“Eu sempre quis ser uma heroína silenciosa.”

                Vestindo uma capa vermelha, eu fingi ser uma heroína. Alguém fraca como eu, que não pode nem olhar o mundo de fora, com certeza nunca poderia se tornar uma heroína. Mas tudo bem, eu ainda posso fingir se tiver uma mente que seja muito boa em mentir.

                Eu sou ótima nisso, em mentir para mim mesma. Por isso, minha vida tem sido muito feliz. Espero que vocês entendam... Que isso também é uma mentira. Eu tenho uma doença que pode tirar minha vida a qualquer momento, e por isso, vivo em estado de tensão.

                Se eu for lá pra fora, eu morrerei. Se tiver contato com aquelas bactérias do maravilhoso mundo de fora, eu morrerei. Mas de alguma forma, eu já me sinto morta. Mergulho em meu pensamento, enquanto aproximo meu rosto da janela gelada.

                Meus pais me amam muito e eu sei disso. Mas eu realmente gostaria que alguém “de fora” pudesse me amar também. Queria juntar um pouco de coragem para poder ir lá pra fora. Eu cansei de ver os outros brincando, enquanto eu não posso fazê-lo.

                Sim, esse é o meu desejo egoísta. Poder brincar, apenas um pouco. A vida parece maravilhosa e contagiante, mas eu não posso vive-la e acabo me limitando a imaginar como ela seria se eu pudesse entrar em contato com ela.

                Com a bata branca do hospital, sento-me na maca e afasto minha cabeça pra trás. Lágrimas desceram por meus olhos e eu as sequei rapidamente. Não é importante contar meus sentimentos para mais ninguém, eu e somente eu sou responsável pelas minhas dores.

                Não sei por que, mas esse pensamento doeu muito. Como se um alfinete houvesse acabado de espetar meu coração. Eu definitivamente não queria desaparecer solitária em meu mundo de fantasias.

                Se pelo menos eu pudesse ser radiante e alegre. Tornei-me alguém depressiva que não pode ao menos fazer alguém sorrir. Tudo que eu mais queria era fazer alguém sorrir, rir e sentir-se animado. E assim, eu poderia tornar-me uma heroína silenciosa, com sua capa tingida de vermelho.

                A verdade é que eu não sei o que vai acontecer comigo. Será que um dia eu reunirei coragem e bravamente sairei do hospital? Parece meio triste pensar que no dia seguinte acharão meu corpo gelado no chão do pátio. Mas parece ainda mais triste viver a minha curta vida assim, dessa maneira tão ridícula.

                E quantas pessoas estão presas na mesma coisa que eu? Bem, é uma questão de ponto de vista.