dos Campos, uma cidade no interior de São Paulo, no Brasil, onde ela e seus subordinados se instalaram. Tamily era responsável por todo estado de São Paulo, e tinha tudo em seu controle.

São Paulo é um estado muito grande, cheio de clãs diferentes, mas Tamily tinha tudo em ordem, e era muito respeitada pelos lideres dos clãs vampirescos. Além da vampira ser muito velha, era o braço direito de Victor, que era responsável de toda América do Sul e comanda parte da Europa, todos a temem. Mas agora, surgira um novo clã de vampiros em sua cidade e ela não confiava neles. A maioria era muito jovem e inexperiente.

Vampiros novos são problemas guiados apenas pelo instinto e sede de sangue. Tamily com mais de três milênios impunha respeito e medo sobre eles, mas tinha alguma coisa estranha naqueles vampiros. Diferente. Por isso tinha mandado Enzo investiga-los.

Novamente batidas na porta interromperam seus pensamentos.

– Entre.

– Licença senhora. – respondeu um homem alto e magro que entrou pela porta. Seus cabelos extremamente negros combinavam com sua pele pálida, os olhos escuros faiscavam com um ar travesso. Enzo era um homem que faria qualquer humana suspirar, mas não uma vampira experiente como Tamily. Ele sorriu mostrando as presas brilhantes para sua criadora.

– Diga-me o que é tão urgente.

– Eu fiz uma profunda investigação sobre aquela casa de vampiros. Alguns dos vizinhos me falaram que uma das moradoras é dona de uma loja de cupcakes...

– E o que isso tem de tão urgente imbecil?

– Um dos vizinhos me afirmou que já a viu trabalhar na loja, senhora. De dia.

– De dia? Mas como isso é possível?

– Eu também não faço ideia, mas outros vizinhos confirmaram.

– Eu vou mandar investigar. Vá se alimentar, você esta deplorável.

– Obrigado senhora. – o homem sorriu novamente. Apesar da vampira tratá-lo assim, ele não se importava. Ainda conquistaria sua afeição.

Enzo fechou a porta atrás de si e Tamily se perdeu em seus pensamentos novamente. Como podia um vampiro andar em plena luz do dia? Era impossível! Qualquer vampiro morreria ao sequer abrir a janela, com os raios do sol. Não podia ser verdade!

Estava confusa, suas ideias corriam a mil, então a vampira lembrou de Camila. A espiã que já havia feito alguns serviços pra ela. Quem melhor que uma humana pra descobrir se eles realmente podem andar de dia?! Tinha que ser Camila.

Ao anoitecer ela própria encontrou-se com a ruiva, e como ela estava numa missão, apenas deixou o cartão com ela. Humanos sem esse cartão não poderiam entrar em sua mansão, pelo menos não vivos ou conscientes. Não podia arriscar deixar um caçador entrar em sua casa.

***

Algumas horas se passaram e a espiã chegou na mansão. Ela mostrou o cartão pra camera escondida ao lado do portão, e após alguns minutos, sua entrada foi liberada. Um homem alto de sobretudo a esperava do outro lado.

– Vou levá-la até Tamily. Meu nome é Enzo.

A ruiva apenas acenou com a cabeça. Não gostava de interagir mais que o necessário com os vampiros, acreditava que eram todos monstros renascidos do inferno. Ele a guiou entre os comodos e corredores. A espiã odiava ir até lá, ver pessoas se submetendo a certos tipos de tratamentos... Aquilo era um prostíbulo de sangue.

Enquanto andava sentia os olhares lascivos sobre si. A ruiva tentava se apressar, sentindo-se com um ratinho entre cobras famintas. Levou sua mão até a parte posterior da coxa, sentindo segurança ao tocar as facas presas sob o jeans. Finalmente se viu diante à porta familiar, Enzo que a olhava com curiosidade, bateu a porta e a deixou com sua mestra.

– Tenho um trabalho pra você. – disse a japonesa sem delongas.

– O que é dessa vez? – murmurou Camila com ar tedioso.

– Eu quero que você descubra algumas informações pra mim. Na Vila Tesouro existe uma mansão habitada por vampiros. E eu tenho razões para acreditar que alguns deles conseguem sair de dia. Preciso que você averigue isso pra mim.

– Vampiros andando de dia? Mas isso é impossível!

– Por isso que eu estou falando pra você averiguar. Se isso for verdade... - se ela conseguisse sair de dia, finalmente poderia se vingar.

– Tudo bem. – disse calmamente - Eu vou resolver uns problemas e a partir de amanhã vou me infiltrar nessa casa de vampiros. Assim que eu descobrir alguma coisa, entrarei em contato.

– Discrição, certo?

– Discrição é o meu sobrenome. – e com um sorriso, Camila foi embora, deixando Tamily com suas próprias preocupações.