Você é uma daquelas pessoas que conseguia tudo quando se esforçava. Seja com seus sorrisos frouxos ou olhares mudos, talento nato ou puro esforço. Você era uma daquelas pessoas que pareciam não ser de nada por ser de tudo, tanto, mundo.

Você adora a matemática e toda a sua lógica fácil, todo o trabalho pronto, toda vírgula colada. Você não ligava, mas seu dom estava na filosofia, em todas as perguntas, toda a ironia, toda a retórica. Você provavelmente era só tão boa em jogar mil interrogações para cima, quebrá-las, entortá-las. Tudo, menos respondê-las! Ou se respondia, era com qualquer coisa que era cria apenas de sua vontade. E por isso, você era engraçada.

Você era meio da literatura também. Cheia de tendências, quase romântica, surreal. Você, para mim, era como uma assassina do tempo que o encarava com um eterno olhar torto de desprezo. Ou riso. Meio pele intacta pelo passar dos dias, meio voz sempre com o mesmo efeito, meio como se tudo parecesse tão velho para um ser tão divino. Você diria “exagerada...” e eu pediria pra parar com a falsa modéstia. “Pf...”

Você tinha umas dúvidas boas para não dizer idiotas e eu ficava tão feliz por você perguntar a mim em vez do professor. Você não era tímida, mas ficava rosa toda vez que riam após qualquer questão. Você sorria nervosa e passava os dedos pelas orelhas quentes para depois pedir um lápis e desenhar qualquer coisa no meu caderno (“é uma andorinha” “parece um pato deficiente”). Meu estojo hoje é só ar, mesmo que eu nem ligue e apenas deseje que você preencha outro vazio.

Você, no fim, era uma mistura, mistério, miragem. Incógnita.

Ser ou não ser... minha?