Impugna escrita por Juno Wolf


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Ficou curtinho, mas está valendo!É agora que as coisas começam a esquentar!



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Quando eu deitei a cabeça no travesseiro, finalmente relaxada após o dia aterrorizante que fora o Natal, eu fechei os olhos, e o mundo dos sonhos me levou rápido o suficiente para que eu não pensasse em coisas desnecessárias que poderiam tirar meu sono.

Acordei antes do despertador tocar. Na verdade, bem antes do aparelho pensar em me tirar do meu sono sem sonhos. Quando abri os olhos, irritada pela movimentação que tirou minha paz, esfreguei os olhos e liguei a luz.

O que vi fez-me dar um pulo e cobrir a boca com as mãos, para evitar o grito que me queria escapar pelos lábios. Ótimo. Serviço para fazer.

No instituto Saika, o dia após o natal era livre. Não tínhamos aulas ou qualquer coisa para fazer, a não ser os remédios cotidianos que éramos obrigados a tomar.

Como eu não havia dormido um minuto sequer no dia anterior, optei por passar a tarde dormindo em meu quarto. Mas almas não devem ter desconfiômetro, e agora eu estava acordada com a alma mais linda que eu já vira na vida, me observando de forma avaliativa, que me deixou profundamente envergonhada, pelo fato de estar de pijama, e provavelmente com um ninho de passarinho entre os cabelos.

Encarei bem o espírito a minha frente, com a certeza de que ele me daria trabalho.

Não era azul, como as almas destinadas á irem para o inferno; Tão pouco amarela como as que deveriam encontrar conforto eterno no céu. Ele tinha cor de pôr-do-sol. Um laranja claro que iluminava meu quarto, e irritava meus olhos.

Já desperta e irritada, encarei os olhos escuros do homem de cabelos longos, e cruzei os braços.

– O que quer? – Fui curta e grossa.

Aquele homem era alto e forte, e eu podia ver através das roupas azuis, incomuns para se ver em almas, que ele não era um tipo comum de serviço. Ele queria alguma coisa. Era provável que eu estivesse diante de minha primeira alma com pendência, e o pensamento fez meu corpo todo arrepiar.

Aquele tipo de serviço era perigoso, trabalhoso, e arriscado.

Simplesmente porquê, quando a morte tirava a vida das pessoas, ela não as deixava com pendências. Quando as deixava, era por que queria executar algo, e algumas almas teimosas a desafiavam a ponto de arriscar sua calma eterna em prol de terminar aquele assunto mal-resolvido em vida.

• Um fato assustador•

Quando uma alma te pede ajuda

você é obrigado a concedê-la.

O homem continuou me olhando, e após ouvir minha frase grossa, deu uma risada irônica que fez meu sangue ferver.

– Você já está morto, não se sinta acima de qualquer pessoa.

O homem me olhou com uma expressão que eu nunca havia visto em outras almas, até então.

– Eu sei que estou morto, mas tem algo que eu quero fazer. – Ele disse, e meu corpo congelou. “Eu sabia!” pensei.

– Desculpe, mas eu não posso (eu não quero!) te ajudar. – Eu apertei as mangas de meu pijama entre os dedos, em uma tentativa ridícula de auto proteção.

Lamento dizer a vocês, pessoas comuns, mas seu cobertor não lhe protege de almas. Tão pouco as mangas de um pijama fino de algodão, como o meu. Desculpe-me cortar o barato de vocês.

Se eles quiserem te pegar, te pegam.

Simples assim.

– Não é como se você tivesse escolha. – Ele me disse, em um tom arrogante que me deu vontade de estapeá-lo.

Mas é claro que eu não poderia.

Ele estava morto, afinal.

– Escute – Eu digo, com o tom de voz mais frio que consegui. – Eu não posso te ajudar. Não sei como ajudar almas com pendências, nunca fiz isso antes, e não estou disposta a fazê-lo. – Eu digo e me encosto á parede, mantendo a maior distância possível entre mim, e o homem de azul.

– Eu acho que você não me entendeu. – Ele disse, e seus olhos mortos ganham um assustador tom de carmesim. – Você não pode me negar ajuda.

Ótimo. Essa alma conhecia o protocolo.

Eu mordi meu lábio enquanto pensava em uma saída rápida. “Pense, Sakura. Pense!”. Virei meus olhos para o homem procurando qualquer indício de blefe em seus olhos vermelhos, e não o encontrei.

Ele estava falando sério, e isso me deixou insegura.

Almas costumavam não saber dos protocolos, e na primeira vez que recebo uma pendência, me aparece um cara como esse.

Arrogante, inteligente, e ridiculamente lindo.

Respirei fundo, e resolvi usar toda a minha ignorância naquele momento.

– Você não pode me obrigar a ajudá-lo. – Era mentira.

É claro que ele podia.

– Você sabe que não é verdade, Sakura.

Meu corpo congelou.

Adicionem “sinistro” á lista de defeitos, junto com uma grande placa de “gostoso” pendurado no pescoço desse homem.

Eu me concentrei mais no fato de a voz dele ter ficado cinco vezes mais rouca, e na forma com que ele mordia os lábios para falar, do que na estranha confirmação de que ele sabia qual era meu nome, sem eu nunca ter me apresentado á ele.

Oh, céus, eu estava ficando louca.

– Você deveria disfarçar melhor quando me olha. – Ele disse, e só então eu notei que minha atenção estava no peitoral forte que marcava a camisa. Corei violentamente. – Afinal minha beleza não conta mais nada, já que estou morto.

“Que pena!” Eu penso, e fico ainda mais vermelha pelo fato de me sentir tão atraída por uma alma.

Ainda mais uma alma tão arrogante quanto aquela.

– Qual seu nome? – Eu pergunto sem cerimônias, enquanto imploro para que aquilo tudo seja apenas um engano.

– Isso não importa, importa? – Ele me reponde, e eu arqueio a sobrancelha, incrédula com o quão irritante aquele homem poderia ser. – Você me ajuda no meu propósito, e eu vou embora. Não há necessidade de você saber meu nome.

– Claro que há! – Eu quase grito, mas mordo a língua repreendendo meu tom raivoso. – Eu não faço idéia do que você quer que eu faça, e eu não sei quanto tempo isso tudo irá levar.

– Ah, Sakura. – ele disse, e um sorriso quase sádico surgiu nos lábios finos, e eu senti que poderia desmaiar sobre aquele olhar. – Na hora certa você saberá.

E sumiu; Tão rápido quanto chegou.


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