Quando Em Nárnia escrita por Kuroi Namida, Tricya Gianakos Lightwood


Capítulo 6
Uma Noite Na Caverna


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora!



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POV Leana Black

Não andamos muito até finalmente encontrar um bom lugar para passar a noite, segundo o reizinho de nariz empinado de nome Caspian. Atravessamos o rio e nos afastamos um pouco com destino as montanhas, onde encontramos uma entrada bem ampla e passamos por ela seguindo para dentro de uma caverna escura e com cheiro de pedra úmida.

- Vamos passar a noite aqui, e pela manhã seguiremos. –disse o rei Caspian olhando tudo ao redor.

- Será que é seguro? –perguntou Pedro.

- Bom é bem afastado da mata, e parece bem protegido do vento frio da noite, e de uma possível chuva. –respondeu Caspian.

- Parece a casa de um urso grande e faminto. –eu disse cruzando os braços e olhando para Caspian.

Ele virou o rosto pra mim fazendo uma cara de bunda com a qual eu á estava começando a me acostumar. Pedro me olhou com a mesma cara, provavelmente me achando uma chata, mas eu não estava nem aí eu estava certa, cavernas eram o lugar perfeito para um urso selvagem passar a noite e dessa vez eles teriam que me ouvir.

- O que nos garante que não vamos ser surpreendidos no meio do nosso sono por um animal selvagem? –continuei.

- Bom, nesse caso você pode ficar acordada montando guarda na entrada. –disse Caspian andando até mim. – Se avistar algum urso você grita. –disse prensando os lábios.

- E eu tenho cara de sirene agora? –retruquei.

- Suas reclamações soam mais irritantes do que uma. –ele rebateu.

- Tudo bem, se vocês dois vão começar de novo eu mesmo monto guarda lá fora. –interrompeu Pedro.

- Posso ir junto? –se manifestou Tricya. – Assim quem sabe ficando sozinhos eles param de discutir.

- Vamos precisar de algo pra fazer uma fogueira. –Caspian desconversou e desviou de mim olhando para Pedro.

- Mais uma ideia brilhante fazer fogo dentro de um lugar fechado arriscando morrer sufocado com a fumaça. –eu disse olhando Tricya.

- Eu espero mesmo que um urso faminto invada a caverna à noite. –disse Caspian se abaixando pra procurar pedras no chão. – E se tivermos um pouco de sorte, quem sabe ele decida devorar você. –ele passou por mim me encarando com aquele arzinho superior.

- Vamos precisar de galhos secos. –disse Pedro vendo Caspian com duas pedras em mãos.

- Você vai e eu fico. Não... –ele me olhou. – Eu vou. Você fica...

Depois disso ele simplesmente saiu, e deixou suas pedrinhas num canto. Eu me sentei ao lado de Tricya enquanto ela me encarava e dizia:

- Você não pode dar um tempo pra ele respirar não?

- Não. Ele é irritante, teimoso, e metido.

- E você gosta dele... –ela retrucou.

- O que? –eu disse em tom indignado. – Tá doidona?

- É o que tá parecendo, você não pode ver ele quieto que provoca.

- Ah não viaja Tricya. Tenha dó... –rosnei e retirei minha mochila das minhas costas. – Eu ainda to toda molhada daquele tombo no rio. Provavelmente vou ficar bem gripada se não secar até a noite.

- Com uma fogueira você pode se aquecer.

- É posso me aquecer enquanto meus pulmões inalam todo gás carbônico.

- Para de reclamar sua ranzinza! –ela me cutucou com o cotovelo e sorriu.

- Culpa sua, que fique bem claro.

- É, a culpa por acharmos Nárnia é totalmente minha e eu aceito isso!

- Nárnia, Nárnia. Você só fala em Nárnia...

- Relaxa Lean! Estamos juntas... E em Nárnia. Não é maravilhoso? Como quando éramos meninas! Lembra?

- Só que naquela época éramos apenas você e eu, não tínhamos que seguir ordens de dois reis com o rei na barriga.

- Eu estou adorando a companhia deles. –ela sorria animada olhando Pedro. – Pedro é tão educado e cavalheiro.

- Hum, sei depois eu que to a fim do espichado né?

Tricya sorriu, achando graça de alguma coisa que eu falei, mas eu ignorei. Senti vontade de rir também, mas estava controlando tudo isso dentro de mim. Não podia deixar que aquele lugar causasse alguma alteração no meu humor, a ponto de me deixar feliz. Se estivéssemos mesmo em Nárnia logo estaríamos de volta pra casa e nada daquilo que viveríamos ali valeria a pena afinal se não pudéssemos desfrutar sempre. Nárnia era apenas isso, um lugar onde você passa uma boa temporada depois é obrigado a regressar a sua vida chata e enfrentar as mesmas pessoas medíocres e insuportáveis. Não, eu não ia me acostumar com um lugar fantástico e maravilhoso pra depois ter que abandonar tudo e esquecer quando regressasse pra casa. Continuaria evitando me apegar a cada coisinha daquele lugar, mesmo que pra isso tivesse que ser a mais irritante dos seres vivos e atazanar a vida daqueles dois.

Não demorou muito até que Caspian regressasse da sua caçada a gravetos. Ele deixou uma boa quantidade de galhos secos no centro da caverna, e disse:

- Pronto, agora só precisamos fazer a fogueira. –disse ao ver Pedro se aproximando com pedras em mãos.

- Espera vocês vão acender uma fogueira com isso? –eu disse.

- Você tem uma ideia melhor? –questionou Pedro de pé ao lado do irmão.

- Que tal um isqueiro? –eu me levantei e retirei da minha mochila um isqueiro que ganhei do baterista da minha banda favorita em um show.

Quando estava com o objeto em mãos, andei até os dois que se entre olhavam e puxei a tampinha do isqueiro de metal preto e acendi com um sorriso vitorioso na cara ao ver a expressão dos dois meio pasmos.

- Oh, como consegue fazer isso? –disse Pedro.

- Mágica! –eu arregalei os olhos e tirei um sarro básico.

- Tem gás ali dentro. –Tricya riu e explicou. – É pura física!

- Como consegue fazer o fogo ficar aí dentro? –Pedro dizia com expressão curiosa.

- Eu sou uma feiticeira muito poderosa. –eu dei sequencia aquela idiotice enquanto me abaixava e aproximava o isqueiro da ponta de um galho seco.

- Feitiçaria não é permitida em Nárnia. –retrucou Caspian em tom sério.

- Ela não é uma feiticeira de verdade. – Tricya respondeu enquanto os galhos começaram a se incendiar devagar.

Eu mantive a cabeça baixa me segurando pra não soltar uma risada, eu definitivamente não estava acreditando que eles pensavam mesmo que eu pudesse ser uma bruxa. Quando olhei para a cara de Caspian, notei que sua expressão era de total curiosidade e estranheza. Não me aguentei e acabei rindo da cara dele.

- Cuidado majestade, se me deixar irritada eu posso atear fogo nos seus lindos cabelos durante o seu sono real. –me levantei e andei até Tricya que estava sacudindo a cabeça negativamente enquanto ria de minha atuação como feiticeira.

- Bom, pelo menos temos fogo. –disse Pedro batendo no ombro do irmão.

- Mas infelizmente não temos nada pra comer. –disse Caspian ficando de pé.

- Errado de novo meu amor. –eu disse revirando minha mochila.

Quando ergui os olhos de novo, notei que tanto Caspian quanto Pedro me olhavam sem jeito. Provavelmente por causa da maneira como eu me dirigi ao rei.

- O que foi? –perguntei franzindo a testa.

- Nada. –disse Pedro. – Você também tem alguma coisa de comer nessa sua bolsa?

- Tenho bolachas recheadas! –retirei um pacote de bolachas de chocolate que estava fechado. – Salgadinho, e balas! –sorri.

- Nossa Lean, você vai pra escola pra estudar ou pra comer? –Tricya riu pegando o pacote de bolacha das minhas mãos.

- Tenho que ocupar meu tempo livre com alguma coisa, e faço isso comendo. –respondi com cara de satisfação plena.

- Bom você salvou nossas vidas! –ela disse estendendo o pacote aos reis.

- Obrigado! –respondeu Pedro pegando uma bolacha.

Caspian fez o mesmo ainda meio desconfiado.

- Pode pegar majestade, não tem feitiço aí não. –eu debochei.

- Rum. –ele fez uma careta e tomou uma bolacha entre os dedos.

Sua expressão séria mudou completamente quando ele sentiu o gosto do que comia.

- Nossa! –ele disse com a boca cheia. – Isso é... Muito bom... Do que é feito?

- Farinha, e mais uma porção de condimentos artificiais. –respondi. – Eu to com sede. –eu disse pegando uma garrafinha vazia de água da mochila. – Será que aquele rio tem água boa pra beber.

- Já está muito tarde, é melhor não sairmos da caverna. –disse Pedro.

- Mas eu to com sede. –disse me levantando. – E não tem nem meia hora que o sol se pôs. Eu vou buscar água.

- Hum. –Caspian se manifestou. – Deixa... –ele se levantou de onde estava e pegou a garrafa da minha mão, mas eu não a soltei. – Eu vou.

- Não, eu vou. –eu puxei a garrafa de volta, mas ele não soltou.

- Não seja irritante, estou tentando ser cavalheiro.

- Não precisa, eu sei me virar sozinha. –puxei de novo a garrafa dessa vez fazendo ele soltar e segui em direção a saída.

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POV TRICYA

Notei que Caspian ficou parado no mesmo lugar olhando Lean se afastar, depois sacudiu a cabeça e andou de novo até seu lugar e disse:

- Que garota teimosa.

- Você se acostuma. –eu sorri.

Ele não respondeu, mas me olhou e respirou pesadamente. Estava começando a achar que a implicância daqueles dois significava outra coisa e não antipatia, mas guardei esse pensamento pra mim enquanto sorria intimamente. Pedro estava bem na minha frente, e apreciava o sabor das bolachas com uma cara séria e centrada, embora seus olhos brilhassem pelo alimento que ele estava ingerindo.

- Formidável. –ele disse.

- São as preferidas da Lean! Ela nunca sai de casa sem elas. –completei.

- Eu imagino por que. –riu Pedro.

Lean não demorou muito pra voltar com sua garrafinha cheia de água. Ela passou pela entrada e desceu até onde estávamos enquanto Caspian se ajeitava em um canto, escorado contra uma pedra grande.

- Achou água boa pra beber Lean? –perguntei.

- Parece boa. Pelo menos tem gosto de água... –ela respondeu se sentando e me estendendo a garrafa.

- Minha garganta também tá seca. –disse e beberiquei um gole da água.

- Bom que é perto, pode beber a vontade. Se acabar eu busco mais...

- Vamos tentar guardar um pouco até amanhecer. –disse Pedro se levantando. – É melhor não sairmos mais... Pode ser perigoso Leana. –ele avisou e começou a preparar uma cama improvisada com seu casaco. – Você pode ficar com isso Tricya. –ele avisou. – Eu vou ficar de guarda, enquanto vocês três descansam depois Caspian e eu trocamos. –ele olhou o irmão que confirmou com a cabeça.

- Tudo bem... –respondi sorridente e me levantei já sentindo sono. – Boa noite Lean. –andei até minha amiga e lhe dei um beijo na testa.

- Boa noite Try. –ela disse com um sorrisinho singelo.

Eu me ajeitei sobre as roupas do rei Pedro e fiquei ali esperando o sono me dominar enquanto via ele se sentar em uma pedra e retirar sua espada da bainha deixando-a ao lado da mesma pedra pronta para ser usada em caso de necessidade. Ele era tão corajoso...

Logo mais vi Lean se deitar também sobre seu casaco, e se encolher com a cabeça sobre a mochila. Acabei pegando no sono. Acordei algum tempo mais tarde, e abri os olhos meio pesados vendo Caspian se aproximando de Lean. Ela dormia e parecia tremer de frio, e ele gentilmente a cobriu com seu casaco de couro marrom que parecia ser impermeável ao frio. Ele ajeitou a peça de roupa longa sobre o corpo pequeno da minha amiga, e observou o rosto dela por um instante. Foi um gesto tão nobre da parte dele que me fez sorrir. Se Lean pudesse ver aqueles dois como eu via, ela saberia por que eu estava tão feliz por tê-los conhecido. Logo Caspian passou por mim e eu fechei os olhos pra que ele não me visse acordada. Ele andou até Pedro e o acordou vendo que o irmão acabara dormindo pelo cansaço.

- Pedro. –ele disse em tom baixo. – Vamos acorde. É minha vez de ficar de guarda.

- O que? –o loiro acordou meio confuso. – Ah... Tá... Tudo bem. Eu acho que dormi um pouco.

- Vamos, vá descansar...

Aquele pequeno gesto, e aquelas suaves palavras do rei mais velho, me fizeram sentir certa admiração por ele. Dava pra notar como ele era gentil, e o quanto se preocupava com o irmão mais novo. Queria que Leana visse isso e parasse de ser tão turrona com o coitado. Ao ver Pedro passar por mim notei que ele me viu observando-os e sorriu pra mim. Ele era tão bonito, mesmo com aquela carinha cansada... “Vamos Tricya, vá dormir e pare de besteira”. Fechei meus olhos e em seguida voltei a dormir.


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Notas finais do capítulo

comentem