Alma, Vendo escrita por Darkyasha


Capítulo 1
Alma, vendo


Notas iniciais do capítulo

Antes de lerem eu já vou avisando que não tem quase nada de mutilação ou violÊncia de qualquer tipo...só disse que tinha pq é comentado, mas acho que não é nada relevante



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  Decidi vender minha alma ao Diabo para ser um homem de sucesso. Logo me deparei com um problema prático: como é que se fala com o Diabo? Em todos os exemplos que conhecia, da literatura e do cinema, o Diabo fazia o primeiro contato. O Diabo era o interessado, era dele a proposta para comprar a alma. Como deveria proceder quem tinha uma alma para vender e procurava o comprador?

  De tudo tentei em vão. Desde terreiros de Ubanda e casas de macumba do pai Ambrósio até a Igreja, de onde fui chutado, perseguido por cruzes e frascos de água benta a açoitar minhas costas só em pronunciar o nome do chifrudo. Estava prestes a desistir e me conformar com a mediocridade quando no que achava ser um simples dia – engano meu – a solução pulou na minha frente, estendendo um papel e gritando “Ei!”.

  Era um velho. Negro, de olhos amarelados e buracos no sorriso petulante e de semelhante cor. Fedia a ovo podre por baixo de suas roupas esfarrapadas. Queria me dar um papel azul, parecia um folheto. No automático aceitei o papel e o li: Cigana Odara, ela pode te mostrar o caminho!

  Sem entender, ergui a cabeça para perguntar ao velho, mas ele era só um vulto a correr e sumir na esquina. Atordoado, passava o olhar pelos cantos da rua sem saber o que exatamente procurava, esperando que algo ou alguém pudesse me explicar o que infernos era isso. Foi quando vi, do outro lado da rua, pendurada por arames na fachada de uma casa bem diferente de qualquer outra que já tinha visto, uma placa tosca de madeira pintada de azul e escrito com letras garrafais, exageradamente grande e desordenado: Casa de Madame Odara.

  Mulher baixa e curvada, de pele castigada pelo sol (muito atípico para as senhoras de sua idade), coberta de xales de cor berrante, cafona e por um forte cheiro de incenso, que não saberia dizer com precisão se vinha dela ou do interior da casa, tão brega quanto a dona. Foi o que pensei de madame Odara após esta ter me convidado gentilmente a entrar, o que aceitei sem pensar duas vezes. Não havia espaços para pensamentos e conclusões. Ela nada ofereceu ou disse após isso, se ateve a me guiar para o fundo de sua residência, através de um pequeno corredor que terminava em uma grossa porta de aço negro, entalhada por toda sua superfície com vários símbolos. Ela a abriu e me deu passagem estendendo a mão pequena e gorda, atolada de bijuterias. Era ali.

  O inferno não tem cor. Acredite! Ali era tudo preto e branco, até seus demônios a torturar e devorar as almas amaldiçoadas as quais me juntaria em pouco tempo. O único que fugia a regra era ele, aquele que a tudo ali contemplava impassível. Ele mais do que cor, tinha luz. Finalmente encontrei! Meu comprador.

 

  Sentia os dentes afiados a perfurar e rasgar, junto ao fogo negro queimar meu corpo etéreo e meu sangue rubro a corromper a dualidade de tons. Agora sou apenas mais uma alma a alimentar os bosques do inferno com meu sangue fervente e gritos de agonia. Ele fazia questão de assistir, zombeteiro, mas eu não me importo. Não me arrependo.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Se gostarem, me deixem reviews!!!



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