Clary estava em seu quarto de hóspedes da casa de Amatis, era quase cinco horas e ela estava deitada na cama olhando para o teto. Sua mãe havia mandado ela arrumar sua mala, iriam embora de Idris amanhã. Clary estava feliz, ela sentia muita falta de Nova York e Manhattan, os sons, os cheiros, as ruas estreitas do Brooklyn, a livraria de Luke, seu quarto, tudo que remetia a ela "casa", mas uma pontada de tristeza teimava em seu coração, e no fundo sabia que era porque ia embora de Idris. Seu sangue de Caçadora falava alto, Clary tinha se apaixonado por aquela cidade no curto período de tempo que passara ali. Muitas coisas haviam acontecido em Idris, memórias boas e ruins, mas ela não pretendia esquecer nenhuma delas, e muito menos queria esquecer as cores e formas de Alicante, tinha pensado que nunca conseguiria desenhar aquele lugar em todo o seu esplendor, essa cidade havia se tornado a sua segunda casa... Batidas na sua janela a acordou de seu devaneio, ela levantou calmamente e abriu a janela para ver o que acontecia quando deu de cara com dois pares de olhos dourados e cabelos loiros que brilhavam fortemente como raios de sol, Clary gritou e fechou a cortina com tudo enquanto cambaleava para trás:

– Idiota! Sou eu, Jace! Abre essa janela!

Clary foi cuidadosamente até a janela e abriu a cortina novamente, Jace estava lá na sua frente com os pés apoiados nos parapeitos da janela e a mãos nas pedras de cima, ela olhou para baixo inconscientemente vendo o quão grande era altura do chão até a janela. Definitivamente Jace não é humano...

– Sabe Clary se não for pedir muito, bem que você poderia abrir essa maldita janela antes que eu quebre ela. Como posso dizer, não estou me sentindo muito confortável aqui fora sabe - Disse Jace sarcasticamente.

Clary abriu rapidamente a janela diante da ameaça, Jace pulou para dentro de seu quarto suavemente como um gato, ela ainda se espantava com a desenvoltura dele:

– O que você estava fazendo na minha janela????

– Você vai embora amanhã, não é?

– Jace, você sabe como eu odeio quando você me responde com outra pergunta.... - Disse Clary claramente irritada.

– Que seja, quero mostrar algo a você antes de partir - Falou Jace ignorando-a completamente e pegando sua mão para guia-la até a porta junto com ele.

– Nós não podemos sair pela porta da frente, o que minha mãe vai dizer quando vir você saindo do meu quarto?

– Não tem ninguém em casa, toquei a campainha e ninguém atendeu, fiquei preocupado e por isso subi na janela, provavelmente você estava muito ocupada olhando a cor do teto para ouvir a porta.

– Ninguém? Para onde será que eles foram? Espera ai, você escalou a casa só porque ninguém atendeu a porta? Isso parece exagero, mesmo pra você.

– Bem da última vez que deixei você sozinha te reencontrei diante do Lago Lyn após ter feito um pedido para o Anjo Raziel. Então Clarissa, percebi que quando te deixo sozinha qualquer coisa pode acontecer.

– Um pedido que salvou sua vida, só para constar. Devia estar agradecido.

– E estou, agora vamos.

Jace a arrastava pelas ruas de Idris, então ela percebeu meio temerosa que estavam indo em direção aos estábulos:

– Jace.... Porque agente está indo onde ficam os cavalos...?

– Pergunta meio óbvia não? Temos que pegar um cavalo para chegarmos a onde quero ir.

– Jace não acho que seja uma boa ideia... Não me dou muito bem com cavalos sabe...

Ele riu:

– Não se da bem com cavalos? Essa é nova, não precisa se dar bem com ele, eu irei guia-lo, você só precisa ficar sentada na minha frente.

Jace foi até os estábulos e tirou um cavalo marrom de patas brancas, muito lustroso e bonito, mas a única coisa que Clary conseguia ver era que o cavalo era gigante e podia esmaga-la com uma pata só, essa ideia a fez estremecer.

– Vem cá, eu te ajudo - Disse Jace estendendo a mão, ela foi até ele temerosa, mas Jace pegou a mão de Clary com firmeza, depois a pegou pelos braços e a colocou em cima do cavalo com cuidado, subiu suavemente a trás dela e colocou os braços ao seu redor para pegar as rédeas, Clary estremeceu pelo toque:

– Não precisa ter medo, eu estou aqui - Disse Jace suavemente.

– Tudo bem...

Cavalgar com Jace era diferente de Sebastian, o modo como seguravam as rédeas e guiavam o cavalo era o mesmo e Clary percebeu que isso ocorria pelo fato de os dois terem sido treinados pela mesma pessoa. Os dois seguravam com firmeza e segurança, sabiam o que estavam fazendo, mas Jace era diferente, sentia o calor que emanava dos braços a sua volta, podia ouvir o coração batendo na suas costas, Jace era carinhoso e acolhedor, Clary se sentia plenamente segura com ele, enquanto com Sebastian era o contrário, ele era rígido e contido, como se escondesse algo, Clary nunca se sentiu bem com isso, não parecia o tipo de atitude de uma pessoa confiável.

–Fala algum coisa - Disse Jace a trás dela

– O que?

– Como sempre em outro mundo não é mesmo Clary?

– Como assim?

– Vocês sempre faz isso, mergulha em seus próprios pensamentos e vai parar num mundo só seu - Clary se lembrou que Simon já tinha dito algo parecido para ela - Queria poder ir para esse mundo junto com você.

Clary suspirou como se dissesse o óbvio:

– Jace, você é esse mundo.

Ele ficou em silêncio a trás dela, Clary ficou com medo de ter dito algo errado, mas antes que pudesse dizer algo Jace respondeu:

– Bom saber que você fica pensando em mim, imagino o tipo de pensamentos obscenos que você tem.

– Idiota! - Disse Clary irritada, não acreditava que havia se preocupado.

Jace sorriu a trás dela e beijou em seus cabelos:

– Adoro seu cheiro.

– Meu cheiro? Tem certeza que não levou nenhuma mordida de lobisomem nesses últimos dias Jace?

– Não, o seu perfume é forte o suficiente para que eu sinta ele mesmo sem um olfato muito apurado.

Clary pensou que também gostava do cheiro de Jace, sabão, algodão e raios de sol, era isso que vinha a sua cabeça quando pensava nisso.

– Ele é reconfortante, me sinto seguro.

– Eu te deixo segura? Isso é contraditório já que sou sempre eu quem acaba deixando você irritado e preocupado.

– Me irrita porque você age sem pensar, como sempre, mas não, seu perfume me deixa seguro porque sei que posso ser eu mesmo do seu lado.

Clary ia responder, mas Jace parou o cavalo:

– Chegamos

Clary viu que estavam diante de um lago, ao longe podia ver alguma das casas de campo dos Caçadores:

– Onde estamos?

– No campos que cercam as mansões dos Caçadores, vinha nesse lago para pescar com o meu ... - Jace não continuou, mas Clary sabia o que ele ia dizer.

– Mas o que agente veio fazer aqui? - Disse ela rapidamente antes que os olhos de Jace começassem a ficar nublados com as memórias do pai.

Jace levantou a cabeça rapidamente e o seu brilho voltou:

– Quero te mostrar uma coisa, mas não é aqui.

Ele pagou a mão de Clary e a conduziu para cima de uma colina, de cima ela conseguia ver o lago diante dela e mais para trás Alicante com suas torres de vidro:

– Que lindo.

Jace viu que Clary falou isso enquanto mexia os dedos como se quisesse segurar um lápis, ele sabia que ela fazia isso quando sentia vontade de desenhar o que estava a sua frente e ficou feliz por ela também perceber a beleza daquele lugar.

– Sempre vinha aqui quando queria ficar sozinho, agora sentamos e esperamos - Disse Jace enquanto sentava suavemente.

– Esperamos o que? - Perguntou Clary enquanto sentava não tão suavemente.

– Não posso estragar a surpresa não é mesmo? - Disse Jace com um sorriso maroto

– Responder perguntas com outra pergunta, não se cansa?

– Não

Jace virou para que ficasse de frente para Clary e começou a observar os olhos esmeralda na sua frente:

– O que você está fazendo? - Perguntou Clary ficando vermelha

Jace pensou como ela ficava linda quando ficava vermelha.

– Você me trouxe até aqui para ficar olhando pra minha cara? - Perguntou Clary irritada enquanto virava para se esconder daqueles olhos dourados.

– Não - Disse Jace rapidamente - Não vira, prometo que não fico te encarado.

Clary virou novamente e viu que ele estava de olhos fechados, tão vulnerável pensou ela. Clary não resistiu ao impulso de colocar a mão no rosto dele, começou a traçar com os dedos a curva do queixo, as maçãs dos rosto, e então passou a mão no seu cabelo suavemente, sentia os fios loiros sedosos em seus dedos, ele era lindo, tão lindo que Clary as vezes pensava que ele era um anjo:

– Você não devia me provocar assim - Disse Jace ainda com os olhos fechados

– Aa é? E o que acontece de perigoso se eu fizer isso? - Clary sabia que estava mexendo com fogo, mas ela se divertia com o fato de conseguir fazer Jace perder sua postura e autocontrole.

– Você não devia brincar comigo assim - Respondeu ele puxando Clary para perto dele, as pernas se atrapalharam então ele a levantou para que sentasse em seu colo, então a puxou para um beijo, não era um beijo como os outros que sempre começavam devagar e carinhosamente, era um beijo forte e cheio de desejo, Clary sabia que era porque ela tinha provocado Jace, mas ela não havia se incomodado nem um pouco com isso. Ele explorava sua boca enquanto segurava suas costas com força a puxando para perto dele, todo o seu corpo estava em contato com o dele, ela passava as mãos em seu cabelo e em sua nuca fazendo com que ele se arrepia-se. Diante da segunda provocação Jace decidiu não deixar barato, passou sua mão por debaixo da camisa de Clary e colocou sua mão diretamente na pele nua das costas dela, ela se arrepiou com o calor que ele emanava das mão, mas ele não se importou, a segurava com força e com desejo e suas mãos passeavam pelas costas de Clary. Ela então abriu a camisa dele fazendo com que ele arfasse de surpresa, ela riu diante da reação dele e colocou suas mãos na pele dourada e marcada de Jace, ela explorou toda a sua barriga e costas sentindo cada cicatriz com seus dedos pequenos, Jace soltou um grunhido do fundo de sua garganta e a deitou para que ficasse em cima dela. Ela enlaçou seus braços no pescoço de Jace enquanto ele beijava e mordia seu pescoço e colo deixando pequenas marcas de calor por onde passava, então de repente ele parou, Clary o olhou surpresa e perguntou:

– O que houve?

– Olhe para o horizonte - Ele disse com um sorriso triunfante.

Clary virou a cabeça e viu a paisagem mais bonita que já vira na vida, o Sol se punha a trás de Alicante fazendo com que as torres demoníacas brilhassem em um laranja avermelhado estonteante, e no céu pequenos pontos azuis brilhavam como se prenunciassem a chegada da noite. O lago era todo vermelho, laranja e amarelo, mas para a surpresa de Clary, começava no lago a brotar flores brancas e rosas que contrastavam com as cores vibrantes do por do sol:

– Flores da Noite - Sussurrou Jace em seu ouvido

Clary sentia as mãos coçando com vontade de registrar esse momento no papel com seus lápis de cores, era a coisa mais linda que já vira na sua vida. O sol então se escondeu atrás de Alicante dando lugar a lua e a noite. Ela fechou os olhos e a paisagem permanecia impressa nas suas pálpebras:

– Essa é a despedida de Alicante para sua salvadora.

Ela arfou, era tudo muito lindo.

– Não fiz nada demais, quem lutou não fui eu, você sabe disso.

– Mas a cidade estaria em cinzas agora se você não tivesse unido os Caçadores com o Submundo, tenho certeza que só esse por do sol não é suficiente como recompensa pela sua coragem.

– É mais do que suficiente, foi a coisa mais linda que eu já vi na minha vida.

– Depois de mim claro - Disse Jace rindo

– Idiota - Clary respondeu com um sorriso no rosto - É perfeito, você acabou de me dar a melhor lembrança que posso levar de Idris.

Calry viu nos olhos de Jace o que ele sentia, os olhos dourados a olhavam com amor e diziam claramente "Tudo de que preciso está aqui, na minha frente". Clary o puxou para mais perto dando um beijo carinhoso nele e passando as mãos suavemente nos cabelos dourados:

– Eu te amo - Susurrou Jace.

– Eu também, mais do que é possível alguém amar outra pessoa.