Two Pieces escrita por Olavih


Capítulo 18
Two pieces


Notas iniciais do capítulo

Oiie galera. Perdão pelo atraso, mas vocês me conhecem né? Eu sou terrível. Porém, eu recompensei tudo nesse capítulo. Ele está muito especial e aqui vocês vão descobrir a história do pai da Kamilla haha. Espero que gostem. Um bom fim de semana pra vocês! Ah e eu gostaria que vocês lessem esse capítulo escutando a música que inspirou a fanfic, two pieces *---*.

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Two pieces

—Mas o que eu to dizendo é que o tempo já está passando muito rápido. Hoje já é sexta! — exclamou Marcelo, surpreso. Uma semana e alguns dias desde que Kamilla terminou o que nunca existiu. Confuso, porém verídico. Desde então eu resolvi não voltar para São Paulo. Nada me tirava da cabeça que meu pai tinha culpa da Kamilla me falar aquilo e eu não conseguiria encarar a cara dele de novo. Então, eu aluguei um apartamento do amigo do meu pai e cá estou eu e Marcelo dividindo esse novo lar.

Marcelo e Geovanna andam as mil maravilhas. A cada dia ele chega mais apaixonado, contando tudo o que aconteceu como uma menina. Está. Nojento.

—É, e que diferença faz? — perguntei ainda prestando atenção no meu jogo de videogame.

—A diferença é que hoje eu vou poder ver Geovanna.

—Como todos os outros dias.

—Na balada. — disse Marcelo impaciente. — Odeio quando você fica de mal humor.

—Não estou de mal humor. Apenas não vejo graça na sexta feira. — continuei meu jogo. A verdade é que ultimamente anda tudo sem graça. Apenas o videogame parece me distrair.

Olhei para Marcelo e observei enquanto ele caminhava para rumo da televisão. Franzi o cenho. Lentamente ele se abaixou e em um movimento rápido arrancou a tomada do videogame. Olhei assustado para a tela. Em segundos o susto foi substituído pela raiva.

—Qual o seu problema? — perguntei em pé, quase gritando.

—Qual o seu problema. — ele retrucou. — Não tira esse pijama há uma semana, só sabe beber cerveja e jogar essa merda. Cadê o Rafael que nunca ficava em casa na sexta, que não se importava com as garotas? Desde que Kamilla saiu de sua vida você morreu.

—Não exagere! Eu estou bem. — disse bebendo outro gole da minha cerveja. — e você não precisa se preocupar comigo mamãe. Kamilla foi apenas um caso e eu posso sair por aí pegando qualquer uma quando eu quiser.

—Ah é? Bem, então, nós vamos à balada hoje. — ele declarou.

—Hoje? Não, não estou afim. — hesitei.

—Está vendo? Você não é mais o mesmo. — bufei. Tomei minha garrafa e quando fui dar outro gole percebi que estava vazia. Levantei e fui até a cozinha. Marcelo tinha razão. Eu não estava saindo com frequência e eu só passava o dia em casa. Mas eu não queria sair. Não mesmo.

A verdade é que eu ainda esperava que Kamilla voltasse. Que ela ligasse, ou viesse aqui, ou até mesmo mandado sinal de fumaça. Mas ela não fez nada disso. Na verdade nem Marcelo não anda tendo notícias dela. Toda vez que ele toca no assunto, Geovanna fica com a voz embargada e muda de assunto. No começa achei que estivessem brigadas, mas todo esse mistério está começando a me intrigar.

Abri a geladeira, pensativo. Talvez sair não fosse uma ideia ruim afinal. O único lugar que eu havia ido era o supermercado e sinceramente estou cansado de ver as piscadelas das atendentes. Voltei à sala com uma lata nas mãos.

—Tudo bem, você venceu! Eu topo.

***

Eu nunca deveria ter topado. Lá estava eu, sentado em uma mesa na boate que eu nem mesmo sabia o nome. Na pista tocava uma música lenta e o lugar é horrível. Mal cheiroso e a bebida de péssima qualidade, além de tudo ser os olhos da cara. Geovanna e Marcelo havia me abandonado para mais uma dança, juntamente com Joyce e Juliano que estavam irritantemente melosos. Podia até mesmo escutar a voz de Kamilla dizendo: Meu Deus, como eu odeio casal assim.

Argh, e lá estava Kamilla invadindo minha mente outra vez.

Porém eu não iria ficar deprimido. Vim aqui para me divertir certo? Dei uma bela olhada em volta. Nas mesas ao lado havia uma garota sozinha bebendo seu drinque com um olhar melancólico. Sem pensar resolvi ir até lá.

—Oi. — disse quando me aproximei. Ela olhou para cima e estreitou os olhos. — Sou Rafael.

—Gabriela. — ela apertou minha mão.

—Posso sentar?

—À vontade. — puxei uma cadeira e me acomodei.

—Então, quantos anos você tem?

—Vinte e você?

—Vinte e um. Trabalha?

—Faço faculdade. Jornalismo. E você?

—Desempregado. E não faço faculdade.

—Por quê?

—Não sei bem o que eu quero fazer da vida. — rimos sem humor. A conversa continuou fluindo. Ao longo dela, Gabriela continuou bebendo e logo deu indícios de estar bêbada. Ela sugeriu que fossemos a pista de dança e eu não me opus. A música que estava passando era agitada e Gabriela dançava sensualmente. Apenas balancei meu corpo sem animação.

Logo ela colocou as mãos em meu rosto e me beijou, ou eu deveria dizer atacou? Sua boca pressionou a minha e sua língua passeou ferozmente sobre minha boca. Sem reação apenas deixei que ela me explorasse. Apenas após alguns segundos retribuí o beijo. Gabriela beijava bem, mas faltava algo. Então, lentamente coloquei minhas mãos em seu rosto e a desgrudei de mim. Ela pareceu atordoada e franziu o cenho. Foi nessa hora que alguém gritou.

—Gabriela! — a alguns metros um homem alto de cabelos aparentemente pretos e olhos castanhos gritou furioso. Ele parecia atordoado e seus olhos brilhavam com um sentimento muito comum: ciúme. Ele caminhou até nós a passos fortes. — o que deu em você?

—Você queria que eu ficasse de vela de você e aquela vagabunda? — ela perguntou com a língua enrolada. Seus olhos verdes agora estavam cheios de lágrimas.

—Não há nada entre mim e a Vanessa. Agora você parece que nem perdeu tempo hein? — seu tom de ironia pareceu ferir ela.

—Pelo menos alguém me quer. — ela começou a chorar.

—Mas eu quero você. Eu te amo Gabriela, sempre amei. — Gabriela se jogou nos braços do estranho e ele a beijou apaixonadamente. Suspirei. O dia não tá pra mim hoje.

—Sejam felizes. — murmurei.

Fui caminhando até a porta. Não encontrei Marcelo, mas ele provavelmente saberia que eu iria para casa assim que percebesse minha ausência. Então, apenas atravessei a porta. O ar quente me atingiu. Goiânia estava incrivelmente quente nesses últimos dias. Comecei a andar em direção da minha casa quando observo uma cena estranha.

Uma moça estava escorada na parede, de longe não consegui ver seu rosto. Em sua frente, com uma postura tensa e agressiva estava um homem gordo, com uma mão na parede e outra apontando o dedo em sua face. Ela parecia apavorada, carregava algumas sacolas nas mãos e estas tremiam. Continuei me aproximando. O homem gritava com ela, porém eu mal escutava o que ele dizia. Somente quando ele fechou o punho e ameaçou dar um soco a ela eu intervi.

—Ei! — gritei chamando a atenção de ambos. — Porque não meche com alguém do seu tamanho? — o homem se virou para a garota após um momento atordoado. Ele proferiu algumas palavras e saiu correndo. Covarde. Continuei me aproximando da garota que parecia agora está chorando. — Ei, tá tudo bem? Ele machucou você.

Foi então que eu reconheci seu rosto. Na mesma hora meus olhos se arregalaram e eu quase fiquei sem fala.

—Não pode ser. — murmurei ainda olhando para Kamilla. Ela tirou as mãos dos olhos e olhou espantada para mim, reconhecendo-me. Não sei se era a falta de luz, mas ela parecia mais velha, mais magra com os cabelos mais bagunçados e extremamente cansada.

—O que você tá fazendo aqui?

—O que você tá fazendo aqui? — retruquei. — porque não está no orfanato? Não sabe que não pode ficar andando sozinha há esta hora? Nunca ouviu falar em estupradores não? — Kamilla voltou a chorar. Arrependi-me do tom grosso que usei com ela. Sem me aguentar quieto me aproximei e lancei meus braços em torno do seu corpo trazendo-a para mim. Em segundos ela estava molhando minha camisa com suas lágrimas.

Passamos alguns minutos assim. Kamilla não falou nada, apenas soluçava e chorava desesperada. Eu nunca a tinha visto assim. Estava apavorada! Com medo de ficarmos sozinhos ali, desgrudei seu corpo do meu rapidamente.

—Ei, o que acha de irmos pro meu apartamento? — ela assentiu. Peguei suas compras e fomos abraçados até a minha casa. Por trás de toda a minha preocupação sobre ela eu estava imensamente feliz. Kamilla havia voltado pra mim. Era quase o dia mais feliz da minha vida.

Assim que chegamos abri a porta e a deixei entrar. Instantaneamente me arrependi de não ter contratado uma empregada, ou até mesmo arrumado a bagunça. Os sofás pretos de coro estavam sujos, com várias embalagens de salgadinhos espalhadas neles. O chão estava em estado catastrófico e na cozinha não havia nada além de salgados e cerveja. Sem contar as roupas e os sapatos que estavam espalhados pelos cômodos. Kamilla entrou receosa e sentou-se no sofá pouco importando com a bagunça. Assim que entrei tranquei a porta.

Cheguei perto dela e me agachei, ficando a sua altura. Ela olhava para baixo. Quando falou, sua voz era um sussurro.

—Por que não foi embora? — demorei alguns minutos pra responder.

—Porque eu estava esperando você voltar para mim. — respondi sincero. Vi uma lágrima escorrendo de seu rosto.

—Isso não é justo. — ela estava quase gritando. —Por que você não seguiu o plano? Por que ficou? Você tem que ir embora, você tem que ir. — ela voltou a tremer. Aquilo estava ficando cada vez pior. Peguei suas mãos e olhei em seus olhos.

—Milla, o que está acontecendo?

Kamilla ficou em silêncio. A morena não voltou a chorar, mas tinha o olhar perdido e parecia apavorada. Então, ela respirou fundo e falou:

—Acho que está na hora de você saber algumas coisas. — me levantei e sentei a seu lado. Ela ficou de frente para mim e não foi interrompida enquanto falava. —Meu pai era do Sul. Ele tinha um melhor amigo chamado Genaro. Este tinha origens italianas. O pai de Genaro era agiota, não sei se você sabe o que é. — balancei a cabeça em sentido negativo. — é uma pessoa que empresta dinheiro ilegalmente e depois cobra juros altíssimos sobre a dívida. Quando o pai de Genaro morreu, ele assumiu os negócios. E pediu ajuda do meu pai para isso. Meu pai aceitou o emprego, mas logo depois ele conheceu minha mãe. Ela ficou grávida e não aceitava o emprego do meu pai. Quando ela nos abandonou, meu pai enlouqueceu.

“ele resolveu que precisava realmente mudar de vida, mas precisava de um dinheiro. Genaro se negou a emprestar a ele e ficou furioso com os planos do meu pai. Foi então que ele teve a brilhante ideia de roubar o italiano. Naquele ano, meu pai fugiu da sua cidade roubando 10 mil reais do Genaro.”

“Os anos se passaram e meu pai esqueceu a dívida. Ele nunca mais nem se lembrou de seu amigo e até estranhou que o tal não o tivesse procurado, porém não ligou. Eu cresci e quando tinha seis anos, um homem estranho apareceu no meu colégio pra me buscar”.

“Disse que era um amigo antigo do meu pai e nós passamos o dia inteiros juntos. Meu pai ficou desesperado. Ele ligou para o colégio e foi a todos os hospitais da região e até mesmo nas delegacias. Quando eram dez horas da noite Genaro me deixou em casa. Disse que tinha um recado para meu pai. Quando eu entrei, meu pai me abraçou e bravo perguntou onde eu estava. Eu disse na maior inocência:”.

“—com o tio Genaro. Ele disse que está com saudade e que se lembra do que o senhor fez no passado.”

—Meu pai enlouqueceu. Desde aquele dia, nós ficamos nos mudando e mudando sempre que achávamos que estávamos em perigo. Até que um dia, meu pai saiu para comprar comida. Era tarde e eu estava cansada, pois havia arrumado a casa toda sozinha. Fiquei esperando que ele chegasse quando senti um cheiro de queimado. Em instantes o fogo estava por todo lado. Até hoje eu posso sentir aquele cheiro. Não sei o que fez meu pai voltar. Mas antes que eu morresse lá estava ele me salvando do fogo. Ele morreu por mim, pra me salvar.

Kamilla respirou fundo. Levantei e fui até a cozinha, voltando minutos depois com um copo de água com açúcar. Quando me sentei entreguei o copo a ela e ela voltou a falar.

—Dois anos depois que eu fui pro orfanato eu li uma reportagem que a família inteira de Genaro havia morrido. Não posso me orgulhar do que senti, pois fiquei aliviada. Eu me sentia livre. Porém, quarta feira passada Genaro voltou. Ele havia me encontrado e cobrava a dívida de meu pai para com ele. Ele ameaçou fazer algo com você. Eu fiquei desesperada. Não podia deixar que nada te acontecesse e foi então que eu pensei em terminar contigo. Achei que seria mais um esforço pra você ir embora, mas vejo que estou enganada. Eu também fugi do orfanato, deixando apenas uma carta à Geovanna. Ela é a única que sabe da minha história. Ou era até você aparecer.

—Então, era ele quem estava te ameaçando hoje? — perguntei. Ela assentiu.

—Você me salvou de morrer. Genaro voltou e disse que vai se vingar de mim. Que ainda quer o dinheiro. Achei que ele iria me matar ali, mas você apareceu. Obrigada.

Levantei sentindo o sangue ferver.

—Mas Kamilla, você deveria ter me contado. Eu podia ter ajudado.

—Mas eu não quero. Quer dizer, não é justo. A dívida é minha afinal. E o seu pai sabe do meu passado. Se eu te pedisse dinheiro ele provavelmente te colocaria contra mim e nós brigaríamos.

—Eu não acredito nas coisas que meu pai diz.

—Pra tudo sempre tem uma primeira vez. — ela suspirou. —Eu só queria que você ficasse a salvo.

—E quase morreu por isso. Pensa que eu ficaria feliz? Alegre por viver sendo que você morreu? Pois está enganada Kamilla. Muito enganada.

Minutos de silêncio se passaram. Kamilla afundou as mãos nos cabelos.

—Milla, volta para o orfanato. — ela balançou a cabeça. — você vai estar segura lá. Se contarmos a Elisa...

—Eu não quero machucar todos que amo.

—Mas você já está. Se isolando, fugindo. Só deixa as pessoas mais tristes. — me aproximei. — por favor, por mim.

Ela olhou em meus olhos. Então, seu olhar se desviou para minha boca e ela me beijou. Não perdi tempo me espantando. A tomei em meus braços e a beijei carinhosamente. Ela agarrou minha blusa exigindo um beijo mais agitado e eu atendi a suas ordens. Um beijo desesperado começou. Lentamente a deitei no sofá e suas mãos foram para a barra da minha camiseta. Ela a arrancou, jogando longe. Minha boca explorava seu pescoço descendo cada vez mais, enquanto meus ouvidos captavam os pequenos gemidos que ela soltava.

Então, aconteceu.

Sem saber como logo nossas roupas estavam espalhadas pela sala. Toda a minha saudade e dor se transformaram em beijos e abraços e Kamilla retribuía do mesmo jeito. Palavras e promessas foram trocadas entre nós com risos de felicidade. E naquele momento, eu sabia que não éramos apenas dois pedaços e sim um inteiro.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? A história do pai dela tá muito forçada? E o final? Eu sei que faltou detalhes, mas eu realmente fiz isso de propósito. Eu não queria uma coisa muito debochada, até porque eu detesto termos grosseiros e gente que trata sexo como algo muito vulgar. Enfim, espero que tenha ficado digno de comentários ;D. Beijos e até o próximo.