A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 35
Duras Pedras




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— Te amo tanto Carlos Daniel, - disse afastando-me o suficiente para olhá-lo nos olhos - não consigo te tirar de meu peito, por mais que tente, não consigo.

— Então não tente meu amor. - seus olhos úmidos se focaram nos meus - Por favor Paulina, me perdoe, eu não suporto mais ficar longe de você, não suporto.

Seus olhos continuavam fixos nos meus, apreensivos, esperançosos, meu coração queria sair de encontro a ele, queria estar junto dele.

Uma de suas mãos subiu ate meu rosto, fazendo o contorno de minha face, deixando minha pele completamente arrepiada onde tocou. Seu rosto se aproximou lentamente do meu, meus olhos desviaram dos seus apenas um segundo para mirar em seus lábios e logo se chocaram com o olhar dele novamente, senti meu coração saltitar dentro de mim, ansiando pelo seu beijo. Meus olhos se fecharam quando senti sua respiração tocar minha pele, minha boca secou instantaneamente, e meu coração falhou uma batida. Ele iria me beijar.

— Senhorita, – a voz do doutor me fez sair rapidamente dos braços de Carlos Daniel – me desculpe atrapalhar... Mas é que...

— Aconteceu alguma coisa doutor? – perguntei preocupada, estreitando meu mundo novamente a Paula – Minha mãe esta bem? Ela esta bem?

— Bom, ela quer conversar com você, - ele suspirou profundamente – apesar de achar melhor descansar... mas, ela insiste em falar com você.

— Eu vou vê-la doutor. – disse sentindo algo estranho dentro de mim, medo.

— Eu vou te esperar aqui Paulina. – Carlos Daniel disse ao meu lado e buscando minhas mãos, ele me olhava com carinho, ternura, e tudo que consegui fazer foi abraçá-lo.

Quando entrei no quarto Paula estava com os olhos fechados, um aparelho ajudava na sua respiração, que notei ainda mais lenta e pesada, o simples ato de respirar parecia algo quase impossível para ela.

Como se sentisse minha presença, meu nome saiu de seus lábios no mesmo instante em que sua mão se levantou me chamando para perto de si, fui em direção a cama e me sentei ao seu lado.

— Mamãe, - disse segurando sua mão - como se sente?

— Paulina, - ela abriu os olhos lentamente, como se suas pálpebras pesassem cem quilos - creio que meu tempo esta chegando.

— Não fale assim mamãe, - disse engolindo o choro - você vai ficar bem.

— Minha filha, - sua voz saiu fraca - tenho que te contar tudo, sobre seu pai, sobre Paola...

— Não precisa me contar nada mamãe, - segurei firme em sua mão - agora a senhora tem que descansar.

— Não minha filha, eu preciso te contar, - seus olhos se fecharam com força se abrindo em seguida - me prometa que vai me escutar ate o fim, que não vai me interromper, aconteça o que acontecer, vai me ouvir?

— Mamãe, eu, eu não posso... - disse sentindo um nó em minha garganta e meus olhos arderem.

— Por favor Paulina, prometa, não tenho muito tempo.

— Eu prometo mamãe. - disse e uma lagrima deslizou por meu rosto, não podia negar muita coisa a ela.

— Você desapareceu enquanto estávamos acampados, - seus olhos se fecharam como se voltasse no tempo - todos os anos acampávamos, você e seu pai eram os que mais gostavam de acampar, - um sorriso cansado brotou em seu rosto - a área de camping era imensa, havia vários chalés, e varias famílias estavam acampadas naquela época do ano. Ficamos três dias ali, dias maravilhosos, nos divertimos como nunca. - ela fez uma pequena pausa e respirou profundamente - Na manha do ultimo dia que passaríamos no acampamento eu e Paola fomos ate a cidade para comprar algumas coisas, você e seu pai iriam pescar, - outra pausa enquanto sua voz estremecia - quando voltamos da cidade encontramos todos do acampamento agitados, e quando notei o que havia acontecido meu mundo desmoronou completamente, você havia desaparecido, seu pai estava desesperado andando de um lado ao outro.

— Mamãe, por favor, não continue, descanse... - pedi quando notei que sua respiração ficou agitada e seus batimentos cardíacos aumentaram no monitor.

Ela abriu os olhos lentamente e me olhou profundamente, pude perceber o sofrimento neles, a dor, a angustia de relembrar tudo aquilo.

— Eu preciso te contar minha filha, - ela disse fazendo uma leve pressão em minha mão - não tenho muito tempo.

— Não fale assim mamãe, você vai ficar bem, tem que ficar... - disse sentindo as lagrimas molharem meu rosto. Ela balançou a cabeça em sinal de negação, como se não se importasse com o fim que se aproximava, e me olhando continuou.

— Seu pai me contou que quando vocês estavam saindo para pescar... ele se lembrou de que não havia pegado sua mochila, - cada nova palavra saia com mais dificuldade do que a outra, ela se esforçava a falar, e eu me sentia completamente angustiada em vê-la assim - ele pediu que você ficasse esperando-o, o chalé em que estávamos não ficava nem a 300 metros de distancia, quando ele voltou não te encontrou e saiu em sua busca, te procurou em todos os lugares, e logo todos do acampamento ajudaram na sua procura, comunicaram com a policia e durante 26 dias te procuraram, vasculharam toda a área do camping, - seus olhos se encheram de lagrimas e sua voz começou a falhar - a única pista que encontraram foi um boneca de pano que você nunca largava, ela tinha manchas de sangue que constataram que era seu, os policias encerraram o caso, mas eu e seu pai nunca desistimos de te encontrar, - naquele momento grossas lagrimas molhavam seu rosto, ela não desviava nem por um segundo os olhos dos meus, e suas mãos seguravam firmemente as minhas - a cada nova pista, a cada ligação que recebíamos dizendo que sabia onde você estava uma nova esperança surgia. Paola chorava sentindo sua falta, e alguns meses depois de seu desaparecimento, seu pai começou a beber, a se culpar pelo o que aconteceu, Paola via a tudo, e a cada dia que passava seu pai afundava mais na bebida. - Seus olhos se fecharam e a expressão de seu rosto mudou, ela sofria - Dois anos depois, ele havia saído para beber, como fazia todas as noites, lembro que Paola o abraçou e pediu chorando para que ele ficasse, mas ele disse que tinha que se livrar daquela culpa, que não suportava mais viver sentindo aquilo, e a única maneira que conseguia amenizar tudo que sofria era na bebida, - outra vez ela fez uma pausa, buscando forças para continuar - naquela noite ele não voltou, ele não voltaria nunca mais... Quando voltava pra casa sofreu um acidente de carro e não resistiu, - as lagrimas desciam por seu rosto - Paola sofreu muito, ela era apenas uma criança e já havia sofrido tanto, primeiro você, e depois o pai. No começo eu não percebi, mas com o passar do tempo fui notando que Paola te culpava por tudo o que havia acontecido, nossa família desmoronou com seu desaparecimento, e confesso que não dei a atenção que Paola precisava, não notei que ela alimentava esse ódio que sente de você.

— Mamãe... - disse entre soluços, sentindo um nó em minha garganta.

— Não tenha raiva dela minha filha, - ela pediu voltando a me olhar - não a odeie... não a despreze...

— Eu não a odeio mamãe. - disse entrelaçando minhas mãos nas suas.

— Tenho tanto orgulho de você Paulina, - ela disse com um sorriso cansado, porem, cheio de admiração no rosto - me orgulho em ver que se tornou em uma mulher boa, digna, com o coração puro... queria poder ter conhecido seus pais adotivos... para agradecer por ter cuidado tão bem de você.

Ela ainda sorria, e embora notasse que sofria com dores, percebi também que estava feliz, que estava em paz.

— Prometo que nunca vou odiar Paola, - disse enquanto as lagrimas escorriam sem cessar - vocês duas são tudo o que tenho.

— Você tem também a Carlos Daniel, - sua voz se enfraquecia cada vez mais - tem a Lizete que te ama e te vê como uma mãe...

— Não mamãe, nunca vou ter Carlos Daniel, - meu coração sangrou com o que eu dizia - não posso estar com ele. E quanto a Lizete... Eu não sou a mãe dela, não é justo tirar esse direito de Paola, ela me odiaria ainda mais se fizesse isso.

— Paulina, - sua voz soou como uma suplica - não renuncie seu amor, Paola não merece isso, ela nunca amou Carlos Daniel, e muito menos foi mãe de Lizete, não deixe de ser feliz por ela.

— Mamãe, não posso trair Paola dessa maneira.

— Você não esta traindo ninguém minha filha, Paola e Carlos Daniel nunca chegaram a ter um relacionamento.

— Mas e Lizete? - Lizete existia, e em minha mente ela era o fruto de um amor entre Carlos Daniel e Paola.

— Paola nunca foi uma moça inocente... ela sabia perfeitamente o que fazia, - ao começar contar notei que o caráter de Paola a decepcionava - sempre deixou os homens em seus pés, desde muito nova exalava sensualidade, isso nunca me agradou, pelo contrario, me entristecia em ver Paola assim. - ela tinha dificuldade ao falar, mas mesmo insistindo para que parasse e descanse, continuou, e a cada palavra sua voz enfraquecia mais - Ela sempre quis ter Carlos Daniel, não porque o amava... mas era quase uma obsessão, ela sempre teve os homens que queria, mas Carlos Daniel não dava muito importância para suas insinuações. Uma noite ela saiu como sempre fazia, e no dia seguinte me assustei ao ver Carlos Daniel descendo as escadas de nossa casa, ele tentou se justificar dizendo que haviam bebido demais e achou melhor não dirigir e passar a noite ali, mas eu sabia que Paola não perderia a oportunidade de estar com ele... algumas semanas depois Paola descobriu que estava gravida, Carlos Daniel me surpreendeu quando assumiu a paternidade da criança, eu tinha minhas duvidas quanto ao pai, Paola tinha vários homens, mas Carlos Daniel parecia sentir que o filho era seu. Durante a gravidez Paola se mostrou ainda mais irresponsável, por diversas vezes Carlos Daniel tinha que busca-la em festas, boates... e em uma dessas suas atitudes impensadas ela quase perdeu o bebe, Carlos Daniel preocupado com a filha, a levou para que ela morasse na mansão Bracho, lá Paola seria supervisionada por ele, e ela permaneceu com eles ate o nascimento de Lizete, - ela me olhou e sorriu - nunca vi um pai tão feliz quanto Carlos Daniel. Pouco tempo depois do nascimento de Lizete Paola saiu pelo mundo, dando inicio a primeira de suas inúmeras viagens. Não achei justo tirar Lizete de Carlos Daniel, e desde então ela passou a ser criada pelos Bracho. Carlos Daniel nunca escondeu de Lizete que Paola era sua mãe, mas como Paola estava sempre ausente, Lizete criou uma imagem de Paola como tia, mãe é algo muito forte, e Paola nunca foi mãe, Lizete nunca teve uma mãe... - seus olhos se fixaram nos meus - ate você chegar.

Minha cabeça girava, era um amontoado de informações entrando em minha mente, meu desaparecimento, a morte trágica de meu pai, o rancor de Paola por mim, e ainda a historia entre Paola e Carlos Daniel.

Paula gemeu baixinho me fazendo deixar toda aquela conversa em segundo plano, outra vez um gemido saiu de seus lábios, ela sentia dor, e eu me desesperei com o que poderia acontecer. O som de seus batimentos cardíacos foram diminuindo naquele aparelho, e lentamente a vi desfalecer diante meus olhos.

Outra vez fui arrastada para fora do quarto, outra vez Carlos Daniel me envolvia em seus braços, e outra vez chorei abraçada a ele.

— Como ela esta doutor? - perguntei ao medico assim que ele entrou na sala de espera, seu rosto serio e apreensivo só me fez ficar ainda mais angustiada, Carlos Daniel segurou em meus ombros me fazendo sentir a força que me transmitia.

— Ela piorou, - ele disse direto - lamento em informar... mas creio que ela não vai sobreviver mais que algumas horas.

Senti quando Carlos Daniel me abraçou com força, mas minha mente não tinha espaço para ele, ela estava unicamente em Paula, minha mãe.

Não passou mais que uma hora quando Paola chegou ao hospital, eu havia pedido a Carlos Daniel para avisa-la, ela não dirigiu a palavra a mim nenhum minuto sequer, sofria em silencio em seu próprio mundo. Vovó Piedade, Rodrigo e Patrícia também estavam no hospital, e enquanto eu recebia conforto e atenção de todos, Paola afastava quem tentava se aproximar.

Eu não tinha noção das horas que passavam, mas Carlos Daniel esteve o tempo todo ao meu lado, sempre preocupado.

A entrada do medico na sala de espera fez meu coração falhar, eu sabia que uma hora ou outra ele viria com a pior noticia, mas eu não queria que esse momento chegasse nunca.

— Ela quer falar com as filhas. - ele disse olhando diretamente para mim e logo após para Paola.

Paola saiu em disparada em direção a nossa mãe, eu segui o medico devagar, mas antes de ir Carlos Daniel me olhou transmitindo força e coragem.

Ao entrar no quarto percebi que haviam ainda mais aparelhos ligados a ela. Paola estava em pé ao lado esquerdo da cama, seus olhos continham lagrimas, dor, remorso. Paula a observava, sua mão estava entrelaçada a mão de Paola. Segui devagar ate o lado direito da cama, Paola me olhou por um breve minuto, e minha mãe levantou sua mão para pegar a minha, entrelaçando-a como fez com Paola, eu me ajoelhei ao seu lado e me dediquei a olha-la.

— Mi-nhas filhas... - sua voz era um fio e se arrastou - vo-cês... são... o melhor... que eu... tive...

Paola se ajoelhou ao seu lado e chorou.

— Shiii, - Paula olhou para ela - não cho-re... eu te amo tan-to Paola.

— Me perdoe mamãe, - Paola sussurrou chorando - me perdoe.

— Eu já te perdoei Pa-ola, - um pequeno sorriso se formou em seu rosto pálido e cansado - amo vocês mais que tudo. Só pe-ço... que se tornem... a-mi-gas, que você Paola, ame a sua... irmã.

Naquele momento eu também chorava, Paula olhou por alguns minutos Paola, e depois para mim, aquele sorriso ainda existia em sua face, eu queria lhe dizer tanta coisa, queria falar o quanto a amava, mas sabia que ela sabia. Ela suspirou profundamente, e nos olhou mais uma vez, senti um leve aperto em minha mão e sabia que Paola também sentiu.

— Eu amo vocês minhas filhas. - ela sussurrou baixinho antes de fechar os olhos pela ultima vez.

Naquele momento eu tambem chorava, Paula olhou por alguns minutos Paola, e depois para mim, aquele sorriso ainda existia em sua face, eu queria lhe dizer tanta coisa, queria falar o quanto a amava, mas sabia que ela sabia. Ela suspirou profundamente, e nos olhou mais uma vez, senti um leve aperto em minha mao e sabia que Paola tambem sentiu.

— Eu amo vocês minhas filhas. - ela sussurrou baixinho antes de fechar os olhos pela ultima vez.


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