– Ei

Olhei para trás e o vi sentado na areia em cima de um longo pano. A maré estava calma nessa hora da noite. A maresia que batia em nossos rostos e beijavam nossos cabelos eram leves e relaxantes.

A praia estava completamente vazia. Apenas nós dois, o céu, o mar e as estrelas. Seus olhos me olhavam intensamente e não deixava os meus um segundo. Seu corpo esbelto estava deitado em cima do pano enquanto se apoiava com seus cotovelos.

Meus pés me guiaram automaticamente em sua direção.

– Onde estamos? - Perguntei à ele quando estive bem próximo.

Em uma passada rápida, ele pegou meu pulso e me puxou para si. Caí em sima de seu peito.

– Isso não importa... - Seus longos braços rodearam minha cintura, e pela primeira vez me senti seguro em um abraço. - Eu só quero você aqui comigo...

Sua respiração quente batia na minha nuca e senti seus lábios macios a tocarem.

Meu coração voltou a bater forte de novo. Fechei os olhos.

– Continue... - sussurrei

– O quê?

– Continua....!

– Comé que é porra?

– Eu falei pra tu continuar o beijo, desgraçado! - Abri os olhos e vi o Sun com uma cara de ''Você tá fumado?''.

Perai... Olhei para o lado e vi uma janela escancarada com a luz infernal do sol na minha cara. Olho pro outro lado e vejo Sun com aquela cara de cu dele enorme.

Aquilo foi um sonho??!!

– Eu não vou nem perguntar o que você tava sonhando. Não quero estragar minha linda manhã. - Ele se virou e foi andando.

– E-Espere! Eu não estava sonhando nada de mais! - Me levantei. Ele se virou no meio do corredor e me olhou.

– Você está usando o meu pijama? - Perguntou levantando uma de suas sobrancelhas.

– Você não se lembrou de buscar minhas roupas, sabia?! - Fiz um beicinho.

– Ok, eu não quero saber disso. Apenas se troque. Pegue qualquer roupa minha que cabe em ti no meu quarto.

– Onde vamos?

– Você se esqueceu? Agora és meu escravo, me acompanhará aonde for. - Deu um sorriso cínico e saiu.

.........x........

Fui para o quarto e me surpreendi com o tamanho! Pra quê que aquele bastardo quer tanto espaço?! Só a cama é gigante!

Mas olhando ao redor, ele tinha um bom gosto. As paredes eram beges e possuem quadros abstrato que se destacavam com a cor colorida. O guarda-roupa é enorme! Aposto que encontro Nárnia ali dentro. Vou ligar pro Ren e falar isso pra ele. A cama se encontra em frente à TV de 50 polegadas, suponho.

Fui me aproximando da cabeceira da cama e tinha um porta-retrato abaixado. Não, é melhor não mexer. Não quero que aconteça o que aconteceu noite passada...

Flashback

''Nunca mais toque nas minhas coisas.''

Fiquei olhando para o corredor vazio e frio. Aquele idiota nem sequer me dá pelo menos uma roupa pra dormir!

O corredor só tinha 3 portas. A única que tava fechada deveria ser o quarto dele. A outra era o banheiro e o quarto de hóspedes.

Eu perdi a fome depois daquilo, então fui direto pro quarto de hóspedes. Tinha um guarda-roupa lá, então deve ter alguma muda de roupa ou algo similar.

Fim do Flashback

Peguei uma calça jeans preta que coube perfeitamente em mim e uma camiseta da banda Red Hot que estava por lá. Saí do quarto e quando estava indo para a porta, Sun me chamou:

– Você não vai tomar café?

– Você se preocupa comigo? - Me virei e o encarei.

Ele está voltado para a frigideira fritando ovos e a mesa tinha um suco, bacons e uma pequena flor em um vaso d'agua.

– Não quero me responsabilizar se você desmaiar de fome. - Sentou-se.

Meio relutante, sentei-me também.

.........x........

O Silêncio preencheu o lugar. Apesar de sermos estranhos um para o outro, eu não me sentia assim.

Ainda estava meio hesitante pelo o que houve noite passada, mas olhando para ele agora - com a luz do sol tocando-lhe o rosto e realçando a cor chocolate de seus cabelos, os traços faciais afilados e suaves, e um ar tranquilo em volta - talvez ele não seja tão ruim ou malvado como parece.

– A roupa coube perfeitamente em você. - Quebrou o silêncio.

– Sim...

– Você tinha vontade de ser advogado? - Olhei para ele. Seu olhar voltava-se para a faca que passava suavemente a manteiga no pão.

– Isso não te interessa. - Respondi.

– Você não deve ser grosseiro quando as pessoas perguntam algo para você.

– E você deve olhar para as pessoas diretamente quando se fala com elas. - Retruquei.

Sun parou de passar a manteiga no pão, e me olhou intensamente.

– O-o que foi? - Perguntei.

Um sorriso cínico começou a crescer no rosto dele.

– Nada. - Voltou a passar manteiga no pão, mas sem tirar em nenhum momento seu olhar sobre mim.

Peguei a faca. Passei no pão. Peguei o ovo. Comi. Olhei pra flor, só faltei me cagar e esse bastardo ainda ta me olhando com esse sorrisinho dele.

– Pare de me encarar! Isso é irritante! - Exclamei.

– Você até que é bonito. - Me engasguei com o pão. O que ele tá fazendo?!

Olhei pra cara dele e me surpreendi com o que vi. Diferente de antes, ele não estava usando um sorriso cínico, mas um sorriso gentil. Senti meu rosto esquentar muito.

– A-hem! Eu já terminei. - Levantei-me.

– Ótimo, eu estava só te esperando. Vamos para o carro.

..........x..........

– Você tem um Lamborghini?!

– Entre logo, se não vou embora e te deixar trancado do lado de fora do apartamento. - Eu não acredito que ele tem mais de um carro!!

– Por que você queria ser advogado? - Perguntou enquanto dirigia tranquilamente pelas ruas da cidade.

– Por que você quer tanto saber?

– Você me parece interessante - Olhei para ele - Embora me lembra a uma certa pessoa...

Senti uma pontada de tristeza em sua voz. Olhando para os seus olhos, vi solidão e arrependimentos.

Um assunto me veio em mente.

– M-me desculpa por ontem...

– Não se preocupe, eu acabei me deixando levar.

''Para sempre estarei ao seu lado. Enquanto dure as estrelas. V''

– Posso perguntar algo? - Ele me olhou

– Apenas se não for algo bobo e besta que tire minha concentração.

Acho melhor não...

– P-podemos pegar minhas coisas lá no Gary?

– Eu tenho uma ideia melhor - Sorriu.

– O quê?

– Vamos fazer compras.

.........x........

Eu só tinha uma palavra para descrever o que estou vendo agora: Uau.

Ele trabalha num prédio de 20 andares e chique!

Olhei ao redor e não o vi. Ele deve ter entrado e me deixado sozinho aqui!

– Espere por mim! - Gritei e corri adentrando o prédio.

Avistei-o assim que entrei.

– Por que você não me esperou?

– Não grite e nem faça confusão aqui, estou no meu local de trabalho -

Esse grosseiro...

Segui em silêncio.

''Bom dia, Sr. Walter.'', ''Bom dia, senhor.'', ''Bom dia.''

– Por que você não dá bom dia para eles também? - Perguntei assim que chegamos no 15º andar.

– Qual a minha agenda de hoje, Sra. Lopez?

– Temos reunião às 13h depois do almoço, e papeladas de documentos para assinar e rever Sr. Walter - Senti uma pontada de sensualidade ao ouvir sair da boca daquela mulher. Puta.

Ele me ignorou de novo!

– Está bem. Vamos, escravo.

– Ei!

.........x........

– Aah, isso é muito chato!! - Resmunguei. Eu não sabia que ser advogado era tedioso assim...

– Para de reclamar. Busque um café pra mim.

– Tsk Tsk...

Saí do escritório e fui andando pelo corredor atrás da copa onde fica os alimentos.

Onde diabos fica a copa?? Esse prédio é imenso!

– Estás perdido, rapaz? - Uma voz suave veio atrás de mim.

Um homem esbelto, de cabelos cor de bronze, alto e meio másculo estava voltado para mim com um sorriso gentil.

– S-Sim... - Murmurei.

– O que procuras aqui? - Andou em minha direção - Perdão, é uma falta de educação não me apresentar - Sorriu - Parker. Joe Parker.

Ele estendeu sua mão para mim. Fiquei olhando para ele e para sua mão, alternando o olhar entre as duas coisas.

– Noah Jacobs - Apertei sua mão ainda olhando desconfiado para ele - Estou procurando a copa.

– Ah, era isso? - Riu - Siga-me. Segui Joe até a copa.

– Obrigado senhor.

– Não há de quê - Sorriu e pôs a mão em cima da minha cabeça, entrelaçando os dedos no meu cabelo e fazendo um carinho inocente nele.

– Ops, esqueci que estou atrasado para uma reunião - E se retirou apressadamente do local.

Ok... Isso foi muito estranho. Peguei o café e voltei pro escritório.

– Onde você estava? Demoraste muito para pegar apenas um café. - Mal entrei e já fui abordado pelo recalque do Sun.

– Ôo invejoso, eu me perdi aqui tá?! Saiba que essa é a minha primeira vez no seu trabalho.

Entreguei o café para e depois joguei-me no sofá.

Ah, o dia vai ser longo e tedioso...

.......x.......

– Vai na frente, tenho que guardar umas papeladas aqui - Sun falou.

Saí do prédio e fiquei em pé em frente da porta esperando ele.

Fiquei olhando as pessoas andando de lá pra cá na calçada. Com certeza as vidas deles eram corridas. Trabalho. Família. Afazeres...

– Vamos baixinho.

Olhei pro lado e vi o Sun colocando um óculos preto todo bossal.

– Quem tu acha que é?

– Sun Walter, um dos advogados mais requisitados da Califórnia. Em seguida ele olhou pra mim, abaixou os óculos e piscou.

Esse bossal.

.........x........

Chegamos ao shopping e senti os olhares em todos em mim e Sun.

– Por que eles estão olhando para nós? - Sussurrei para ele.

– Já me acostumei, apenas ignore.

Ok...

Sun e eu entramos em várias lojas no shopping. Ele tinha um bom gosto pra roupa, então não me preocupei se ele escolher todas os meus vestimentos. Depois de quase uma hora escolhendo minhas roupas, decidimos parar pra comer na praça de alimentação.

– O que você quer, Noah? - Ele perguntou assim que sentamos em

uma mesa.

Oh... Ele me chamou pelo meu nome pela primeira vez...

– Noah?

– Ah, me desculpa, é só que é a primeira vez que você me chama pelo meu nome...

Vi Sun corar levemente. Perai, ele está corando?!

– O que você vai querer? - Ele mudou de assunto.

– Hm... Um cheeseburguer está bom.

– Ok, fiquei aqui um estante. Volto já, já.

Fiquei sentado na cadeira esperando Sun com uma cara de cu enorme.

– Com licença moço...

Duas colegiais que aparentavam ter 16 anos apareceram do meu lado.

– O que foi? - Perguntei.

– E-Ele é seu irmão? - Apontaram para trás de mim.

Virei meu corpo a fim de entender o que é que estavam me perguntando, até que aviste Sun parar de fazer seu pedido e olhar para mim com um olhar assustador.

– Não. - Voltei para o meu lugar e respondi seco e rápido.

Nunca que eu iria querer ter aquele recalcado como irmão!

– O Sun está solteiro?? - Elas perguntaram. Como elas sabem o nome dele?!

– O quê?!

– Olá garotas. - Sun apareceu com nossas comidas e um sorriso que eu nunca vi na vida... Me dá arrepios.

– O-Oi!

– O que vocês querem? Uma foto? - Sun perguntou gentilmente.

– Sim! - Elas gritaram e deram um ataque de fã. Sério mesmo que elas querem tirar foto com 'ele'?!

Peguei meu sanduíche e fiquei vendo a maravilha na minha frente. Até peguei ketchup, passei, mordi, passei de novo, e a primeira garota que ia tirar foto ainda estava agarrada com ele. Acabei o sanduíche e agora que a outra garota entrou para tirar foto com ele.

Ouvi gritinhos atrás de mim e quando olhei para trás, vi uma fila enorme de garotas com celular na mão querendo tirar foto com o Sun.

Pai eterno...

........x.......

Resolvi dar uma volta no shopping enquanto Sun está ocupado com as fãs dele.

Andei ao redor e parei quando vi algo interessante em uma vitrine.

– Você quer dar uma olhada, senhor? - Uma mulher que parecia estar por volta dos seus 20 e poucos anos, perguntou para mim. Ela vestia roupas com o nome da loja. Deve ser funcionária.

– Você gostou? - Uma voz familiar veio de trás de mim.

Olhei novamente para o anel e depois para ele.

– O que faz aqui, Joe?

– Eu estava apenas passeando pelo shopping também. - Sorriu.

Vi a funcionária corar levemente.

– Por favor, pode pegar o anel para eu ver? - Joe falou.

– C-Claro! Por favor, entrem e fiquem a vontade. - A garota sorriu brevemente, e saiu.

O silêncio preencheu o local. Apesar de sermos praticamente ''estranhos'' um ao outro, o silêncio que se instalou entre nós era agradável.

– Você gosta de anéis? - Joe quebrou o silêncio. Olhei para ele

– Sim... eles parecem conter um valor. - Ele levantou uma sobrancelha

– Mas não no sentido materialista! No sentido sentimental...

Lembrei-me da frase que tinha no anel de Sun. Quem seria a pessoa a quem pertencia o anel?

Joe me olhou por alguns segundos e logo soltou uma risada suave.

– Você realmente é interessante.

Olhei para ele o analisando calmamente . Ele parecia jovem e tinha traços faciais tão bonitos quanto Sun. Seu sorriso era gentil, e não carregava malícia alguma. Seus cabelos cor de bronze realçavam com a cor perolada de sua pele.

Nossos olhos se encontraram e eu não via nada de mal neles.

– Aqui está senhor. - A garota de antes apareceu e quebrou nosso contato visual.

Joe pegou o fino, mas elegante anel.

– Dê-me sua mão.

Sem ter consciência, minha mão já estavam nas suas.

Joe colocou o anel no meu dedo. O anel de prata coube perfeitamente.

– Fiquei perfeito. - Joe falou e sorriu.

De repente, senti uma sensação ruim dentro de mim, como se estivesse fazendo algo errado.

– São $300 dólares senhor.

Olhei em volta e avistei algo que não queria... Ou melhor, alguém.

– Sun... - Sussurrei.

Ele olhava intensamente com uma expressão que eu não conseguia decifrar. Seus lábios formavam uma linha reta, e seus olhos não largavam dos meus.

Olhei para o Joe e ele também estava olhando para Sun com uma expressão ilegível.

Sun adentrou a loja e segurou meu pulso.

– Vamos.

O quê?!

– Não. Eu estou ocupado aqui, não está vendo?

Sun parou de me puxar, mas sua mão continuou apertando meu pulso.

Ele olhou para Joe.

– Tudo bem, eu pago o anel. - Joe sorriu docemente enquanto tirava o dinheiro de sua carteira.

– O quê?! Não! É muito caro! - Exclamei enquanto tentava me soltar de Sun.

– Vamos. - Sun me tirou da loja. Olhei para trás e vi Joe olhando-nos intensamente.

........x.......

– Por que você fez isso?! - Explodi quando entramos no carro.

Sun permaneceu calado olhando atentamente a estrada.

– Agora você ficou calado?! - Gritei novamente.

Ele me ignorou de novo. Já está me irritando.

– Primeiro foi o anel ontem a noite! Agora é o Joe??!

– Não fale o nome dele na minha frente!! - Sun se alterou e gritou comigo, mas seu olhar não estava em mim. Nunca vi Sun com tanta raiva.

– Por quê? - Retruquei.

Ele ficou calado. Eu não queria perder a cabeça agora. Ficamos em silêncio até chegar em casa.

Subimos sem trocar sequer uma palavra um com o outro. Assim que a porta foi aberta, Sun se pronunciou:

– Nunca mais chegue perto dele de novo...

O encarei.

– Por quê?

– Por favor... - Murmurou. - Apenas faça o que eu digo... - Sua última sentença foi quase inaudível.

E assim, Sun se retirou calmamente da minha frente.

– Idiota! Ele não pode me dizer com quem posso ou não falar! E ainda me deixou sozinho de novo! - Falei irritado.

Me dirigi à enorme varanda que dava para o lado de fora do apartamento e nela fiquei apoiado.

Daqui dá para ver o céu e as estrelas. Por que será que lugares assim sempre nos fazem refletir?

Desde criança eu nunca tive alguém que realmente pudesse confiar, ou chamar de amigo. Minha mãe sempre foi muito ocupada e não ficava muito em casa. Cresci na solidão.

Não que eu fosse reclamar agora, afinal eu já me acostumei, mas não deixo de imaginar como seria ter alguém assim, que pudesse me axiliar em todos os momentos que precisasse, inclusive agora...

Sem perceber, senti algo quente descendo pelo meu rosto. Estou chorando de novo?

– Por que no final eu sempre fico sozinho olhando para as estrelas?