Fani

Ser acordada pelo incessante toque do seu celular não é um bom jeito de começar o dia, mas cá estou eu, recebendo uma chamada às oito da manhã de um sábado.

– Eu vou matar quem quer que esteja me ligando a essa hora... – murmurei, tateando o criado-mudo à procura do aparelho.

– Desliga isso, Fani – reclamou o Leo, virando de lado e ficando de costas para mim. Ótimo marido eu fui arrumar, reclamei mentalmente, rolando os olhos.

– Estou tentando. – resmunguei, finalmente encontrando o bendito celular que estava debaixo da cama. – Alô?! – quase gritei

– Bom dia, flor do dia! – ouvi a voz da Pri do outro lado.

– Espero que alguém esteja morrendo, porque não teria outro motivo plausível para você estar me ligando a essa hora. – reclamei

– Foi mal, esqueci do fuso. Aqui já é meio-dia. – explicou, me fazendo dar conta de quanta saudade estava sentindo dos dois pombinhos.

– Bem, aqui ainda são oito da manhã, mas hoje é sábado.

– Puxa, desculpa mesmo Fani.

– Tudo bem, não se preocupa. – bocejei

–Por aqui está tudo ótimo, mas não liguei por isso. Como você não visualizou as minhas mensagens ainda, vim avisar que hoje tem reunião no Skype, nós temos novidades.

– Huuuum, considerando que eu fui a casamenteira, posso saber antes que todo mundo? – fiz charme.

– Não mesmo, todos têm direitos iguais no nosso grupo de amigos! Mas eu vou te deixar dormir, te vejo às 16h aí nos EUA, o que seria 20h aqui em SP, segundo o Rô. Beijos!

– Beijos! – me despedi.

Desliguei o telefone, colocando-o no criado-mudo.

– O que era?

– Pri ligando para avisar que temos encontro no Skype, ela e o Rô têm novidades para contar.

– Poderia ter ligado em outro horário... – ele resmungou, de olhos fechados.

– Ela esqueceu do fuso, amor. Agora vamos dormir que ainda temos o almoço com a Ana e o Dan. – falei, me aconchegando ao seu lado e apoiando minha cabeça em seu peito.

–X-

Algumas horas depois

Tocamos a campainha do apartamento da Ana mais ou menos ao meio-dia. Tínhamos combinado de almoçarmos juntos hoje e eu ainda teria a chance de entregar a blusinha de grávida que eu havia comprado para ela no shopping outro dia.

Quem apareceu na porta foi o Dan, com um sorriso de orelha a orelha. Leo e eu nos entreolhamos antes de entrarmos e cumprimentarmos nosso amigo, que continuava sorrindo como bobo. Realmente, a gravidez estava deixando os dois radiantes.

Fui direto para a sala, onde a Aninha estava esparramada no sofá com sua barriga grande demais para seis meses de gravidez, mas como nenhuma gravidez é igual, não vi motivos de preocupação quanto ao tamanho de sua barriga, até porque ela mesma não parecia nem um pouco chateada.

– Oi, amiga! – falei, indo abraça-la, já que a barrigona tornava mais difícil que ela se levantasse.

– Oi! – ela respondeu, afastando o cabelo do rosto e me abraçando.

Era incrível como esses seis meses desde que eles noivaram passaram extremamente rápido. Eles resolveram ficar de vez em L.A. e arrumaram um apartamento bem legal num bairro próximo ao nosso. A barriga da Aninha crescia cada vez mais e a felicidade era praticamente palpável entre todos nós.

O almoço correu tranquilamente, até que a minha amiga comunicou que tinha novidades. Hoje realmente é o dia, pensei, lembrando-me da minha conversa no telefone com a Priscila.

– Bem, fomos ao obstetra essa semana e acabamos descobrindo que vamos precisar nos mudar. – ela falou

– Não entendo o que uma coisa tem a ver com a outra – o Leo comentou

– Aninha, vocês vão voltar para a Filadélfia? – perguntei, realmente chateada com a ideia de ficar longe dela, principalmente agora com a gravidez.

– Não, - o Dan nos tranquilizou – nós só teremos que arrumar um lugar maior.

– Como assim cara? Esse apartamento é ótimo para vocês três! – Leo disse.

– Acontece que não seremos só nós três... – a Ana completou, me deixando sem fala.

– Não brinca! – exclamou o Leo, compreendendo a situação.

– Dois?! – quase gritei.

– Sim, não era arritmia que o médico havia percebido ao ouvir as batidas do coração, mas sim outro bebê, mas pelo ângulo do ultrassom e pelo fato de o segundo bebê estar escondido, não sabíamos disso até essa semana!

– Amiga, isso é ótimo! – eu disse, me levantando para abraça-la. Meu marido aproveitou e também parabenizou os dois. – Já sabem o sexo do segundo bebê?

– Ainda não, mas estamos torcendo por uma menininha, já que o garotão está garantido. – o Dan respondeu.

A tarde continuou leve e cheia de alegria, eu e Ana combinamos tudo para começar a comprar o enxoval dos bebês e eu a fiz prometer que assim que descobrissem o sexo do bebê número 2, ligariam para avisar.

O Leo e eu seguimos para casa numa conversa leve e divertida sobre como tudo estava mudando rapidamente. Ao chegar em casa, tomamos um banho, pedimos o jantar e assistimos a um filme até dar a hora da “reunião” com a Pri.

Eu já estava bem ansiosa para saber o que eles tinham de tão importante para falar, a curiosidade me corroendo por dentro. Quando finalmente conseguimos conectar a nossa chamada de vídeo, eu estava quase roendo as unhas de tanta pressa.

– Hey! – disse a Pri, sorrindo. Eles estavam num lugar pequeno e aconchegante, acho que um bistrô ou um restaurante.

– Olá! – cumprimentamos de volta.

– Como vocês estão? – Rodrigo perguntou, como quem não quer nada.

– Corta essa e me diz logo qual a novidade, estou quase arrancando meus cabelos! – cortei, realmente curiosa para saber.

Eles riram e eu fiz cara de brava.

– Não brinca com ela, Prica, sabe como a Fani fica quando está curiosa – o Leo alertou.

– Tudo bem, tudo bem. Vamos precisar desligar daqui a pouco mesmo. – o Rô falou, sorrindo.

– A novidade é.... estamos noivos! – ela gritou, mostrando a mão com o lindo anel de noivado.

– Ai meu Deus! – gritei de volta, fazendo meu marido tapar os ouvidos. – Desculpa, amor.

– Isso é maravilhoso! Parabéns! – o Leo disse, esboçando um sorriso lindo que me fez perder o ar.

– Estamos muito felizes por vocês! – falei, sentindo as lágrimas alcançarem meus olhos, eu iria começar a chorar a qualquer momento.

– Não para por aí! – o Dan disse – Queremos vocês dois como nossos padrinhos.

– Sério?! Nossa, muito obrigada! Significa muito para nós. – falei, sentindo as lágrimas cortarem minha face.

– Chorona! – o meu lindo marido me acusou

Terminamos a chamada alguns minutos depois, com muitas risadas e promessas de ligações futuras. Hoje havia sido um dia de muitas alegrias.

–X-

Estávamos arrumando a cama para dormirmos quando o Leo me pergunta:

– Você quer ter filhos?

– Sim, é claro que quero. – respondi, deitando ao seu lado na cama, mas ficando de lado para que eu pudesse encará-lo.

– Quero dizer, você quer ter filhos agora?

– Eu não sei. Você quer?

Pensei um pouco: tínhamos praticamente acabado de nos casar, nosso apartamento não era lá muito grande para uma criança, mas estávamos num bom momento de nossas carreiras, então havia a possibilidade de nos mudarmos caso quiséssemos aumentar a família, mas apesar de tudo isso, eu não me sentia nem um pouco preparada para ser mãe.

– É só que com a gravidez da Ana Elisa, eu pensei que você talvez acabasse querendo também. Eu não sei, eu só não me sinto preparado para ter um bebê agora. – ele respondeu, parecendo chateado.

– Eu também não me sinto pronta, podemos esperar mais um pouco. Talvez depois que os bebês nascerem, só não agora.

– Que bom. – ele suspirou, parecendo aliviado – Fiquei com medo de que você se chateasse comigo por isso.

Acariciei seu rosto, sorrindo. Eu tinha o marido mais fofo da face da Terra.

– Querido, eu nunca ficaria chateada com você por uma coisa dessas. Na verdade, eu estou feliz por termos sidos sinceros um com o outro sobre isso, eu que achava que você ia querer encomendar os bebês depois da notícia da Ana! – falei, rindo.

– Jura que não está chateada? – perguntou, para ter certeza.

– Claro que não estou, amor. – confirmei, beijando seus lábios, que foram tomados por um lindo sorriso.

– Bem, de qualquer forma, temos que praticar para quando formos fazer um bebê. – ele disse, malicioso, me tomando nos braços e ficando por cima de mim num movimento rápido, que me fez dar um grito e gargalhar.

– Estou totalmente de acordo. – falei, antes de tomar sua boca num beijo doce, mas repleto de desejo. E eu devo dizer, praticamos várias vezes naquela noite.