Ruídos risonhos rompiam ruelas retas recheadas de ratos. Há pouco ainda era dia e a neve não se sentia tão fria contra a pele ou contra os lábios. Robb há pouco ainda era príncipe, herdeiro, irmão mais velho. Agora era só Robb. Robb de gelo, de lobo, de frio. Robb, de Theon.

Theon se lembrava do mar. Lembrava-se do mar quando soltava a mão e nadava por aqueles cachos-ondas vermelhas de sangue, de lembranças, de Robb. Lembranças duras, talvez não tão certas, não salgadas de mar e sim amargas de lágrimas. Quase congelava, e então olhava para aqueles olhos de rio, aquele corpo de verão, aquele meandro tão dele e único e real. Feliz.

Sentia a culpa, doía a culpa, chorava a culpa. À noite a congelava e a deixava presa pela floresta enquanto soltava a si naquele quarto. Quarto de pedra, de cinza, de calor, de Robb e de Theon.

Robb, quando acordava e não o encontrava a distância de uma mão, sentia o fogo lhe subir a cabeça e o gelo lhe invadir o peito. Mesmo após vê-lo pela janela, descia até o represeiro e derramava seus desesperos todos aos Deuses Antigos, mas os Deuses Antigos não eram os Deuses de Theon.

Theon de arco, de carne, de sangue e de Robb, mas também Theon de Mar. Para o Mar e pelo Mar foi chamado. No fim, Theon era só de lágrima.