Impugna escrita por Juno Wolf


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo, sempre aparece.
Leiam as notas finais.
Inspiração do capítulo: Pacify Her - Melanie Martinez



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A mala de rodinhas está sobre a minha cama, e eu coloco minhas roupas dentro dela uma a uma. Quis aproveitar o tempo livre entre a terapia da tarde e o jantar para organiza-la, pois sei que eles vem me buscar cedo amanhã.

Entretanto, enquanto eu dobro minhas calças Jeans, me lembro dos sonhos que tive com Iwaly. Da forma como ela se sentia acolhida nos braços de Emett, e como mais tarde eles brigaram e ela morreu. Ver a minha própria morte me dá ânsia de vômito, e eu corro até o banheiro.

Não ando muito bem desde o dia que fiquei sabendo da nossa situação. Fazem três dias. Três dias de visões, noites mal dormidas, comidas que eu não consigo comer, pois sempre me lembro dos sonhos e meu corpo rejeita qualquer coisa que venha a ingerir.

Iwaly amava Emett; eu podia sentir quando estava no corpo dela. Entretanto, mesmo quando se trata de almas gêmeas, não se pode impedir uma pessoa de ser uma impecil. E Emett era um babaca de marca maior.

Volto a dobrar minhas roupas, jogando as últimas peças dentro da mala e a fecho. Não levo produtos de higiene pessoal, pois os tenho em casa, então arrasto as rodinhas até o canto ao lado da minha porta, e espero o sinal da janta tocar.


***

 

Saio do quarto no automático. Pego a fila do meu setor até o refeitório, caminhando entre os corredores tão perdida em pensamentos que não ouço quando Shikamaru me chama. Como se fosse um robô, caminho mecanicamente até nossos lugares na mesa, esquecendo-me até mesmo de pegar a fila do self-service.

Meu melhor amigo é gentil quando monta uma bandeja para mim, com uma tigela de caldo de ervilha, uma maçã, e suco de maracujá. Ele se senta do meu lado, me entregando a bandeja, e eu solto um agradecimento realmente sincero quando ele coloca a colher nas minhas mãos, em uma mensagem clara de "você precisa comer".

Só quando o caldo toca minha língua que eu percebo o tamanho da minha fome. Uma colherada após a outra, e logo a tigela já está na metade. Lembro de Iwaly novamente, mas meu estômago parece aceitar bem a sopa. Finalmente. Continuo devorando o conteúdo, sem iniciar nenhum diálogo com Shikamaru.

Ele morde seu lanche natural e me encara.

— Ainda não acho uma boa ideia você levar Sasuke com você.

Eu estou na última colherada, e depois de engoli-la eu retorno o olhar para ele, arqueando uma das sobrancelhas em uma pergunta muda.

— Não acho que estar junto dele seja uma opção realmente segura, afinal estão atrás dele também.

— Mas você concordou com Tenten que não havia outra alternativa.

— Concordei - Ele admite - Mas concordei apenas por que precisamos ficar de olho em vocês dois, mas eu ainda acho que poderíamos nos dividir em grupos para isso.

• Vale a pena pontuar •

Shikamaru deveria ter um bom motivo para desconfiar tanto de Sasuke, mas não quis me dizer porque.

A desconfiança de meu amigo só me deixa ainda mais nervosa na presença dele.

 

— Por que você se preocupa tanto com o Sasuke?

Ouço risadas altas e vejo Naruto do outro lado do refeitório, distraído em uma conversa aparentemente divertida com Tenten e Sasuke. Nunca havia visto Sete rir. Sua risada era contida (bem ao oposto de Naruto), mas era bonita.

Paro de prestar atenção quando Shikamaru responde.

— Não sei se confio nele.

Solto uma risada; - Tem um Deus querendo me matar, Shika. Sasuke é o menor dos meus problemas.

Shikamaru dá uma última olhada para a outra mesa, quando as risadas voltam a ser altas. Começo a comer minha maçã e ele suspira.

— Você quem pensa, Sakura. Você quem pensa.

***

Acordo um pouco mais tarde naquela manhã. Em dias de liberação, eles deixam a água ligada durante mais tempo, então, depois de deixar minhas roupas no chão do banheiro, eu permito que a água escorra por meus cabelos e corpo por mais tempo, em uma prece muda para que junto da água, meus problemas também escorram pelo ralo.

Com esse pensamento eu me lembro que minhas orações talvez não fossem ouvidas, uma vez que eu fui deobediente nas últimas vidas, e talvez os deuses não fossem muito com a minha cara. Solto uma risada sarcástica e desligo o chuveiro, puxando a toalha do gancho e secando meu corpo ainda dentro do box.

Paro de frente ao espelho da pia, e analiso meu corpo nu. Emagreci um pouco nos últimos dias, o que deixa os ossos da minha barriga ainda mais aparentes.

Minha pele pálida é o resultado de pouco sol, e meus cabelos extremamente longos fazem com que eu pareça mais baixa do que sou. Tenho duas bolsas abaixo dos olhos pelas noites não dormidas, e a cicatriz em minha testa parece ainda maior quando percebo que meu cabelo não tem mais o mesmo brilho de antes de eu chegar aquele inferno. O corpo esbelto, curvilíneo e bronzeado de Iwaly faz com que meu corpo pareça com o de uma criança.

Ela tinha curvas fartas e os cabelos negros desciam lisos como cascatas pelas costas tatuadas. Ela era linda, e me comparar com ela faz meu peito diminuir.

Fazia muito tempo desde que me sentia tão pequena. A palidez fazia minhas veias saltarem, e o longo cabelo bagunçado me fazia parecer realmente louca.

Talvez o Instituto Saika faça parecerem loucos os sãos, ou realmente nos adoeça com sua rotina. Os saudáveis ficavam doentes. Os doentes ficavam ainda mais doentes, e diminuíam até que entrassem finalmente na forma criada por eles.

Aquele lugar mais parecia um retiro de doutrinação que uma clínica de reabilitação.

Olho para todos os lados no banheiro, e não encontro o que quero. Eles retiravam lâminas, tesouras, agulhas, e qualquer outra coisa que pudessem servir de objeto suicida para os (detentos) pacientes. Continuo vasculhando o quarto, até encontrar uma tesoura escolar em meu estojo. Não é a ideal, e seu corte está um pouco cego, mas terá que servir.

Volto para o espelho, e minutos mais tarde existe uma montanha longos centímetros de cabelo rosado dentro da pia. Meus cabelos estão na altura do ombro, e eu corto novamente a franja que usei durante toda a minha infância. Dou o meu melhor, e o corte fica bonito para quem o cortou com uma tesoura cega.

Sinto-me uns cinco anos mais leve, e enquanto visto as roupas que separei no dia anterior, quase parece que meus problemas desapareceram.

***

Quando os inspetores vem me buscar avisando que meu carro chegou, Sasuke já está junto deles e percebo que meus problemas ainda estão muito vivos.

Ele analisa meus cabelos curtos com certa surpresa, mas não fala nada. De qualque forma, eu não espero que ele fale; nós não trocamos uma única palavra enquanto somos guiados até o escritório da secretária do diretor.

Sentamos nas cadeiras de frente para ela, e Shizune parece ansiosa. Ela nos devolve nossos aparelhos celulares, mas sai da sala em seguida, me deixando sozinha com Sasuke, uma vez que os seguranças estavam do lado de fora.

Ligo o aparelho, e sinto os olhos negros fixos em mim. Um arrepio percorre minha espinha, e eu me lembro do sonho da noite anterior.

— Você também teve aquele sonho? - Pegunto aos sussurros. Sasuke arqueia a sobrancelha em uma pergunta muda, e sorri ironicamente como quem diz "qual deles?" - O sonho com Iwaly... E Emett... - Sei que fico vermelha, então volto a prestar atenção no meu celular e nas muitas mensagens deixadas nele. Uma delas é de um número desconhecido, então eu a abro.

— Tive. - Eu teria ficado realmente envergonhada ao saber daquilo, se não tivesse lendo aquela mensagem.

 

Vamos tentar ficar de olho em vocês. Entretanto, não baixe a guarda, Saky. O mundo está mais perigoso para vocês agora. Tome cuidado.

Shikamaru

 

 Percebo que Sasuke também recebeu aquela mensagem. Entretanto, seus olhos passeiam pela tela por muito mais tempo. Talvez a mensagem dele seja mais longa. Talvez contenha coisas que eu não saiba. Talvez nem seja uma mensagem de Shikamaru, e por algum motivo meu estômago enjoa com a perspectiva.

Antes que eu faça qualquer outra pergunta, Shizune entra na sala trazendo consigo alguns papéis. Fico sem compreender, mas os papéis ainda estão quentes pela impressão recente.

— São os contratos de vocês. - Arqueio a sobrancelha, em dúvida. Ela parece entender e prossegue. - O Instituto Saika adotou algumas novas normas, e agora será necessário que vocês usem essas pulseiras. - Ela nos entrega duas pulseiras de metal com fechos que não abrem mais depois de fechados.

— Para que elas servem? - Penso, mas só depois percebo que Sasuke havia feito aquela pergunta.

— São seus rastreadores. - Eu gelo. - Precisamos que os usem a partir de agora.

— Nós estaremos sobre a guarda de nossos responsáveis legais, não vejo motivo para o uso de um rastreador.

— Regras da casa. - Shizune parece ainda mais ansiosa. - Se vocês não cooperarem, vou ter que chamar os seguranças.

As pulseiras são finas e feitas de metal, com um pequeno botão de led. Seus fechos me assustam, pois sei que não haverá como retirá-las mais tarde. Se as quebrarmos, eles ficam sabendo.

Olho para Sasuke, mas ele encara Shizune com raiva. Por que querem nos rastrear? Ainda mais depois dos recentes acontecimentos... O clima na sala pesa, e eu começo a suar frio.

— Preciso que assinem esses contratos de responsabilidade, onde vocês assumem colocar a pulseira por vontade própria. Depois vou precisar registrar vocês no nosso banco de dados, para ativar o rastreador.

— Não estamos colocando por vontade própria. - Afirmo. - Você ameaçou chamar os seguranças. Minha mãe sabe disso?

— Senhor Danzou concordou com essa nova medida. Assim como o senhor Uchiha.

Trinco os dentes de raiva. Danzou. Fazendo da minha vida um inferno, como sempre.

Shizune empurra os contratos em nossa direção, pressionando-nos a assinar. Olho para a tela do meu celular; nenhuma mensagem nova de Shikamaru. Assino meu contrato sobre o olhar pesado de Sasuke.

Olho para ele. Com um suspiro, ele também assina o seu. 

Colocamos as pulseiras.

***

Os seguranças nos guiam até o carro, e a pulseira parece pesar uma tonelada em meu pulso. Assim que a colocamos, Shizune pareceu muito mais calma e ativou-as pelo computador. Elas tem uma clara luz azul piscando tranquilamente agora.

O motorista dirige para fora do Instituto, e eu observo as árvores que ficam à beira estrada. Chegava a ser irônico; o caminho para o inferno era lindo.

Começo a refletir sobre os acontecimentos recentes: A alma com pendências, os deuses, o que pode ter ocorrido entre Neji e Hinata, a desconfiança de Shikamaru para com Sasuke, o recado da alma que ainda não passei a Sasuke, meus sonhos com Iwaly... Penso até mesmo em Gaara, que se prendeu a um futuro no inferno por causa dessa missão.

O céu parece estar irritado hoje; ele é cinza, nos avisando da tempestade que logo chega. Nem Sasuke nem eu trocamos uma única palavra durante toda a viagem, mesmo quando começa a chover e minha visão da rua fica embaçada.

Embalada pelo barulho de água, eu adormeço.

***

Limpo a lente da última câmera. Desde que a guerra explodiu, as pessoas não buscam mais por fotografias - não existe mais dinheiro, não existe mais uma loja, não existe mais paz.

Hitler tomou a França, e o mundo está um caos. Na noite anterior, descobriram a família Freyre. Talvez estejam em Campos de concentração. Talvez já estejam mortos.

A câmera que guardamos é nossa prece silenciosa e esperança de que a guerra acabe - vendemos todas as outras. Precisávamos comer.

Papai me disse que Hitler está perdendo. Que os Estados Unidos entraram na guerra, e que logo teremos uma França livre. Mamãe está doente e não existem mais remédios. Do fundo do coração, eu espero que papai esteja certo.

Todas a minhas amigas judias já foram levadas. Chorei quando as famílias pediram abrigo e meu pai foi obrigado a negar - não quero meter minha família nisso - ele disse. Não achamos que eles marchariam para a França, mas marcharam. Os judeus daqui perderam a segurança, e nós perdemos nossos amigos.

Estou devolvendo a câmera ao lugar, então arrombam a porta. Raul, meu irmão mais novo, começa a chorar e se agarra às minhas pernas. Papai fica entre nós e a porta. Mamãe dorme no andar de cima. E eu acho que vamos todos morrer.

Descobriram que eu levava comida aos Freyre. Tenho certeza. Fecho os olhos. Matei minha família. Estou morta.

Os soldados entram correndo. Eles são três, e fecham a porta com velocidade, segurando as enormes armas entre as mãos. Espero eles nos renderem, mas eles não rendem.

Um soldado alto, loiro e de belos olhos verdes tira o capacete, em seguida, fala algo em inglês. Agradeço por meu pai ter me ensinado algo, então entendo quando ele nos pede desculpas. A insígnia dos Estados Unidos reflete em seu peito.

Sinto alívio. Eles só querem passar a noite.

O loiro, James, nos explica a situação. Junto dele estão Gabriel e Mark. Papai está nervoso, e eu não abro a boca.

Mas os olhos verdes não desgrudam dos meus.


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Notas finais do capítulo

Vocês merecem explicações.
No ano que digitei Impugna, fiquei doente. Estava no segundo ano do ensino médio, com depressão, é não conseguia mais escrever. Melhorei no ano seguinte,mas começaram as correrias do vestibular. Passei direto e comecei a cursar. Minha vida virou uma correria.
Entretanto, muitas de vocês, leitoras maravilhosas, pediram para que eu voltasse. Terminei minhas aulas de sábado e tentarei postar às segundas, pois terei o fim de semana livre. Não é uma promessa, mas se eu não postar toda segunda, me esforcarei para escrever pelo menos dois capítulos por mês.
Agradeço a quem ficou.
Aguardo reviews.
Obrigada pela paciência. Amo vocês. Ainda.