Prólogo

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Anos atrás...

Um homem alto de pele curtida pelo sol e longos cabelos castanhos e lisos corria através da campina, deixando seu cavalo ferido e seus servos para traz.

“Que não seja tarde, que não seja tarde” – ele pensava enquanto corria com todas as suas forças, com seu pulmão quase arrebentando. Ia subindo o pequeno morro que lhe daria uma visão completa do castelo.

Assim que ele conseguiu ter uma visão ampla do monumento de imponentes pedras negras, seus olhos ficaram marejados: havia dezenas de corpos mutilados manchando a grama verde que rodeava o castelo.

Ele respirou fundo e com o resto de suas forças se pôs a correr em direção a imponente construção.

Passou por corpos de mulheres, homens, algumas crianças e senhores e senhoras já idosos, mas ele não via isso, apenas corria tentando chegar ao seu objetivo.

Finalmente o rapaz adentrou o castelo, e a primeira coisa que percebeu foram os corpos ensanguentados dos guardas.

Pulou sobre eles, tentando ver com a pouca iluminação que entrava pelas pequenas janelas altas o que procurava.

Até que escutou algo.

Escutou um choro.

Um não, dois.

De crianças.

Ele pulou sobre escombros de paredes e estantes derrubadas, encontrando por fim, em uma sala interna, o que procurava.

Ele vislumbrou o corpo caído do Duque estirado no chão, abraçando duas crianças de cabelos castanhos.

- Duque! – o rapaz gritou, se abaixando e tentando levantá-lo.

- Majestade... – disse o homem com dificuldade, com as crianças aconchegadas ao peito que sangrava.

- Deixe-me ajudá-lo.

- Não, por favor... – ele tossiu, lançando gotículas de sangue na mão estendida do rei.

- Duque! – o monarca amparou o duque.

- Pegue as crianças Hiashi-sama, elas não podem ficar aqui, leve-as para longe... – ele tossiu mais uma vez, enquanto Hiashi amparava ambas as crianças, de uns dois anos de idade, em seu colo – Cuide da minha esposa, não a deixe sozinha... E da Tenten...

- Duque! – Hiashi se precipitou mais uma vez, porém o duque já jazia morto no chão. - Oh, meu Deus! – ele chorava, enquanto abraçava seu sobrinho e a filha do duque, seu grande amigo.

Ele se pôs a procurar seu irmão e sua cunhada pelos cômodos, ainda com as crianças sujas de sangue, que por enquanto haviam se acalmando.

O rei passou por uma porta aberta, quase passando direto, mas algo lhe chamou a atenção.

Eram dois corpos estendidos no chão. Seu irmão e sua cunhada. Hiashi arregalou os olhos e olhou para o seu sobrinho, que provavelmente estava órfão agora.

- Neji – disse Hiashi se dirigindo à pequena criança apertada ao seu peito – eu vou deixar você junto com a Tenten aqui, não façam nada! – ele se abaixou, deixando as crianças atrás da porta maciça de carvalho – Tenten, tudo bem?

A pequena garotinha apenas sacudiu a cabeça, ela tremia muito.

- Neji, segure a mão da Tenten-chan, eu voltarei logo. – ele deu as costas para as crianças e foi rapidamente para o ponto onde os corpos estavam.

Se abaixando, tocou o corpo de seu irmão.

Gelado.

Muito gelado.

Já deveria estar morto há muito tempo.

“Quanto tempo será que o Duque aguentou vivo para poder me entregar às crianças?” – perguntava Hiashi, indo conferir se sua cunhada estava definitivamente morta.

Ambos estavam mortos, ele concluiu por fim, dando um suspiro pesaroso, enquanto lágrimas rolavam pelo rosto bem feito.

Ele já estava dando as costas, quando escutou um pequeno suspiro. Ele se virou e olhou em direção à porta onde ele havia escondido Neji e Tenten. Não havia sido de lá que o barulho havia vindo.

Olhou para seus parentes mortos, também não haviam sido eles.

Escutou novamente um suspiro.

Olhou ao redor, até ver uma parte da parede em cima de alguém.

Ele se pôs de joelhos e começou a tirar as pedras de cima, revelando um corpo muito machucado de uma mulher. Logo percebeu ser a princesa, esposa do duque e mãe de Tenten. Com todas as suas forças ele continuou a retirar as pedras, assim cumpriria o último pedido de seu velho amigo: cuidar de sua esposa e filha. E era isso que ele ia fazer.

Com essa resolução clara em sua cabeça, retirava as pedras e as lançava longe.  E a cada pedra jogada fora, ele podia ver a mulher respirar com mais liberdade, até que a última foi retirada, deixando o corpo magro e muito ferido à mostra.

O vestido estava manchado de sangue em muitos pontos, e o braço estava numa posição ligeiramente esquisita, talvez estivesse quebrado. Havia vários hematomas e escoriações. Porém Hiashi duvidava que se não fosse aquela parede ter sido derrubada, a essa hora a princesa teria tido o mesmo destino do marido.

Com cuidado ele a ergueu do chão, ela gemeu baixo, de dor.

Porém, logo em seguida, a mulher desmaiou. Ela estava muito ferida, todavia sobreviveria. A recuperação seria lenta e dolorosa, mas a princesa poderia ter os cuidados necessários junto de sua família e servos no castelo.

Com cuidado, ele deixou o aposento, deixando seu irmão gêmeo, a pessoa que mais amara, para trás. Foi ao encontro do seu sobrinho e da pequena Tenten.

Ele cuidaria daquelas famílias desfeitas como se fosse a sua própria.

Espero que estejam gostando!

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