A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 58
O sofrimento de Paola




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Enquanto ele falava não pude deixar de pensar em Carlos Daniel "Meu Deus como ele deve estar?” O vi saindo da sala e junto com ele toda a claridade pela luz do lampião que estava em suas mãos e então voltamos à escuridão quando ele deixou por completo aquele local.

— Paulina... Me perdoa? Isso tudo é culpa minha, se acontecer algo com Lizete ou com você nunca vou me perdoar. - ouvi a voz de Paola entre soluços.

— Não diz isso... Você não tem culpa de nada. – falei sentindo um frio na espinha imaginando aonde estaria Lizete.

— Você esta bem? Ele te machucou? – Paola perguntou depois de alguns segundos em silencio.

— Eu estou bem... – respondi sentindo meu rosto latejar, com certeza ficaria com uma grande marca roxa.

Outra vez o silencio predominou, não sei dizer precisamente quanto tempo passou desde que aquele monstro nos deixou sozinhas, Paola estava tão quieta que parecia não estar ali. Eu tentava pensar em uma forma de escapar com Lizete e Paola dali, tudo havia acontecido tão depressa que parecia um terrível um pesadelo.

O dia estava amanhecendo quando ouvi passos se aproximando da cabana, houve um curto silencio e então a porta rangeu quando foi aberta... Meu coração acelerou e as lagrimas voltaram com força total ao meu rosto. Nos braços daquele bandido estava Lizete, ela parecia estar dormindo e nesse momento meus pensamentos me levaram por um caminho tenebroso "Será que ele fez algo a ela? Meu Deus nunca irei me perdoar se aquele monstro tiver feito algum mal a minha princesinha..."

— O que você fez com ela? – Perguntei já com a voz embargada, o desespero dominando cada parte de meu corpo.

Paola que estava de cabeça baixa levantou seu olhar até eles.

— Lizete! – ela disse num sussurro, e no seu olhar pela primeira vez pude perceber o desespero que havia em seu coração, ela estava destruída.

— Deixa ela livre, por favor... Você tem a mim, já pode executar a sua vingança - pedi em forma de suplica com o peito dilacerado – Não a machuque, faça o que quiser comigo, mas não a machuque...

— Seu monstro, eu te mato se tocar em um fio de cabelo dela! - Paola disse com raiva.

— Vamos parem com esse drama! A menina está só descansando, sabem como as crianças ficam impacientes nessas situações - disse ele se aproximando com Lizete em seus braços.

— Deixe-me vê-la de perto, por favor. - pedi em meio a muita lagrimas.

— Não, não é o momento pra sentimentalismos. – ele disse levando Lizete para outro cômodo, onde o vi coloca-la em um velho colchão no chão.

— Lizete... – disse baixinho, como doía ver minha princesinha ali.

— Vamos ao que interessa... - disse ele voltando à sala - falar com o papai da garotinha. Imagino que o Bracho deve estar desesperado, não?

Ao ouvir suas palavras meu coração falhou uma batida, e ao vê-lo discando os números naquele celular comecei a chorar descontroladamente.

Poucos segundos após discar os números Carlos Daniel atendeu a chamada, o que o fez executar seu plano de "sequestro”.

— Senhor Bracho? Tenho sua filha e sua esposa em minhas mãos, qualquer ato impensado seu, terei o maior prazer em mata-las. - ele foi direto ao assunto enquanto me olhava sorrindo ironicamente, não aguentava mais aquele pesadelo tentava me soltar, mas era em vão, em meus pensamentos se passavam um turbilhão de coisas, “Como Carlos Daniel estaria reagindo a essa ligação? Como ele devia estar se sentindo? E o meu bebê? Meu Deus cuida do Otávio...” fui desperta dos meus devaneios com ele vindo em minha direção me oferecendo o celular para que respondesse a Carlos Daniel.

— Toma responde o seu maridinho - disse e gargalhou debochado, ele encostou o celular no meu ouvido e pude ouvir a voz de Carlos Daniel.

 - Meu amor? Paulina minha vida, me perdoa, eu fui um imbecil, não deveria ter falado aquelas coisas pra você... – ele falava desesperado.

— Car...los Daniel! – tentei falar, mas meu choro se tornou mais compulsivo, eu temia em nunca mais o ver, em nunca mais estar com ele e minha família.

— Meu amor eu vou tirar vocês daí, vai ficar tudo bem minha vida... – ele dizia, mas o celular foi tirado brutalmente de mim.

— Acho que já tem provas de que falo a verdade senhor Bracho. – ele disse calmamente – Se não seguir exatamente o que eu falar, não pensarei duas vezes antes de matar todas elas, o que seria uma pena já que sua esposa é tão... Encantadora. – ele sorriu alto - Quero apenas 2 milhões de dólares. E se eu fosse você providenciaria o mais rápido possível... Volto a te ligar.

Ao dizer isso ele desligou, Paola me olhava enquanto lutava inutilmente para se soltar, ele se aproximou de mim e segurando meu braço com uma força bruta, me fez ficar de pé.

— Eu poderia pedir um resgate maior, já que seu maridinho parece ser louco em você e na filha, mas não vou me arriscar... Com certeza o senhor Bracho já comunicou a policia.

— Por favor... Deixe a Lizete ir, ela não tem culpa de nada, é só uma criança... – pedi chorando.

— Faça o que quiser comigo, mas deixe minha filha livre... Por favor. – Paola também chorava.

— Eu tenho planos pra ela. - ele me soltou de volta ao colchão.

— Por favor... – solucei – você tem a mim e a Paola... Não faça nada com a Lizete... Por favor, por favor...

— Não se preocupe querida. - ele sorriu e me olhou calmamente – Meu alvo principal nessa historia é outro.

Ele caminhou ate o quarto onde Lizete estava e a pegou novamente, com certeza ele havia a dopado, não havia explicação para ela não acordar.

— O que vai fazer com ela? – Paola perguntou o olhando cheia de fúria.

— Tenho que planejar algumas coisas, e não vou deixar meu maior tesouro aqui. E é melhor não tentarem nada, porque não vou ter piedade nenhuma dessa doce menina.

— Não a machuque. - implorei mais uma vez entre lagrimas.

— Nós só vamos dar uma voltinha... – ele sorriu e saiu com Lizete nos braços, ouvi ele trancando a porta e logo depois o som do motor do carro.

Ficamos outra vez sozinhas, me encolhi no velho colchão, sentia meu corpo dolorido, meu rosto, meus pulsos, mas a dor maior vinha de meu coração, pedi baixinho aos céus para proteger Lizete, e pedi também por meu bebê, como eu sentia falta de meu filhinho, meu pequeno príncipe.

— Paulina... – a voz de Paola soou baixa e sem vida – Acha que vamos conseguir sair daqui?

— Eu não sei... – respondi no mesmo tom.

— Eu... Eu sinto muito Paulina... Não queria que estivesse aqui. – ela disse e eu a olhei, sua cabeça estava baixa e ela olhava para o chão.

— Você não tem culpa. – disse a olhando, ela levantou o olhar e me fitou.

— Ele me obrigou a ligar pra você Paulina, - falou chorando – disse que machucaria Lizete se não o obedecesse.

— Tudo bem Paola, - a olhava fixamente – eu sabia que você não seria capaz de algo assim. Eu acredito em você Paola.

— Apesar de todo mal que te fiz, você ainda acreditou em mim. – ela disse engolindo em seco.

— Você é minha irmã.

— Sim, somos irmãs. – seus lábios se curvaram num pequeno sorriso, que logo se desfez - Lina?...- falou com a voz embargada.

— Oi...- respondi a olhando ela levantou seu olhar e mirou-me nos olhos.

— Acha que algum dia você vai poder me perdoar por tudo que aconteceu desde quando você voltou? - a olhei surpresa por suas palavras, Paola tinha um olhar de tristeza que nunca havia visto antes.

— Não tenho do que te perdoar... Eu te entendo, deve ter sido muito difícil para você... – meus olhos estavam fixos nos dela e eu via o quanto ela estava sofrendo.

— Foi sim. – ela baixou novamente o olhar – Sabe Paulina, eu não me recordo muito de quando éramos uma família completa, eu, você, a mamãe e o papai. Éramos muito pequenas. - ela fechou os olhos e com um suspiro continuou – Mas me lembro de brincarmos, de escondermos da mamãe, do papai correndo atrás da gente... Mas aí você desapareceu, e não tenho mais nenhuma lembrança de felicidade, só me lembro do papai se afogando na bebida, da mamãe chorando por horas e horas... Eu me sentia tão sozinha, tão triste, você não estava mais comigo, - uma lagrima rolou de sua face – Quando o papai morreu... Foi tão difícil... Primeiro foi você, depois ele... Parecia que tudo estava sendo tirado de mim, a mamãe não era mais feliz. Mas ela foi forte, foi forte por mim e por você, porque ela nunca perdeu a esperança de te encontrar... – ela engoliu em seco e outra lagrima rolou por sua face - Ela tentou fazer com que eu levasse uma vida melhor, uma vida mais feliz... Mas eu já havia construído uma barreira em volta de mim, não demonstrava mais nenhum sentimento além de rancor, não conseguia nem abraçar mais a mamãe... Tinha medo dela também me deixar. – Paola agora chorava, um nó se formou em minha em minha garganta – Eu te culpava por tudo Paulina, te culpava pela destruição de nossa família.

— Paola... – suspirei sentindo as lagrimas me escaparem, ela apenas sorriu tristemente e continuou.

— Me tornei uma adolescente rebelde, e por pouco não acabei me envolvendo com as drogas. – disse levantando o rosto para me olhar.

— Paola... Eu sinto muito, não queria que nada disso tivesse acontecido, se eu não tivesse desaparecido... – dizia, mas ela me interrompeu.

— Voce não teve culpa Paulina, ninguém teve culpa de nada.

A olhei por um momento sem saber o que falar, ela fechou novamente os olhos e voltou a olhar para o chão.

— Quando descobri que estava gravida fiquei desesperada, eu era jovem, nunca havia pensado em ser mãe, em ter um filho, e a primeira coisa que me passou pela cabeça foi em tira-lo... – ela ficou em silencio alguns segundos – Mas sabia que não podia fazer isso, nem comigo, nem com Carlos Daniel e muito menos com aquele bebezinho que não tinha culpa de nada. Mamãe e Carlos Daniel me apoiaram, eu tentava não pensar muito naquele bebê, mas era impossível, ainda mais quando descobri que seria uma menina... Não queria me apegar a ela, não queria amar alguém assim novamente, mas a cada chute que ela dava, cada sensação que eu sentia dela em meu ventre fazia com que a amasse, mesmo negando eu amava aquele bebê mais do que qualquer coisa.

Voltei a olha-la, ela ainda chorava enquanto me contava.

— Quando Lizete nasceu senti toda aquela barreira que havia construído em minha volta começar a derreter. Ela despertou tantos sentimentos que eu mantive preso dentro de mim que senti medo. Neguei-me a amamenta-la, não queria tornar mais forte meu vinculo com ela, não queria me apegar aquele bebezinho, e então a deixei com Carlos Daniel, sabia que ela seria bem cuidada e muito amada... Mamãe me criticou, disse que não era certo, que eu não devia, mas eu estava com tanto medo Paulina, e então fui pra longe dela, comecei a viajar pelo mundo pensando que poderia esquecer minha filhinha... Mamãe me contava tudo sobre ela, mesmo quando eu dizia que não queria saber e fingia que não estava interessada, porque na verdade escutava atenta a tudo o que ela me falava.. Não havia um dia que não me lembrasse da Lizete... – ela me olhou, sua face molhada pelas lagrimas – Quando você apareceu... Mamãe me ligou tão contente, eu não acreditei, pensei que ela estava ficando louca... Mas aí tive a certeza de que era você... Me senti assustada, ansiosa... Já fazia tanto tempo de seu desaparecimento Paulina... Quando nos reencontramos, foi tão estranho, mamãe estava feliz, todos estavam felizes... Te odiei, odiei porque depois tanto tempo voce voltou e trouxe a felicidade de volta, ate mesmo minha filha estava encantada com voce...

Ela abaixou seu olhar novamente, sentia vontade de dizer que estava tudo bem, que eu a amava, mas apenas fiquei em silencio esperando que ela continuasse.

— Não pude deixar de sentir ciúmes quando retornei e vi que todos estavam felizes com a sua volta. E quando vi que a Lizete te chamava de mamãe essa raiva cresceu ainda mais dentro de mim, você havia voltado e trago a alegria de volta a mamãe, trouxe paz a ela... Se tornou a mãe que nunca fui para minha filha. Perdoa-me Paulina ? Perdoa-me por ter sentido todas essas coisas? – Paola falava entre soluços - Você é a única pessoa que tenho agora, estou tão arrependida de tudo, se for preciso dar a minha vida para que você saia daqui com Lizete eu darei...- a olhei temerosa pelas suas ultimas palavras, e o medo tomou conta de mim, ela era minha irmã e apesar de tudo a amava muito, não podia nem pensar em algo assim... Então lhe falei também já deixando as lagrimas rolarem pelo meu rosto.

— Ei, não fala assim... - chamei sua atenção e ela me olhou com o mesmo olhar triste de antes, continue a falar. - Estamos juntas nessa e vamos sair daqui juntas.

— Você é tão boa Paulina, me sinto tão arrependida de não ter tido uma boa relação com você desde quando voltou...

— Quando sairmos daqui vamos fazer diferente Paola. - a olhei com esperança enquanto um sorriso brotava em meus lábios - Temos bastante tempo para nos acertar.

— Acho que não vai ser fácil sair daqui Paulina. - seu olhar triste se encontrou com o meu – Esse homem é perigoso, ele está com Lizete e sabe que não vamos tentar nada enquanto estiver com ela.

— Eu sei. - disse engolindo seco sabendo que era verdade o que ela me falara.

— Paulina... - ela chamou minha atenção depois de um tempo - Eu senti sua falta... Senti falta da minha irmã, da minha amiga.

— Paola, eu gosto de ter uma irmã. - disse com sinceridade.

Olhamo-nos por um momento um pouco sem jeito, ainda tínhamos muito o que conversar, tínhamos que nos conhecer melhor e voltar a ser o que fomos um dia. Agora tínhamos mais um motivo para sairmos dali.

As horas passavam arrastadas naquele cativeiro, já fazia muito tempo desde que aquele canalha, cujo nome nem sabíamos, havia saído e estávamos angustiadas, eu pedia a Deus para que protegesse Lizete, o medo de que algo de mal lhe passasse dominava minha mente. Estavamos fracas, já fazia muito tempo que não comíamos nem bebíamos nada, mas nem eu nem Paola conseguíamos pensar em outra coisa que não fosse Lizete, o entardecer já se aproximava, e meu coração batia angustiado sem saber o que poderia estar lhe acontecendo.


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