P.o.v Mizore

Eu tropecei em nada novamente.
Arfei em busca do ar que não sabia ter perdido.
Eu tremia de dor e meus olhos lacrimejaram, ao tentar falar minha garganta queimava.
Encostei-me a uma parede, para recuperar o fôlego.
A dor não cessava nem por meros segundos.
Com muito esforço da minha parte, consegui chegar até uma região mais alta para observar a área.
Consegui visualizar os dois reis perfeitamente e sua luta, para mim, passava-se em câmera lenta.
O rei incolor mencionou sobre eu ser a descendente de Mikoto.
Mais como isso é possível? Eu não sou a filha dele, sou?
Tentei não entrar em desespero e hiperventilar.
Desci com cuidado, fazendo o possível para ignorar a crescente queimação.
Quanto mais me aproximava da luta, pior era.
— Hihihihi !Olha só o que a cegonha trouxe!— Alguém disse.
Olhei por cima do ombro, endireitando as costas.
— Kukuri?— Eu perguntei.
— Lamento. Kukuri não está em casa. Hahahaha!— Ela respondeu.
Eu fiz uma careta de dor, quando virei-me para ele.
Com as pernas moles trêmulas, coloquei-me em posição pronta para sacar a katana.
— Ora, olhem só! Ela está tremendo mais do que um rato na frente de um gato! Hahahahahaha! E o que há com usar armas? Sempre pensei que eram dispensáveis ao clã vermelho. Vejo que estava enganado! Uma mulher tão fraca que precisa de ajuda de uma arma strain, não devia nem estar perto daqui! Logo, os dois reis guerreando estarão sob meu controle e você será desnecessária. Isso vai ser muito fácil de se fazer. Olhe como eles são inferiores a mim. Mais juntos, nosso poder unido poderá fazer maravilhas!— Ele gritou , jorrando insultos aos dois clãs, aos outros reis e a mim, acompanhados de uma risada lunática. - Desta forma, você não poderá assumir o lugar de ninguém.— Ele comentou, parecendo falsamente decepcionado.
Mordi meu lábio inferior, tomando uma respiração aguda.
Lancei-lhe um olhar mortal e desembainhei a katana, empunhado-a a minha frente, mirando no ponto de chakara central.
— Não insulte Mikoto-san e meus amigos. Eu nunca irei substituí-lo, pois não existe ninguém como ele. Agora, verme, saia já daqui e não volte.— Eu rosnei, com súbita energia.
Não sei de onde saíram essas palavras.
É como se existisse um novo 'eu' que queria proteger todos a todo custo.
A única coisa que sei, é que minha atitude afetou-o mais que as palavras.
A queimação foi diminuindo gradualmente.
Senti um enorme alívio e meus músculos quase cederam ao cansaço.
— Bem... mesmo que complete sua ascensão como descendente da "coroa" não vai poder assumir seu lugar. Seus poderes serão reprimidos até que o atual rei faleça e se isso não acontecer, você terá uma morte precoce. Uma pena realmente. Eu pensei em usa-la em meu plano.— Ele divagou.
— Cale-se!— Eu exclamei, correndo até ele.
Lembrando-me bem que ele estava usando o corpo de Kukuri e que não poderia feri-la gravemente, balancei a katana de qualquer forma no ar e quase revirei os olhos ao vê-lo se esforçar para desviar.
— Vejo que só tens a língua afiada, rei.— Eu cuspi a palavra. - Suas habilidades como lutador parecem ser decadentes. — Eu disse.
— Esse é um pouco do preço que devo pagar para executar o meu objetivo.— Ele respondeu maliciosamente.
Senti meu olho direito se contrair.

" Irritante. Quando vou poder ataca-lo de verdade? " Eu pensei várias vezes durante suas falas.

— Pena, penosa, peninha! Está fraca agora Miizooo-chan! Estou sem tempo para nos divertimos agora. Por isso... Sayonara!— Ele gritou.
Levantou uma bazooka no ombro com dificuldade.
Eu estreitei meus olhos em expectativa.
Quando o barulho familiar do disparo chegou aos meus ouvidos, o plano que estava arquitetando pareceu evaporar e meu corpo moveu-se sem meu consentimento.
Em uma posição tão elegante que duvidei de ser eu, executei um corte perfeito.
Senti a pesada massa, bater contra a lâmina e vi ela partir-se.
Os pedaços separados, desviaram do meu corpo explodindo em seguida um de cada lado.
Percebi então que se tratava de uma bomba de fumaça.

" Argh! Não acredito que caí em algo tão simples! " Eu gritei mentalmente, fechando a mandíbula com força.

Apertei a katana mais firme em minha mão, quando senti uma presença perto de mim.
Coloquei a arma perigosa em posição e ataquei, parando a milímetros de distância do pescoço do indivíduo.
— Mizo-chan! Sou eu! - A pessoa disse.
Não reconheci a voz, mas, como a poeira se dissipava, reconheci sua silhueta.
— Shiro! Seu idiota, não me assuste assim! Poderia ter perdido a cabeça!— Eu repreendi, preocupada.
Eu segurei seu rosto com as duas mãos, antes que ele falasse algo.
— Onde você estava? Você está ferido? Me deixou preocupada!— Eu jorrei perguntas e exclamações.
— M-Mizo-chan...— Ele murmurou e senti seu rosto aquecer sob minhas mãos.
Avaliei seu corpo do meu ponto de vista. "Nenhum ferimento grave."
Soltei um suspiro de alívio.
— Você tinha razão Mizo-chan.— Ele deixou uma pequena pausa. -Sobre a habilidade do rei incolor. Ele pode trocar de corpos e forçar a alma da pessoa a outro corpo. Foi o que aconteceu comigo. Eu sou Adolf.K Weissman. O rei incolor expulsou-me do meu corpo para esse. - Soltou um pequeno suspiro. - Depois de cair no telhado do ginásio, Neko me encontrou e mexeu com minhas memórias e a de todos estudantes , professores e funcionários para não acontecer nenhum problema. — Ele explicou, segurando minhas mãos com as suas.
Eu pisquei algumas vezes, olhando-o confusa.
Então foi o que me bateu.
Neko era uma Strain de ilusão.
Eu fui pega na sua ilusão, então ninguém me reconheceu.
Eu soltei outro suspiro, antes de me dar conta de uma coisa importante.
Eu estava segurando o rosto do mais antigos dos reis.
Eu soltei-o rapidamente, envergonhada de mim mesma, embora ele ainda segurava minhas mãos.
Pus-me em estado de terror e choque.

" Oh, não. Isso é mal. " Eu repetia.

Ele riu do meu olhar assustado.
Em segundos, algo suave pousou sobre meus lábios e afastou-se tão rápido que não consegui compreender.
Vendo seu rosto terrivelmente vermelho, pude compreender o que havia passado.
Meu rosto devia se compara a cor do cabelo de Mikoto neste momento.
— Macio...— Ele disse a si mesmo. - Mizo-chan. É provável que não nos veremos de novo. Por isso, eu tinha que te dizer... mesmo quando eu era Shiro e mesmo agora.... eu me apaixonei por você. Só quero que saiba... que eu te amo, para sempre.— Ele disse, sorrindo de forma melancólica.
Beijou-me outra vez e fugiu para outra direção apressado.
Uma cena de filme me veio a cabeça.

" Por que eles sempre fogem? " Eu pensei, com um sorriso bobo.

O mesmo morreu em seguida.
Ele ia se sacrificar para salvar a todos e trazer paz a Mikoto.
Era como seu eu tivesse estado em sua mente por curtos segundos.
Mais para isso funcionar, precisamos tirar aquele cretino de Kukuri e temos que evitar que os reis se matem até isso.
Segui-o na mesma direção, alcançando-o em pouco tempo.
— Eu seguro Munakata e Mikoto-san por um tempo indeterminado. O canalha está em um lugar afastado que consiga observar sem se machucar.— Eu disse .
Ele me deu um olhar carinhoso e compreensivo, antes de assentir com a cabeça.
Dei-lhe um sorriso e apressei-me para ir na sua frente.
Eu precisava ser forte. Mesmo que doa em perder alguém.
Consegui ir até os reis, apertei o punho da katana e bloqueei o ataque de Munakata e segurei o punho em chamar de Mikoto.
— Por que não fui convidada para a festa?— Eu perguntei sorridente.
— Não era necessário.— Mikoto disse.
Eu podia sentir o riso em sua voz.
Olhei-o por cima do ombro um pouco irritada, por ele estar sendo imprudente.
Se eu fosse filha dele? Não. Não somos nada parecidos.
Quer dizer, não na aparência...
Ele me deu um sorriso cansado e bagunçou meu cabelo levemente.
Meu olhar mudou-se para aflito.
Eu o via como uma figura paterna e acho que Anna também.
Munakata pôs mais força sobre seu ataque.
Olhei-o irritada e ele me deu um sorriso em desafio.
Eu estreitei meus olhos para ele com uma emoção desconhecida para mim.
Olhando para Mikoto, ele fez a mesma coisa e a emoção se repetiu.
Era quase como uma coisa que coçava dentro de mim, repetindo e repetindo:—Lute, lute, lute, lute, lute.
Era realmente incômodo e tive que lembra-lo de que eu tinha de evitar mortes e não provocar uma.
Mantendo-me na linha, chutei o estômago de Mikoto, empurrando-o para trás e aplique força contra Munakata, fazendo as lâminas tilintarem.
Logo, ficamos em um empate.
Mesmo que ele tivesse mais força que eu, a lâmina da minha katana era a mais resistente.
Ele então, revestiu sua lâmina com a chama azul e vi minha katana absorvendo-a como se fosse sua comida predileta.
Vi um pequeno sinal de preocupação em Munakata.
— De certa forma... eu me sinto orgulhoso.— Ouvi Mikoto dizer.
Senti-me envergonhar por suas palavras, mas foquei-me no problema inicial.
Por que no mar a lâmina desta coisa está ficando preta?!
Nós dois fizemos uma pressão igual que nos causou a separação.
Rapidamente, esquivei-me das chamas vermelhas que quase cumprimentaram minha pele.
— Argh! Eu estou do seu lado caramba!— Eu exclamei.
— Você me chutou. Além disso, eu não pude resistir.— Ele disse como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Mais aflição atingiu-me. Ele queria morrer. Lutar como último desejo.
Engolindo um pouco de saliva e ri sem graça.
— Está bem então.— Eu concordei.
Bloqueei outro ataque de Munakata e detive um soco de Mikoto neste mesmo.
Uma sequência de socos vermelhos, chamas azuis e lâminas brilhando passavam como um borrão a olho nu.
Eu não fazia ideia como consegui acompanhar e muito menos lutar contra os dois.
Algo indescritível e emocionante.
Isso é até eu sentir a presença daquele ser indesejável.
Shiro ainda não o tinha pego, mas, novamente, acho que estou a dois minutos aqui.
Eu fiz uma careta, quando Munakata conseguiu me desequilibrar.
Agarrei-me na sua capa, puxando-o para baixo.
Usei o pequeno tempo de impulso para erguer-me deixando-o cair, enquanto me lidava com um Mikoto muito focado.
Intimidante era pouco. Assustador. Amedrontador. Violento.
São boas palavras para descrever sua forma de lutar a sério.
Tão poder destrutivo que a lâmina Strain absorvia.
Eu tomava cuidado para não corta-lo com medo do que ela faria.
Ainda mais se ela seguir a lei: - O que absorve a torna mais forte.
Totalmente temerosa quando a esse princípio,eu usava o lado sem corte para bater-lhe.
— Porcaria Munakata! O que você fez com o meu bastão de beisebol, hein?— Eu briguei com ele de repente, vendo-o me olhar assustado.
Meu olho se contraiu com raiva e escovei o assunto de lado, concentrando-me na luta novamente.
Eu peguei uma grande lufada de ar nos pulmões.
Vi-me sentindo-me cansada a cada instante.
O rei incolor não mentiu sobre minha condição.
Em breve, eu poderia morrer.

" Prefiro morrer a deixar que Mikoto morra em meu lugar. " Eu pense, atacando-o de volta com um soco.
— Para uma garota, seus socos doem.— Ele disse de modo abafado, quando apertou seu nariz um pouco.
Ele recuperou-se rapidamente assim como Munakata.
Então eles voltaram a lutar entre si.
— Qual é?— Eu perguntei a mim mesma.
Procurei qualquer brecha para interrompe-los de novo.
Mais então, uma dor alucinante passou em minha cabeça e eu desabei.
Apertei a cabeça com força e , sem a intenção, comecei a gritar.
Tinha dores em todos os lugares, mas a pior era na minha cabeça.
Uma sensação horrível passou na boca do meu estômago.
Eu contentei-me em aceitar. Eu já estava morrendo.
As palavras de Shiro, ou Adolf, passaram pela minha mente.
— ...Só quero que saiba que eu te amo, para sempre.— Ele disse.
— Eu também te amo...— Eu sussurrei.
Tudo ficou preto...