Extraterrestres -interativa escrita por Lucy


Capítulo 10
Louis Black




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O vento carregava o cheiro de mar que eu sentia todos os dias, quando vinha á aquela praia no litoral de Los Angeles. O Oceano Pacífico era lindo, se estendia por todo o horizonte, o azul esverdeado refletindo o pôr do Sol. As melhores ondas se pegava naquela parte do dia, e era este o motivo de eu não ter chegado ali á horas. As ondas  grandes tinham um intervalo de dois minutos, mas quando vinham eram monstruosas. Assim, se caíssemos na água, não viria outra onda para nos soterrar. Eu, James e Jane não precisávamos daquele tipo de preocaução, só fazíamos aquilo pela minha irmã de treze anos, Alicia.

-A próxima onda vai ser daqui a um minuto, quer vir comigo, Louis? -James disse, depois de uma rápida olhada no seu relógio á prova d' água. Concordei com a cabeça, e peguei a minha prancha, negra, com o desenho de um par de grandes asas brancas, como as de um anjo. Era muito irônico, mas eu gostava dela. 

Balancei os meus cabelos negros e lisos, e corri pela areia em direção ao mar, a areia fofinha sendo esmagada pelos meus pés. Ali só tinham os surfistas mesmo, sem nenhuma criança para nos preocuparmos em desviar. Mãe alguma correria o risco de banhar seus filhos naquela hora, cheia de pranchas e ondas perigosas. Para nós também era melhor assim. 

Percebi que a minha irmã corria atrás de mim, e sorri para ela. Seus cabelos cor de cobre desarrumados formavam um amontoado de cachos ao redor do rosto sardento, em seus braços magros ela segurava sua prancha rosa e verde limão, com uma carrinha feliz no centro, ao estilo maluquinho dela. 

Me virei de volta para a água, e tive que fazer um esforço maior nas pernas para continuar com o ritmo, pois era mais difícil correr na água que na terra. Minha cintura já estava submergida quando parei e me virei, pois a onda começava a se formar. Me segurei firme na prancha, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a onda já me levava de volta para a areia.

Fiquei de pé, e gritei, aproveitando o momento o melhor que eu podia. Me agachei novamente quando percebi que estava próximo ao chão, e me preparei para a chegada violenta ao chão que me esperava, fechando os meus olhos para que não entrasse areia neles, o que era um erro muito comum. 

A ponta da minha prancha se fincou na areia, e eu caí de cabeça no chão. Uma postura nada digna sinceramente. Deitei ali, cuspindo qualquer coisa que pudesse ter entrado na minha boca, e abri os olhos, que, para meu alívio continuavam normais. Pelo menos isso. 

Tirei a prancha da areia, e fui até as águas salgadas, agora calmas, novamente. Olhei por um momento o reflexo do meu rosto, coberto de areia, meus olhos azuis com pontos dourados, brilhando como o céu noturno antes de pegar a água nas mãos em forma de concha, desfazendo a imagem. Joguei o líquido sobre o meu rosto, torcendo para que limpasse toda a sujeira da minha face. 

Em seguida, procurei James e Alicia com o olhar. Ela tentava desfazer todos os nós da sua juba, resmungando, e James limpava a prancha debaixo da sombra ao lado de Jane, sua prima. Andei até lá, e fui recebido por um refrigerante de James. Me sentei ao seu lado, relaxado. Bati a minha lata pequena de Sprite contra a dele de Fanta Laranja. O garoto bebia tanto aquilo que um bigodinho laranja se formava em cima de sua boca, feito somente pelo corante daquela coisa.

-Um brinde á pegarmos a maior onda já vista na Praia da Coruja! -Ele anunciou o nome da praia, e derrubou o refrigerante de laranja na boca. Alicia pegou a sua Fanta Uva na caixa de isopor cheia de gelo, e foi sentar ao lado de Jane, nos ignorando. 

-A maior onda já vista? -Perguntei, confuso, enquanto dava um gole na minha bebida. 

-É, a antiga maior já vista foi uma de quatro metros. Essa foi de, no mínimo, sete! Somos os melhores surfistas do mundo, comemore! -Ele levantou a lata para cima como se fosse, sei lá, a bebida dos deuses, e derrubou todo o resto em sua garganta. Dei de ombros e fiz o mesmo, aproveitando o calor do Sol. 

-Ei, gente, quem são aqueles? -Jane perguntou de repente, olhando para trás de nós. Olhei na mesma direção que ela, e vi dois homens de terno preto e óculos escuros andando pela praia. Não sabia como eles não assavam com aquela roupa toda.

-Sei lá. Nunca os vi por aqui antes. -Alicia respondeu, tirando uma mecha ruiva de cima de seus olhos. 

-De verdade, não estou nem aí desde que não venham mexer conosco. E podem me passar mais uma Fanta? -James pediu, e eu dei para ele, distraído. Aqueles homens agora olhavam para mim, e andavam em nossa direção. Algo neles me deixava nervoso. Para me acalmar, comecei a repassar todas as notas da minha música de piano favorita na minha cabeça, instrumento do qual comecei a tocar quando tinha apenas sete anos. 

Os dois homens estranhos pararam na nossa frente, as expressões duras como pedra. Suas testas estavam suadas, mas nenhum deles parecia minimamente incomodados com o calor do inferno que fazia. Ou se eles estavam, não demonstravam isso. 

-Venha conosco, agora. -O mais alto disse, a voz cortante, olhando direto para mim com aqueles óculos escuros. 

-Como? -Alicia perguntou, levantando as sobrancelhas vermelhas, parecia achar graça naquilo.

-Venha conosco, agora. -Ele repetiu, e me puxou, fazendo com que eu tropeçasse nos próprios pés e quase caísse. 

-Ei! Para com isso! -James se levantou e fez a coisa mais ridícula do mundo. Ele jogou todo o refrigerante da lata que ele tinha acabado de abrir no homem que me segurava. Por sorte, consegui desviar, ou eu ficaria todo encharcado. 

Me livrei do aperto dele, peguei uma lata de refrigerante, a abri, e joguei no outro homem, que tentava ajudar o outro a se acalmar. Era inútil, eu sabia, mas era o que eu podia fazer. Antes que Alicia pudesse seguir o grande exemplo de mim e de James, porém, o que tinha me puxado levantou uma arma. Isso silenciou á nós, e todos da praia se viraram para nos olhar. Jane, porém, se adiantou, e deu uma joelhada forte entre as pernas dele, que o fez cair no chão. 

O outro sacou uma arma também, apontou para minha amiga, e eu rezei para que ela fosse para o paraíso mentalmente quando o homem apertou o gatilho... Porém, a arma explodiu na mão dele. Estava travada. Este não era dos mais inteligentes. 

Em um acesso de raiva, o estranho jogou a arma no chão e saiu correndo atrás de mim, e eu, obviamente, fugi. Corri por várias ruas, sem conseguir despistar o homem, até que eu vi o enorme shopping de Los Angeles, com muitos compradores esbaforidos e cheios de sacolas. Se ele me encontrasse ali, me encontraria em qualquer lugar.

Passei pelas portas, e subi rapidamente as escadas rolantes, subindo um andar após o outro sem nem mesmo olhar para trás. A cena devia ser no mínimo estranha, um garoto molhado, cheio de areia, vestindo nada menos do que uma bermuda azul correndo pelo shopping seguido por um homem de terno. 

Quando finalmente cheguei ao terraço, olhei para trás, pronto para ver a escada vazia. Mas não, o homem continuava no meu encalço. Xinguei baixinho, e fechei a porta, olhando em volta. Tinha apenas prédios e mais prédios, as nuvens distantes e uma propaganda de pasta de dente em forma de cubo... Era isso!

Corri até a borda do prédio, me forçando para não olhar para baixo, e voei com velocidade surpreendente até a propaganda em forma de cubo, que ficava ali perto, á uns dez metros de distância. Me esgueirei entre as grades, e fiz um pequeno buraco no papel, para olhar o que acontecia no terraço. 

O homem andava por ali, verificando o chão como se eu tivesse desaparecido lá dentro. Depois que anoiteceu, ele finalmente foi embora, e eu suspirei, contente em sair daquele lugar que tinha cheiro de alguma coisa podre. Só tinha certeza que ele sabia dos meus poderes, ou que eu era diferente. E que não estava sozinho.

Voei, escondido pelas sombras, me forçando á olhar para o céu. Hora de sair da cidade.


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Notas finais do capítulo

A Praia da Coruja é invenção minha, não faço a mínima ideia se ela existe.