Safe & Sound escrita por Gistar


Capítulo 4
Pressentimentos




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“Sete demônios ao seu redor

Sete demônios na sua casa

Veja, eles estavam lá quando acordei esta manhã

Eu estarei morta antes do dia acabar”

Sara

Acordei no outro dia com a conversa de Jess e Ângela, parece que Jessica não perdeu tempo e contou tudo a Ângela.

– Diz que foi horrível! – dizia Jess – A escola toda parou para ver o fiasco. Eu não estava lá, mas se estivesse tinha dado uma boa lição naquela loira. Coitada da Sara!

Eu levantei e elas viram que eu estava acordada.

– Sara, como você está? Jess me contou o que houve. Eu sinto muito!

Eu acreditava que Ângela realmente sentia muito, já Jess, com certeza estava se mordendo porque perdeu o meu fiasco.

– Eu estou melhor. Quem te contou Jess? – perguntei.

– Foi a Laura. Quando cheguei, ela estava assistindo outra discussão, ao que parece Amanda estava repreendendo a Rosane pelo que tinha feito com você. E o Pedro parece que também perdeu a briga porque chegou depois de mim com a tal da Tânia.

Meu estômago embrulhou ao lembrar os acontecimentos da noite anterior. Pedro me beijara e como eu o descartei ele não perdeu tempo e foi atrás da Tânia. Ele realmente era um cafajeste!

– Foi Jared quem te trouxe né? Vocês ficaram?

Só uma coisa dessas para desviar a atenção de Jess da minha humilhação pública.

– Não Jess. Ele só foi gentil ao me tirar da cova dos leões e me trazer em casa. Nós nos tornamos bons amigos, só isso.

– Grandes amores nascem de grandes amizades...

Eu respirei fundo, parecia que nada abalaria a idéia de Jess que Jared estava a fim de mim. Eu estava sentindo que ela pegaria no meu pé.

Ela começou a contar como foi sua noite com Miguel para Ângela e eu quis tomar banho, mas ao lembrar que o banheiro do nosso andar era público, desisti da idéia na hora. Não queria que as pessoas ficassem me apontando e rindo. Decidi que o melhor a fazer era voltar para cama. Desejei dormir e acordar só depois da formatura.

– Eu não acredito que você vai dormir mais! – Ângela me repreendeu ao ver que eu estava voltando para a cama.

– Me deixa! Eu quero morrer! – disse, puxando o acolchoado até a cabeça.

– Sara, - agora a voz dela estava mais maternal, ela sentou-se na minha cama – você vai ter que encarar os fatos mais cedo ou mais tarde, você sabe que essa gente logo vai esquecer o que houve ontem assim que surgir outra fofoca.

– Me dá um tempo Angie, eu tenho que me recuperar do trauma.

– Tudo bem, descansa até amanhã, mas nem pense em matar aula.

É verdade, tinha aula amanhã. Não poderia adiar o terror para mais adiante, teria que encarar os fatos, como dissera Ângela.

Acordei cedo no dia seguinte, queria pegar o banheiro vazio. Tomei um banho rápido e voltei. Estava vestindo o uniforme quando Jess e Ângela acordaram.

– Você madrugou hein! – disse Jess.

Na verdade não dormira bem na noite passada, tivera pesadelos. No meu sonho havia gente gritando por todo lado e um tumulto enorme.

– Eu tive um pesadelo horrível! – comentou Ângela enquanto pegava suas coisas. – Sonhei que a escola toda estava uma bagunça, era gente gritando e correndo pra todo lado.

Eu senti um calafrio quando Ângela contou o sonho dela, era muito parecido com o meu.

Fui arrumar meu material enquanto as meninas tomavam banho e se trocavam.

– Como estão as coisas? – quis saber quando elas voltaram para o quarto.

– Ah, você sabe que vai levar um tempo até as pessoas esquecerem. – responde Jess.

– Jess! – Ângela a repreendeu e continuou – Não se preocupe amiga, nós estamos com você e não vamos deixar que ninguém faça nada a você! Vai ficar tudo bem.

– Vamos!

Eu olhei para Jess.

– Vamos Jess! Fazer o quê né?

Nós saímos do quarto e descemos para o primeiro andar onde ficava o refeitório.

A escola possuía quatro andares: No primeiro ficava o refeitório e as salas da administração; no segundo ficavam as salas de aulas; no terceiro os dormitórios que eram divididos em duas alas, na direita ficavam as meninas e na esquerda os meninos; por último no quarto andar ficavam a biblioteca e o auditório.

No caminho eu procurei ignorar os comentários, ninguém apontou para mim, mas eu via que as pessoas me olhavam com curiosidade.

Chegamos ao refeitório onde a maioria do pessoal já estava e eu pedi a Ângela que ficasse na fila para mim, eu só iria querer um iogurte. Eu fui para a nossa mesa onde já estavam Bruno e Eric como de costume. Eu os cumprimentei quando sentei e eles responderam normalmente, não mencionaram nada sobre a festa, eles não estavam lá, mas provavelmente haviam ouvido os comentários.

Jessica e Ângela chegaram e me entregaram o iogurte. Logo Miguel chegou, sentou-se ao lado de Jess e lhe deu um selinho. Já não bastasse eu segurar vela para Bruno e Ângela, agora teria que o fazer também para Miguel e Jess. Eu comecei a puxar conversa com Eric já que ele estava sobrando como eu, então começamos a falar sobre a prova de cálculo que teríamos amanhã.

– Posso sentar?

Era Jared e estava segurando uma cadeira ao seu lado.

– Claro.

– Como você está? – perguntou quando estava se sentando.

– Bem. Mais uma vez obrigada pelo que fez ontem.

– Não foi nada, amigos ajudam os amigos.

Ele sorriu e eu tive que sorrir de volta, ele estava sendo muito legal comigo e o mínimo que eu podia fazer por ele era ser gentil.

– Vou apresentar meus amigos – disse.

Eu o apresentei a todos que ele ainda não conhecia e todos pareceram gostar muito dele.

Eu abri meu iogurte e comecei a beber. Desviei meu olhar um segundo para a porta e gelei ao ver quem havia chegado.

Pedro, Emerson, Rosane, Amanda e Jacson estavam indo para a fila. Rosane me lançou um olhar de desdém enquanto que Pedro estava sério e pareceu ficar rígido ao me ver.

Amanda saiu da fila onde estava com os outros e veio na nossa direção.

– Oi – disse ao chegar na nossa mesa.- Eu só queria te dizer que gostei muito de você e sinto muito pelo que aconteceu ontem. Eu não estava lá, senão teria impedido Rosane de fazer aquilo. Espero que você ainda queira ser minha amiga.

Eu olhei para ela com cara de quem não entendeu nada. Nós nem havíamos trocado mais que meia dúzia de palavras, ela nem me conhecia direito e queria ser minha amiga.

– Claro – respondi, não havia nada demais em conhecer outras pessoas, embora uma dessas pessoas fosse a melhor amiga da minha nova antipatia.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ela já estava puxando uma cadeira e se sentando ao meu lado. Começou a conversar com todos sobre as nossas aulas e então o namorado dela voltou da fila e foi até ela. Ele entregou um suco de laranja para Amanda e ficou parado ao seu lado, provavelmente esperando que ela o acompanhasse.

– Jac, se não se importa, gostaria de sentar com meus novos amigos hoje.

– Você pode ficar com a gente se quiser. – acrescentei, não queria parecer que estava roubando ela.

Não precisei falar duas vezes, ele já estava sentando entre Amanda e Miguel, que começou a comentar um jogo que passara na TV no dia anterior. A nossa mesa estava ficando cheia...

Rosane ficou o tempo todo lançando olhares de fúria para mim, parecia que ela estava prestes a pular no meu pescoço a todo o momento. Pedro tentava disfarçar e eu também, mas várias vezes eu me peguei trocando olhares com ele e lembrando o beijo.

O tempo passou rápido, quando percebi já estava na hora de irmos para a aula. Nós fomos pegar nossos materiais e nos separamos cada um para sua aula. Minha primeira aula era de Língua Inglesa, minha favorita.

Estava concentrada fazendo a análise da leitura de “Romeu e Julieta” quando me chamaram na secretaria. Era um telefonema da minha mãe, nós não podíamos usar celular na escola e sempre que alguém da família de um aluno queria se comunicar, tinha que ir até a escola ou ligar para a direção.

Eu estranhei minha mãe, pois só me ligava no meu aniversário ou para cancelar algum compromisso comigo nos feriados, o que acontecia sempre e nesse momento não havia nada que justificasse uma ligação. O que será que havia acontecido?

– Alô.

– Alô filha, que bom te ouvir querida. Como você está?

– Bem, aconteceu alguma coisa mãe?

– Não, eu só estava com saudades, queria te ouvir, fazia tempo que eu não ligava.

Minha mãe ligando porque estava com saudades de mim? Não acreditei nela.

– Mãe, está tudo bem mesmo? Foi só por isso que me ligou? O Felipe está bem?

– Sim querida, estamos todos bem. Só liguei porque estava preocupada com você, é que...

Ela ficou muda de repente. Sabia que estava me escondendo algo!

– É que o quê mãe? O que você está escondendo?

– Nada querida, não se preocupe, foi só um sonho...

Será que minha mãe tivera o mesmo sonho que eu? Impossível!

– Que sonho mãe?

– Já disse que não foi nada filha. Que bom que está bem, preciso desligar agora. Se cuida, eu te amo!

– Também te amo mãe.

Eu desliguei o telefone com o coração apertado. Certamente o sonho que minha mãe tivera não fora nada agradável, deveria ter sido terrível para fazer ela me ligar. Daqueles pesadelos que a gente tem, tão reais que a gente acorda chorando e precisa se certificar de que não foi real.

Eu voltei para aula e não consegui mais me concentrar pelo resto do período, senti que a atmosfera ao meu redor ficou tensa de repente, como se uma tempestade estivesse prestes a cair.

Saí para o almoço atrasada e quando cheguei, a escola toda já estava lá. Peguei meu almoço e fui para minha mesa. Percebi que Amanda não estava nela, provavelmente a loira a requisitara para si. Jared e Miguel estavam lá é claro. Jared puxou uma cadeira ao seu lado para mim.

Eu não me enganara, olhei para a mesa da loira e Amanda e o namorado estavam lá. Ela me acenou e sorriu, eu retribui. Pedro me olhou e desviou o olhar rapidamente. Foi então que tudo aconteceu.


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