Quando A Esperança Tem Um Nome... escrita por Poeta Morta


Capítulo 1
Capítulo I.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ;3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/409701/chapter/1

Capítulo I

            Era sexta à noite, eu estava jogada na sala, vendo o show de alguma banda qualquer na TV. A música era boa. O café que eu tomava estava muito bom e o pote de creme de avelã

            -Sério, Daniela, como nós dois somos irmãos gêmeos? – ouvi meu irmão reclamar do meu estado assim que desceu a escada. Ele estava de jeans, algum tênis de marca, uma camiseta de gola V e por cima uma daquelas jaquetas caras e estilosas.

            -Faço essa mesma pergunta há quase 16 anos – respondo dando de ombros – Mamãe e papai sabem que você vai sair? – falo pegando uma colherada de creme e enfiando na boca, a explosão do sabor doce foi quase entorpecente.

            -Eu não vou sair, eles vêm aqui – ele falou colocando a mão no bolso – E vão trazer algumas amigas, vamos ficar na sala, então se manda – Johnny falou dando um meio sorriso irritante. Os olhos verdes estavam com aquele brilho assustador, que na real nem me assustava, o cabelo castanho estava perfeitamente arrumado e eu podia sentir o cheiro do perfume dele dali.

            -Afe Johnny – resmunguei, eu estava extremamente confortável no sofá. Aliás, eu estava extremamente confortável. Com o meu pijama preferido, que na verdade era uma calça de moletom velha e uma camisa de banda velha que dava duas de mim, meu cabelo ruivo estava preso em uma trança mal feita, e meus olhos azuis não tinham nada de maquiagem.

            -E eles já tão chegando, a não ser que queira ouvir piadas das garotas, é melhor desocupar isso rápido -  ele falou terminando de descer as escadas, apossando-se do controle da TV e mudando o canal.

            Peguei minhas coisas e subi. Normalmente teria uma discussão, mas não estava a fim de discutir com o meu irmão gêmeo babaca, não naquela noite. Fui para o meu quarto, deixei o café na minha escrivaninha e me joguei na cama de casal. Obviamente deixei a porta trancada.

            Meu irmão nem sempre fora daquele jeito, há dois anos éramos quase os dois melhores amigos do mundo, tínhamos os melhores amigos do mundo, éramos a panelinha mais popular do colégio. Éramos eu, Johnny, Jason, Dave e Max contra o mundo. E aí Max, que era meu melhor amigo e também minha paixão secreta, foi embora. E entramos no ensino médio, não sei o que aconteceu, mas fui excluída da vida deles e virei... Bem, eu continuei a mesma, eles que viraram babacas.

            Acho que o ensino médio muda a cabeça das pessoas. Eu não mudei nada, então ando com os roqueiros bardeneiros da escola e tento colocar alguma ordem naquela bagunça. Apesar de sempre estar recheada de gente e viver me metendo em brigas com a turma do meu irmão, sinto-me sozinha.

            Evito pensar sobre ele. Então deixo meus olhos percorrerem meu quarto. As paredes são de cor creme, a parede do canto direito da minha cama tem o desenho de uma guitarra e uma das minhas frases preferidas, tem também meu espelho enorme e a porta para o banheiro, evito olhar para ela, os desenhos trazem lembranças certamente dolorosas. No oposto dela tem a minha escrivaninha, é quase marrom, de madeira, a cadeira da escrivaninha é de rodinhas e giratória, é preta. Na parede tem as paredes com os livros para ler e alguns quadros com fotos, e do lado dela a porta de entrada (ou saída) do quarto. Na parede que a porta fica encostada quando abre fica minha guitarra e me violão, junto com meu armário, e na outra parede fica encostada a minha cama e a janela. Tem alguns pôsteres colados nessa parede e é esse o meu pedaço de paraíso.

            Escuto o barulho de pessoas chegando a casa e de algum modo isso dói. Tento jogar a onda de nostalgia fora, mas não posso. Respiro fundo, sentindo que vou começar a chorar. Sinto meu celular vibrar e isso me faz conter o choro.

            -Alô? – o número estava privado. Escuto os risos no fundo, provavelmente é a turma do meu irmão querendo pregar uma peça em mim. Desligo sem escutar o resto. Porra, eles estão na minha casa, vão comer com o meu dinheiro e ainda querem rir de mim.

            Obviamente, como sempre, eu passo a raiva sobre estar triste para o meu irmão e seu grupinho idiota. Como eles puderam virar aqueles animais? Levanto da cama, coloco minha calça jeans rasgada preferida, meu all star surrado, solto o cabelo, escovando-o e então prendendo em um rabo de cavalo alto, deixando a franja solta. Passo a maquiagem preta costumeira, meus olhos azuis ficam enormes e destacados. Coloco uma regata justa de banda, minhas munhaqueiras e pulseiras agressivas e por cima meu casaco de couro.

            Vou descer. Meter a boca em todo mundo e ir para o show da banda do Will. É eu estou mudando meus planos e eu sei que lá no fundo é para fugir de mim mesma e não daqueles idiotas.

            Pego meu celular e minha carteira. Meus pais estão em uma janta, mas tenho permissão para sair. Eu coloco minha melhor expressão de tédio e mando uma mensagem para Will avisando que eu mudei de ideia e que vou ao show.

            -Aonde você tá indo? – meu irmão pergunta assim que termino de descer a escada, eu acabei me distraindo com a resposta de Will sobre eu ser bipolar. Eu levanto uma sobrancelha para ele.

            -E interessa?

            -Você não tem permissão para sair – ele fala, como se fosse o irmão mais velho. Como se dois minutos fossem fazer a diferença.

            -Claro que tenho.

            -Eu não dei permissão.

            -Como se você mandasse em mim – respondo irônica, escuto Jason conter o riso.

            -Eu... Eu mando sim – Johnny gaguejou um pouquinho, dou um sorriso de canto para ele.

            -Manda nada – dou de ombros – Saí da minha frente, ok?

            -Daniela, você simplesmente não vai sair, pode esquecer, não sozinha e não com essas roupas – a voz é um pouco protetora, o que me faz pensar que ele esqueceu que seus amigos estão ali, ou simplesmente anda ignorando como eu me visto.

            -Johnny Knight, você não vai me obrigar a ficar na minha casa cheia de babacas como você, não hoje e nem nunca, ok? Não vou ser a diversão da noite para vocês, nem vou ficar sendo obrigada a me abster de descer aqui para não me irritar. Então simplesmente vou para o show do Will – eu sempre os xingo então não entendo porque Johnny faz aquela expressão ofendida.

            -Show? Dani!

            -É, melhor do que ficar fumando maconha em casa – respondo dando de ombros. Johnny dá um passo para traz. Isso foi uma alfinetada nele, porque apesar de ter sei lá, uma seis pessoas ali, contando com ele, eles estão fumando. E conheço muito bem aquele cheiro – Saí da frente.

            -Daniela... – escuto a voz de Jason, apesar de tudo ele ainda era o menos babaca.

            -O que você quer? – pergunto virando para ele.

            -Quer uma carona? – levanto uma sobrancelha.

            -Não, eu me viro sozinha.

            -Você só vai sair daqui se o Jace te levar – Johnny foi rápido no gatilho. Quase rosnei. Todo mundo olhava para o Johnny como se ele fosse um herói ou algo assim. Claro, era como se estivesse contendo a irmã revoltada de fazer merda. Mas estou a fim de dar o fora. Não quero mais xingar ninguém, odeio quando fico no estado que estou.

            -Tá bom – dou de ombros e empurro Johnny para o lado – Já que sou obrigada, venha logo – resmungo para Jason que já está de pé e abre a porta para que eu saia. Ficamos em silêncio até chegarmos ao carro. É estranho ficar sozinha com um dos garotos, faz tempo que isso não acontece, e me faz sentir muito nostálgica.

            -Dani... – Jason sussurra, assim que eu coloco o cinto de segurança e ele já está confortavelmente sentado no banco de motorista.

            -Daniela – respondo sem pensar – Não somos amigos para tanta intimidade.

            -Costumávamos ser.

            -É, não somos mais – falo olhando para a janela – Se quiser indo, eu vou indicando onde precisa me deixar.

            -Tá – ele arranca, acho que está pensando em algo para falar. Mas não ligo mais, recebo alguma SMS perguntando onde estou e explico a história rapidamente – Você poderia andar com as meninas, sabe, estaria com nós quando a gente saísse...

            -Eu não ligo em não sair com vocês ou não andar com vocês Jason – falo distraidamente – Eu realmente não me importo. Ainda mais porque agora vocês são uns babacas, faria mal a mim andar com pessoas como você. Mas você já sabe disso, por que a proposta ridícula?

            -Porque você faz falta – ele sussurra, como se confessar aquilo fosse errado...  – O Max também – só de ouvir falar dele sinto como se tivesse levado uma facada no peito, não respondo Jason, fico quieta olhando para trás – Você não sente falta?

            -Sinto falta do que vocês eram.

            -E do Max?

            -Vire a direita agora – ignoro a pergunta, ele vira e logo chegamos no pub que vai ser a festa. Ele para um pouco antes, abro a porta do carro.

            -Você não respondeu a minha pergunta – ele fala segurando meus pulsos antes de eu descer. Fecho os olhos por alguns instantes.

            -Talvez porque você já saiba a resposta – sussurro ainda de olhos fechados, quando os abro encaro Jason e seus olhos castanhos melados. Ele solta meus pulsos e eu saio do carro indo para o clube.

           


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lembrem-se, é um conto, então as coisas não são totalmente explicadas.
Espero que tenham gostado, comentem por favor *-*
Beijos ;3