Two Pieces escrita por Olavih


Capítulo 22
All about us


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas do meu coração! Este é quase o fim e eu tenho que dizer que estou aliviada. Quer dizer, uma parte de mim está. Entendam: eu nunca terminei uma fic, esta é a primeira. Estou orgulhosa de mim mesma e totalmente agradecida a todos vocês por terem me apoiado e não deixado essa fic morrer. Esse capítulo vai dedicado a Luali Carter pela recomendação linda que ela fez. Luali você foi a inspiração pra esse capítulo e ele é seu, obrigada sua linda.
A música do capítulo é essa aqui: http://www.vagalume.com.br/he-is-we/all-about-us-feat-owl-city-traducao.html . Espero que gostem, beijos.



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Nós ainda estávamos todos em silêncio absolutos. Elisa pareceu atônita não acreditando no que havia acabado de dizer. Após alguns minutos ela se recuperou, retomou a postura e pediu com educação.

—Por favor, vocês poderiam me deixar a sós com Kamilla? — todos assentiram e se retiraram em silêncio.

—Pode se sentar.

—Vou ficar bem. — eu disse ainda intrigada com tudo aquilo. Sentia meu coração bater mais forte impulsionado pela raiva. —Como assim sua filha?

—É verdade Kamilla! Você é minha filha. — ela se sentou parecendo extremamente exausta. Minha surpresa começou a crescer e mais uma vez foi substituída pela raiva. Sentei-me atônita e me preparei para escutar uma história.

—Por que me abandonou? — perguntei. Ela respirou fundo antes de começar.

—Não vou mentir para você. Eu a abandonei porque eu quis. Eu tinha 16 quando você nasceu. Era carnaval e nem eu nem sei pai desejamos você. Meus pais não estavam na cidade na época, eles são historiadores. Nem me lembro de aonde eles tinham se metido. Mas me lembro de que estava na minha avó. E que seu pai era um homem incrível. Nós namoramos e fomos descuidados. Eu não queria essa gravidez. Meus pais iriam me matar. Mas seu pai insistiu. Disse que seria melhor para nós dois. Que se eu não queria a criança ele queria e que eu teria que esperar você nascer para ir embora.

“Mas eu me apaixonei por você. Mesmo antes de você nascer. É uma sensação muito louca que sentimos ao ver que o nosso bebê está nos chutando, ou pedindo mais comida. Eu decidi ficar. Meus pais já haviam voltado e mesmo assim lá estava eu morando com seu pai e grávida. Eles ficaram irados, óbvio, mas eu não me importava. Estava feliz contigo, ou achava que estava.”

Ela começou a chorar silenciosamente, mas seu tom de voz se manteve neutro.

—Então você nasceu. Aquela coisinha mais linda pequena cheia de cabelos pretos. Sabia que você sorriu para mim assim que me viu? — ela perguntou e eu neguei com um aceno. A esta altura eu também me entreguei às lágrimas. — você sorriu. E foi o melhor sorriso que eu já vi em toda a minha vida. Nos primeiros meses as coisas iam bem. Mas depois o trabalho do seu pai começou a me incomodar e até ele começou a mudar. Andava estranho, cismado. Sempre alerta e sempre calado. Nós começamos a brigar muito. Até que um dia eu não suportei e fui embora, deixando você com ele.

“Eu confesso, a culpa não era só do trabalho dele. Foi da minha ganância também; eu sempre quis ser rica muito rica. E meus pais não eram tantos. Nunca acharam nada valioso e custava achar alguém para custear suas viagens e equipamentos. Eu queria mais. Queria riqueza, muita riqueza. Daí, eu resolvi que ganharia a vida em São Paulo.”

“Mas não se engane: eu nunca me esqueci de você. Pelo contrário, sempre pensava em você em todo lugar que eu ia. Quando você provavelmente teria uns dois anos eu me casei com Gabriel. Passamos um ano feliz, eu como sua secretária e ele só crescendo no seu negócio. Mas a culpa me deixava louca. Eu sabia que nunca poderia voltar para você, seu pai nunca permitiria. E eu nem sabia se ele estava lá ainda. Por isso me mantive na minha. Toda noite eu pensava nas crianças sem mãe e em você e eu queria morrer. Entrei em depressão.”

“Gabriel viu minha situação e começou a ficar preocupado. Ele me perguntou o que havia de errado e eu acabei contando tudo a ele. Ele falou que nós até poderíamos tentar tomar sua guarda, mas não achei justo com seu pai. Foi então que Gabriel teve a ideia do colégio. Ele tinha algumas terras aqui em Goiânia e foi então que nós construímos o colégio. Três anos depois eu vi notícias de que seu pai tinha morrido e que você estava no hospital.”

“Contei a Gabriel que era você e nós entramos nos processos para pedir que você viesse para cá. Eu sempre te reconheci, mas sempre soube que você tinha uma mágoa da sua mãe e fiquei com medo de falar contigo. Até hoje eu sonho com você me chamando de mãe...”.

—Mãe? — me levantei. — como você quer que eu te chame de mãe? Você me trocou por dinheiro. Por uma vida rica. Eu era apenas um bebê, você entende isso? Um bebê! Se não fosse pelo meu pai eu nem teria nascido. Você... Você é desprezível Elisa. Desprezível! — gritei me afastando de costas. Suas lágrimas se intensificaram, juntamente com as minhas. Meus gritos eram desesperados, eram de raiva. — eu nunca vou te chamar de mãe, porque você não merece esse título. Minha mãe morreu em um incêndio tentando me salvar. ERA MEU PAI! O ÚNICO QUE TENTOU SER MINHA MÃE DE VERDADE. EU ODEIO VOCÊ!

Assim que disse minha típica frase de adolescente saí correndo daquela sala. Eu nunca havia pensado que Elisa seria minha mãe, pois não acreditava em tamanha cara de pau. Ela sempre esteve aqui, do meu lado e nunca se importou em me contar a verdade. Eu não conseguia acreditar.

A única coisa que conseguia pensar agora era Rafael. Que eu precisava dele, como precisava de oxigênio. Precisava me sentir segura e confortável em seus braços, pois só naqueles braços que eu sentia como se fossemos de titânio e nada podia nos ferir. Peguei meu celular no bolso e disquei o número dele, já sabia de cor. Caixa postal. Liguei mais uma vez, porém caiu na caixa postal de novo. Tentei uma última vez e ninguém atendeu. As lágrimas se intensificaram. Minhas pernas me levaram para meu lugar de pensamento sem que eu ao menos notasse.

Desabei ali no chão, dobrando os joelhos e prendendo-os com meus braços, balançando-me de um lado para o outro, desesperada. Minhas mãos tremiam e as palavras de Elisa ecoavam em minha mente. Sentia vontade de gritar. De fugir. Mas não podia. E no meio daquele turbilhão de emoções meu celular toca.

—Rafael, vem aqui. Eu preciso de você!

***

Rafael não demorou em chegar. Ele havia vindo à moto de sua mãe e parecia bastante abalado. Procurou-me no lugar onde me encontrou quando eu chorei por meu pai e quando nos encontramos ele apenas abriu os braços deixando que eu me agarrasse a seu corpo e chorasse. Estava tão ocupada contando tudo a ele que nem percebi que seus pensamentos também estavam longe que ele não estava bem também. Somente quando perguntei “quantas horas eram” e ele respondeu “eu te entendo” foi que vi que ele não estava bem.

—Tudo bem, acho que eu já falei de mais. O que foi? — perguntei me desgrudando dele e olhando seu rosto.

—Tá tão na cara assim? — ele perguntou. Assenti em silêncio. Ele suspirou. — não foi nada, é que... Eu discuti com meu pai, só isso.

—Dessa vez foi pior?

—Sim. — ele concordou. — hoje eu descobri que ele não presta.

—Quer falar sobre isso? — questionei.

—Não. Quero só ficar te abraçando e pensando, só isso.

—Está bem então. — me aconcheguei em seu peito novamente. Ele se encostou de novo na árvore e nós ficamos em silêncio.

—Por que nós não podemos ter pais normais? — ele riu sem humor.

—Não sei. —outro momento de silêncio. Não me preocupei em começar a pensar. Não queria até. Apenas comecei a prestar atenção nas batidas ritmadas do seu coração.

—Eu só espero ser uma mãe melhor que isso.

—Tenho certeza que será. — mesmo sem ver, sabia que ele estava sorrindo. Fechei meus olhos, ainda hipnotizada com as batidas do seu coração.

—Você também será um ótimo pai. —não falamos por alguns minutos e nenhum de nós parecia se importar.

—Não tem medo? — perguntou ele de repente.

—De?

—Do futuro. E se não for como nós sonhamos?

—Então é porque provavelmente você não correu atrás dos seus sonhos. — eu respondi. — mas sim, tenho medo do futuro. Mas é como ter medo da morte. Um dia ela vai chegar, não há como fugir dela. Não podemos fugir do futuro.

—Só temos que enfrenta-lo?

—Exatamente. Mas quer saber? O melhor jeito de controlar o medo é enfrenta-lo ao lado das pessoas que você ama. — me levantei e olhei para ele que agora sorria ao me encarar.

—Está dizendo que você...? — ele começou me perguntando.

—Que eu te amo Rafael Andrade. Mais que ontem e menos que amanhã. Que eu nunca vou me arrepender de ter me apaixonado por você e que eu descobri que se apaixonar não é ser idiota e sim ser forte, pois foi graças a você que eu consegui enfrentar tudo que eu já enfrentei. Que eu amo seus detalhes, desde os seus cabelos até seus dedos dos pés. Que eu amo seu jeito metido e seus olhos azul de um dia ensolarado, amo seu tom de voz e seus abraços. Amo suas caretas e o modo como age quando está com ciúmes, mas principalmente amo seus beijos. Acho que eu amo você. — após essa mega declaração que eu nunca pensei ser capaz de fazer, eu coloquei as mãos em meu rosto cobrindo-o de vergonha.

Senti as mãos de Rafael em meus pulsos e delicadamente tiraram minhas mãos dos meus olhos. Eu os abri olhando sua imensidão azul e seu sorriso brilhante e acabei sorrindo também, por puro instinto. Em silêncio, ele se levantou me levando junto com ele e perguntou num sorriso gentil:

—Vamos dançar?

—Sem música?

—E isso importa? — ele perguntou levantando uma sobrancelha. Fiz sinal de espera me lembrando de uma música que eu peguei com Geovanna sem ela saber. Alcancei meu celular no bolso de trás e coloquei a música para tocar.

Take my hand, I'll teach you to dance.

I'll spin you around, won't let you fall down.

Would you let me lead, you can step on my feet.

Give it a try, it'll be alright.

Rafael segurou minha cintura enquanto eu coloquei minhas mãos em seu pescoço. Em nenhum momento nós nos falamos, mas aquele silêncio disse tudo por nós. Ele me girou como se estivéssemos em um baile romântico, uma dança lenta e tranquila.

Cause lovers dance when they're feeling in Love

Spotlight shinning, it's all about us.

It's oh, oh, oh, oh, all about uh, uh, uh, uh, us.

And every heart in the room will melt

This is a feeling I've never felt but

It's oh, oh, all about us.

Continuamos nos encarando e sem dizer nada nós sorrimos. Sorrisos que foram evoluindo, tornando-se risadas. Risada sem sentido e nenhum de nós conseguiu parar de rir. Aquele era o nosso momento, nossa vez, nossa música.

Do you hear that, Love?

They're playing our song

Do you think we're ready?

Oh I'm really feeling it

Do you hear that, Love?

Do you hear that, Love?

Rafael me segurou mais firme e me girou enquanto eu me agarrava a ele. Nós rimos e ficamos tontos quando ele parou. A música era tão perfeita que naquele momento, eu sabia que erámos perfeitos, erámos um como ele mesmo havia mencionado um dia.

Depois que a música acabou nós nos sentamos. Deixamos as músicas tocar enquanto conversávamos.

—Então, o que vamos fazer? Ficar brigado com eles a vida inteira? — perguntei. O dia ia passando, mas nenhum de nós fez menção de ir embora.

—Eu não sei. Não posso ficar de mal do meu pai, apesar de tudo que ele fez.

—E, querendo ou não, Elisa me ajudou. — tive de confessar.

—Então, perdoamos?

—Só depois de uns dois dias, eu acho. — sorri. — podemos fazer um charme.

—Tem razão, vai ser ótimo fazer um charme. Você não vai embora de novo, vai?

Ri sem humor.

—Não, pode ficar tranquilo. — ele soltou o ar fingindo alívio. — mas e se eu fosse?

—Acho que uma parte de mim morreria. E a outra se manteria viva apenas para te esperar.

—Que namorado romântico o que eu tenho. — olhei para ele e o beijei. Apenas um selinho, mas ele não parecia satisfeito. Colocou uma mão em meu pescoço e me trouxe para ele beijando-me carinhosamente. Meus olhos se fecharam e meu corpo todo focou somente nos sentimentos que aquele beijo estava provocando. Borboletas na barriga, mãos suadas e uma pane geral. Era estranho sentir aquilo, mas era o tipo de estranheza que agora parecia certa. Como se beijar seu namorado viesse com esse pacote de emoções. Ou isso, ou não é amor.

Certa vez quando li a hospedeira uma das frases do livro me chamou a atenção. “Em tantos milênios os humanos nunca entenderam o amor.”. Mas acho que nem se quiséssemos nós conseguiríamos entender o amor. Porque o amor é algo para ser sentido e não entendido. A graça de amar era essa. Você se doar sem se importar, agir de uma forma que nunca pensou que fosse agir; engolir seu orgulho, amar os defeitos que você sempre desprezou.

Bem no fundo eu sempre quis um amor assim. Um amor de adolescente totalmente louco. Um amor que me deixasse com vontade de vê-lo todos os dias cada vez mais; algo que envolvesse ciúmes, paixão, carinhos, beijos e músicas apenas para nós. Porém eu nunca imaginei que fosse encontrar, pois era uma pessoa cuja vida quebrou o coração. E aqui estou eu, amando outra pessoa de coração também quebrado pela vida. E pra mim, naquele momento era o que importava.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Calma que este não é o fim. Semana que vem tem mais e vai ser o epílogo. Eu vou postar um capítulo só de agradecimentos depois, ok? Comentem por favor, porque o último capítulo teve muitos poucos comentários e muitas visualizações. Então, pensem assim: vocês querem um último capítulo mega legal né? Então, comentem. Um beijo pra vocês!



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