Camila ouvia seu já riscado, disco de vinil da 14º sinfonia de Bach, seu disco favorito para ocasiões como essa. Sua última missão tinha sido extremamente cansativa, ela sentia um peso enorme, como se um piano tivesse caído sobre sua cabeça... Engraçado. Essa expressão trazia velhas memórias de seu passado, da sua infância na casa da praia, quando seu pai era apenas um simples pescador, quando se divertia ouvindo as histórias que ele contava – como um piano que caiu na cabeça de alguém - ao redor da fogueira com sua irmãzinha. Quando ela sonhava em ter suas próprias aventuras em lugares distantes e repletos de magia.

Com um pequeno sorriso nostálgico, soltou seus longos cabelos ruivos, seus raios de fogo - como seu pai costumava dizer – e começou a tirar aquele vestido justo que quase não a deixava respirar. Ele quase causou problemas durante a missão, mas Camila soube improvisar. Sorriu ao lembrar-se daquele pobre garçom, que havia nocauteado e roubado o uniforme, ele estava ainda inconsciente quando ela devolveu o uniforme e pôs o vestido de volta. Teve que ser rápida, a confusão foi enorme com aquele touro gigante solto e com os seguranças tentando pará-lo. A ruiva tomou um gole do seu vinho tinto favorito e respirou aliviada.

Afastando esses pensamentos voltou a se concentrar em tirar o vestido e desprender as armas e facas de seu corpo, tirou também a chave prateada. Selene iria pular quando soubesse que ela tinha conseguido. Sorrindo vitoriosa, guardou a chave num lugar seguro, precisava relaxar um pouco.

Quando voltou seus olhos para o chão, viu um papelzinho preto, onde estava escrito apenas uma frase, em italiano, com letras prateadas. Era um código.

Ela se lembrava da mulher que tinha lhe entregado o cartão. A vampira japonesa, dos longos cabelos brancos e olhos rubros como sangue, não tinha como passar despercebida em lugar algum, mas, ela andara pelo salão como um fantasma. Ela sempre procurava Camila em momentos inoportunos, e não falava nada, só entregou o cartão preto e foi embora. Pelo menos dessa vez, ela não interrompeu a missão da ruiva. Normalmente era algum de seus vampiros lacaios que entregava a mensagem, pra ela ter vindo pessoalmente devia ser algo urgente e importante.

Tamily. Esse era o nome da vampira albina de olhos carmesim. Uma mulher tão estonteante quanto ela própria. Camila, com seus exuberantes olhos de Maysa e um corpo de causar inveja a qualquer modelo, não ficava pra trás. Seu corpo violão fazia várias cabeças virarem quando desfilava nas ruas movimentadas da cidade. Era uma bela mulher.

Talvez ela devesse conferir o que Tamily queria daquela vez. Já tinha se acostumado ao estranho modo que era requisitada para uma de suas missões, mas antes iria relaxar um pouco na sua banheira com sais importados. E afundando na água morna, deixou- se levar por lembranças e saudade.