Impugna escrita por Juno Wolf


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Capítulo quentinho! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410405/chapter/5

Caminho até meu quarto com a cabeça latejando, os braços tremendo e meu corpo cambaleia sobre minhas pernas feitas de gelatina. Passo de corredor em corredor, tropeçando em meus próprios pés, completamente desnorteada.

Eu mal sei por qual estação estou caminhando.

A bile sobe por minha garganta deixando um gosto amargo em minha boca, e eu acho que vou deixar meu café da manhã pelo caminho.

Visões embaralham meu cérebro desde que deixei o refeitório. Casais mudam de época sobre meus olhos, e eu acho que finalmente estou ficando louca.

Vejo-me com roupas do século passado, dançando em um enorme salão com um rapaz que segura minha cintura com tanta delicadeza, que é como se eu fosse feita de porcelana.

Então de repente estou na frança, fotografando um garoto que me entrega uma flor.

A visão muda e eu estou sobre todos os holofotes de um teatro gigante, e enceno alguma coisa, com as falas que eu lembrava de passar horas tentando decorar. Olho pra frente a admiro o jovem que me observa com atenção da platéia.

Em todas as visões eu vejo através dos olhos de outra mulher, e os rapazes mudam de aparência junto com os filmes, que passam rápidos diante de mim.

Então eu estou dentro do Titanic, enquanto beijo um rapaz que segura meus ombros. A cena é cortada e eu sou novamente uma criança feliz que observa as nuvens com um garotinho.

As cenas vão se intercalando como flashes em minha mente, e eu estou tonta. Tropeço nos meus cadarços desamarrados e caio.

Não sei onde estou. Não sei.

Xingo com a voz mole, e forço os braços quando me levanto.

As visões rodam e rodam e meus pés estão no automático e eu não faço idéia do que está acontecendo comigo. Não há nenhum enfermeiro nos corredores, e eu entro em pânico quando finalmente tomo consciência de que estou sozinha em meio a um hospício.

Eu viro debilmente um corredor, então estou ouvindo um piano. Ele prossegue alto, rápido e afinado, e de repente eu estou caminhando em direção ao som.

Alto. Cada vez mais alto.

Eu ainda vejo casais felizes através de minha vista, eles são de outras épocas. Com aparências diferentes. E riem. E se beijam. Eu estou dentro de corpos que não são meus, com memórias que não são minhas, e eu ando com rapazes que eu não tenho ideia de quem sejam.

Tropeço novamente nos meus tênis e novamente caio. Dessa vez apoio as mãos em uma porta.

O piano prossegue, e eu sei que alguém o toca do outro lado daquela porta.

E as visões somem.

Eu estou suada e tremendo, e estou perdida dentro de um manicômio.

O piano pára e uma voz firme e feminina diz:

— Eu sei que você está aí.

Eu continuo olhando fixamente para a madeira branca e dura sobre minhas mãos, sem reação. Sem me mexer, sem piscar, e eu quase paro de respirar quando ela continua:

— Sakura.

Eu encaro a maçaneta com os olhos arregalados, e uma voz dentro de mim grita desesperada, em uma pergunta que cada micro célula do meu corpo quer saber a resposta; “Como ela sabe meu nome? Como ela sabe?

• O Medo •

Devo dizer a vocês, caros leitores, que é comum você encontrar alguém que saiba seu nome.

Mas não quando se trata do Instituto Saika.

E, meus amigos, eu digo somente uma coisa: Como uma garota louca que nunca sai do próprio quarto poderia saber seu nome, sendo que você nunca a viu antes?

 

Eu engulo à seco e ela não volta à tocar. E eu imploro, por um milésimo de segundo, que algum médico apareça e brigue comigo; “Você não deveria estar aqui!” eu espero ouvir.

Afinal, eu estava no território do inverno, e era perigoso estar ali.

E quando eu acho que a voz da garota fora apenas uma alucinação; Quando eu sinto que eu estava louca realmente, e as imagens sem sentido que se passaram em minha cabeça não eram nada mais que falta de sono, a voz retorna.

— Eu sugiro que você entre. – Ela disse, e então eu percebo que não parei de tremer.

Eu não sei de onde tirei coragem para abrir aquela porta. Não sei o que deu em minha cabeça para que eu tivesse autonomia de meus membros, e conseguisse mover a mão para girar o trinco da porta branca de madeira e tivesse acesso a sala que jamais se encontrava aberta.

Ela vivia trancada.

Eu olho para a sala, e fico impressionada com o quão diferente ela é dos quartos do verão. É inteira branca, as paredes e o chão são feitas de ladrilhos tão claros quanto a neve, e não existem janelas. Uma cama, também de estofado branco, está na vertical, encostada á parede do outro lado do quarto. Existe também uma cômoda (também da cor do quarto) e um piano, que é a única peça preta do lugar.

A garota usa um vestido azul topázio, e os cabelos são tão longos que estão arrastando pelo chão, pois ela está sentada sobre um pequeno banco. Percebo que sobre o piano, existe um espelho velho e redondo, e Temari, a garota, parece estar com os olhos verde-musgo tão fixos no vidro que eu acho que é uma manequim. Está imóvel.

Reparo que a pele do rosto é pálido, como alguém que jamais teve a luz do sol sobre a pele. Penso que talvez realmente não tivesse.

Ela é linda, como uma boneca de porcelana, e eu fico encantada com o quão brilhantes seus longuíssimos cabelos loiros são, e a forma suave com que as ondas se esparramam graciosamente pelo chão branco, e possivelmente esterilizado.

Quando ela vira a cabeça e me olha, todo o encanto se quebra em um milhão de pedacinhos.

Seu rosto tem traços delicados, mas são firmes. Ela não deve ter mais de dezoito anos, mas olhando os olhos frios como o pólo norte, eu acredito que ela tenha mais de trinta.

A boca é vermelha como sangue, e o nariz ligeiramente arrebitado, e eu fico assustada quando ela me dá um sorriso quase fantasmagórico e volta a tocar o piando quase que desesperadamente.

Ouço algo se arrastar e a porta bate com força; algo frio corre por minhas veias, meu sangue congela e minha barriga é tão fria quanto os olhos verdes.

Eu estou apavorada.

Minha boca seca e eu estou com tanto medo que minhas pernas voltam a ser feitas de gelatina. Como um reflexo eu volto correndo para a porta, e giro a trinca: Bingo.

Trancada.

O piano para, e o frio corta minha espinha.

— Você não vai conseguir sair daqui. – Ela diz. – Eu tenho que te falar algo, e enquanto eu não falar, você não irá sair.

Eu estou tão desesperada para sair daquele lugar que não resisto.

— O que você quer comigo?

O toque de seus dedos sobre as teclas ficam pesadas e a música desafina. Ela me olha com os olhos tão raivosos que por um segundo acredito que ela queira me matar.

— Me fez errar a nota. – Ela diz com a voz baixa e calma, e o medo corre com mais velocidade pelo meu sangue.

Não sei quem ela é. Não sei qual seu problema. Não sei como sabe meu nome e eu estou apavorada por que não sei se vou sair daqui viva.

— Como você sabe meu nome? – Pergunto novamente, e ela sorri.

Um sorriso normal, e isso me acalma só um pouco.

— Eu não vou te matar, Sakura. – Ela se vira de frente para mim, e seus olhos verdes me encontram.

Dessa vez não são ameaçadores, nem críticos, nem loucos.

São normais.

— Saiba que aqui, assim como você, existem pessoas que não sou loucas. – Ela diz, sua voz clara como água. – Alguns de nós temos certos dons que para o resto do mundo, são tachados como loucuras.

Meu peito congela.

Ela sabe.

Ela sabe!

— C-como você sabe meu nome? – Pergunto outra vez, e mordo minha língua, com raiva por ter gaguejado.

Ela ignora minha pergunta e segue seu discurso.

— Eu sou como você. – Ela diz. – Eu também vejo coisas que não gostaria.

— Você vê almas? – As palavras saem automaticamente da minha boca, e eu sinto vontade de me bater.

— Não. – Ela me diz, e eu a olho com dúvida. – Mas vejo muito além do que deveria.

— Do que você está falando? – Eu pergunto, minha voz mais clara do que nunca.

— Você viu alguém novo hoje, não viu? – Ela diz, e minha cabeça viaja diretamente para o moreno que vi no refeitório. – Você sabe o que significam suas visões?

Minha boca seca.

Como ela sabe?

— Como você sabe? – Minha voz dá cor aos meus pensamentos.

— Eu já disse. – Ela responde, e eu sinto como se ela explicasse a uma criança que não se deve entrar na piscina depois de comer. – Eu vejo além do que deveria.

Meu coração bate tão rápido que eu acho que vou desmaiar.

Quem é essa garota?

E principalmente;

O que ela vê?

O que ela é?

Meu coração acelera no peito quando ela me pergunta;

— O certo, Sakura, é se perguntar quem é você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!