Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 36
Enlouquecendo em familia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408033/chapter/36

As duas velhotas puseram-se a gritar ainda mais. Ou ambas estavam esclerosadas ou todo mundo tinha enlouquecido de vez. Então Renata havia decepado as orelhas de uma mulher e ainda por cima dado para a pequena Betina comer?

Andressa, alarmada com a gritaria das avós, correu até elas, sendo seguida por Camila. A aniversariante ainda enxugava as lágrimas, que derramara de vergonha ao ver a própria mãe ameaçar e expulsar sua professora de casa sem nenhum motivo aparente. Agora suas avós faziam um enorme escândalo, sabia-se lá porquê. Pelo jeito todas as suas festas estavam mesmo fadadas ao fracasso...

– O que está acontecendo aqui? - perguntou a garota mais velha.

– A psicopata da sua mãe arrancou essas... essas... - gaguejou a velhinha gorda, alarmada e sem fôlego, apontando para as orelhas ensanguentadas que jaziam nojentas no chão.

– São as orelhas de abano da Dona Ambrósia... - completou então Betina, bastante assustada com tudo aquilo.

– Mamãe arrancou as orelhas da Dona Ambrósia?! - guinchou Camila, em desespero, voltando a chorar em seguida. Aquele seu aniversário seria de fato inesquecível. Inesquecivelmente horroroso...

Andressa parecia quase tão chateada quanto a irmã. Ao invés de chorar, entretanto, ficara furiosa. Era sacanagem da mãe aprontar uma daquelas logo no dia em que lindas espécimes masculinas estavam fazendo uma visita... Se os lindinhos ficassem sabendo que sua mãe saía arrancando orelhas por aí, com certeza fugiriam correndo com medo que Renata lhes arrancasse também alguma parte do corpo.

– Você chamou Renata de psicopata? - reclamou então a velha magra, encarando a gorda. - Minha filha não é psicopata! Mas depois que casou com o seu filho, começou com umas manias esquisitas... Isso é coisa do Antônio...

– Antônio? Meu filho nunca arrancou as orelhas de ninguém! - retrucou a outra velha, fitando a primeira com raiva.

–---------------------------------------------------------------------

– Mama! As velhas malvadas roubaram o meu lanche, jogaram no chão, e ainda ficaram gritando! - acusou Samanthinha, chorosa, para Dean. O ex-caçador ficou nervoso. Por que ninguém deixava sua filha comer em paz?

– Que absurdo! - Exclamou ele. - Eu vou lá com você, filhinha. Vou recuperar as orelhas e nós vamos embora daqui...

– Não, Dean! - Sam intercedeu. - Deixa isso pra lá... Esse pessoal não entende... Vão nos acusar de assassinato e canibalismo... Melhor esquecer.

Dean respirou fundo, e teve que concordar com o irmão. A gritaria que vinha da sala de televisão estava ficando feia... Talvez devessem ir mesmo embora e evitar confusão... Foram se encaminhando para a porta, para sair de fininho.

Ahhh, no! Don't go away, beautiful men! Stay! Eat cake!– gritou Andressa, ao ver que eles se preparavam para sair. Pelo jeito a gritaria das velhas os estava assustando. O único jeito que arranjou foi agarrar o bolo para tentá-los a ficar mais um pouco.

Here, eat cake! - insistiu ela, estendendo o bolo inteiro em direção a eles.

–-------------------------------------------------------------------

– Sua careca de araque! - gritou a velha magra, se jogando para cima da gorda, e arrancando sua peruca. Então a outra tinha uma filha psicopata e ainda colocava a culpa em Antônio? Logo nele? Seu belo e bom Toninho não fazia mal a ninguém...

– Antes careca que desdentada! - devolveu a gorda. - Me dá esse troço aqui! - Disse enfiando a mão na boca da outra e lhe arrancando a dentadura.

– Não briguem desse jeito! Isso não é coisa que duas senhoras devam fazer! - reclamou Camila aos soluços.

– Nossa, como essa garota é chata... - exclamou a primeira velha - Puxou à mãe...

– Não!! Puxou ao pai! - discordou a segunda.

E as duas senhorinhas se atracaram rolando no chão, aos socos e pontapés.

–---------------------------------------------------------------------

Enquanto as velhas brigavam, Camila chorava. Depois resolveu ir chamar seus pais e confrontar a mãe. Antônio dormia no quarto, roncando alto, e Renata acabava de limpar a cozinha ouvindo música clássica em seu i-pod. Só assim para se acalmar depois da briga que tivera com Ambrósia – a maldita desensinadora. A infeliz devia ser chamada de desprofessora...

– Mãe!! As vós estão se matando lá na sala da televisão... por causa das orelhas da Dona Ambrósia... - avisou a menina. Em seguida lançou-lhe um olhar pesaroso - Mãe... Por que você fez isso? Por que arrancou as orelhas da minha professora? – perguntou por fim.

– Eu não arranquei as orelhas de ninguém! - retrucou Renata ofendida. - Eu só falei aquilo porque estava com raiva! E para de chorar! Garota chata...

Nessa hora Betina chegou, segurando as orelhas nas mãos.

– Arrancou sim, mãe... Aqui elas! - disse a pequena, erguendo os objetos macabros para que Renata pudesse vê-los.

– ARRGHHHH!! - Berrou ela, horrorizada. - O que é isso? Onde arranjou essas orelhas?

– Ué... São as orelhas da abano da Dona Ambrósia... Que você mesma arrancou... - explicou a criança.

– Eu não fiz nada!! Não arranquei orelha de ninguém! - Guinchou Renata, começando a ficar histérica.

– Não arrancou? - Betina ficou pensativa.

– Não! - confirmou a mãe.

– Hmmmmm... Mas desejou... E quando a gente deseja muito uma coisa, ela acontece, né mãe? - concluiu a criança.

Camila olhou boquiaberta. Sempre achara que esse negócio de desejar e acontecer era conversa fiada... Agora não via melhor explicação para o ocorrido, já que a mãe parecia sincera. Renata não arrancara as orelhas com a faca, e sim com o pensamento...

–-------------------------------------------------------------------------

Enquanto isso, na sala, Dean, Sam, Castiel, Hilary, Samantha e Andressa ouviam o que se passava na cozinha. Andressa dava graças a Deus de só Castiel estar entendendo alguma coisa daquela conversa, já que os outros não entendiam português... Torceu para o Picaxú ficar na sua.

Here, eat! - disse Andressa pegando colheres para todos e oferecendo o bolo inteiro. Para ela pouco importava se alguém cantaria parabéns para sua irmã. O que importava era manter os homens por ali pelo menos até suas amigas chegarem. Não queria ser chamada de mentirosa...

Dean olhou guloso. - ok! - respondeu. E pôs-se a atacar o bolo. Sam ficou contrariado, mas não disse nada ao ver que Hilary e Castiel pegaram colheres também e fizeram o mesmo que seu irmão. Melhor se juntar a eles, já que não podia vencê-los...

Aproveitando que os convidados estavam entretidos, pelo menos por algum tempo, Andressa tratou de ligar para as gêmeas, Amélia e Camélia, para apressá-las. Não sabia quanto tempo mais conseguiria segurá-los ali. Era bom que as meninas chegassem depressa...

Vendo todos comendo bolo, Samanthinha fez cara se choro.

– Onde estarão minha orelhas? - Perguntou manhosa.

– Com a Betina. Na cozinha... - respondeu Castiel de boca cheia. Tinha ouvido a conversa de Renata com sua filha caçula.

– Oba, vou lá buscar! - exclamou entusiasmada.

– Não, filhinha... Deixa pra lá... Pode ser perigoso. Depois a mama acha outro defunto pra você, com duas orelhas fresquinhas... - pediu Mama Dean.

– Mas quando? - a Bicudin fez bico com o bico. Não queria deixar seus deliciosos petiscos para trás.

– Não sei, filha... Logo...

Samantha não gostou da resposta. “Logo” era muito vago... Desobediente, não falou mais nada e correu para a cozinha. Tirou as orelhas das mãos de Betina e se mandou para longe, já enfiando tudo no bico.

– Samanthinha, volta aqui! - ralhou Dean. Mas a pequena não lhe deu ouvidos..

–------------------------------------------------------------------------

– Que briga é essa aqui!? - esbravejou Antônio, que acordou com a barulheira, e encontrou sua mãe atracada com a sogra, em uma luta bizarra onde dentaduras, perucas e bengalas eram lançadas sem pudor para todos os lados.

– Sua mulher arrancou as orelhas de uma tal Dona Ambrósia, e sua filha está comendo... - respondeu a mãe de Antônio, quase sem fôlego, apontando para Samantha que acabara de aparecer mastigando algo sanguinolento. Em seguida a velha se virou, tentando morder o braço da outra com os poucos dentes que lhe restavam na boca.

– Betina? - horrorizou-se o pai. O homem se aproximou da criança com mesmo tamanho, e usando a mesma fantasia da sua caçulinha. Soltou um grito agoniado. Sua filhinha tinha virado uma mutante com um bicão enorme e mastigava algo bastante nojento.

– Ahhhhhh! Socorrooo!! Socorroooo!! - Berrou o homem. - Minha filha virou um monstro! - reclamou.

Ele já ia tacar a televisão na cara da criança quando Dean apareceu para salvá-la. Agarrou a filha nos braços e correu com ela de lá.

–-------------------------------------------------------------------------------

– Não me desobedeça mais, Samantha! Podia ter se machucado! - ralhou o louro. A Bicudin pediu desculpas à sua mama. Tinha mesmo se portado mal... Mas pelo menos conseguira finalmente comer seu lanche.

Segurando Samanthinha no colo, Dean voltou para a sala. O bolo já estava quase no fim, e Hilary já tinha conseguido chamar um táxi.

Please, don't go. Friends have see you, beautiful! Or she think i lie.

Os americanos olharam para Andressa, curiosos, tentando entender o inglês macarrônico que saia de sua boca... Ela queria que eles ficassem? Talvez... Mas a situação já estava complicada demais. Tinham mesmo que ir embora...

Foi nessa hora que Antônio apareceu gritando na sala.

– Renata! - chamava ele, aos prantos. - nossa filha Betina virou uma mutante bicuda! E estava comendo uma orelha!

– Do que você está falando? - perguntou Renata alarmada, já aparecendo na sala também. Atrás dela, vinham Camila e Betina. As três estavam nervosas e chorosas, e só pioraram ao ouvir Antônio mencionar a palavra “orelha”. As duas velhinhas apareceram em seguida, beliscando-se mutuamente. Finalmente a família inteira estava reunida, e o caos estava instalado.

Renata desejara que as orelhas de Dona Ambrósia caíssem. Então, elas caíram... Betina criara uma enorme bicanca e devorara a tais orelhas... Antônio Loureiro vira com seus próprios olhos... O homem se jogou no chão chorando, as gargalhadas. Renata e as duas velhinhas tentaram acalmá-lo, mas estavam tão abalados que acabaram enlouquecendo também. Enquanto Renata pulava e imitava um orangotango, as velhas despiram-se e, nuas, puseram-se a brincar de roda, cantarolando desafinadas.

Andressa, Camila e Betina estavam perdidas. O que seria delas com todos os adultos de sua família pirados? Bem... Dean e o resto de sua gangue não podiam ajudar... Não eram psiquiatras. Deram um tchauzinho ligeiro para as meninas e saíram correndo de lá.

–----------------------------------------------------------------------------

Quando Amélia e Camélia finalmente chegaram, Andressa bufava de raiva. Elas perderam de ver os lindos rapazes por poucos minutos. Os pobrezinhos haviam saído correndo depois que sua mãe arrancou as orelhas de uma mulher com a força do pensamento, seu pai jurou ter visto Betina virar um monstro bicudo e devorar as orelhas, a por fim família inteira enlouqueceu.

– Nossa, Andressa... Dessa vez você se superou... Que mentira cabeluda! - responderam as garotas, revoltadas.

Andressa ficou emburrada, mas não tentou se defender. Enquanto isso, Camila, que nem tinha mais lágrimas para chorar, ao ver duas convidadas aparecendo para a festa nem pôde acreditar... Era muita sorte no meio de tanto azar. Pelo menos as gêmeas podiam unir-se às suas irmãs para cantar parabéns para ela. Era seu aniversário afinal... Os adultos Andressa prendera no quarto, enquanto a ambulância do manicômio não chegava.

– Vamos cantar parabéns? Onde está o bolo? - perguntou a aniversariante com um brilho nos olhos.

Andressa sorriu amarelo. Enfiou uma vela no meio de um minúsculo brigadeiro e pôs-se a cantar em homenagem ao aniversário da irmã, para desespero da mesma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mama Dean" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.