Não dá mais. Eu não aguento mais. Chega. Isso não pode continuar. Não há príncipe chegando num cavalo branco, eu mesmo preciso fugir do dragão, sozinha.  
Eu tenho que contar pra minha mãe, mas e se ele fazer alguma coisa? E se ela não acreditar? Mas... 
Eu não sei o que fazer. Por que? Medo. É única coisa que sinto agora. Medo e repúdio. Repúdio de mim mesmo. Eu também tenho culpa. Agora, só mesta chorar, chorar. As lágrimas nunca me abandonaram. Eu quero ir embora daqui. Eu... eu quero fugir. Eu preciso fugir. Não dá mais. Eu vou embora. Há algum lugar no mundo para mim, mas com ele não. Eu amo aqui, mas com ele aqui não. O dragão nunca sai do castelo. 

***

Estou na escola novamente, é um outro dia. Mas não dá pra esquecer o ontem. Ele persiste em atormentar minha mente, aonde quer que eu vá. Eu preciso ir embora. 
A professora de Artes, dona Fernanda, está num discurso efusivo sobre arte. E então nos pede algo diferente: 
- Crianças, quero que agora, vocês tirem tudo de cima da mesa e deixem só o papel. Certo. Agora, vocês vão desenhar para mim, qualquer coisa. Isso mesmo, qualquer coisa. Desenhem o que estão sentindo, alguma coisa que aconteceu com vocês, algo que vocês querem dizer. Qualquer coisa. Comecem!!!
Pego meus lápis e começo a desenhar. Desenho um dragão. Um dragão enorme cuspindo fogo, e desenho, no canto da folha, com uma expressão de medo, uma princesinha.