Pov' Clarisse La Rue

Tento ao máximo não chorar, mas no fim das contas lá estou eu cheia de lágrimas nos olhos. Não quero parecer fraca na frente de Percy de novo, porém não consigo evitar. Nunca havia contado para ninguém a respeito disso, e existe um motivo para tal, lembrar de tudo isso me despedaça.

Antes que o filho de Poseidon tenha chance de limpar uma das minhas lágrimas, eu corro para o banheiro, me tranco ali e com as costas na porta e os olhos fechados. Eu tento inutilmente fazer com que a dor suma, contudo por mais que eu tente ela não desaparece, pelo contrário a cada soluço a mesma parece mais forte e insistente, quando finalmente abro os olhos de frente ao espelho não me vejo como deveria. Há alguém no espelho.

Olho em sua direção com uma coragem que na verdade não possuo, meu pai está ali, a imagem dele na verdade. Ares me admira com mais raiva do que estou acostumada, o desprezo em suas feições é tão nítido, que por poucos segundos, eu desvio meu rosto, porém logo volto. Fugir dele é sempre a pior tática, disfarçadamente tento limpar minhas lágrimas, contudo já é tarde demais.

— Sinceramente não podia estar mais decepcionado. Você não merece o sangue que corre nas suas veias, não merece ser uma filha de Ares. Eu juro que tentei te tratar igual a seus irmãos e você estava perto de conseguir meu respeito, mas desse jeito não dá. Você não se comporta como alguém digna do sangue do Deus da Guerra, nós guerreiros não nos misturamos com pessoas como o Jackson, está me entendo? Não sei nem dizer o que de pior você fez… Um caso com o menino de Poseidon? Isso é inaceitável! Nunca vou perdoá-la por isso. Me arrependo de ter te abençoado na guerra, sim você matou um Drakon, mas de que adianta se não faz nada que acrescente. Quase matou um de seus irmãos, porque ele sabia mais do que deveria? Por que ele queria que eu soubesse do que você estava fazendo as escondidas com o Jackson? Menina, se você quer ficar do lado de Poseidon, vá pedir proteção a ele, porque a você eu não mais protejo.

— Você falou com Mark?

—Obviamente, precisava saber da droga que estava acontecendo. E teria falado com você, se não tivesse fugido como uma covarde. Você não é minha filha. Um filho de Ares não foge…

—CALA A BOCA!

—O quê? - Ares parece bem impressionado e na verdade até eu mesma estou.

—Exatamente, o que você escutou cala a boca, eu não mereço ouvir nada disso. Você pensa o quê? Que por ser um Deus pode me tratar como lixo? Que eu vou escutar tudo calada? Eu aceitei por muito tempo, implorei por seu amor por tempo demais, mas esse garoto que você chama de idiota me ensinou uma coisa muito importante. Eu não preciso mendigar pelo seu amor, eu não preciso de você. Não quer me abençoar, não me abençoe! Não quer me ver, não me veja, porque eu simplesmente não vou mais procurar saber de você! Quer defender Mark? Defenda, Mark foi uma das piores pessoas que eu já conheci na minha vida, mas, na verdade, ele é bem parecido comigo, ou com quem eu era, ele quer que você se importe com ele, mas isso é impossível, seu coração é de pedra. Você não passa de um Deus egoísta e entendiado com a imortalidade que vê a vida como um simples jogo, onde nós semideuses somos os piões que você explora da maneira que bem entende, mas desse jogo eu não participo mais, quer um pião procure Mark ele ainda deve estar interessado. Sabe quando você se interessou por mim? Quando eu estava lutando a seu favor, e é só isso com que você se importa, com você mesmo e a droga da sua família celestial. Enquanto eu passava fome e apanhava feito uma escrava da minha própria mãe, eu simplesmente não existia pra você e agora você não existe pra mim! Suma daqui! Você não é digno de ser meu pai!— Falo com o máximo de raiva que consigo, olhando diretamente nos seus olhos.

— É só isso? Confesso que estou impressionado, não esperava uma reação. Ao que parece você é mesmo uma filha de Ares, acabou de se tornar digna do meu sangue!

— O quê?- Digo sem palavras, não estou entendendo nada, acabo de dizer tudo o que sempre tive medo demais de falar.

— O quê você e seus irmãos nunca compreenderam é que a característica que eu mais prezo nos meus filhos é coragem, e enquanto você não reagisse, enquanto você não respondesse a cada crítica que eu lhe dava eu continuaria te tratando mal. Meus filhos não devem temer nem mesmo a mim.

— Não sei o que dizer...

— Não precisa dizer nada. Só saiba que tem minha benção por mais estranho que isso seja. Nos vemos semana que vem.

—Como?—Pergunto sem entender porque nos veríamos semana que vem, mas já é tarde demais. No espelho só vejo a mim mesma, uma Clarisse inchada e de olhos vermelhos, completamente diferente da que eu costumava ver no Acampamento. O Jackson sem perceber acabou por mudar minha vida completamente.