Mitogênese escrita por Braga Primeiro


Capítulo 9
Capítulo IX




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- Zheng, sei que você não pretende recuar agora – e eu não pretendo – Mas talvez fosse melhor pelo menos descansar um pouco antes de continuar, não?

Eu não sangro mais, porém o que já perdi e as grandes feridas expostas me deixam tonto e vulnerável; talvez eu realmente deva seguir o conselho de Zhong.

- Sim... Vou tirar um cochilo... Conto com você. – não precisei explicar que aquele era mais um pedido de proteção. Ele entendeu.

Acordo com alarmes! Não tenho ideia de quanto tempo se passou, mas acho que não muito, afinal, quem não perceberia que todo o pessoal de um prédio desapareceu?

- Não estou tentando impor nada... Mas acho que seria bom sairmos daqui agora.

Meus ferimentos agora são apenas pequenas depressões na carne, mas ainda são claramente visíveis porque grandes cicatrizes brancas se formaram. Sinto-me ainda mais fraco agora, pois minha forma vingativa se foi e recuperar meu nível de sangue demora pouco menos tempo que o de uma pessoa normal.

- Eu preciso... – ofego só com o esforço de me levantar – Argh, preciso continuar...

- Se você insiste, então acho que não tenho escolha além de te ajudar. – ele pôs as mãos sobre mim e derramou energia divina de cura que me deu a sensação de estar cheio de vapor, pronto para puxar um trem!

Na porta da sala, o primeiro grupo de soldados, ao todo seis, aparece. Aparentemente receberam ordens para atirar primeiro e perguntar depois, pois sequer perguntam quem eu sou antes de atirar. Outra coisa que noto é que Zhong está de volta a sua forma sutil; o efeito do poder que minha oração deu a ele deve ter passado. Por isso os inimigos não o notaram.

Rolo para a direita e me concentro para entrar no modo divino padrão; difícil, mas consigo um segundo antes da primeira bala me atingir.

- Justa! – invoco e avanço sobre os agressores.

Facilmente os derrubo e disparo pelos corredores novamente. Meus sentidos ainda não funcionam muito bem neste prédio, mas sem a influência de Mefistófeles consigo ver um fluxo estranho indo para o subterrâneo, dando a entender que há andares inferiores ao térreo.

Demoraria para eu localizar uma maneira de descer porém, por isso acho que vou seguir uma ideia divertida que me veio à cabeça.

- Ó, Lorde Tys, senhor dos vulcões, deus de tudo que explode – ri nesta parte – patrono dos fogos de artifício, concede-me o poder de papocar tudo o que quero! – orei enquanto gargalhava e corria.

- Meu poder é seu, pode usá-lo. – respondi.

Sinto o poder me preencher como vapor novamente. De alguma maneira, sei que basta eu apontar a mão e estralar os dedos para meu poder nesta nova forma se manifestar.

- Zhong! Sabe dizer se tem mais corredores no andar de baixo? – pergunto sem parar no canto.

- Vou ver! – o deus doméstico atravessou o chão e voltou dois segundos depois. – Estamos sobre outro corredor!

- Então é aqui que descemos! – aponto para um pedaço do chão a cinco metros de onde estou.

Primeiro estralo os dedos com um “plift”, depois vejo o piso se despedaçar, voando para todos os lados e ouço um “bum”!

- Zheng! O que pensa que–

- Descendo! – salto para dentro da nuvem de poeira, caindo uns três metros abaixo. – Uau, esse poder é muito divertido!

- Sinceramente, que infantilidade... – reclamou meu ancestral quando me alcançou novamente.

- Zhong, dá para – lembro-me que não estou exatamente honrando a memória de meu guardião, por isso refaço o pedido – Poderia, por favor, me ajudar e olha quantos andares ainda dá para descer?

- Um minuto – mas nem desse tempo ele precisou; logo estava de volta.

- É possível descer mais três andares dessa maneira. Depois não sei: pode ser que depois desça indo em alguma direção, mas não diretamente para baixo.

- Obrigado. – preparei o poder mais uma vez. – Tape os ouvidos!

- Eu não preciso–

Cabrum! Mais um buraco no chão. Cabrum! E outro. Cabrum! O último.

Este andar, sem dúvida, é o mais perturbador que já vi até agora. Não há portas; seguindo em um sentido, vejo o que parecem ser escadas distantes, dando para o andar acima; seguindo o outro sentido, não vejo o fim, só percebo que o chão é ligeiramente inclinado, como uma rampa descendo; as lâmpadas são muito mais espaçadas entre si do que nos outros andares; e a largura do corredor é suficiente para passar um carro.

Para poupar energia, e como parece que não tem ninguém atrás de mim neste momento, vou andando em meu ritmo em minha forma humana comum. Devaneando, lembro que os deuses, até mesmo os domésticos, conseguem se teletransportar no plano sutil.

- Você não pode teletransportar para ver o que tem mais a frente?

- Não.

- Mas... Ah. – só então lembrei que essa era a grande ferida do meu ancestral: ele nunca conseguiu dominar todas as habilidades que um deus doméstico consegue aprender. – Desculpa.

O silêncio voltou a dominar, sendo quebrado apenas por meus passos.

...

Seriamente, já estou andando há cinco minutos! Cadê a saída?!

- Eu não aguento mais esse chão de concreto!

- Escutaste? – Zhong me perguntou, virando o ouvido na direção em que estamos indo.

- O quê? – tento apurar a audição, mas não percebo nada de diferente.

- O eco. Está diminuindo.

É verdade, o eco está de fato menos intenso, como se o corredor não se estendesse muito mais afrente.

- Finalmente!

Um grande portão verde está a minha frente. Bem baixo, mas ainda audível, consigo notar o som de algum tipo de bomba de água ou de ar vindo de dentro do que quer que esteja por detrás do portão, que ocupa todo o final do corredor.

Empurro-o para dentro e revelo um grande galpão. Uma figura faz me sangue ferver assim que ponho os olhos naquele jaleco amarelado. De alguma maneira, sei quem é.

Ele é o doutor Kuznetsov... Responsável por todos os eventos sobrenaturais que presenciei... E também...

Meu criador.


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Notas finais do capítulo

Desculpem pelo final meio aberto; vou tentar compensar com um capítulo X "bem bom"!



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