Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 30
O palhaço assassino




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/408033/chapter/30

– Dean, pelo amor de Deus... Se acalma... O avião não vai cair! – suplicava Sam.

O travesti tinha agora o padre no colo, agarrado ao seu pescoço. Pobre Sammy já havia se conformado com isso, e nem tentava mais se desvencilhar do irmão... Se Dean pelo menos ficasse quieto... Mas a cada movimento um pouco mais brusco do avião, o rapaz apertava-o com mais força e dava outro ataque de piti.

Ninguém aguentava mais tantos gritos... Não apenas do belo padre, mas também da velhinha Clodoalda. Romilda, assim como Sam, estava passando um grande aperto.

Até que, de repente, não mais que de repente, a vozinha estridente da velha calou-se. Sam olhou estupefato para as brasileiras. Clodoalda agora dormia serena... De uma hora para outra... Mas como? Se pelo menos Dean pudesse dormir assim... Olhou interrogativo para Romilda, que pela primeira vez parecia exibir um sorriso no rosto.

Pobre travesti... Aquele padre não parava de berrar! Em um gesto solidário, Romilda jogou uma cartela com um comprimido em direção ao rapaz de vestidinho rosa. Em seguida fez um claro sinal – Sam só precisava dar aquele remedinho para o louro e seus problemas estariam resolvidos.

Sam agradeceu gesticulando. Mas a velhinha devia ter a metade do peso do seu irmão... Era possível que o comprimidinho não fizesse o mesmo efeito nele. Bem, se deixasse Dean pelo menos um pouco mais calmo já ajudaria... O moreno chegou a apertar o botão para chamar a comissária e pedir um copo d’água. Depois, já sem paciência, e vendo o bocão de seu irmãozinho aberto para mais um grito, não hesitou. Tacou o calmante goela abaixo do rapaz.

Dean gritou ainda por uns cinco segundos. Depois seu lamento tornou-se mais choroso e contido. Em menos de um minuto já estava quietinho, dormindo como um bebê. Remédio forte aquele... Sam então, feliz da vida, passou seu irmão e Samanthinha cuidadosamente para seu próprio assento, afivelou o cinto e deixou-os dormir. Estava contente com o efeito milagroso e inesperado do remédio.

Não só Sam e Romilda, mas todos os demais passageiros do avião, estavam agora muito aliviados. Reclinaram suas poltronas e puderam descansar em paz... Foi isso o que Sam fez também. Quando finalmente conseguiu relaxar foi que notou o quanto estava cansado. Também, pudera...Fugira de um linchamento, se travestira para fugir do país, aguentara os ataques de piti do irmão... Fechou os olhos para uma merecida soneca.

–--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Não muito tempo depois, Samanthinha acordou. Estava com calor e bastante faminta... Livrou-se das cobertas o mais rápido que pôde, mas continuava presa dentro do palhaço de pano. Tentou chamar por Dean, mas sua vozinha saiu abafada.

Samantha forçou um pouco e acabou rasgando a fantasia apenas o suficiente para libertar seu bico.

– Mama, mama! – chamou ela.

Dean não respondeu. Estava dopado até a raiz dos cabelos, e dormia como uma pedra. A pequena Bicudin sacudiu a mãe como pôde, mas não conseguiu tirar uma reação do rapaz. O jeito era tentar acordar o titio.

– Tio Sam! Tio Sam!

– Ahhh... Que foi? – Sam estava tão sonolento que nem virou-se para encarar a sobrinha.

– Mama não acorda...

– Deixe ele dormir Samantha. Está muito cansado... E o titio Sam também está... Volte a dormir você também.

– Mas eu estou com fome! – protestou a criança.

– Aqui não tem comida para você, Samantha... Quando a gente chegar você come.

E dizendo isso, Sam enroscou-se mais em suas cobertas e pegou no sono novamente.

Samantha olhou a sua volta. Não era possível um lugar sem nada pra comer! Ela estava com tanta fome... Talvez pudesse arranjar alguma coisa.

A pequena Bicudin pulou do colo da mãe e pôs-se em movimento.

Os passageiros estavam todos dormindo, lendo ou assistindo filmes. Sendo assim, ninguém reparou no palhacinho bicudo que se esgueirava a procura de restos humanos...

Samanthinha foi fileira por fileira. Aquelas pessoas guardavam apenas coisas intragáveis: restos de bolos, biscoitos, chocolates... A pobre criança teve vontade de chorar. Mas então, de repente, começou a sentir um cheirinho delicioso. Era cheiro de carne de defunto fresco! Samanthinha lambeu os beiços e saiu correndo em direção à iguaria.

–-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

– AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRRRRRRRRGHHHHHHHHHHHHHH!!!!

Ouviu-se um grito horripilante cortando o silêncio. Muitos acordaram assustados com o barulho, e o avião inteiro virou-se em direção a ele. Dessa vez não era Dean, nem Clodoalda... Quem gritava descontroladamente era Romilda.

– Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Ohhhhhhhhhhhhhh!! Errrrrggggggg!!!!!! – Gritava ela.

– O que foi, senhora? – Perguntavam os comissários que agora se aglomeravam em volta da mulher.

Romilda estava tão apavorada que custou a conseguir falar.

– U... Ummm... Pa... Pa.... Lha... Palhaço... Assassinou a vovóóóóó!!!!

Um palhaço assassino? Só faltava essa agora... Os comissários se entreolharam. Nunca tinham viajado com um grupo de passageiros mais bizarro que aquele...

– Não tem nenhum palhaço aqui, minha senhora... – explicou uma das aeromoças, já sem paciência.

Samanthinha a essa altura já estava escondida debaixo da poltrona de Clodoalda, assustada com a gritaria. Ela não era assassina... A velha já estava morta... A pobre criança encolheu-se, tentando roer sem fazer barulho a mão da defunta, que havia cortado com o bico.

– Eu vi ela atacando minha avó! Ela está morta! Está sem mão!!!! – Romilda agora chorava descontroladamente. Os comissários logo perceberam que a situação era grave ao verem que de fato Clodoalda não respirava. O desespero aumentou quando perceberam o sangue jorrando do pulso da brasileira. O que haveria de ter acontecido afinal? Quem arrancara a mão de uma velha senhora em pleno voo? Tinham um defunto e um assassino a bordo...

– Por favor, nada de pânico! – pediam os comissários, apesar deles mesmo estarem apavorados. Cercaram as duas mulheres e tentaram abafar o caso, mas os boatos já corriam por todo o avião.

–-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

– O que aconteceu? Alguém sabe? – perguntou Sam ainda sonolento para outro passageiro, tendo recém despertado com a gritaria de Romilda.

– Parece que foi coisa séria! Alguém foi assassinado, é o que parece... – respondeu o outro homem, nervosamente.

Sam olhou atônito. Assassinado? Ele e seu irmão, além de fortes e valentes, eram ex-caçadores. Talvez pudessem ajudar a capturar o malfeitor...

– Dean? – chamou aflito. O louro se remexeu, virou para o lado e continuou ferrado no sono. Droga... Tinha esquecido que o irmão estava dopado. Dean permanecia segurando a manta de Samanthinha, embolada em seu colo. Sam então nem deu conta do desaparecimento da criança... Conformado por ter que fazer o trabalho sozinho, levantou-se fazendo pose de machão apesar da roupinha gay que vestia.

–------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sam ia caminhando lentamente pelos corredores quando sentiu alguém tocar suas pernas. Olhou para o lado e viu um senhor bigodudo e muito gay sorrir para ele.

– Não fica andando por aí não, gatinha... Pode ser perigoso. – advertiu o homem.

– gatinha? – o Winchester ficou indignado. Nunca imaginou que seria chamado de “gatinha” na vida.

– Ahh, desculpa, princesa. Acho que essa gíria já é antiga, né? Mas porque você não senta aqui do meu ladinho? – perguntou apontando para a cadeira vazia ao seu lado. - Meu nome é Maurice. A gente podia se conhecer melhor e...

Sam balançou a cabeça negativamente e saiu dali bem depressa. A última coisa que faria na vida sera sentar perto de Maurice. Não queria conhecê-lo melhor...

–--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Maria, a comissária, tremia dos pés a cabeça. Estava apavorada com toda a situação. Ninguém sabia o que fazer... Foi então que sentiu uma mão máscula em seus ombros e uma voz grossa e acolhedora perguntar, com firmeza, se estavam precisando de ajuda. Sentiu-se confortada por um segundo. Era ótimo que um homem viril estivesse disposto a ajudar. Virou-se. Era o travesti...

– Errr... Não... – Respondeu desconsertada. A mulher não sabia se chamava Sam de senhor ou de senhora.

– Eu posso ajudar... – garantiu o enorme rapaz de vestido rosa.

Maria olhou em seus olhos, verdes e bonitos. Apesar da roupa, aquele homem lhe passava confiança. Tinha a aura de um herói... Sem conseguir conter as lágrimas, a mulher abraçou o ex-caçador e contou-lhe a verdade. Tinham uma passageira morta. Fora encontrada sem mão. A neta da mulher estava inconsolável, falando coisas sem sentido...

– Eu tenho experiência com assuntos policiais. Vou ajudá-los a investigar o caso e encontrar o assassino. Não se preocupe... – disse Sam, resoluto.

Deixaram que o Winchester chegasse perto do corpo para examinar o ferimento da vítima e conversasse com Raimunda. Sam ficou chocado ao reconhecer as duas... Pobre velhinha...

– O que você viu? – Sam perguntou para a neta da vítima.

Raimunda entendia inglês, mas não sabia falar direito. Tentou explicar que tinha visto um palhaço arrancando a mão de sua avó, e se escondendo em seguida. Sam não entendeu a parte do “palhaço”, ou teria se apavorado com certeza...

–----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Sam estava investigando, tentando encontrar alguma pista. Foi aí que Samanthinha, aliviada, reconheceu o tio. Finalmente alguém poderia tirá-la de perto daqueles malvados que queriam brigar com ela. Saiu de seu esconderijo e correu ao seu encontro.

– Ali está o palhaço! – Berrou Romilda ao avistar a Bicudin.

Todos que estavam perto começaram a gritar. Era a visão de um macabro palhacinho de brinquedo, com bico, e todo sujo de sangue, correndo por ali. Sam, que não sabia que Samantha estava vestida daquele jeito, não reconheceu a sobrinha. Esqueceu-se de toda a sua bravura e masculinidade e correu, gritando, apavorado, com o horrendo palhaço a seu encalço.

– Socorro! Socorro! Um palhaço assassino!!! – berrava ele, em pânico.

– Vem aqui, boneca! Eu te protejo! – Convidou Maurice.

Sem pensar duas vezes, Sam Winchester lançou-se nos braços do bigodudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mama Dean" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.