O Lamento Da Lua escrita por J S Neto


Capítulo 8
Oito - Proibido




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A reunião acabou e as decisões finais me deixaram mais do que para baixo. Nós, do Chalé 7, íamos ficar no acampamento sob segurança constante de algumas caçadoras, enquanto outras iam a procura de Ártemis e Órion. A missão que EU queria realizar.

A pior forma de evitar que uma pessoa queira fazer alguma coisa é proibindo-a. As coisas que são proibidas sempre chamam mais atenção e nesse momento a mistura do proibido com a minha vontade de ir resultaram em um planejamento de fuga urgente.

Enquanto estava indo para o jantar na fogueira, fquei tentando encontrar uma forma de enganar a caçadora que ia ficar responsável por mim, quem quer que fosse.

***

Depois do jantar, quando tivemos um horário vago antes de todos se recolherem para dormir em seus chalés, encontrei Matheus conversando com alguns filhos de Hermes. Chamei ele para apresentar o que tinha em mente.

–Cara, tudo bem pra mim... Mas convenhamos que isso vindo de um filho de Hermes não significa muita coisa. Quem tá correndo perigo lá fora é você, e a Alice, que provavelmente você deve está contando com ela também nessa fuga. – disse ele – Acho que isso pode resultar em alguma coisa ruim...

Matheus levando alguma coisa a serio... E ainda aconselhando? Algo de errado estava dando nele. Talvez fossem as quantidades de pequenas doses de néctar que ele insiste em tomar. Já disse que isso vai fazer mal a ele...

–Mas você não entende... É meu nome que está naquela profecia. – disse, mesmo que aquilo ainda não fosse um forte argumento.

–Cara, já disse. Tudo bem para mim. – repetiu Matheus.

–Rafael. –chamou uma voz pelas minhas costas. Era Quíron, provavelmente já para me dizer quem era minha guarda-costas.

Quando me virei para olha-lo, esperei encontrar Luana, já que era minha irmã e já que ela sempre foi a caçadora responsável por mim. Porem não foi ela... Não mesmo.

–Conheça Camilla Delfino. – disse ele quando eu me aproximei indiferentemente. – Ela será a caçadora que ficará responsável por você e Alice.

Camilla era o nome dela, a garota da reunião a qual eu não tenho chance alguma. Agora que se encontrava de pé, pude vê-la vestida como todas as outras garotas a serviço de Ártemis e o mais engraçado era como seus sapatos lhe tiravam toda a seriedade do cargo.

Usava um All-star azul marinho de cano alto, provavelmente para se parecer um pouco com o céu à noite, e onde se encontrava a estrela a qual representa a marca do sapato, possuía uma meia lua que cercava o símbolo.

Não consegui evitar um riso na hora.

–Do que está rindo? – perguntou a própria Camilla, me encarando com os olhos firmes e verdes.

–Nada... – disse tentando evitar o riso. Mas eu até que me afeiçoei àquele estilo dela... Deixava mais original em comparação das outras caçadoras com suas botas de combate, e aquilo a dava uma pitada de juventude que me colocava cada vez mais na dela. – Legal seus sapatos...

Ela olhou para os pés e sorriu, sem dizer mais nada.

***

Luana me chamou para conversar naquela mesma noite, bem depois do toque de recolher ter soado e das harpias terem terminado as tarefas que sempre fazem. Seguimos para um lugar onde ninguém pudesse nos ver fora das camas no horário proibido (já estou com o castigo de limpar o Heitor e não posso receber outro se não vai dificultar a minha fuga do acampamento a procura de Ártemis).

–Luana, porque tínhamos que conversar logo agora? – disse enquanto a seguia por dentro da floresta – Se Quíron nos ver aqui ele vai pirar.

–Não teremos outro momento... – disse ela parando ao lado de uma árvore que juro ter escutado dizer “Vocês dois deveriam estar dormindo...” – Partirei amanha cedo já em missão e talvez você ainda esteja dormindo. – disse ela ignorando o que a árvore tinha dito e indicando-a com a cabeça – Vamos... Suba.

Escalamos até onde deu e nos sentamos de forma segura nos galhos que não corriam risco de partir.

–O que você anda pensando? – perguntou ela quando enfim consegui chegar ao galho e me sentar. Por um momento imaginei que ela já desconfiava que eu estivesse planejando ir também nessa missão, porem evitei me render tão fácil e fiquei neutro.

–Do que você diz exatamente?

–Era pra ser algo espontâneo... – disse ela se endireitando – Você recebeu muita informação em poucos dias... Queria saber o que exatamente você está pensando agora.

–Pra falar a verdade... Não estou pensando em nada... – Mentira, estava pensando na missão que ela vai e que eu deveria ir também.

Um silencio se prolongou em um período de um minuto, talvez. Sendo quebrado por Luana.

–Mano, espero que você não me julgue pelo que me tornei, mas foi pelo seu próprio...

–Eu que peço desculpas... – interrompi – Nunca imaginei que minha irmã se sacrificaria por mim. – disse fazendo-a sorrir no mesmo instante – Mas não se acostume a tanto valor assim... Você ainda é aquela irmã chata e insuportável. Por sinal, serei mais velho que você, já que não envelhece... Me deverá respeito agora.

Ela riu e me olhou por alguns segundos.

–Eu só espero que no final tudo dê certo... Todas nós, caçadoras, estamos preocupadas. – disse ela olhando a Lua cheia que iluminava nossos rostos. – Achamos que Ártemis talvez tenha uma recaída muito forte e determine um final negativo para a profecia...

–Vocês vão conseguir encontra-la e fazer com que ela mude de opinião. – disse sem nem ter ideia do que realmente estava falando. Aquilo tudo realmente parecia estar acabado e Ártemis provavelmente vai querer ficar do lado de Órion contra Apolo. – Não se pode desistir sem tentar, não é mesmo?

–É que eu tenho medo do que vai acontecer com você... Se Órion receber um suporte de uma deusa, significa que vai ficar ainda mais fácil dele derrotar Apolo e seus filhos. – disse ela.

–Não vai acontecer nada a mim. Camilla não está como minha guarda? Então. Eu vou ficar no acampamento e nada vai me alcançar. – disse abraçando-a logo em seguida.

–Por favor, não faz besteira... – disse ela no meu ouvido enquanto ainda estávamos abraçados.

–Não vou... – falei, sem juramentos. Claro.

***

No dia seguinte ela e algumas outras caçadoras realmente já tinham partido.

Fui encontrar Heitor para continuar o castigo dado a mim, Gabriel e Gracy.

Os filhos de Deméter já estavam lá quando cheguei, rindo com alguma coisa que Heitor contava enquanto eles o limpavam e desfaziam os feitiços da bomba.

–Olha só quem chegou! – disse Heitor quando me viu descendo o morro para encontra-los na beira do mar onde estavam. Ele usava uma camiseta basica amarela e um gorro cinza, o que indicava que ainda tava em dúvida de qual time de basketball iria apoiar. – Se não é o outro responsável pelos meus cascos terem ficado verdes.

–Para de ficar falando isso! – gritou Gracy depois de ter olhado as patas do homem-cavalo – Você sabe que eu acredito nesses possíveis efeitos colaterais...

–E então? – começou Gabriel – Como foi a reunião?... Não te vimos mais depois dali.

–Desculpa, mas não tenho permissão para falar a vocês o que soube lá dentro. – disse sem querer ser chato.

–Tudo bem então... – disse Gracy depois de fazer uma coroa de flores e colocar na cabeça de Heitor depois de tirar o gorro dele – Mas foi uma missão para você?

–Não exatamente... – disse arrancando os poucos ramos de folhas que ainda tinham no corpo de cavalo – A conversa toda me envolvia e tal... Mas no final das contas quem foi realizar a parte boa foram as caçadoras.

–Ah, o velho gostinho do proibido... – disse Gracy.

–Proibido? Não levo em consideração essa palavra no meu vocabulário. – disse Gabriel em um tom de grandiosidade.

–Claro, falou o garotinho que não dorme depois das dez... – disse Gracy fazendo todos rirem menos Gabriel – E o que você tem em mentes?

–Você acha que seria errado uma pessoa querer ir em busca de uma coisa ou uma pessoa mesmo sabendo que corre um grande risco de ser pego e morrer sem sucesso? – perguntei.

–Isso seria muito maneiro... – disse Gabriel e Gracy ao mesmo tempo.

Tá... Eu estava pedindo conselho a duas pessoas mais novas que eu e que não tinham afinidade alguma com as regras. O que aquilo realmente valeria para mim?

–Quando você está para ir? – perguntou Gabriel.

–Não sei ainda... – disse. Realmente... eu não havia pensado em quando teria de iniciar a minha tentativa de sair do acampamento.

–Deixa eu te entregar uma coisa... – disse Gracy tirando um saco de dentro da jaqueta jeans que estava usando – Leve isso como se estivesse levando a nós dois com você nessa missão.

Quando abri, vi que dentro possuíam umas cinco ou seis Bombas-de-Delicadeza.

–Obrigado...

–Nunca realizamos missão alguma, mas você já vai nos representar muito bem lá fora. – disse Gabriel.

Depois de termos conseguido desdelicadezar Heitor por completo, tive de me despedir dos filhos de Deméter e Heitor imediatamente, já que estava a muito tempo longe dos olhos de Camilla. Agradeci mais uma vez aos dois e fui a procura de Alice.

As duas estavam na área de treinamento com o arco. Alice parecia desengonçada com o tamanho da flecha e do arco, provavelmente desejando poder voltar a atirar seus pontiagudos lapisinhos.

Quando me aproximei Alice demonstrou alivio. Camilla devia estar fazendo algum tipo de treinamento intensivo e muito exaustivo com ela, pois logo que me alcancei o local que estavam ela me entregou o arco rapidamente e me desejou boa sorte.

–Rafael, não é mesmo? – perguntou a dona dos cachos loiros.

–É sim. – confirmei tentando evitar qualquer comportamento idiota.

–Você pode guardar esse arco. – disse ela se aproximando de mim e pegando o objeto das minhas mãos – Seu treinamento será outro. Já soube que tem habilidades natas do deus do sol com o tiro com flechas, por isso imagino que seja melhor treinar seus reflexos.

Garotas e seus movimentos delicados. Delicados... Se garotas agem delicadamente, que classificação Camilla receberia? Mesmo que eu estivesse apanhando mais que me defendendo, eu conseguia ainda ficar fascinado com a forma dela instruir ao mesmo tempo que atuava as suas instruções, sem nem perder o fôlego durante a fala.

–Acho que estamos treinando de uma forma errada, não? – disse depois de receber uma tapa na cara tão forte que me fez dar meia volta no corpo.

–Você esta fraquejando... – disse ela pegando no meu rosto para analisar a marca do tapa – A maioria dos heróis do seu perfil não aceitam ter pontos fracos.

Aquelas mãos apertando com delicadeza as minhas bochechas (e ai estava a feminilidade dela), com os olhos verdes hipnotizantes próximos aos meus fizeram meu coração palpitar. Ela me fitou, cara a cara quando percebeu que provavelmente te olhava com cara de cachorro babão. Sorriu e se afastou.

–Nem deixou a marca do meu mindinho... – disse ela quando recuou.

Cada vez mais eu me apaixonava por Camilla e seu All-star desconjuntado do pacote completo. Nem os outros diversos tapas, murros e rasteiras me fizeram lembrar que eu não podia deixar isso passar dos limites.

Camilla era uma caçadora, e não acredito que já tenha ocorrido um caso de alguma delas vir a desistir da carreira por um cara (se é que isso seja possível). Além do mais, primeiro, talvez Ártemis não permita uma desistência e ,segundo, quem sou eu para ser motivo de mudança de rumo na vida de uma garota estilo Camilla?

Enfim, o treinamento terminou.

Ai eu digo. A pessoa aqui tá se preocupando em tentar tirar as ilusões da cabeça de namorar uma das Caçadoras de Ártemis, e ai vem a criatura e de despedida da um beijo no meu rosto (todo marcado de tapas, por sinal). Quase pedi outro no outro lado para ver se “passava” a dor das tapas que ali receberam.

Ela me deu “boa tarde”, depois de sairmos da área do tiro com arco e flechas, e saiu em passos curtos que faziam seus cabelos loiros balançarem.

Doeu em pensar ter de enganar ela para poder seguir rumo a missão que desejo. Deixá-la ali, perder a oportunidade de passar mais tempo com ela “treinando”, de conhecer ela melhor... Mas eu não podia simplesmente perder o foco.

Como já disse, as coisas que são proibidas sempre chamam mais atenção e no caso dela, Caçadora de Ártemis e beleza está me deixando em uma situação complicada. Quando eu terminar essa missão, preciso me lembrar de dizer a Ártemis para só permitir a participação de garotas que provavelmente vão ficar pra titia.

“Esta noite” disse a mim mesmo quando tirei Camilla dos pensamentos “Não passa de hoje”.


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