Suspirei, cansada. Eu já estava maquiada e vestida. Até as sandálias de salto eu já calçava, mas não conseguia pensar em nada legal para fazer no cabelo, visto que ele agora estava bem mais curto.

Eu sempre usei o cabelo comprido, mas de uns tempos para cá acabei ficando enjoada dele e resolvi fazer um corte Chanel alongado.

Mas agora, com meu cabelo curto, era quase impossível fazer algo diferente nele e que me deixasse satisfeita com o resultado.

Desisti, voltando minha atenção ao vestido e encontrando meu namorado me encarando pelo espelho, encostado no batente da porta. Ele estava simplesmente maravilhoso numa camisa social azul marinho e um blazer preto aberto. Calça jeans escura e sapatos sociais completavam o look, me fazendo perder o ar cada vez que o olhava.

— Você já está pronta? Não queremos chegar atrasados à formatura da sua irmã.

— Sim, eu estava tentando fazer algo com meu cabelo, mas já vi que não tem jeito.

Ele se aproximou, com as mãos nos bolsos. Sorri, me aproximando também.

— Você está linda, não se preocupe. - falou, passando a mão pelas minhas madeixas escuras - Já te disse o quanto esse corte de cabelo te deixou ainda mais sexy?

Eu ri, abraçando-o.

— Sim, você já disse, mas é sempre bom ouvir mais uma vez. - respondi, sentindo sua mão passear pelas minhas costas nuas.

O meu vestido ia até os joelhos, sem decote frontal e de mangas longas, mas com as costas completamente nuas. E vermelho vinho, com um pequeno corte na parte posterior da barra. Nos pés, eu usava uma sandália nude e clássica.

— Nós precisamos ir, você está maravilhosa e não sei quanto tempo mais eu vou aguentar. Ou nós saímos agora ou nós vamos chegar bem atrasados.

— Bem, então precisamos sair agora se quisermos chegar a tempo. - falei, bem próxima a ele, provocando-o.

— Eu sei o que está fazendo, Melissa, e já te avisei: você está linda e eu estou me controlando para não te agarrar aqui mesmo. - ele respondeu, antes de virar e sair pelo quarto - Te espero no carro.

Boquiaberta, borrifei o meu perfume favorito e segui para a saída, trancando a porta do apartamento pelo lado de fora.

O caminho até o local era curto, então em cerca de vinte minutos nós já havíamos chegado.

— Você está deslumbrante, mana! - disse a Emma, enquanto me abraçava.

— E você não poderia estar mais feliz! - comentei, observando suas feições alegres e o sorriso que não saía de seus lábios.

— É realmente um sonho terminar essa fase da minha vida! - ela respondeu, abraçando o Rafa em seguida.

— Parabéns, Em. Você merece! - congratulou meu namorado, depositando um beijo na testa da minha irmã mais nova.

O Rafa tinha praticamente adotado a Emma, ela era uma irmã para ele assim como era para mim.

— Cadê a mamãe e o papai? - perguntei, surpresa por eles ainda não terem chegado.

— Eles devem chegar a qualquer minuto, mas sugiro que nós ocupemos a mesa logo.

— E então, - comecei, sentando na cadeira que o Rafa me oferecia - como se sente agora que se formou?

— É estranho, mas gratificante.

Conversamos mais um pouco, até que finalmente papai e mamãe chegaram.

— Perdoem-nos pelo atraso! - papai se desculpou, depois de nos cumprimentar.

— Está tranquilo, ainda temos quinze minutos antes de a cerimônia começar, o que me lembra que eu tenho que ir. - respondeu minha irmã, se retirando rapidamente, depois de cumprimentar nossos pais.

Meus pais se sentaram à mesa, e um garçom nos serviu taças de champanhe. Eu não estava bebendo, era a minha noite de motorista e o fim de semana costuma ser agitado no pronto-socorro, então não queria arriscar ser bipada e estar sob o efeito de álcool.

A celebração começou pouco depois do horário programado, os alunos receberam os diplomas e a oradora da turma fez o discurso de agradecimento.

A festa informal ocorreria ali mesmo, então os formandos só precisaram tirar as becas, revelando vestidos e ternos para festas.

O DJ começou por volta das dez da noite, fazendo todos se agitarem e seguirem para a pista de dança, desde os alunos até seus familiares.

Toda a nossa família se aventurou pela pista, dançando e dando risada.

— Atenção, essa agora vai para os casais apaixonados. - anunciou o DJ, ao passo que algumas poucas pessoas deixaram a pista, restando só os casais.

Reconheci os acordes de uma das minhas canções favoritas de Elvis Presley, Can't Help Falling In Love.

Sorri, passando os braços ao redor do pescoço do Rafa, aproximando nossos corpos.

A melodia ditava o ritmo, enquanto nós nos perdíamos nos olhares um do outro, envolvidos pela letra da canção.

"Como um rio que corre
Certamente para o mar
Querida, é assim
Algumas coisas estão destinadas a acontecer

Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você"

— Eu acho que acabei de me apaixonar mais uma vez por você, aqui e agora.

Sorri, abaixando a cabeça.

— Eu te amo. - falei, juntando nossos corpos ainda mais. Minhas mãos faziam carícias na sua nuca, enquanto eu sentia suas mãos subirem e descerem pelas minhas costas nuas.

— Eu quero casar com você. - ele disse, ainda se mexendo no ritmo da música.

Eu, por outro lado, havia parado completamente de dançar.

— O que?

— Não estou te pedindo em casamento ainda. - explicou - Só quero que mantenha em mente que eu irei, em algum momento, pedir sua mão. Não é algo súbito, eu já vinha pensando nisso antes.

Não consegui segurar o sorriso.

— Você está me avisando que vai me pedir em casamento antes de me pedir em casamento? - perguntei, risonha.

— Acho que sim... - respondeu, envergonhado - Eu só queria que você soubesse que eu penso em casar com você, que eu te amo a esse ponto. Você é parte de mim a um bom tempo, Mel, e eu quero que permaneça assim.

Senti lágrimas salpicarem meus olhos ao ouvir aquelas palavras. Meu coração batia tão acelerado que eu duvidava se o salão inteiro não poderia ouvi-lo.

— Então eu quero que saiba que quando você pedir a minha mão, a resposta será sim. Mil vezes sim. - sorri, abraçando-o e voltando a me mover no ritmo da canção.

Continuamos dançando até que as músicas voltaram a ficar animadas, então nos juntamos à minha irmã e seu amigo, dançando animadamente ao som de músicas mais atuais e agitadas.

Após algumas músicas, retornamos à mesa, cansados, para nos despedir de mamãe e papai, que estavam indo embora.

Restou apenas nós quatro e eu resolvi ir ao banheiro, deixando o Rafa com o Jake (o amigo da minha irmã) e levando a Emma comigo.

Já lá dentro, disparei:

— Está esperando o que para agarrar o Jake?

— E-eu... O-o que? - se assustou minha irmã, ficando vermelha imediatamente.

— Não precisa tentar esconder, Em. Eu sou sua irmã, eu percebi o seu olhar sobre ele a festa toda.

— Está tão óbvio assim? - perguntou minha irmã mais nova, deixando cair os ombros.

— Não, eu apenas te conheço muito bem. - expliquei, abraçando-a - Por que você não fala com ele?

— E se ele me rejeitar? Pior: e se a nossa amizade nunca mais for a mesma? Eu não posso colocar tudo a perder porque descobri que tenho uma quedinha pelo meu melhor amigo!

— Querida, não é melhor correr o risco que nunca tentar e se arrepender depois? Você sabe, eu demorei um ano inteiro para tomar coragem e falar para o Rafa sobre como eu me sentia. Quer mesmo guardar esses sentimentos para você?

Ela ponderou por alguns segundos, em silêncio.

— Você está certa, não posso continuar assim. - afirmou, respirando fundo ao encarar o próprio reflexo no espelho.

— Pronta? - perguntei, depois de alguns segundos.

— Sim. Ah, Mel? - chamou, segurando minhas mãos - Obrigada.

Sorri, apertando de leve suas mãos.

— Você é minha irmã, Emma. Eu só quero te ver feliz.

Deixamos o banheiro juntas e seguimos para a mesa a qual estávamos, encontrando o Rafa e o Jake envolvidos numa conversa bastante animada.

— O que vocês tanto conversam? - perguntei ao Rafa, sentando ao seu lado.

— Eu estou tentando entender como um cara de L.A. torce para os Bulls! - exclamou meu namorado, como um fanático torcedor do Lakers.

Rafael sempre foi apaixonado por esportes, mas depois que eu o levei num jogo da NBA*, ele simplesmente caiu de amores pelo Los Angeles Lakers**, da Califórnia. Para ele, era uma afronta o Jake torcer para o Chicago Bulls***, de Illinois.

— Eu nasci em Chicago, não posso negar minhas origens! - justificou o amigo da minha irmã.

— Mas você mora aqui desde pequeno, Jake! - falou minha irmã, fazendo-o olhar para ela perplexo.

— Você está do lado dele? Pensei que fosse minha amiga, Em! - fez drama, nos fazendo rir.

— Eu sou, e se eu posso torcer pelo Bulls no campeonato Leste, porque você não pode torcer pelo Lakers no campeonato Oeste? Quando for um contra o outro, vai cada um para o seu lado.

— Está bem, você me convenceu. Mas essa conversa me lembrou uma coisa: o jogo mês que vem, Bulls versus Lakers, Oeste versus Leste. Que tal todos assistirmos juntos?

— Soa ótimo para mim! - concordei.

Marcamos de assistir lá no meu antigo apartamento, que já é da Emma a quase um ano, desde que eu fui morar com o Rafa.

Quando o relógio marcou três e quarenta da manhã a festa ainda estava a pleno vapor, mas nós resolvemos ir para casa e descansar um pouco.

Me despedi do Jake com um abraço, assim como da minha irmã. Aproveitei nossa proximidade e sussurrei um "Boa sorte!" antes de nos separarmos e eu e o Rafa deixarmos a festa.

O caminho foi feito quase todo em silêncio, mas quando estávamos perto de casa meu namorado se pronunciou:

— Ele gosta dela.

— Ele quem? - perguntei, curiosa.

— O Jake. Você tinha que ver o cara falando dela, só choviam elogios!

— Não brinca! - exclamei. O destino é mesmo algo surpreente. Reparei a postura tensa do Rafael pelo canto do olho, percebendo que havia algo errado - Qual o problema?

— Nada, não há problema algum. - falou rápido, e até um pouco ríspido.

— Se você diz... - falei, com uma pontinha de chateação, e voltei a atenção para o caminho.

— Desculpa. É só que... Eu... Você não acha ela muito nova? - perguntou.

— Você está com ciúmes da Emma, amor? - perguntei, segurando a risada.

Era até fofo, se avaliarmos a situação. O Rafa só tem a Paloma de irmã, que é mais velha. Por isso, ele acabou adotando a Emma como a princesinha dele e ver que tem um cara interessado nela é o fim do mundo para ele.

— Vai adiantar dizer que não? - perguntou, enquanto eu estacionava o carro, depois de abrir o portão automático da garagem do prédio. O papai vai amar saber que ganhou um aliado!

— Isso é fofo, querido, e eu realmente agradeço a preocupação. Mas a minha irmã é bem grandinha e ela também gosta dele, então por enquanto eu não vejo problema algum. - falei, tirando o cinto e começando a tirar as sandálias, que estavam me matando.

— É estranho eu me sentir assim? Ela é sua irmã, afinal, não minha. - questionou, me olhando.

Neguei com a cabeça, sorrindo ao ver sua inquietação.

— É perfeitamente normal, amor. Você praticamente adotou a Emma depois que nós começamos a namorar e acabou assumindo o posto de irmão mais velho protetor. - expliquei.

— Faz sentido. - concordou, suspirando.

Saímos do carro e seguimos para o elevador.

— Rafa. - chamei, quando nós já estávamos dentro do elevador.

— Sim?

— Obrigada. - agradeci, mas tive que esclarecer logo depois, já que ele pareceu não entender - Por se importar com o bem-estar e a felicidade da minha irmã. Isso significa muito para mim e sei que para ela também.

— Ela é importante para você, então é importante para mim. Além disso, a Emma é uma das pessoas mais incríveis que já conheci. Ela merece apenas felicidade. - explicou, me abraçando e deixando um beijo no topo da minha cabeça.

O elevador abriu no nosso andar e nós nos soltamos do abraço. Seguimos pelo pequeno corredor até o nosso apartamento, eu com os pés descalços e o Rafa sem o blazer e com os três primeiros botões da blusa social escura desabotoados.

— Eu estou exausta! - falei, me jogando na cama assim que adentramos o apartamento e seguimos para o quarto.

— Nem me fale. Nós costumávamos ser mais resistentes a noitadas. - observou, se deitando ao meu lado.

Ficamos os dois deitados na cama e encarando o teto, ainda nas roupas da festa.

— É a idade chegando. - brinquei, nos fazendo rir.

Alguns minutos depois, nos levantamos. Ele foi tomar banho e eu comecei tirando a maquiagem.

Quando eu saí do banheiro, meu namorado já estava deitado. Subi na cama e engatinhei até ficar ao seu lado, me deitando e apoiando a cabeça no seu peito.

Ficamos nessa posição por um tempo até que meu celular apitou. Trabalho, não... Por favor!

Era uma mensagem da minha irmã.

Emma, às 4:30am:

"Obrigada por hoje! Nós conversamos e tudo acabou maravilhosamente bem, te conto mais amanhã!"

— Está tudo bem? - perguntou o Rafa, enquanto eu lia a mensagem.

— Sim, está tudo ótimo. - respondi com um sorriso, me aconchegando novamente em seu peito.

— Se é assim, boa noite. - falou, apagando o abajur ao lado da cama e depositando um beijo na minha cabeça.

— Boa noite, amor. - respondi, apertando-o ainda mais em meus braços.

—x-

*NBA - National Basketball Association (Associação Nacional de Basquetebol), uma liga profissional de basquetebol dos Estados Unidos e Canadá.

**Los Angeles Lakers - franquia e também um time de basquete da NBA com sede em Los Angeles, Califórnia.

***Chicago Bulls - equipe profissional de basquetebol americana da cidade de Chicago, Illinois.