Mitogênese escrita por Braga Primeiro


Capítulo 4
Capítulo IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/409447/chapter/4

Aquele senhor apenas nos deixou com um novo problema: como achar Ganesha! Andei mais para o sul por dois dias e agora estou prestes a desmaiar de fome: faz sete dias que não como.

            - Zhong... foi bom ser seu descendente... Até a outra vida – arenguei.

            - Que outra vida o quê?! Nem brinque com isso! Não quero desaparecer também!

            - E que outra escolha tenho? Roubar não é uma opção.

            - Não mesmo!!!

            - Então o jeito é sentar aqui – sentei-me – e esperar a morte de olhos fechados.

            Ele continuou a falar mais um monte de besteiras, mas não escutei nada; minha mente não está mais fixa no mundo. Desde que nasci humano, eu nunca mais fui ao mundo ainda mais sutil; não por falta de vontade, mas porque o corpo não me permitia. Sentado, com os olhos fechados, debaixo desta árvore, minha mente, e não o meu corpo todo como antigamente, está flutuando... Como se subisse muito rapidamente sem sair do lugar. É estranho estar de volta ao mundo celestial sem um corpo, sendo apenas uma esfera brilhante, mas fazer o quê, até poucos minutos atrás eu nem sabia que podia fazer isso.

            Como estou livre de um corpo e ainda por cima nesta dimensão, posso atravessar milhares de quilômetros com alguns “passos” ou ainda fazer o que é mais adequado ao que procuro: fazer uma caminhada guiada. Isso serve para você chegar a qualquer objetivo que não esteja escondido, ou se escondendo, mesmo sem saber como. Tudo o que preciso fazer é seguir a estrada de tijolos amarelos, é assim que a enxergo, sem nunca sair dela em hipótese alguma.

            Por muitos locais bonitos estou passando, inclusive um em que vários demônios súcubos estavam se banhando; uma visão que esquentou minhas orelhas. Um esquadrão de anjos! Essa não, eles vão me ma... Ah, é verdade, a geografia celeste não é como a terrena, por isso não preciso me preocupar.

            Opa! Cheguei ao final da estrada, mas o que vejo é um ser com cabeça de elefante, corpo de gente e ao lado de um rato gigante... Esse é o tal Ganesha?

            - Com licença, senhor... Por um acaso você seria Ganesha? – “falei”.

            - Logicamente que sim, afinal, estou ao final de sua caminhada guiada e deduz-se por ela que estás atrás de mim. – o grande ser respondeu em tom pedante.

            - Ótimo! Perdoe-me a indelicadeza, mas o senhor é o mais velho deus deste mundo?

            - Os mitos dizem que não, mas a lógica baseada nas evidências e em meu próprio testemunho diz que sim, sou o deus mais antigo ainda vivo.

            - Então, senhor Ganesha –

            - Espere um momento. – pediu – Eu deduzia que tu eras um deus, mas as evidências apontam o contrário... Cor dourada divina. Formato humano. Zumbido desconhecido. Poder de deus mítico. Logicamente, não és um deus nem um humano nem extraterrestre... – em seguida fez um som de elefante – Faz anos que não tenho de raciocinar tanto! Que prazer.

            - Senhor, é que –

            - Silêncio! – uma enorme aura de poder me pressionou – Não ouse interromper minha diversão!

            - Tuuuudo bem...

            - Ypipipipipipipipipipipipipipipipi – parece que esse é o som que ele faz enquanto pensa – pipipipipipuuuuuuuuAH! É isto! Mas então... Ó! A última vez que vi um casos desses foi com ele... Deveras interessante!

            - Com licença...

            - Considerando quanto tempo se passou... O nível de conhecimento daquelas pessoas... A situação do mundo...

            - Senhor, posso perguntar –

            - Skanda vai querer saber disso...

            - SRI GANESHA! – minha paciência acabou! – Por favor, responda uma pergunta minha!

            Sem querer, liberei uma aura tão opressiva quando a que ele liberara antes. Além disso minha forma mudou da esfera de luz para minha aparência divina. Os olhos de elefante me encararam como se ponderando se aquilo era ou não uma ameaça. No final, fui perdoado.

            - Fale, Tyscvaisha.

            Como ele sabe meu nome real? Bem, não foi para isso que vim até aqui.

            - O senhor sabe como um deus pode ter ficado preso no corpo vazio de um humano como eu fiquei?

            - Sim.

            Esperei dez segundos, mas ele não continuou a “falar”.

            - Senhor...

            - Pediste que eu respondesse a uma pergunta, e a uma pergunta respondi. Agora podes ir. – o safado está com um sorriso que me deixa nervoso.

            - Vou embora. – mas não me deixarei ser derrotado assim – Mas é você que vai perder a chance de me perguntar algo que você realmente quer saber... Adeus!

            - Não há nada que eu já não saiba ou não possa deduzir!

            - Então me diga: o que é que eu sei que você não sabe?

            Humph! Nesse pouco tempo em que conversei com Ganesha, percebi que tipo de deus ele é: orgulhoso como muitos outros, mas orgulhoso da capacidade intelectual especificamente. Porém, não há deuses oniscientes, logo ele não pode saber o que se passa em minha mente igualmente divina!

            - Olhando para tua expressão facial... Avaliando teu cheiro... E, e... – ele estava claramente enrolando.

            - Então, vai me conceder mais perguntas? – agora eu sorria acidamente.

            - Espere! Vou descobrir... Os fatos estão aí, só preciso pensar!

            - Não tenho todo o tempo do mundo.

            - Certo! – o deus assoviou raivosamente com a tromba – Diga-me, o que eu não sei, criança.

            - Só se me prometer por sua existência que me concederá quantas perguntas eu quiser.

            - Três perguntas.

            - Certo.

            - Aceito. Pergunte.

            - Quais são as minhas limitações e vantagens nesta minha situação atual?

            - Tuas limitações são as típicas humanas somadas a tua não possibilidade de usar plenamente os poderes inerentes a ti. Tua principal vantagem é que podes usar a liberdade humana e o poder deles de criar deuses para criar a própria história, ser o deus que desejar.

            - Segunda questão: minha situação é algo natural?

            - Não.

            - Quer dizer então que foi causada pelas pessoas?!

            - Sim.

            - Quem?! – que tipo de pessoas poderiam ter de alguma maneira relação com minha situação?!

            - As três perguntas já se foram. Agora me diga o que sabes e vá embora.

            - Mas...!

            - Diga! – enquanto falávamos, ele montara em seu rato e agora exibe todo o seu poder para me intimidar; o que, devo admitir, está funcionando.

            - Certo... O que eu sei... É que você não sabe tudo!

            E dito isso me apressei em voltar para meu corpo, pois não sei o quão irracional aquele deus da racionalidade pode se tornar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mitogênese" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.